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VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

Liturgia e Rosário

PIO XII — Tratando da genuína piedade, afirmamos que entre a Liturgia e os outros atos de religião —desde que sejam retamente ordenados e tendam ao justo fim — não pode haver verdadeiro contraste; há, até, alguns exercícios de piedade que a Igreja recomenda grandemente ao Clero e aos Religiosos.

Ora, desejamos que também o povo cristão não se alheie destes exercícios. Estes são — para falar apenas dos principais — a meditação de assuntos espirituais, o exame de consciência, os retiros espirituais, instituídos para a reflexão mais intensa das verdades eternas, a visita ao Santíssimo Sacramento e as orações particulares em honra da Bem-aventurada Virgem Maria, entre as quais excede, como todos sabem, o Rosário. (Encíclica «Mediator Dei», de 20-XI-1947).

Que prece há mais valiosa e excelente?

PIO XI: Entre as várias súplicas, pelas quais ultimamente imploramos a Virgem Mãe de Deus, ocupa um lugar peculiar e excelente o Rosário mariano, como ninguém ignora. É esta a venerável fórmula que muitos chamaram o «Saltério da Virgem» ou «Breviário da vida evangélica cristã», e       que Nosso predecessor Leão XIII muitíssimo recomenda e assim define: «Coroa admirável composta da saudação angélica, intercalada da oração dominical e acompanhada de meditações — espécie exímia de súplica — muito frutífera para a aquisição da vida imortal, que é certamente obtida por aqueles por quem esta coroa mística de flores é trançada» (Acta Leonis XIII, 1898, vol. 18, pp. 154, 155). Quem é capaz de achar preces mais valiosas e excelentes? (Encíclica «Ingravescentibus malis», de 29-IX-1937).

A devoção do Rosário, instrumento bélico para combater os inimigos da Fé

LEÃO XIII: — Segundo a tradição, a mesma Rainha celeste deu-a, por sua revelação, ao ínclito Pai Domingos com a ordem de propagá-la através de épocas hostis ao nome cristão, comparáveis à nossa. Deu-lhe este quase instrumento bélico, para combater os inimigos da fé. A seita dos heréticos Albigenses, proveniente dos detestáveis Maniqueus, invadiu, clandestina ou abertamente, muitas regiões, causou imensos erros e dissimulações, trazendo à Igreja golpes mortais e muita adversidade. Já não havia confiança no presídio dos homens contra as turbas insolentes e funestíssimas, quando veio o auxílio de Deus por meio do Rosário mariano. Assim sendo, por intermédio da Virgem, gloriosa Vencedora de todas as heresias, foram repelidos e destruídos os exércitos dos ímpios e foi salva e incólume a fé de muitíssima gente.

Fatos semelhantes, ou de perigos afastados, ou de benefícios recebidos, comemora a história antiga e a mais recente com testemunhos importantíssimos. (Encíclica «Octobri mense», de 22-IX-1891).

Presídio da Fé contra os hereges

LEÃO XIII: — Desde a origem do Rosário, é conhecido seu poder, quer pela tutela da santa fé contra os criminosos ataques dos hereges, quer pelo levantamento e sustento da glória das virtudes, que se evidenciou em meio da corrupção do mundo. É conhecido seu poder pela seqüência perene de benefícios particulares e públicos, em cuja memória se levantaram preclaras instituições e monumentos em toda a parte. (Encíclica «Jucunda sempre», de 84X-1894).

Nele toda a nossa confiança contra as maquinações dos ímpios

LEÃO XIII: — Hoje em dia, o mundo precisa mais do que nunca dos auxílios do Alto. São muitos os que oprimem a Igreja por toda a parte, em relação aos Seus direitos e Sua liberdade. São muitos que abalam profundamente a prosperidade e a paz dos cidadãos cristãos. Ora, para merecermos o auxílio do Céu, pomos Vida a Nossa confiança no Rosário — mais uma vez e solenemente o declaramos. Oxalá a esta santa e antiga devoção se renda louvor em toda a parte, como é Nosso desejo ardente: que seja praticada e querida nas cidades e nas vilas; nas famílias e nas oficinas; pelos grandes e pelos pequeninos; não somente como preclara senha de profissão cristã, como também para obter a proteção da clemência divina. Tanto mais necessário e urgente é, quanto mais a louca perversidade dos ímpios se esforça em maquinações e ousadia, provocando a ira da Divina Majestade e atraindo os justos castigos sobre a pátria. (Encíclica «Jucunda semper», de 8.IX.1894).

