Na Rússia, apesar da tirania soviética, ainda há fervorosos devotos de Nossa Senhora.
Legenda:Nossa Senhora apresenta a Seu Divino Filho as súplicas do povo russo, representado por André Bogolubski, grão-príncipe de Kiev no sec. XII, e intercede por ele — Ícone russo do sec. XIV.
“Retirai Maria, retirai a Estrela do Mar deste mar (da vida) tão grande e de longos braços (Salmos CIII, 25) e que restará senão uma nuvem de negrume envolvente, a sombra da morte (Job X, 22) e densas trevas?" Pois n'Ela "Deus colocou a plenitude do bem, de modo que se há algo de esperança em nós, algo de graça, algo de salvação, podemos estar seguros de que d'Ela transbordou para nós" (São Bernardo, Sermões sobre a Assunção e Natividade da Santíssima Virgem).
Eis a grande verdade encerrada na Carta Apostólica do Santo Padre Pio XII aos povos da Rússia, que publicamos nesta página. E as impressionantes palavras com que o Vigário de Cristo consagra essa infeliz porção da Cristandade ao Imaculado Coração de Maria nos trazem à lembrança a Mensagem da Mãe de Deus aos pastorinhos de Fátima, que também transcrevemos em outro local.
A volta dos povos separados da Igreja pelas trevas do erro, através da oração perseverante dos que se refugiam sob o manto d'Aquela que se apresenta diante dos inimigos de Deus "terrível como um exército em forma de batalha", a quebra das cadeias que prendem as pobres vítimas do comunismo aos seus algozes, pela mediação de Quem, sozinha, exterminou todas as heresias, eis a nossa grande esperança de salvação no mar tenebroso que envolve a humanidade de hoje.
Traduzimos o texto da Carta Apostólica do Osservatore Romano, edição hebdomadária em francês, de 25 de julho. Os subtítulos são desta Redação.
"Caríssimos povos da Rússia, saudação e paz no Senhor.
Enquanto o Ano Santo se encerrava festivamente, depois que, por divina disposição, Nos fora dado definir solenemente o Dogma da Assunção ao Céu, em corpo e alma, da Santa Mãe de Deus, a Virgem Maria, numerosos foram os que de todas as partes do mundo Nos exprimiram sua mais viva exultação; muitos deles, enviando-Nos cartas de agradecimento, suplicaram-Nos instantemente que consagrássemos o povo russo inteiro, que atualmente conhece tão grandes sofrimentos, ao Coração Imaculado da Virgem Maria.
Esta súplica Nos foi sumamente agradável, pois Nossa paternal afeição abraça todos os povos, ela se dirige de maneira particular aos que, embora afastados em sua maioria da Sé Apostólica pelas vicissitudes da história, ainda conservam todavia o nome cristão, mas se encontram em condições tais que lhes é muito difícil ouvir Nossa voz e conhecer os ensinamentos da doutrina católica, e são mesmo arrastados por artifícios enganosos e perniciosos a rejeitar a própria Fé e a própria ideia de Deus.
Tão logo elevado ao Soberano Pontificado, Nosso pensamento voltou-se pois para vós, que constituis um imenso povo, insigne na história por suas gloriosas empresas, por seu amor à pátria, por seu trabalho e sua economia, por sua piedade para com Deus e a Virgem Maria.
Não cessamos jamais de elevar Nossas preces a Deus, afim de que Ele vos assista sempre com Sua luz e Seu auxilio divino, vos conceda a todos poder chegar juntos a uma legítima prosperidade material, ao mesmo tempo que a esta liberdade que permite a cada qual salvaguardar sua própria dignidade humana, conhecer os ensinamentos da verdadeira religião e render a Deus o culto que Lhe é devido não somente na intimidade da própria consciência, mas também abertamente, no exercício da vida pública e privada.
De resto vós bem sabeis que, sempre que isto Lhes foi possível, Nossos Predecessores nada tiveram mais a peito que vos manifestar sua benevolência e vos conceder seu auxilio. Vós sabeis como os apóstolos dos eslavos ocidentais, os santos Cirilo e Metódio, que, juntamente com a religião cristã, levaram a civilização aos antepassados desses povos, se dirigiram para a Cidade Eterna para que a obra de seu apostolado fosse reforçada pela autoridade dos Pontífices Romanos. E, ao fazerem eles sua entrada em Roma, Nosso Predecessor Adriano II de venerável memória "veio ao seu encontro, acompanhado pelo clero e pelo povo" (Leão XIII, Enc. "Grande munus", A. L. vol. II, 129); e, depois de ter aprovado e louvado o que eles haviam feito, não somente os elevou ao episcopado, mas ele próprio quis sagrá-los Bispos com a majestade solene dos santos ritos.
