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VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

Mais viva do que nunca a digna, forte e nobre figura do Primaz da Hungria

JOÃO XXIII: Quanto a nós, devemos estar prontos a tudo sacrificar pela gloria do Sacerdócio e do apostolado, até a própria vida. É o que nos diz a história gloriosa dos Apóstolos, dos Mártires, da Igreja.

Nestes dias, está mais viva do que nunca a digna, forte e nobre figura do Primaz da Hungria. Seus sofrimentos foram inenarráveis; chegaram mesmo ao ponto de lhe transformarem o aspecto físico. Pois bem, ele soube aceitá-los, tendo sacrificado tudo pela causa de Deus, lembrando-se perfeitamente de que a vida pertence a Deus. Não é difícil, para Sacerdotes, tomar em consideração, recordar tudo isso. Assim é que, por exemplo, quando da investidura da púrpura, pede-se ao novo Cardeal uma fidelidade mantida, observada e levada até a efusão do sangue. — (Alocução aos alunos do Seminário Lombardo e aos escolásticos da Ordem dos Somascos, de 8-11-1959 — resumo feito pelo "Osservatore Romano").

O povo reclama o pão substancial da verdade

JOÃO XXIII: Não falta a tentação (nos sermões) de fazer poesia e literatura sobre os assuntos mais agradáveis; ou então de especializar-se na apologética, sem levar em conta as necessidades por vezes terríveis do tempo presente e os progressos da experiência pastoral.

Prestemos atenção: o povo nos pede o pão substancial da verdade; não lhe demos gulodices ou narra-ções mais ou menos edificantes que não têm repercussão profunda sobre o espírito. — (Discurso aos Pregadores Quaresmais de Roma, de 10-II-1959).

Submissão humilde na vida social

SÃO PEDRO: Submetei-vos, pois, a toda criatura humana, por amor de Deus; quer ao Rei, como a soberano, quer aos governantes, como enviados por ele para castigo dos malfeitores e para louvor dos bons. Porque tal é a vontade de Deus, que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres, e não à maneira dos que tomam a liberdade como véu para encobrir a malicia, porém como servos de Deus. Honrai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o Rei.

Servos, sede obedientes aos senhores com todo o temor, não só aos bons e moderados, mas também aos de mau gênio. Pois é uma graça se alguém, pelo conhecimento do que deve a Deus, sofrer contrariedades, padecendo injustamente. Ora, que gloria há se, depois de pecardes, sofreis maus tratos e sois esbofeteados? Mas se, depois de fazerdes o bem, sofreis com paciência, isto é agradável a Deus. Porque para isto que fostes chamados, visto que também Cristo padeceu por nós, deixando-vos exemplo para que sigais as suas pegadas, «o qual não cometeu pecado, nem se achou falsidade na sua boca». O qual não amaldiçoava; quando O amaldiçoavam; padecendo, não ameaçava, mas entregava-Se àquele que O julgava injustamente; e carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por cujas chagas fostes curados. Porque éreis como ovelhas desgarradas, mas agora retornastes ao Pastor e Bispo das vossas almas. — (Primeira Epistola Canônica, escrita em Roma no ano 63, cap. 2, vers. 13 a 25).


COMENTANDO...

GRANDE DATA NA HISTÓRIA DO MUNDO OPERÁRIO

Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira

Apesar das reiteradas condenações com que os Soberanos Pontífices têm anatematizado o marxismo, não é raro encontrar em ambientes católicos elementos que lhe são simpáticos. Sinal dos os tempos...

Há pouco, uma publicação católica apresentou a seus leitores um artigo que revela uma benevolência desconcertante para com o comunismo. Nele lemos: "O Manifesto de Marx-Engels de 1848 é, sem dúvida, uma das grandes datas da história do mundo operário. In-felizmente, Marx ligou penetrantes análises econômicas do mundo capitalista-liberal, que ele conhecia, e legítimas reivindicações, a uma metafísica inaceitável. Daí um enorme mal-entendido, cujo resultado foi o seguinte: um progresso eminentemente espiritual como a ascensão da classe operaria apareceu como solidário a um sistema ateu como parte de uma doutrina materialista".