Que máximas se deve inculcar ao povo

LEÃO XIII — Uma coisa há sobre a qual Nos apraz insistir um pouco mais, e na qual não somente os ministros do culto, mas também todos aqueles que se interessam pelo povo, lhe podem, sem dificuldade, prestar serviço. Prestar-lhe-ão serviço se, com zelo igual e em tempo oportuno, se esforçarem, em conversas fraternais, por inculcar nos espíritos máximas como estas, que são as principais: acautelarem-se constantemente de qualquer sedição e de homens sediciosos, respeitar inviolavelmente os direitos alheios, conceder de bom grado aos superiores o respeito e trabalho que lhes são devidos, não desprezar a vida doméstica, fecunda em frutos variados, praticar primeiro que tudo a Religião, e pedir-lhe uma consolação segura contra os rigores da vida. Para melhor inculcar estas máximas, é muito útil lembrar o modelo e recomendar o auxílio da Sagrada Família de Nazaré, ou também propor o exemplo daqueles aos quais a humildade da sua condição elevou ao fastígio da virtude, ou também confortar esses desditosos na esperança da recompensa eterna numa vida melhor. (Encíclica «Graves de Communi», de 18-1-1901).

Só a Igreja pode garantir a inviolabilidade do direito das gentes

PIO XI        Não há instituição humana capaz de impor a todas as nações uma espécie de código internacional adaptado à nossa época, análogo ao que regia na Idade Média esta verdadeira Liga das Nações que se chamava Cristandade. Ela também viu cometerem-se muitas injustiças, mas ao menos conseguiu sempre conservar inconteste o valor sagrado do direito, regra segura segundo a qual tinham as nações de prestar suas contas. Há, porém, uma instituição divina capaz de garantir a inviolabilidade do direito das gentes; uma instituição que, abraçando todos os povos, a todos ultrapassa, porque desfruta de uma autoridade soberana e do glorioso privilégio da plenitude do magistério: é a Igreja de Jesus Cristo, a única a se mostrar à altura de tão grande investidura, graças à sua missão divina, à sua natureza e constituição e ao prestígio que lhe conferem os séculos. As mesmas vicissitudes das guerras, longe de a diminuírem, lhe trouxeram maravilhosos desenvolvimentos. (Encíclica «Ubi Arcano», de 23-X11-1922).

A infecção do mundo moderno nos ameaça de todo lado

PIO XII: A época em que vivemos sofre de uma grave perturbação em todos os terrenos: sistemas filosóficos que nascem e morrem, sem em nada melhorarem os costumes; monstruosidade de certa arte, que no entanto pretende inculcar-se cristã; critérios de governo que em muitos lugares se convertem antes na opressão dos cidadãos que em bem comum: métodos de vida e de relações econômicas e sociais em que correm maior perigo os honestos que os desonestos. Daí deriva quase naturalmente que não faltem de todo em nossos tempos Sacerdotes infectados de alguma maneira de semelhante contágio, e que manifestam opiniões e levam um teor de vida, até no modo de vestir-se e cuidar de si, inteiramente contrários tanto à sua dignidade como à sua missão; que se deixam empolgar pela mania de novidades seja no pregar aos fiéis, seja no modo de combater os erros dos adversários; e que comprometem, portanto, não somente sua consciência, mas ainda a sua boa fama e daí a eficácia do seu ministério. (Exortação «Menti Nostrae», ao Clero católico, de 23-IX-1950).

Falsa devoção aos Santos

PIO XI: Muitos, em nosso tempo, contaminados pela peste do laicismo, costumam despir os nossos heróis da genuína luz e glória da santidade, para abaixá-los a uma espécie de natural excelência e à profissão de uma religiosidade vã, louvando e exaltando-os somente como beneméritos do progresso nas ciências e artes, das obras de beneficência, da pátria e do gênero humano. Não cessamos, porém de admirar-nos como tal admiração por um Francisco assim diminuído, ou antes contrafeito, possa aproveitar a seus modernos admiradores, a esses que cobiçam riquezas e prazeres, ou, enfeitados e perfumados, freqüentam as praças, as danças e os espetáculos, ou rolam pelo lodo da volúpia, ou ignoram e repelem as leis de Cristo e da Igreja. Aqui vem muito a propósito a lembrança: «A quem agradar o mérito do Santo devem também agradar-lhe o obséquio e o culto de Deus. Ou imite aquele a quem louva, ou não se ponha a louvar a quem não quer imitar. Quem admira os méritos dos Santos deve, ele mesmo, distinguir-se pela santidade de vida (Brev. Rom., d. 7 Nov., lect. IV)». (Encíclica «Rite expiatis», de 30-IV-1926).

