O MAL DO SÉCULO
PARA SAIR DO SEU “INFERNO TERRESTRE”, DOIS CAMINHOS SE ABREM AO “OUTSIDER”: O SUICÍDIO E O “ÊXTASE”
(continuação)
obra havia sido criada pelo demônio...
Há menos de três anos, um novo personagem, também jovem, passou a brilhar neste céu onde só habitam "divindades" degradadas. Seu nome é Colin Wilson; autor de "The Outsider", é ele mesmo o tipo do "outsider", ou seja, do rebelado ou não-conformista.
Este autodidata londrino, de 26 anos, filho de um operário, exerceu os mais diversos ofícios, desde colhedor de lúpulo a garçom de café.
Nas horas de lazer, o jovem Wilson se dirigia ao Museu Britânico para devorar os romances russos, iniciar-se na filosofia existencialista, saborear Nietzsche e penetrar no santuário esotérico de pseudomísticos como Blake, Ramakrishna, Gudjieff.
Essa miscelânea caótica de autores e doutrinas fermentou naquele cérebro febril, que imaginou então construir a sua "obra-prima". Partiu de um pressuposto básico: a classificação dos homens, sejam eles reais ou personagens de ficção literária, em duas categorias. Primeiro, aqueles que se acomodam ao planeta sobre o qual vivem: são os "insiders", os conformistas, cujo tipo mais característico é o burguês satisfeito e otimista. São os que julgam o mundo aceitável e coerente, e os que pensam ter encontrado a paz de espírito.
De outro lado, existe a categoria dos que não se adaptam ao mundo, julgam-no absurdo, não encontram a paz, embora a procurem desesperadamente. Numa palavra, os "outsiders". Wilson define-os como homens que percebem a fragilidade das instituições sobre as quais repousa a vida humana. Ao mesmo tempo, crêem que o caos e a anarquia constituem uma realidade mais profunda do que a ordem aparente que satisfaz a maior parte da humanidade.
O autor engloba nessa categoria nomes dos mais diversos: pintores, como Van Gogh; escritores, como Tolstoi, Dostoievsky, Bernard Shaw ; filósofos, como Nietzsche; homens de ação, como Lawrence da Arábia; bailarinos, como Nijinsky; místicos esotéricos, como William Blake, Buda, Ramakrishna e Gudjieff. E até heróis de romance entram nesta mistura: Roquentin, o protagonista que Sartre criou em "A Náusea", e Meursault, de "O Estrangeiro" de Camus.
Personagens tão díspares quanto ao estado de vida e profissão, têm, no entanto, segundo Wilson, espíritos profundamente afins, porquanto todos eles, a seu modo, são autênticos "outsiders".
Meursault, a figura principal de "O Estrangeiro" de Camus, é o "outsider" nato. Modesto empregado de escritório em Argel, leva uma vida monótona, e caracteriza-se por uma monstruosa insensibilidade em relação ao mundo que o rodeia.
Interna sua mãe idosa num asilo, e não a visita a fim de não perder algumas horas do seu "week-end". Quando ela morre, apenas anota em seu diário: "Hoje mamãe morreu, ou talvez ontem. Não sei". Assiste indiferente à vigília fúnebre, bebe uma xícara de café diante do ataúde, e acompanha o enterro. No dia seguinte vai a uma piscina e depois leva uma amiga ao cinema.
Algum tempo após esses acontecimentos, num piquenique, julgando-se vagamente ameaçado por um árabe, mata-o sem outro motivo. Preso, submetido a julgamento, eis que todos os atos de sua vida passada constituem, nas mãos do promotor, elementos preciosos para demonstrar a atroz secura de coração manifestada pelo réu. Condenado à morte, Meursault pode ser tido pela sociedade como um monstro. No entanto, do seu ponto de vista, segundo Camus, a vida não passa de um sonho que termina num pesadelo, do qual esse "estrangeiro" ao mundo só acordará na guilhotina.
