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VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

• É obrigação de consciência tentar todos os meios de restaurar a liberdade dos húngaros

PIO XII: Pode o mundo desinteressar-se desses irmãos (os húngaros) e abandoná-los ao destino de uma escravidão degradante? Sem dúvida alguma a consciência cristã não pode subtrair-se à obrigação moral de tentar todos os meios permitidos para restaurar-lhes a dignidade e devolver-lhes a liberdade.

Não queremos dissimular quanto são complexas atualmente as relações entre as nações e os grupos continentais de que elas fazem parte. Mas ouça-se a voz da consciência, da civilização, da fraternidade, que se ouça a voz mesma de Deus, Criador e Pai de todos, e faça-se passar ao segundo plano, mesmo ao preço de pesados sacrifícios, qualquer outro problema e todo interesse particular, diante daquele — primordial e fundamental — de milhões de vidas humanas reduzidas à escravidão.

Cuida-se o mais depressa possível de cerrar novamente as fileiras e de reunir num sólido pacto público todos os que, governos e povos, querem que o mundo siga o caminho da honra e da dignidade dos filhos de Deus; um pacto que seja também capaz de defender eficazmente seus membros de todo ataque injusto a seus direitos e a sua independência. — (Rádio-mensagem "sobre as ansiedades do mundo na hora presente", de 10-XI-1956).

• Decisivo para o conhecimento da verdade é o "sensus Ecclesiae" e não a "opinio theologorum"

PIO XII: Circunstâncias particulares no período mais recente da vida eclesiástica nos levaram, nas alocuções ao Sacro Colégio e ao Episcopado, de 31 de maio e 2 de novembro de 1954, a dizer uma palavra sobre o fundamento do Magistério de direito divino do Papa e dos Bispos e sobre o ensinamento dos teólogos, que exercem seu oficio não de direito divino, mas por delegação da Igreja, e portanto ficam submetidos à autoridade e à vigilância do Magistério legítimo. Se, como teólogos eles estão ativamente interessados na "Orientação" e utilizam argumentos teológicos científicos, poder-se-ia perguntar se é a sua palavra ou a do Magistério da Igreja que tem mais peso e oferece melhor garantia de verdade. A esse propósito se lê na Encíclica "Humani Generis": "Não foi... aos teólogos que Cristo confiou a interpretação autêntica do deposito da Fé, mas exclusivamente ao Magistério da Igreja . . . Por isso, Nosso Predecessor de imortal memória, Pio IX, ao ensinar que a teologia tem o encargo tão nobre de mostrar como uma doutrina definida pela Igreja está contida nas fontes, acrescentou estas palavras, não sem graves razões: no mesmo sentido em que a Igreja a definiu". Portanto, para o conhecimento da verdade, o que é decisivo não é a "opinio theologorum", mas o "sensus Ecclesiae". De outro modo, seria fazer dos teólogos quase "magistri Magisterii", o que é erro evidente.

Isto não impede, seguramente, os teólogos e sábios de se aplicarem a dar fundamento científico a toda uma série de questões subtis da vida. Certamente a Santa Sé ama, louva e encoraja as pesquisas eruditas e as altas especulações dos teólogos que aprofundam as verdades reveladas e não hesitam em considerar, explicar e sustentar as declarações do Magistério Eclesiástico com a seriedade da ciência, à luz da razão esclarecida pela fé, isto é, como afirmava Pio IX, "in sensu Ecclesiae". — (Discurso aos participantes da VI Semana Italiana de Adaptação Pastoral, de 14-IX-1956).

• Na Ação Católica não é possível nem desejável a uniformidade

PIO XII: Aplicadas a tarefas de apostolado geral, encontrareis ao vosso lado outras formas de Ação Católica que têm por centro de interesse uma Paróquia, um ambiente, uma profissão, uma obra. Cada uma tem os seus métodos, e esta legítima diversidade deve ser respeitada. A uniformidade não é possível, nem desejável, pois não corresponderia à variedade quer das situações, quer dos recursos materiais e humanos. — (Discurso ao Conselho da Federação Internacional de Homens Católicos, de 8-XII-1956).