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A CAMPANHA ANTIDIVORCISTA EM CAMPOS

A campanha antidivorcista alcançou em Campos um expressivo resultado. Por iniciativa do Diretor desta folha, a Câmara Municipal enviou ao Exmo. Mons. Arruda Camara, deputado federal por Pernambuco, caloroso telegrama de felicitações por sua atuação contra o divórcio.

Manifestou-se assim, de modo autêntico, o sentir da população campista em favor da indissolubilidade do vínculo matrimonial.

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EM CAMPOS O EXMO. SNR. NÚNCIO APOSTÓLICO

Passou por esta cidade, no dia 6 de setembro, o Exmo. Revmo. Sr. Dom Carlos Chiarlo, Arcebispo Titular de Amida e Núncio Apostólico no Brasil.

O ilustre Prelado, que viajava em caráter particular, procedia da Capital do País, e se dirigia para Vitória, onde, em nome do Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, coroou a Imagem de Nossa Senhora da Penha, por ocasião do IV Centenário daquela cidade. No dia 10. S. Excia. Revma. esteve novamente em Campos, de regresso para o Rio de janeiro.

A passagem do Embaixador do Santo Padre repercutiu agradavelmente em toda a população. Sempre em companhia do Exmo. Revmo. Sr. Bispo Diocesano, esteve S. Excia. em visita à Catedral e ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora.

Além disto, recebeu S. Excia. a visita do Sr. Prefeito Municipal e de uma comissão de vereadores.

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MARIA VENCE, REINA, IMPERA

Mariano Costa

Haverá quem estranhe este título? Não é a primeira vez que proposições referentes a Jesus Cristo e a Deus Pai se aplicam também a Nossa Senhora. Ainda no dia 3 de Maio do corrente ano, o Santo Padre Pio XII exprimia seu paternal contentamento pelas obras de apostolado das Filhas de Maria de Roma e acrescentava: «É conveniente que em algumas circunstâncias os homens vejam as vossas obras boas e glorifiquem vossa Mãe que está nos céus». A Santa Igreja afirma de Maria, na Missa e no Oficio Divino, o que a Sagrada Escritura nos revela da Sabedoria Eterna, isto é, de Cristo. Maria e Jesus estão intimamente unidos, na presente economia da redenção, como Mãe e Filho, Redentor e Corredentora, Monarca e Rainha. A redenção do gênero humano não se faz sem luta contra as potestades infernais que destruíram o estado de justiça original. Maria vem, desde as primeiras páginas do Livro Sagrado, estreitamente coligada a Jesus na luta e na vitória. Se Cristo vence, Maria vence com ele; e é com Maria que Cristo reina e impera. Lendo com atenção a sentença proferida contra nossos primeiros pais e contra a Serpente infernal nos convenceremos que Deus «estabeleceu Maria para dirigir o exército do Bem na luta contra as hostes do Inferno». Deus disse à Serpente: «Porei inimizades entre ti e a Mulher, entre tua descendência e a d'Ela. Ela te esmagará a cabeça e tu armarás insídias ao seu calcanhar». A história da humanidade, vista por dentro, não é mais do que o desenrolar deste grande drama de luta, desta guerra única que Satanás desencadeia contra a SS. Virgem; e os sequazes de Satanás contra os filhos de Maria.

O Santo Padre Leão XIII assim termina sua Encíclica contra a maçonaria «Peçamos à SS. Virgem, Mãe de Deus, que se constitua auxiliadora e intérprete nossa; vitoriosa de Satanás... que Ela exerça seu poder contra as seitas condenadas.» E Pio XI, na última encíclica que escreveu, de 29 de Setembro de 1937, solenemente afirma: «A quem estuda diligentemente os anais da Igreja Católica, para logo aparece unida a todos os fastos do nome cristão o eficaz patrocínio da Mãe de Deus. Efetivamente, tanto que por toda parte se espalham os erros, encarniçados em lacerar a veste inconsútil da Igreja e perturbar o mundo católico, é a Maria, que «destruiu todas as heresias do mundo» (Brev. Rom.), que os nossos pais têm recorrido, confiantemente; e a vitória por Ela ganha foi portadora de melhores tempos...»

Tinha, pois, razão o inspirado São Luís Grignion de Montfort quando dizia que Deus fez a SS. Virgem «Soberana dos Céus e da terra, General de seus exércitos... a exterminadora dos inimigos de Deus e a fiel companheira de sua grandeza e de seus triunfos».

São alguns desses triunfos, precisamente, que tenciono, com o favor da mesma Virgem, comunicar aos leitores; triunfos que tive a graça de presenciar ou que me referiram, durante a peregrinação do Ano Santo, quer na Itália, quer em outros países da Europa.