É curioso notar que essa insensibilidade moral tem o mesmo substrato doutrinário que a "Beat generation" apresenta para justificar seus excessos. Esse cepticismo absoluto, que também pautou a vida e a morte de Evelyne Mahyère, serve de doutrina subconsciente para a "juventude transviada" de todo o mundo. O obscurecimento dos princípios mais básicos da lei moral, a morte aparente da consciência estão se tornando realidades cada vez mais assustadoras. A justiça de quase todos os países se vê a braços com esse fenômeno. Só na cidade de Nova York, quinhentos bandos de jovens criminosos atuam intensamente. Os crimes praticados por esses pequenos "gangsters" demonstram que os Meursaults não existem apenas na imaginação de um Camus, mas estão se multiplicando no mundo real. Não revelou aberração moral idêntica à do "estrangeiro" o adolescente norte-americano que matou os pais, há algum tempo atrás, unicamente porque estes o proibiam de ir ao cinema com uma colega, e que, após o crime, calmamente realizou o seu intento? Ou então aquele outro, em Nebraska, que matou nove pessoas, visando, com esses crimes, impressionar a namorada, que viajava a seu lado no automóvel?
Camus criou um símbolo da insensibilidade ética, avidamente aproveitado por Colin Wilson. Mas, o aspecto de revolta do "outsider" encontra exemplo mais frisante no ator cinematográfico James Dean, ídolo póstumo de legiões de jovens de nossos dias. O artista de "Juventude Transviada" e "Vidas Amargas" viveu perfeitamente na realidade os papéis que desempenhou na tela. Um perpétuo complexo de inadaptação ao mundo o atormentava. Não queria ser considerado um tipo "bem", isto é, uma pessoa que respeita as convenções sociais — mas um "duro", que equivale a "outsider". Sua morte trágica contribuiu para acentuar-lhe a fama e arraigar em inúmeras mentes juvenis uma admiração que atinge as raias do histerismo.
Em quase todas as cidades norte-americanas e em muitas da Europa da América Latina, fundaram-se clubes de "Admiradores de James Dean". Há também clubes de "Viúvas espirituais de James Dean"... Diariamente, cinquenta admiradores vêm colocar flores no tumulo do ator, trazendo ao pescoço uma medalha com sua efígie. Esse número, aos domingos, ascende a duzentos. Na América do Norte, sua estátua foi colocada até mesmo em estabelecimentos de ensino.
Esse culto de adoração, que se presta em todo o mundo, não existiria se o herói, que encarna o "rebelado", o "transviado" por excelência, não correspondesse aos anseios de milhões de fãs.
Os "Elegantes" de Além Cortina de Ferro
Mas estes sintomas existirão só no Ocidente, ou se manifestam igualmente atrás da cortina de ferro? Um correspondente ocidental em Moscou, Charles Klensh, escreveu curioso artigo sobre este assunto, provando que também na Rússia soviética existe uma versão dos "play-boys" ou "teddyboys". Embora o nome seja diverso "styliagi", isto é, "elegantes" — o espírito é o mesmo. São, em geral, filhos de membros proeminentes do partido, de altas patentes do exército, de cientistas, de personalidades de primeira plana do regime, enfim.
Nos países satélites verifica-se a mesma coisa, especialmente na Polônia, que já possui até um ídolo e porta-voz dessa mocidade degradada. É o literato Marek Hlasko, de 25 anos, atualmente refugiado na França. Eis sua filosofia, expressa através de uma chapa miseravelmente batida e semelhante a tudo quanto já analisamos: "Eu creio na revolta; creio na revolta como ponto de partida para encontrar um lugar na vida e na sociedade; como valor, enquanto forma de amor da vida, entre os jovens..."
A Pseudomística do Absurdo
Colin Wilson estabelece uma distinção entre o "outsider" moderno e o romântico. Este último foi educado no culto da natureza, segundo o dogma rousseauniano da bondade original dos homens. Por isto, não lhe é possível crer plenamente que este mundo é absurdo. Sua sensibilidade lho sugere, mas sua inteligência não o admite. Daí sua propensão à poesia, ao sonho. Se este não é suficiente, ainda resta o suicídio... romântico, como o de Werther. Em suma, o "outsider" deste tipo é passivo. O moderno, porém, é ativo. Ele não se sente culpado de nada. Se se encontra em ruptura com o mundo, este é que é acusado; as convenções da vida social são combatidas e taxadas de absurdas.