• Sacrifício mais precioso do que o zelo dos apóstolos

PIO XII: Queremos felicitar-vos em particular pelo interesse que dedicais aos vossos numerosos irmãos cristãos perseguidos, especialmente na Europa e na Ásia. Vós os sustentais com vossas orações; vós protestais em seu favor, em nome da justiça e do direito das gentes; tirais proveito, enfim, de seu exemplo de fidelidade heróica a Cristo e à Igreja. Seu sacrifício, unido ao do Salvador, é ainda mais precioso aos olhos de Deus do que o zelo dos apóstolos; e é dele que esperamos, no dia da misericórdia, a volta à unidade de povos inteiros, hoje esmagados e separados violentamente do único redil preparado pelo Bom Pastor. — (Discurso ao Conselho da Federação Internacional de Homens Católicos, de 8-XII-1956).

• Os impostos não devem servir para manobras intervencionistas

PIO XII: Não resta dúvida acerca do dever de cada cidadão de suportar uma parte das despesas públicas. Mas o Estado, de seu lado, enquanto encarregado de proteger e promover o bem comum dos cidadãos, tem a obrigação de repartir entre estes unicamente os gastos necessários, e proporcionais aos seus recursos. Portanto, o imposto não pode, jamais, tornar-se para os poderes públicos um meio cômodo de saldar o déficit provocado por uma administração imprevidente, ou de favorecer uma indústria ou um ramo de comércio à custa de outros igualmente úteis. — (Discurso aos membros do X Congresso da Associação Fiscal Internacional, de 2-X-1956).

• Eliminem-se as disposições legais que oprimem a iniciativa privada

PIO XII: Frequentemente, imposições muito pesadas oprimem a iniciativa privada, freiam o desenvolvimento da indústria e do comércio, desencorajam as boas vontades. Assim, ao percorrer a lista dos assuntos tratados por vossos Congressos anteriores, vimos com prazer que recomendáveis eliminar da legislação certas disposições prejudiciais aos verdadeiros interesses dos particulares e das famílias, bem como ao progresso normal do comércio e dos negócios no plano nacional e internacional. — (Discurso aos membros do X Congresso da Associação fiscal Internacional, de 2-X1956).


ESCREVEM OS LEITORES

Sr. Marcello Caetano, Ministro da Presidência do Conselho, Lisboa (Portugal): " . . . jornal que muito apreciou e por cuja difusão e longa vida faz votos ardentes".

Revmo. Frei Elmar Posch, O.F.M., Residência Franciscana, Campos do Jordão (Est. S. Paulo) : "Aproveitando a ocasião, quero exprimir a minha grande admiração pelo jornal — tão claro, enérgico e decisivo, que é o CATOLICISMO!"

Sr. Juan Sáenz-Diez Garcia, Madrid (Espanha): "Sigo recibiendo la revista CATOLICISMO que me parece cada día más interesante y que leo enteramente. Si de algo vale mi estímulo, me permito recomendarles que sigan en la misma línea de conducta que llevan hasta aquí, pues es interesante aclarar las ideas de los católicos".

Dr. Francisco José Velozo, Braga (Portugal): " . . . tive o maior prazer espiritual em ler os números de CATOLICISMO que V. Excia. me enviou. Trata-se de um jornal interessantíssimo, que vem preencher uma lacuna nas letras católicas: elevado, variado de temas, bem apresentado graficamente, ao mesmo tempo ardoroso e sereno em suas campanhas. O apelo às boas tradições, as únicas a merecer o nome de Tradição, não pode deixar de ser grato aos portugueses, que assim se sentem presos ao Brasil, a essa enorme extensão de terra americana, onde os irmãos de nossos Pais, filhos de nossos Avós, talharam para si uma Pátria, criaram uma Nação, pela via poderosa do gênio luso, mas com características inconfundíveis,

V. Excia. dirá em que poderei contribuir para o êxito e difusão de seu esplêndido jornal aqui.

. . . Não desanime V. Excia., não desanimem os seus companheiros na sua tarefa, que até economicamente pode ter e deve ter projecção adequada em Portugal".

Dr. Fernando de Aguiar, Beira (África Oriental Portuguesa): "Já conhecia este excelente e prestável CATOLICISMO, tão meu velho conhecido de quando eu vivia em Lisboa, ...

Considero o seu mensário como o mais prestante serviço à boa causa, e já tive ocasião de salientá-lo por mais de uma vez. Neste mundo ateu, CATOLICISMO marca a posição da verdade contra a mentira de nossos dias".

Prof. Pedro Real, Paranavaí (Est. Paraná): “... seu tão valioso jornal".