A viagem

Uma das maneiras mais comuns por que Nossa Senhora reina e triunfa é por meio de associações religiosas que militam debaixo de sua bandeira e de seu nome. Elas constituem os esquadrões mais aguerridos e intemeratos da Virgem vencedora, porque postos mais diretamente sob suas vistas e mais fielmente dedicados às suas ordens. Freqüentemente, nessas notas, teremos ocasião de mencionar as Congregações Marianas e as Pias Uniões de Filhas de Maria. Durante a viagem, Congregados e Filhas de Maria impuseram o tom à peregrinação. Não era somente a fita azul que os distinguia dos demais peregrinos: era o seu proceder, a sua piedade e fervor; a sua modéstia exterior, a sua prontidão em obedecer. São eles os que impregnam o ambiente da peregrinação da nota mariana, cantando durante a Santa Missa hinos a Nossa Senhora, recitando sem respeito humano o Rosário e o Oficio e falando com entusiasmo comunicativo de sua associação. Um contato mais intimo com eles nos revela que debaixo daquela fita azul palpita um coração de apóstolo. Mas é necessário que tomemos a iniciativa para lhes arrancarmos a confissão do que realizam no campo do apostolado, conforme a palavra do Santo Padre: «agia sem rumor, segundo as vossas tradições, com tanta intensidade quanta discrição». Um dos congregados, por exemplo, perguntado o que fazia, depois do trabalho, respondeu-me que ia, diariamente, à detenção pública a fim de ministrar instrução religiosa aos encarcerados durante umas duas horas, e só depois regressava a casa para o jantar.

Um dia em que se entoavam cânticos, a bordo, para se passarem alegremente as horas do mar, começaram algumas Filhas de Maria a cantar hinos a Nossa Senhora. Foi como atear fogo numa fogueira, pois em seguida eram só louvores à Mãe de Deus, entrecortados de vivas à Rainha do Brasil e à Mãe dos Brasileiros.

A parada do vapor em Recife nos forneceu mais uma bela oportunidade para observar como reina Nossa Senhora no Brasil. Creio que não houve ninguém que se resignasse a deixar de visitar as mais antigas e artísticas igrejas de Olinda e Recife, dedicadas à SS. Virgem. Nossa Senhora da Penha, do Carmo, do Terço, da Conceição, dos Navegantes e outras muitas atestam aos visitantes o afeto e devoção do povo à Mãe de Deus.

Nápoles e Pompeia

O peregrino que aporta a Nápoles vindo do Brasil tem uma visita necessária a fazer: é à Madonna dei Brasile. Imagem cuja história é já por demais conhecida. Capuchinhos da Província de Nápoles residentes em Recife, obrigados pelas circunstâncias a fechar o convento e regressar a Nápoles, levaram consigo uma linda Imagem de Nossa Senhora, que logo recebeu dos napolitanos o sugestivo nome de Madonna dei Brasile. Criam-lhe amor e devoção, sobretudo depois do grande milagre em que a querida Madona escapa ilesa do fogo que devorara a Igreja em que se encontrava. É aos pés desta Imagem que o peregrino brasileiro reza pela primeira vez em solo europeu. D'Ela recebe a primeira benção, por Ela é introduzido no Velho Mundo.

Mas o peregrino que desce em Nápoles, antes de dirigir-se a Roma, esta empenhado em outra visita, não menos importante. Ele passará pelas minas de Pompéia do antigo paganismo romano para chegar ao Santuário que lhe está ao pé, Nossa Senhora di Pompei. Depois de ver as misérias do paganismo, que provocaram a ira de Deus, começará a contemplar como no seu trono a «Fonte de pureza e de virtude». Ali, o que construiu o orgulho, o que inventou para gozar a sensualidade; aqui, o que fez a piedade dos fiéis, devotos da Virgem para glorificá-la. É a eterna Inimiga da Serpente que estabelece o seu trono sobre as minas do paganismo idólatra. Começamos a observar como Nossa Senhora vence, reina e impera na Itália, centro do catolicismo. Pompéia é, pois, para o peregrino que dirige a Roma seus passos, o primeiro encontro com este fervor de devoção que nos enche a alma e nos prepara o coração para as grandes manifestações da Cidade Eterna.