Como intermediários entre o "outsider" romântico e o moderno, Wilson aponta Lawrence da Arábia, Van Gogh e Nijinsky. Entre os modernos, que são "ativos" em sua oposição ao mundo, figuram, de modo especial, os reformadores religiosos ou filosóficos, tais como Blake, Gurdjieff, Nietzsche, Kierkegaard, Sartre.
Deste último escritor, Wilson invoca o herói de "A Náusea", Roquentin, que se transforma num "outsider" ativo após uma súbita revelação, espécie de iluminação ao inverso. Em vez de abrir-lhe as portas do paraíso, ela submerge Roquentin no caos, no "inferno terrestre". Deixemo-lo descrever sua própria experiência: “... De repente, acordei de um sono de seis anos... Eu não chegava a compreender porque estava na Indochina. O que fazia eu lá? Porque falava com aquela gente? Porque estava tão jocosamente vestido?... Diante de mim, postada com uma espécie de insolência, havia uma idéia volumosa e insípida. Eu não sei, profundamente, o que ela era, mas não podia olhá-la, tanto a mesma me repugnava". Era a descoberta da obscuridade do mundo, o rompimento, de um só golpe, dos laços de causalidade que unem a natureza ao homem e os seres humanos entre si. Desde então, tudo se torna absurdo: a vista de uma árvore, os reflexos do sol sobre o mar, todas as coisas, enfim, provocam no personagem um mal estar — uma náusea. Se o "outsider" só pudesse alcançar essa visão do mundo, o recurso inevitável seria o suicídio... Mas, observa Wilson, a essa revelação do caos e do absurdo sucede, quase sempre, outra iluminação, cujo efeito é radicalmente oposto. Ao extremo desespero segue-se subitamente o "êxtase". Dessa forma, o protagonista sartriano, em plena crise de náusea, escutando num café o disco de uma cantora negra, sente repentinamente seu corpo se endurecer e seu mal-estar desvanecer-se. "Era quase penoso — confessa ele — tornar-se assim inteiramente duro, todo rutilante... Eu estou na música. Nas vidraças rolam globos de fogo; anéis de fumaça os cercam e rodam, velando e desvelando o duro sorriso da luz".
O problema que se põe a qualquer "outsider" é o de transformar essa visão fortuita e fugaz num fenômeno permanente. E a solução só pode estar na doutrina dos grandes esotéricos, como William Blake, que nos descreve suas visões povoadas de querubins e arcanjos inflamados. Buda e Ramakrishna também são invocados, juntamente com Gudjieff, teósofo caucasiano que defendia uma tese tipicamente gnóstica para explicar a situação atual do homem.
Convém frisar, a esta altura, a série de violências que toda essa escoria pseudo literária inflige à natureza humana. Já vimos o embotamento do instinto de conservação, o desprezo pelos mais fundamentais princípios da decência moral, a compressão da tendência mais elementar ao bem, e o consequente abafamento da voz da consciência. Faltava a negação direta dos princípios básicos do entendimento, que são conaturais ao homem. É o que sucede na primeira iluminação de Roquentin, que rejeita os princípios de contradição, razão suficiente, causalidade e finalidade, para conceder plena cidadania ao absurdo. Ora, isto é como que virar a inteligência humana pelo avesso, é o atentado supremo ao bom senso e à razão. E também é a causa da náusea... Como não viveria nauseado um espírito assim violentado? Na própria explanação de sua teoria contraditória, Sartre, implicitamente, admite o princípio de cau-salidade, que ele tanto deseja negar...
O espírito "outsider" não suportaria por muito tempo essa violência, esse "inferno terrestre", se não experimentasse a segunda visão o "êxtase" gnóstico, que o liberta desse sofrimento. Mas bem sabemos que "paraíso" vai ele desfrutar, com que "luzes" vai se extasiar. Seus raios provêm, paradoxalmente, do príncipe das trevas... A impregnação diabólica dessa pseudo mística, que se apresenta como a sublimação do absurdo, se atesta pelos patronos esotéricos que ela toma para si.