No que concerne aos vossos antepassados, sempre que as circunstâncias o permitiram, os Pontífices Romanos procuraram estreitar e consolidar os laços de amizade com eles. É assim que no ano 977, Nosso Predecessor Bento VII, de feliz memória, enviou legados ao Príncipe Jaropolk, irmão do célebre Wladimir; este último, sob os auspícios do qual resplandeceram pela primeira vez no meio de vosso povo o nome cristão e a civilização cristã, recebeu igualmente legações de Nossos Predecessores João XV em 991 e Silvestre II em 999, aos quais respondeu cortesmente, enviando por sua vez legados a esses Pontífices Romanos. Fato digno de nota, nessa época em que esse grande Príncipe conduzia o seu povo à religião de Jesus Cristo, a cristandade oriental e a ocidental estavam unidas sob a autoridade do Pontífice Romano, como Chefe Supremo de toda a Igreja.
Mesmo, algum tempo mais tarde, isto é em 1075, vosso Príncipe Jsjaslav enviou seu próprio filho Jaropolk ao Soberano Pontífice Gregório VII; e Nosso Predecessor de imortal memória escreveu então ao Príncipe e à sua augusta esposa: "Vosso filho, visitando os túmulos sagrados dos apóstolos, veio a Nós e, como queria obter esse reino de Nossa mão como um dom de São Pedro, tendo feito profissão de fidelidade a São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, pediu-o com piedosas súplicas assegurando-Nos que sem dúvida alguma seu pedido seria ratificado e confirmado por vós, se o mesmo obtivesse o favor e a proteção da autoridade apostólica. Como esses votos e esses pedidos pareciam legítimos, seja por vossa aprovação, seja pela devoção do requerente, Nós os acolhemos finalmente, e Nós lhe conferimos da parte de São Pedro, o governo de vosso reinado, com a intenção e o ardente desejo de que o Bem-aventurado Pedro, por sua intercessão junto a Deus, vos guarde, assim como a vosso reino e a todos os vossos bens, e vos faça possuir esse reino em toda paz, com honra e glória, até o fim de vossa vida" (Registrum Gregorii VII, 1.2, n. 74, p. 236 — in Monum. Germ. Histor.; Epist. Select., II, 1, pag. 236).
Deve-se ainda notar com grande atenção que Isidoro, Metropolita de Kiev, no Concílio ecumênico de Florença, subscreveu o Decreto pelo qual era solenemente afirmada a união da Igreja Oriental e Ocidental, sob a autoridade do Pontífice Romano; e isto por toda a sua Província Eclesiástica, isto é, por todo o reino da Rússia. E, quanto a ele, permaneceu fiel à unidade assim realizada até o fim de sua vida terrestre.
E se com o correr dos tempos, em razão de um conjunto de circunstâncias adversas, as relações se tornaram de parte a parte mais difíceis e, por conseguinte, mais difícil também a união dos espíritos — se bem que até 1448 não haja nenhum documento público que declare vossa Igreja separada da Sé Apostólica — isto não deve todavia, de uma maneira geral, ser imputado ao povo eslavo nem certamente a Nossos Predecessores, que rodearam sempre estas populações de um amor paternal e, quando isto lhes foi possível, procuraram sustentá-las e ajudá-las de todas as maneiras.
Deixamos de lado muitos outros documentos históricos que revelam a benevolência de Nossos Predecessores para com vossa Nação; mas não podemos deixar de fazer breve alusão ao que realizaram os Soberanos Pontífices Bento XV e Pio XI, quando, após o primeiro conflito europeu, especialmente nas regiões meridionais de vossa pátria, grandes multidões de homens, mulheres, inocentes meninos e meninas, sofreram terríveis privações e foram reduzidos a uma extrema miséria. Com efeito, levados por uma paternal afeição para com vossos compatriotas, eles enviaram a essas populações viveres, agasalhos e uma grande quantidade de dinheiro recolhido em toda a família católica para vir em auxilio destes infelizes famintos, e poder aliviar de alguma maneira suas calamidades.
(continua)
Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo dos seus crimes por meio da guerra, da fome e da perseguição à Igreja e ao Santo Padre.
Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados.
Se atenderem ao meu pedido, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja: os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz.