P.06-07

ISLÃ E AFRICA

(continuação)

atualmente no centro da África, entre cinco milhões de brancos e duzentos milhões de negros ... é-nos impossível renunciar às nossas responsabilidades de auxilio e assistência, e esquivar-nos da missão de levar nossa civilização até o coração da floresta virgem".

Os negros que atingiram um maior grau de civilização seguem apaixonadamente as notícias da guerra na Argélia. Suas simpatias estão inteiramente voltadas para os rebeldes.

As palavras de ordem lançadas pelos imanes de Meca circulam de Fez a Karachi e do Cairo ao Tchad, graças aos meios de comunicação que a técnica coloca à disposição do homem moderno, e à ação eficiente de uma elite formada nas Universidades muçulmanas.

No Congo Belga, o presidente do Centro Real Africano declarava em 1956: "É um incrédulo que vos fala e que não é suspeito de hostilidade para com o ensino oficial, mas que, conhecendo o caráter místico do negro, pergunta com angústia se, querendo libertá-lo de toda crença, não o estão impelindo, ingenuamente, a engrossar as fileiras dos muçulmanos fanatizados. A quem sorrir e levantar os ombros à evocação desse perigo, eu aconselharia informar-se sobre o número de ouvintes que, na região leste da Colônia, escutam as transmissões da Rádio do Cairo em língua swahili" (cf. Agência Fides, 22 de outubro de 1956).

Em 1957, 25% das fitas passadas nos cinemas de Bamako, capital do Sudão Francês (África Ocidental Francesa), eram de origem egípcia e em língua árabe. Algumas eram claramente de propaganda. Com esses métodos o Islã negro vai, pouco a pouco, sendo seduzido para constituir um só todo com a grande família muçulmana.

Em 1950, o jornal egípcio "Etaalaat" publicava um editorial do qual transcrevemos este trecho: "Irmãos, foram os agentes imperialistas que trabalharam escandalosamente para enfraquecer a fé no coração dos muçulmanos. Eles ofenderam a alta moral muçulmana, encorajando o uso de beberagens alcoólicas e o estabelecimento de lugares de imoralidade. É com essas armas repugnantes que os imperialistas conseguiram reduzir os muçulmanos a essa posição deplorável na qual se encontram atualmente no mundo. Irmãos, congregai-vos em torno da causa do Islã e esquecei os vossos motivos de desunião. Os acontecimentos mundiais exigem que estejamos sempre em contacto, a fim de destruir os imperialistas e expulsá-los de nossas terras. Os povos muçulmanos devem, seguindo os ensinamentos do Profeta, organizar-se para barrar os passos do colonialista explorador. A formação de uma união muçulmana é agora mais necessária do que em qualquer época da história".

Note-se que esse apelo foi publicado em 1950, antes da nacionalização de Suez, antes da retirada das tropas inglesas da zona do Canal, antes da independência da Tunísia, do Marrocos, de Ghana, do Sudão, antes, enfim, dos acontecimentos que culminaram com a formação de um bloco muçulmano que hoje é capaz de intervir de maneira decisiva na política internacional. O caso do Líbano e do Iraque é um exemplo de como essa intervenção pode ser realmente decisiva.

Continuará o Ocidente a colaborar, senão por ação, ao menos por omissão e inércia, para que se realize o voto comunista a que aludíamos: "Façamos progredir o Islã e a África será nossa"? É o que nos resta perguntar.


ESCREVEM OS LEITORES

Ortografia e linotipo

Revmo. Frei Isaias de Lajeado, O. F. M. Cap., Convento São Boaventura, Marau (Est. Rio Grande do Sul): "Tenho em mãos o último número do CATOLICISMO (n.o 91, de julho p. p.) , que aliás recebemos regularmente. Li-o e admirei-o. Gostei muito. Não quero errar nem fazer um elogio exagerado, mas considero-o um jornal dos que melhor e mais acertadamente defendem a verdadeira Religião.

... Não sei o motivo por que a maioria das palavras que, conforme o acordo ortográfico luso-brasileiro de 1943,... deveriam ser acentuadas graficamente, não aparecem acentuadas no CATOLICISMO. Creio haver para isso uma razão. Ficarei agradecido por qualquer esclarecimento".