Arquétipo Miserável e Autêntico
A obra de Wilson alcançou tal sucesso, que oito edições dela se esgotaram em três meses. Isto é bem um sinal dos tempos... de que tempos! Apesar de tudo, vários críticos literários apontaram o autor como um cérebro deploravelmente primário, um charlatão autodidata, que amalgamou uma serie de doutrinas desconexas. E nós acrescentamos que o pior da obra reside no pouco de nexo que ainda lhe resta, suficiente para uma aparente justificação do "outsider" — a deformação mais aberrante que o homem poderia imaginar de sua própria natureza, como também de toda a estética do universo.
Cada quadra histórica costuma criar um tipo humano que compendia em si as características essenciais da época e lhe serve de símbolo. A Idade Média viu no santo e no cruzado seu paradigma, enquanto que a Renascença tomou o artista, o "virtuose" como padrão. No "Ancién Regime" impõe-se a figura do cortesão. Uma larga parcela da mocidade deste século parece ter escolhido o mais miserável de todos os arquétipos, mas, de fato, inteiramente autentico: o "outsider".
(1) "Beat Generation: símbolo da degradação mental e religiosa de uma época", no 93, de setembro de 1958.
(2) Ibidem.
"E a quem escandalizar um destes pequeninos que crêem em Mim, melhor lhe fora que lhe atassem uma pedra de moinho ao pescoço e o lançassem ao mar" (Mc. 9, 41). A educação socialista corrompe as crianças afastando-as do âmbito familiar. — O clichê mostra crianças na China comunista estudando sob o retrato de Mao Tsé Tung e sob um cartaz que contém o "slogan": "Educai-vos para vos tornardes bons trabalhadores com o senso do socialismo".
Não há convergência entre
SOCIALISMO E CRISTIANISMO
Importante esclarecimento do “Osservatore Romano”
O desejo de colaborar com os so-cialistas é, para certos católicos, mais do que uma mania, uma doença. Se bem que de quando em vez os fatos inflijam a suas ilusões um cruel desmentido, depois de algum tempo tais católicos voltam a ansiar pela cooperação. E com isto lucra o socialismo, sempre astuto e eficiente em seus métodos de ação.
Julgamos assim oportuno transcrever um artigo publicado pelo "Osservatore Romano", edição semanal em língua francesa, de 30 de janeiro de 1959, sob o título "Não há convergências entre socialismo e Cristianismo".
Esse artigo foi escrito a propósito dos importantes colóquios ocorridos há um ano, em Munique, entre católicos e socialistas, sob o patrocínio da Academia Católica Bávara.
Os subtítulos são desta redação. Escreve o órgão oficioso da Santa Sé:
NÃO HÁ "CONVERGENCIAS" ENTRE SOCIALISMO E CRISTIANISMO
As Edições Karl Zink publicaram as atas de um congresso realizado há precisamente um ano em Munique, com a aprovação da Autoridade Eclesiástica e por iniciativa da Academia Católica Bávara. Foi uma reunião de especialistas de sociologia cristã e representantes do socialismo, para examinar as relações existentes entre o Cristianismo e o socialismo.
Não é sem interesse folhear a obra que acaba de aparecer.
Podia ler-se recentemente, num jornal italiano, que "numerosos escritores da Contra-Reforma foram de inspiração socialista", e que "as afirmações concernentes à pretensa incompatibilidade entre o Catolicismo e o socialismo não têm nenhum fundamento verdadeiro". No decurso do congresso do Partido Socialista Italiano, há pouco encerrado, foi igualmente declarado que convém "abrir caminho à convergência natural das massas católicas e socialistas", passando "por cima das cabeças dos dirigentes e das notabilidades".
Mas, na exposição sincera e leal da doutrina católica e da concepção socialista, feita pelos relatores do Congresso de Munique, se manifestam claramente as diferenças que contrapõem uma à outra e a total ausência de convergência entre elas.
O SOCIALISMO "MODERADO" FOI CONDENADO POR PIO XI
Já na Encíclica "Quadragesimo Anno", de 1931, considerando as transformações sofridas pelo socialismo, Pio XI ressaltava que este se tinha dividido em dois grupos principais, frequentemente hostis um ao outro, "mas sempre tais, que nenhum dos dois se afasta do fundamento próprio a todo socialismo, contrário à Fé cristã".