Roma

Ao peregrino que pisa o solo sagrado da Roma papal lhe chamam para logo a atenção, antes de mais nada, as imagens, geralmente belas e artísticas de Nossa Senhora, nas ruas características da Cidade Eterna. Não há quase uma «via» da antiga Roma medieval que não honre a Madona com algum oratório piedoso, diante do qual dia e noite lampeja o clarão de uma lamparina, testemunho da fé e do amor de seus filhos. Tem acontecido, mais de uma vez, que, para o alargamento das ruas ou por outro qualquer motivo, se venha a destruir o edifício privilegiado que dera asilo, na sua fachada ou nos seus flancos, à Mãe de Deus. Mas a honra passa sempre ao novo edifício que, já na planta, tem reservado para o oratório da Virgem um digno lugar.

Ali, bem perto do Foro Trajano, uma destas imagens, antiquíssima, com a inscrição: «O Santo Padre concede a indulgência de 200 dias a quem recitar as Ladainhas Lauretanas diante desta Imagem». Como não deveria ser edificante o espetáculo dessas preces públicas de outros tempos, em frente a esses oratórios da piedade popular. Mas ainda hoje não são poucas as pessoas que, ao passar, se detêm diante das «Madonnella» a fim de impetrar graças e favores.

E muitíssimos os que, passando, saúdam a Mãe dos céus, tirando-lhe respeitosamente o chapéu ou benzendo-se devotamente. Flores frescas e velas acesas lá também estão a atestar que o povo romano não desmente nunca de sua devoção eterna e filial à querida Madona.

Um dia, já vai muito tempo, várias dessas imagens foram vistas chorar. Era a Mãe dos céus que anunciava assim a seus filhos de Roma, a fim de que se prevenissem, o desencadear de uma terrível catástrofe. Desde então, a essas imagens têm os romanos maior devoção e carinho. Nossa Senhora vence e impera. Ela é verdadeiramente a Rainha de Roma. As estátuas dos maçons de 1870 já não recebem honrarias. São passadas de moda. Mas, no canto de uma rua silenciosa ou no burburinho de uma grande artéria encontraremos sempre alguém diante de uma «Madonnella» a lhe prestar as homenagens de servo fiel e filho dedicado..

(Continua)

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[Errata]

«NA ERA DA MEDIOCRACIA»

Em nosso último número, sob o título acima, publicamos uma crônica da autoria de nosso colaborador Sr. Cunha Alvarenga, na qual é citado o «mito da caverna» de Platão. Como saiu, por erro de revisão, o texto citado é incompreensível. Eis o que devia ter sido publicado:

«Quanto à matemática, seu estudo é realmente importante, mas por uma razão difícil de ser admitida pela opinião científica dominante. Pode-se aquilatar seu valor pelo mito da caverna, de Platão. Dá este filósofo uma imagem geométrica do conhecimento. Trata-se de uma reta dividida em duas partes desiguais. A porção menor, correspondente ao conhecimento sensível, se acha dividida entre as miragens e as coisas. A porção maior, correspondente ao inteligível, se divide entre as matemáticas e a alta sabedoria, de modo tal que a porção linear destinada a representar as coisas, ou o mundo físico, tem uma grandeza correspondente à porção da reta reservada às matemáticas, isto é, podem estas se ajustar ao mundo dos objetos.»

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AS FAMÍLIAS  RELIGIOSAS - (2)

As Ordens de vida ativa são milícias da Igreja no século para restauração do Reino de Cristo

[Legenda]
O sonho de Inocêncio III: S. Francisco sustenta as paredes da Basílica de Latrão que ameaçam ruir (Quadro de Giotto, na Igreja de S. Francisco em Assis).


A vocação contemplativa das grandes Ordens femininas

Como vimos no último artigo certas Ordens são chamadas de vida ativa, não porque coloquem a contemplação em plano secundário, mas porque além da união íntima com Deus prescrevem trabalhos de apostolado no século.

O Patriarca da vida monástica e a Ordem Beneditina.

Os Beneditinos são antes monges de vida mista do que de vida ativa, porque toda a sua obra de apostolado externo está totalmente subordinada à vida monacal. A origem da Ordem remonta ao grande Patriarca São Bento. Nascido em Núrsia, perto de Spoleto, na Úmbria, por volta de 480, deixou ainda jovem a casa paterna, retirando-se para a região inóspita de Subiaco. Aí viveu durante três anos dentro de uma cova estreita cavada na rocha, em completa solidão e árdua penitência. A fama de sua santidade espalhou-se e para ele acorreram discípulos, que passou a dirigir no caminho da perfeição. Em 529, com alguns seguidores, dirigiu-se para Monte Cassino, perto de Cápua, onde construiu, sobre as ruínas de um castelo antigo, o famoso Mosteiro que se tornou a Casa Mater dos Beneditinos. Em 530 escreveu a célebre Regula Monasteriorum, que se caracteriza pela severidade extrema de suas prescrições. O princípio fundamental da Regra está resumido no conhecido lema beneditino "Ora et labora".