R - Desde que, em 1956, foi legalmente adotado no país o sistema ortográfico do Pequeno Vocabulário da Língua Portuguesa, organizado em 1943 pela Academia Brasileira de Letras, CATOLICISMO vem obedecendo às suas normas, com exceção apenas das relativas aos acentos. Não é esta a primeira vez que nossos leitores manifestam uma certa estranheza diante dessa restrição.

*

Seguimos, nesse particular, a orientação dominante, senão uniforme, na imprensa brasileira.

Há algum tempo, também respondendo a uma consulta de seus leitores, um dos mais bem aparelhados jornais diários do país justificou muito bem essa orientação. Vamos transcrever, data vênia, os tópicos que interessam a CATOLICISMO, acrescentando-lhes algumas considerações próprias, para esclarecimento de nosso consulente:

"Há várias razões para que a imprensa em geral — excetuando-se, talvez, os Diários Oficiais — olhe com certa displicência e desconfiança para as regras de acentuação das palavras. De 1931 até hoje, já tivemos três acordos ortográficos com Portugal — o de 1931, o de 1943 e o de 1945 — e uma reforma com nove regras de acentuação, feita ali por 1939. As diferenças entre o acordo de 1931 e a reforma de 1939 eram apenas na acentuação: a daquele era luxuriante, a desta ...extremamente simplista. O acordo de 1943, ao lado de outras inovações, voltou a uma acentuação complicada, não muito diversa da de 1931. O de 1945 mexeu na grafia e na acentuação. Mas esse encontrou imediatamente repulsa no meio brasileiro: foi para nós um acordo abortivo, embora os portugueses desde o início o tenham levado a sério.

"Ora, quatro reformas ortográficas em quatorze anos criaram, não só na imprensa, mas também no meio escolar, um certo desdém e muita desorientação. Os professores e os editores ficaram obrigados, por dever de oficio, a sujeitar-se às mudanças de ritmo na dança da acentuação. A imprensa, porém, ficou de lado como observadora, só aderindo às normas gerais.

"O maior defeito desses sistemas é a sua rica flora de acentos, com algumas normas extremamente ridículas. Um exemplo disso é o famoso acento distintivo entre homógrafos não homófonos. É muito difícil levá-lo a sério. Quem irá confundir esse (demonstrativo) com esse (nome de letra), este (demonstrativo) com este (ponto cardeal), nele (contração da preposição com o pronome pessoal) com nele (arroz com casca na Índia)?!"

Por outro lado, existe o problema técnico. Se os teclados das linotipos em que é composta a maior parte de nossos jornais possuem todos os tipos simples comuns (letras maiúsculas e minúsculas), o mesmo não acontece no que diz respeito aos tipos acentuados. Isso obrigaria o linotipista, para observar a acentuação oficial, a apanhar com a mão as matrizes dessas letras acentuadas que faltam no teclado, com grande prejuízo do rendimento de seu trabalho.

Também a tarefa da revisão seria extremamente dificultada, se quiséssemos usar todos os acentos previstos no sistema ortográfico em vigor.

Por fim, para cada acento que o linotipista omitisse — o que, como é fácil de compreender, acontece com freqüência — seria preciso refazer a linha inteira.

Compensaria tanto trabalho para uma coisa que, como procuramos demonstrar, merece tão pouco ser levada a rigor?

*

É por esse conjunto de considerações que CATOLICISMO foi levado a só adotar, das regras oficiais de acentuação, as relativas às palavras oxítonas e às monossilábicas, bem como à diferenciação dos homógrafos que tradicionalmente assim se diferenciam (pôr e por, côrte e corte, etc.).

* Outras Cartas *

Revmo. Pe. Frei Belino Maria, O. F. M. Cap., Guaratuba (Est. Paraná) : "O jornal é ótimo sob todos os aspectos, e com certeza faz um grande bem a todos os seus leitores".

*

Revda. Madre Maria Aparecida de São Francisco, O. C. B. V. M., Mosteiro da Imaculada Conceição e de Santa Clara, Sorocaba (Est. São Paulo): "CATOLICISMO é muito apreciado aqui, e depois de lido e relido é enviado a uma senhora desta cidade, que depois de lê-lo passa para outros. Assim, esse ótimo jornal, tão necessário â época que atravessamos, vai passando de mão em mão e exercendo apostolado".