Não queremos fazer, ao trecho citado, todos os reparos que merece. Deixemos de lado, por exemplo, a afirmação absurda de que a ascensão da classe operaria é "um progresso eminentemente espiritual". Fixemos apenas um ponto: qualquer fiel sabe que, do marxismo, que é "intrinsecamente mau", os Papas não condenaram apenas a filosofia, mas também, e inúmeras vezes, a doutrina econômica. Como se pode ter, portanto, a ousadia de sustentar que "o Manifesto de Marx-Engels de 1848 é, sem dúvida (sic!), uma das grandes datas da história do mundo operário"? Con-vidamos os nossos leitores a cotejarem tal afirmação com as palavras seguintes, de rara energia, com que Pio XI caracterizou o marxismo:

"Sistema cheio de erros e de sofismas, em oposição tanto à razão quanto à divina Revelação; subver-sor da ordem social, porque outra coisa não é senão a destruição de suas bases fundamentais: sistema que desconhece as verdadeiras origens, natureza e fim do Estado, e nega os direitos da pessoa humana, sua dignidade e liberdade" (Encíclica "Divini Redemptoris").

Logo adiante, o desastroso artigo condena aqueles que solidarizaram, "organização econômica de tipo capitalista" e "cristandade", "Igreja" e "direito de propriedade". Bem sabemos que o capitalismo não corresponde ao ideal de uma civilização católica; nos seus princípios econômicos — abstração feita, pois, dos abusos a que pode dar lugar — nada há, entretanto, que se oponha ao Direito Natural, como mostrou nosso colaborador Luiz Mendonça de Freitas em excelente trabalho intitulado "Capitalismo", publicado no no 94 deste jornal (outubro de 1958). Como pode, pois, o Autor, que se mostrava, há pouco, tão benévolo para com o marxismo, condenar, sem mais, a "organização econômica de tipo capitalista"? Querer dissociar "Igreja" e "direito de propriedade" é uma temeridade ainda maior. Tão maior, que ante ela preferimos calar-nos.

Descendo agora ao terreno da linguística, observemos, em algumas passagens do artigo, a presença reveladora da estranha expressão — "o Cristo", tão contraria à índole da língua portuguesa, e que anda sendo posta em voga por certos católicos inovadores.


ESCREVEM OS LEITORES

Teve a mais ampla e merecida repercussão a conferencia que o Exmo. Revmo. Sr. D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., DD. Bispo de Jacarezinho (Est. Paraná), pronunciou em Santos (Est. São Paulo) por ocasião do décimo aniversário da Constituição Apostólica "Bis Saeculari Die". Reproduzimo-la em nosso no 90, de junho de 1958, sob o título: "Estrutura e funcionamento mecânico, ou vida própria e colaboração orgânica?" Como se lembram nossos leitores, o eminente Prelado tomou como tema de seu discurso "o problema que o Santo Padre Pio XII confiou ao estudo do II Congresso Mundial do Apostolado dos Leigos...: convém fazer uma reforma do nome e da estrutura da Ação Católica?"

A revista "Marchons", editada na França pela Obra dos Retiros Espirituais, dos RR. PP. Cooperadores Paroquiais de Cristo Rei, publicou em seu no 270, de janeiro último, a tradução integral desse trabalho, fazendo-a preceder da seguinte nota:

"Nous pensons que nos retraitants et amis liront avec autant d'intérêt que de profit le magistral exposé d'un Évêque brésilien, Monseigneur de Proença Sigaud, et nous sommes heureux de le leur présenter, avec la bienveillante autorisation de Son Excellence que nous remercions respectueusement.

La traduction en a été faite sur le texte publié par la revue mensuelle "Catolicismo" éditée à Campos (Brésil) , no 90, juin 1958 (titre et sous-titre originaux) .

Louis MICHEL, C. P. C. R."

Por sua vez, a "Acies Ordinata", órgão oficial do Secretariado Central das CC. MM., de Roma, na edição de janeiro-fevereiro p. p., estampou este comentário, que traduzimos do original latino:

No Dia Mundial (11 de maio), na ci-dade de Santos (Est. São Paulo), o Bispo de Jacarezinho expôs com brilho à assembléia dos congregados o que é necessário para compreender a sugestão feita por Pio XII a respeito da mudança de nome e de estrutura da Ação Católica. Mostrou inicialmente a origem histórica e a significação genérica que o nome Ação Católica teve no reinado de Pio IX, o qual opôs a ação católica à ação revolucionaria. Esclareceu depois que essa significação se alterou na Itália, sob Pio XI, por causa das contingências políticas, que exigiam uma estrutura unitária, e lembrou a difusão dessa forma unitária fora da Itália, mas não por todo o mundo. Recordando, então, as dificuldades nascidas da forma unitária de Ação Católica, no Brasil, explicou as disposições paulatinamente postas em vigor por Pio XII para evitar ditos inconvenientes, a última das quais foi o convite feito aos participantes do II Congresso do Apostolado dos Lei-gos, no sentido de que considerassem a sugestão feita a Sua Santidade.