Os Beneditinos, que juridicamente constituem uma Ordem monástica, professam votos solenes de pobreza, obediência e castidade, bem como de estabilidade, isto é, de permanecer por toda a vida no mosteiro em que foram admitidos. Usam hábito preto (daí o nome Beneditinos negros, para distingui-los de outros ramos da Ordem, que usam o hábito branco, como os Trapistas e os Cistercienses). Dedicam-se à vida de oração, esmerando-se em manter o esplendor das práticas litúrgicas, na Missa Conventual e no Ofício Divino. O resto do tempo consagram-no ao estudo e ao trabalho.

A Igreja e a Cristandade muito devem à Ordem de São Bento. Ela foi a primeira Ordem do Ocidente e com esforço de seus membros é que se preparou toda a Idade Média pela conversão dos bárbaros e sua arregimentação para construir o glorioso edifício da civilização cristã. Os Beneditinos são hoje cerca de 11.200 em todo o mundo.

Os Franciscanos

No início do Pontificado de Inocêncio III era grande o relaxamento da vida religiosa, por causa do excessivo enriquecimento material de certos mosteiros. Foi então que a Providência suscitou o Santo da Pobreza, São Francisco de Assis. Deserdado pelo pai porque se mostrava muito generoso para com os pobres, abandonou a família e se despojou de todos os bens para servir a Deus na pobreza. Uniram-se a ele alguns companheiros, com os quais fundou a Ordem dos Irmãos Menores, e passaram a viver junto à Igreja da Porciúncula, em oração e penitência. Inocêncio III relutava em aprovar as Regras da nova família religiosa, mas uma visão celeste o demoveu dessa atitude. Viu o Papa, em sonho, as paredes da Basílica de Latrão que se fendiam e São Francisco que as escorava, impedindo que ruíssem. Compreendendo que a Providência intervinha em socorro do Santo, o Sumo Pontífice decidiu aprovar oralmente as Regras. Só em 1226 foi-lhes dada aprovação solene pelo Papa Honório III. Com esse decreto a Santa Sé recebia oficialmente no seio da Igreja a Ordem dos Frades Menores, a Ordem Segunda, das Clarissas, e a Ordem Terceira, para seculares. No fim da vida, o "Poverello di Assise" recebeu, como prêmio de seu amor ardente a Nosso Senhor Crucificado, em seu corpo já macerado por duras penitências, os Santos Estigmas da Paixão.

Hoje, os filhos de São Francisco estão divididos em três grupos: os Frades Menores (cerca de 25.000), os Conventuais (3.000) e os Capuchinhos (13.000).

A Ordem dos Pregadores e o Apóstolo do Rosário

São Domingos de Gusmão, o fundador da Ordem dos Pregadores ou Dominicanos, nasceu em 1170, na Espanha. Entregou-se desde a juventude ao serviço de Deus, e no começo do século XIII ocupava uma cátedra do Capítulo de Osma, em Castela. Por volta de 1205 passou pela França, em missão que lhe fora confiada por Afonso IX, Rei de Castela. Teve então oportunidade de presenciar a ruína moral causada pela heresia albigense. Os Legados da Santa Sé na França meridional confiaram ao Santo o seu desânimo, pois os albigenses iludiam a muitos e se alastravam por toda parte. São Domingos auxiliou-os intensamente no combate a essa terrível heresia. Voltando à Espanha começou a pregar e a viver em pobreza e simplicidade. Na ermida de Prulla recebeu da Santíssima Virgem a revelação salvadora do Rosário. Em 1215 fundou um instituto masculino para a pregação da doutrina e o combate às heresias e, dirigiu-se a Roma para pedir aprovação ao Papa Inocêncio III. O Sumo Pontífice aconselhou-lhe que escolhesse uma dentre as Regras já existentes e ele adotou a de Santo Agostinho. Em Roma, a Providência lhe fez ver através de um sonho sua missão: Viu a Nosso Senhor Jesus Cristo sentado em seu trono de Juiz, empunhando três lanças em atitude de atirá-las sobre o mundo. Entretanto a Virgem Santíssima intercedia junto a Ele, e apresentava como garantia da conversão dos povos dois homens, dos quais um era o próprio Domingos. Na manhã seguinte, entrando numa das Basílicas de Roma viu diante de si o outro homem que aparecera no sonho. Era São Francisco que por sua vez também tivera a mesma visão. Ajoelharam-se um diante do outro, e por longo tempo choraram, e depois abraçando-se deram-se a conhecer. Em 1216, Honório III aprovou solenemente a Ordem Dominicana e a exaltou com estas palavras: "Os Frades da nova Ordem deverão ser os campeões da Fé, autênticos luzeiros do mundo, invencíveis atletas de Cristo". À Ordem Dominicana pertenceram os grandes mestres da Escolástica, Santo Alberto Magno e São Tomaz de Aquino, bem como os famosos teólogos do Concílio de Trento, Tomaz de Vio, Caietano, Bañez e João de São Tomaz.