Sr. Antonio Carneiro Barbosa, Colégio Anchieta, Nova Friburgo (Est. Rio): “... meus sinceros parabéns pelo CATOLICISMO. Sempre na mesma linha".


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Ambientes, Costumes, Barbárie

Plinio Corrêa de Oliveira

Este pobre ancião parece uma revivescência de Job, no mais amargo de suas provações. Uma extrema magreza faz aparecer, por debaixo da pele maltratada, rugosa, exangue, as linhas gerais do esqueleto. Os músculos do pescoço são impotentes para manter ereta a cabeça, que por isso pende de lado. As orelhas, em virtude da magreza, sobressaem desmedidamente. Os olhos ardem, meio desvairados, no fundo tragicamente sombrio das órbitas. As mãos não sustentam sequer o peso de uma xícara.

Falamos de Job. A comparação é inexata. O santo varão foi flagelado pelo demônio com graves desgraças, mas estas não lhe tiraram o vigor esplendido da mente, que, sob inspiração divina, escreveu a respeito da própria dor páginas de uma beleza ímpar na literatura de todos os tempos.

Neste desditoso enfermo, tem-se a impressão de que o sofrimento desgastou quase todas as energias da alma, cuja vida parece ter-se concentrado só no olhar. Um terrível olhar, alheio a todas as coisas que o rodeiam, e preso na rememoração de fatos e ambientes dantescos que são como que um pesadelo em que todo o ser ainda está imerso. Um admirável olhar que conserva uma candura e uma dignidade sobranceiras a todas as desgraças.

No rosto, apenas um pormenor sugere a idéia de que talvez se trate de um homem prematuramente acabado, que chegou à ancianidade, não pelo curso do tempo, mas por um brutal desgaste: as sobrancelhas se mantém pretas...

Em 1952 ainda, este varão estava em plena atividade. Seus ombros suportavam o fardo do episcopado, tão grande que, como escreveu São Jerônimo, causaria medo aos próprios Anjos. Seu nome é Mons. Alfonso Ferroni, O.F.M. Sua nacionalidade, italiana.

Sua Diocese, de Laohokow, na China, caiu sob o poder dos vermelhos, que o sujeitaram a toda sorte de maus tratos. Ele recusou heroicamente aderir ao marxismo. E o resultado aí está. A ferocidade dos asseclas de Chu En-Lai deixou sua marca nesta face. Esplendida expressão dos dois valores em luta: a virtude sobrenatural da Igreja, e a infâmia satânica do comunismo.

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O mesmo ambiente alucinante das masmorras russas e chinesas, a mesma crueldade frenética e requintadamente odienta, inerente ao comunismo, teve por vítima, bem longe da China, um outro Prelado.

As multidões pronunciam seu nome com veneração. Neste charco de amoralidade, de imediatismo, de corrupção, de covardia, que é o mundo moderno, ele é o varão retilíneo, desinteressado, coerente e intrépido, que provou pelo martírio a autenticidade de seu imenso desprendimento. Milhões de homens, pensando nele, sentem honra em ser homens. E sua intrepidez - di-lo o Vigário de Cristo - causa admiração aos Anjos de Deus ( cf. a Carta Apostólica de 29 de junho de 1956, "Catolicismo", nº 70 ).

Em nosso clichê, após sua libertação, o Cardeal Mindszenty no Palácio Arquiepiscopal de Buda, cercado por seus libertadores.

O corpo, de constituição vigorosa, parece ter resistido bem à dura prova. O rosto exprime admiravelmente a varonilidade e a penetração que tornaram famoso o Primaz da Hungria. A vitalidade, a agilidade, denotam a imensa reserva de recursos que o campeão da Fé pode ainda pôr a serviço de Jesus Cristo.

Mas considere-se o olhar. Sem nada, absolutamente nada de senil, parece evocar cenas terríveis, angústias inenarráveis, tormentos que, sem recursos muito especiais da Providência, aniquilariam qualquer homem.

Vê-se que o Cardeal foi imerso, também ele, no oceano de dores morais ou físicas, que é uma prisão comunista.

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Ambiente, costumes do comunismo. Não dizemos ambiente, costumes, civilização porque devêramos dizer ambiente, costumes barbárie.

Como ter dificuldade em compreender, diante destes quadros, a legitimidade eventual de uma guerra preventiva, nos termos em que a ela se referiu o Santo Padre Pio XII em sua última alocução de Natal?