*

Prof. Leopoldo-Eulogio Palacios, Madrid (Espanha) : "Mis muchas ocupaciones no me impiden leer la magnífica revista CATOLICISMO, en la que admiro un espíritu cristiano verdaderamente ejemplar, servido con un método atrayente y eficaz que hace de esa publicación un arma original de apostolado, en la que se une la utilidad con el deleite".

*

Sr. Paul Schneidewind S., Lima (Peru) : "

“... recibo mensualmente CATOLICISMO, revista que encuentro muy interesante y muy de mi agrado... Asimismo deseo comunicarle que estoy difundiendo su jornal entre mis relaciones".


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

POBREZA E FAUSTO:

EXTREMOS HARMÔNICOS NO FIRMAMENTO DA IGREJA

Plinio Corrêa de Oliveira

Um aspecto da Santa Igreja. Numa cela cheia de penumbra, ante um crucifixo que relembra a morte mais dolorosa que jamais houve, um Monge cartuxo folheia um devocionário. Revestido de um simples e pobre burel, com uma longa barba, esse Religioso parece a personificação de todos os elementos que impregnam o ambiente que o rodeia: gravidade extrema, resolução varonil de só viver para o que é profundo, verdadeiro, eterno, nobre simplicidade, espírito de renúncia a tudo quanto é da terra, pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual.

* * *

Outro aspecto da Santa Igreja.

Na imensa nave central da Basílica de São Pedro, movimenta-se majestoso o cortejo papal. Na fotografia, percebe-se apenas uma parte dele, isto é, alguns Cardeais e os dignitários eclesiásticos e leigos que precedem imediatamente a sedia gestatória. Nesta, o Sumo Pontífice, ladeado dos famosos "flabelli" e seguido da Guarda Nobre. Ao fundo, ergue-se o Altar da Confissão, com suas elegantíssimas colunas e seu esplendido dossel. E bem mais atrás a célebre "Glória" de Bernini. As altas paredes recobertas de mármores admiráveis e adornadas de relevos, os arcos a um tempo leves e imensos, as luzes que resplandecem como se fossem estrelas ou fulgidíssimos brilhantes, tudo enfim se reveste de uma grandeza, de uma riqueza que é bem o supra-sumo do que a terra pode apresentar de mais belo. É a maior pompa de que o homem seja capaz, realçada pela magnificência da arte e pelo esplendor dos recursos naturais da pedra.

* * *

O que em um quadro é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas.

Contradição? É o que muitos diriam: pode-se, então, amar a um tempo a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos?

O problema é muito atual, no momento em que Sua Santidade o Papa João XXIII se mostra tão edificantemente zeloso das esplendidas tradições vaticanas, com manifesto desconcerto de elementos que têm uma mentalidade à Aneurim Bevan ( o líder trabalhista é paladino na luta contra todas as pompas, e assistiu de costas a uma parte da cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II ).

Não, entre uma e outra ordem de valores não existe contradição, senão na mente dos igualitários, servos da Revolução. Pelo contrário, a Igreja Se mostra santa, precisamente porque com igual perfeição, com a mesma sobrenatural genialidade, sabe organizar e estimular a prática das virtudes que esplendem na vida obscura do Monge, e das que refulgem no cerimonial sublime do Papado. Mais ainda. Uma coisa se equilibra com a outra. Quase poderíamos dizer que um extremo ( no sentido bom da palavra ) compensa a outro e com ele se concilia.

O fundo doutrinário no qual estes dois santos extremos se encontram e se harmonizam é muito claro. Deus Nosso Senhor deu-nos as criaturas, a fim de que estas nos sirvam para chegarmos até Ele. Assim, cumpre que a cultura e a arte, inspiradas pela Fé, ponham em evidência todas as belezas da criação irracional e os esplendores de talento e virtude da alma humana. É o que se chama de cultura e civilização cristã. Com isto, os homens se formam na verdade e na beleza, no amor da sublimidade, da hierarquia e da ordem que no universo espelham a perfeição d’Aquele que o fez. E assim as criaturas servem, de fato, para a nossa salvação e a glória divina. Mas de outro lado, elas são contingentes, passageiras, só Deus é absoluto e eterno. Cumpre lembrá-lo. E por isto é bom afastar-se dos seres criados, para no desprezo de todos eles pensar só no Senhor. Do primeiro modo, considerando tudo o que as criaturas são, se sobre até Deus; e do outro modo, se vai até Ele considerando o que elas não são. A Igreja convida os seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente, pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar efetivamente.