A única Ordem cujo fundador ainda não morreu

Nos tempos distantes do Velho Testamento, o Senhor suscitou um Profeta para lançar à face dos filhos de Israel a sua infidelidade e reconduzi-los ao verdadeiro caminho. Era Elias, que, em oração e penitência, cumpria obediente a missão que Deus lhe confiara. A Eliseu e outros discípulos, reunidos no Monte Carmelo, ensinou a venerar Aquela da qual nasceria o Messias, a Virgem Santíssima. Assim tornou-se Elias o Patriarca da primeira comunidade religiosa mariana. O Profeta foi arrebatado da terra num carro de fogo, e a Escritura Sagrada revela que ele ainda está vivo, só devendo morrer quando vier o anticristo. Seus discípulos continuaram a viver conforme os seus ensinamentos, no Monte Carmelo, até o advento de Cristo e a Redenção da humanidade. Com o influxo da revelação evangélica a Ordem do Carmelo se desenvolveu na Palestina, onde a encontraram os Cruzados.

As Regras da Venerável Ordem Carmelitana foram aprovadas primeiramente pelo Patriarca de Jerusalém, por volta de 1209. Em 1220 os sarracenos invadiram a Terra Santa e os Religiosos, perseguidos, espalharam-se pelo Ocidente, na França, Espanha, Hungria e Inglaterra. Em 1226 Honório III aprovou suas novas Regras, adaptando a vida cenobítica oriental à mentalidade ocidental. Distingue-se na Ordem Carmelitana o santo Prior Geral, São Simão Stock, a quem a Virgem Santíssima, em 1251, entregou o Santo Escapulário. Outro Santo admirável foi São João da Cruz, reformador, juntamente com Santa Teresa d'Ávila, do Carmelo.

Hoje, os Carmelitas, que têm o estatuto de Ordem Mendicante, dividem-se em dois ramos: os Calçados, que conservam a liturgia antiga da Igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém, e os Descalços, da reforma de Sta. Tereza, muito conhecidos pela vida de penitência rigorosa que levam, pois fazem abstinência perpétua de carne, levantam-se à noite para a recitação do Ofício Divino e reservam duas horas do dia para a meditação. Os Carmelitas Calçados são cerca de 2.000 e os Descalços, 3.000.

Os Agostinianos

Santo Agostinho, o ilustre Doutor da Igreja, votava grande apreço à vida monástica, tendo escrito mais de duzentas cartas às Virgens consagradas e numerosos sermões sobre o estado religioso. Quando Bispo de Hipona, vivia em comunidade com o seu Clero. Depois de sua morte, diversas famílias eremíticas continuaram a viver segundo o seu espírito. Em 1256 o Papa Alexandre IV reuniu todas numa só Ordem. Esta atingiu o apogeu no século XV, quando contava com 42 Províncias, 2.000 Mosteiros e 30.000 Religiosos. Em 1311 o Santo Padre Clemente IV proclamou-a Ordem Mendicante. Atualmente os Agostinianos formam três grupos, que são os Eremitas de Santo Agostinho (perto de 3.000), os Recoletos (1650) e os Romitanos Descalços (170).

A Milícia de Santo Inácio

Ferido no cerco de Pamplona, Inácio de Loyola, valoroso oficial do exército espanhol, resolveu, durante a penosa convalescença, tornar-se guerreiro de Jesus Cristo. Abandonando a família e o seu castelo empreendeu a peregrinação à Igreja beneditina de Montserrat, na Catalunha. Ali na véspera da festa da Anunciação de 1522, depôs a espada sobre o altar de Nossa Senhora e iniciou a vida de cavaleiro de Cristo com a vigília das armas, atravessando a noite aos pés da Virgem para que esta recebesse e abençoasse a sua oblação total. Seguiu depois para a gruta de Manresa onde passou vários meses em austera penitencia, alimentando-se de pão e água, disciplinando-se três vezes por dia, tendo por leito o chão e vivendo de esmolas. Foi nessa ocasião que, inspirado por Maria Santíssima, escreveu os Exercícios Espirituais. Em 1534, na Capela de Nossa Senhora de Montmartre, em Paris, faz, juntamente com alguns discípulos, os primeiros votos. Nascia a Companhia de Jesus, sob o manto protetor da Virgem Santíssima. Além dos votos de pobreza, castidade e obediência, fizeram um especial de obediência ao Santo Padre, a cujo serviço se colocavam com a submissão mais completa.