Permita Deus que, por toda a parte, estas coisas se tornem cada dia mais claras, unindo-nos todos às demais associações apostólicas e fortalecendo-nos para derrotar os inimigos da Igreja".

A propósito do artigo "A Beat Gene-ration: símbolo da degradação mental e religiosa de uma época", do Prof. Dr. Paulo Corrêa de Brito Filho, que publicamos em nosso no 93, de setembro de 1958, o Sr. Carlos Lobo de Oliveira, conhecido crítico literário de Lisboa (Portugal), escreve no "Diário da Manhã" daquela capital, edição de 20 de novembro do ano findo:

"É notabilíssimo o longo estudo que o ilustre Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho, da Universidade Católica de São Paulo, dedica à Beat Generation.

Notabilíssimo, repetimos, este ensaio de Paulo Corrêa de Brito Filho sobre a juventude transviada, a Beat Generation americana. O seu estudo, feito com espírito de objetividade, com notas e observações pertinentes, ilustrado de fotografias impressionantes, é um documento vivo sobre as-pectos e particularidades da vida atual.

Felizmente, a reação está a dar-se em certos setores americanos.

Apontando-nos o mal, o Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho indica-nos também os meios para nos defendermos das consequências desse tremendo sismo que ameaça subverter almas juvenis.

No movimento intelectual católico do Brasil, o Prof. Corrêa de Brito Filho tem o seu lugar marcado. Os problemas do espírito são-lhe familiares.

Intelectual que não trai, encontramo-lo na defesa de princípios e idéias que são essenciais à conservação da sociedade e ao progresso dos povos.

Por isso este seu estudo se reveste de particular interesse,... "


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

A Rússia de Cristo e a Rússia da Revolução

Plinio Corrêa de Oliveira

Antes de Pedro, o Grande, a Rússia vinha elaborando lenta e penosamente uma esplendida civilização, marcada a fundo, em vários aspectos, pela influência cristã, e reveladora ao mesmo tempo de uma alma nacional rica e magnificamente original.

"Lenta e penosamente", dizíamos. Pois o cerne da cultura e da civilização russa deveria ser a Igreja, e o cisma, tendo separado o Império moscovita da única Vinha verdadeira de Jesus Cristo, prejudicou gravemente o reto e pleno desenvolvimento daquele país.

Mais tarde a ação de Pedro, o Grande — benfazeja a vários títulos — entretanto desviou num sentido cosmopolita (ou, pelo menos, pré-cosmopolita) a cultura russa. Mas, dos tempos saudosos da Rússia católica muitas tradições restaram, com uma vitalidade admirável. Elas deixavam ver que a Providência não abandonara a grande nação eslava, e que preciosas raízes de civilização cristã ali perduravam à espera da hora de Deus para, depois da reconciliação com Roma, produzirem frutos abundantes.

Toda esta ordem de idéias se representa simbolicamente nesta mitra do século XVIII, em forma de coroa, para uso de dignitários eclesiásticos em cerimônias oficiais. A primeira impressão que ela dá é de riqueza. Uma análise detida mostra como essa riqueza foi enobrecida e ordenada por um senso de harmonia e proporção, um gosto e uma majestade evidentes. Esplendida manifestação de uma alta idéia sobre a sublime dignidade do Sacerdócio e da Religião.

Todos os elementos positivos da velha e lendária Rússia aqui transluzem de modo admirável.

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Riso vulgar, de uma cordialidade nada convincente, expressão, porte e atitude pesadamente rastaqueras — é impossível empregar outra expressão — caracterizam o feitor onipotente dessa grande e infeliz senzala a que o comunismo reduziu a Rússia. É o símbolo da era nova, em que todos os elementos superiores de cultura são negados e, sob o signo do mais crasso materialismo, só a força e a técnica têm valor oficialmente reconhecido.

É a Revolução igualitária e atéia, em todo o seu horror.

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Estas considerações nos levam a rezar a Nossa Senhora, Padroeira da Rússia, para que, libertada do cisma e do ateísmo, essa nação refloresça no seio da Igreja, numa ordem de coisas profundamente contra-revolucionária.