A Providência suscitara essa milícia para lhe confiar a árdua e gloriosa missão de combater em todo o mundo, na primeira linha, pelo Papa e pela ortodoxia. Fiéis à sua vocação, os Jesuítas lutaram com denodo contra as grandes heresias dos últimos séculos, como o atesta a história do protestantismo, do jansenismo, do galicanismo. Também se distinguiram pelo apostolado missionário e pela obra de educação da juventude, conforme lhes prescrevera o Santo Fundador. No seio da Companhia nasceram as Congregações Marianas, cuja contribuição para a formação dos jovens e a defesa da Fé tem sido inestimável. Uma plêiade de Santos saíram das fileiras do exército de Santo Inácio: São Francisco Xavier, o apóstolo das Índias e do Japão, São Pedro Canísio e São Roberto Belarmino, baluartes na luta contra o protestantismo, São Luiz Gonzaga, padroeiro da juventude, e muitos outros. Atualmente os Jesuítas são em número de 27.000, aproximadamente.

As Ordens contemplativas femininas

Desde que se formaram as primeiras comunidades de Monges, no século IV, ao par delas surgiram os mosteiros femininos, nos quais as Religiosas, a exemplo dos santos varões, se dedicavam inteiramente ao serviço de Deus, pela frequência aos Sacramentos, pela oração e penitência.

A vida monacal feminina recebeu notável impulso sob a orientação do grande Patriarca S. Bento, cuja irmã, Santa Escolástica, fundou e dirigiu um mosteiro que seguia a regra beneditina. Séculos mais tarde, ao contingente das Monjas Beneditinas veio unir-se o das Clarissas de São Francisco de Assis, e, pouco depois, o das Dominicanas, fundadas por São Domingos de Gusmão. No século XV foi instituída a Ordem segunda Carmelitana, com a qual se completou o quadro das Ordens contemplativas femininas.

As Constituições dessas Ordens estabelecem os votos solenes, a clausura perpétua e a obrigação do coro, isto é, a recitação pública e em comum do ofício divino.

As Beneditinas. Santa Escolástica, irmã de S. Bento, fundou um mosteiro de Religiosas, perto de Monte Cassino, onde vivia o Santo com os seus Monges. É a origem das Beneditinas, que seguem a Regra de São Bento, dedicando-se exclusivamente à vida contemplativa e ao trabalho intelectual e artístico.

As Clarissas. Em 1212, São Francisco e Santa Clara fundaram a Ordem segunda, destinada a mulheres, e submetida às mesmas Regras que a Ordem dos Frades Menores. Vivem na maior pobreza, em orações e duras penitências corporais.

As Dominicanas. São Domingos de Gusmão, por determinação do Papa Honório III, fundou, em 1217, no convento de São Sisto, o instituto religioso das Dominicanas, prescrevendo para as Monjas a vida de oração e trabalho. Distinguem-se entre as filhas de São Domingos a grande Santa Catarina de Siena, que viveu no século XIV e se tornou admirável pela acendrada vida de piedade e contemplação, e pela inteligência ilustrada por um profundo senso católico. Foi escolhida como conselheira de Bispos e Príncipes, e até de Papas.

As Carmelitas. A Ordem segunda Carmelitana foi instituída pelo Beato João Soreth, em 1542. Estas Religiosas são muito conhecidas e veneradas por causa do rigor com que observam as antigas obrigações da vida religiosa no Carmelo. Assim, vivem em grande pobreza, não tendo nem cadeiras para sentar-se; submetem-se a flagelações e outras penitências, como a abstinência perpétua de carne; e vivem no mais completo isolamento do mundo, não lhes sendo permitido nem mesmo mostrar o rosto a pessoa alguma do século. O hábito é constituído de um escapulário pardo-escuro, capa e véu negros. Duas Santas extraordinárias enchem de glória o Carmelo: Santa Teresa d'Ávila, a grande reformadora das Carmelitas, no século XVI, e Santa Teresinha do Menino Jesus, que viveu no século passado no Carmelo de Lisieux.

Em próximo artigo apresentaremos alguns dados acerca das antigas Ordens Militares, Cavalheirescas e Redentoras, bem como das Congregações e Sociedades Religiosas.

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