O primeiro destes dois partidos — explicava Pio XI — é o Partido Comunista, que, inspirando-se no mais baixo materialismo, professa e sustenta uma luta de classes encarniçada e a abolição total da propriedade privada. A natureza deste partido é a justo título definida como "ímpia e injusta".
O segundo, mais moderado, é o que conservou o nome de "socialismo". Não somente rejeita o recurso à violência, mas, sem chegar ao repudio da luta de classes e da abolição da propriedade privada, pelo menos as mitiga com atenuações e abrandamentos.
Seguindo este caminho, as máximas do socialismo mais moderado podem chegar a aproximar-se das reivindicações apresentadas pela doutrina social cristã.
Isto posto, o Pontífice se dedicava a responder à dúvida expressa por alguns que se perguntavam se, atenuado o rigor dos falsos princípios da luta de classes e da abolição da propriedade privada, "os princípios da verdade cristã não poderiam, também eles, ser mitigados de algum modo, a fim de caminhar rumo ao socialismo e poder encontrar-se com ele sobre uma via media".
A resposta é clara: "considerado quer como doutrina, quer como fato histórico, quer como ação, o socialismo, se continua sendo verdadeiramente socialismo, mesmo depois de ter concedido à verdade e à justiça o que acabamos de dizer, não pode conciliar-se com os princípios da Igreja Católica, pois a concepção que ele tem da sociedade não poderia ser mais contraria à verdade cristã".
RAZÃO DE SUA INCOMPATIBILIDADE COM A RELIGIÃO CATÓLICA
A Encíclica nos dá também a razão disto. O fim do homem é que, "vivendo em sociedade e sob uma autoridade emanada de Deus, ele cultive e desenvolva plenamente todas as suas faculdades para louvor e gloria de seu Criador, e, cumprindo fielmente os deveres de sua profissão..., assegure sua felicidade não só temporal mas também eterna. O socialismo, pelo contrário, ignorando completamente este fim sublime do homem e da sociedade, ou desprezando-o, supõe que a comunidade humana foi constituída exclusivamente em vista do bem-estar". E como o bem-estar material não pode ser obtido sem o desenvolvimento da produção, este se torna uma exigência suprema, à qual devem ser submetidos e mesmo sacrificados "os bens mais elevados do homem, sem excetuar a liberdade, em razão das exigências de uma produção mais racional. Este golpe desferido contra a dignidade na organização socializada da produção, será largamente compensado, asseguram eles, pela abundância dos bens que, produzidos socialmente, serão prodigalizados aos indivíduos. A sociedade, portanto, como a sonha o socialismo, de um lado não pode existir, nem mesmo conceber-se, sem uma coação manifestamente excessiva, e de outro, goza de uma licença não menos falsa, visto que nela desaparece toda verdadeira autoridade social; com efeito, esta não pode fundar-se sobre os interesses temporais e materiais, mas só pode provir de Deus, criador e fim último de todas as coisas".
"A FORTIORI" FOI CONDENADO O SOCIALISMO EXTREMISTA
Este ensinamento solene, sendo válido para o socialismo transformado e moderado, o é com maior razão para o socialismo que aceita o marxismo como fundamento; que, ao mesmo tempo em que se proclama democrático e independente do comunismo, exclui, relativamente a este último — como ocorre na Itália — "todo antagonismo preconcebido, sem prejuízo da união dos operários nas lutas de reivindicação imediata, e acima de tudo nas lutas da C. G. I. L. (1)..., na defesa dos postos de mando nas municipalidades, nas cooperativas, nas organizações de fábricas ou de empresas"; que se propõe "privar as classes capitalistas de todo direito de propriedade"; para o qual "as reformas de estrutura" são a "reforma atual da luta pelo poder"; que propugna "uma direção pública da economia, um plano, um controle dos investimentos, a nacionalização dos setores industriais de interesse público".
INCONCEBIVEIS ESPERANÇAS DE COOPERAÇÃO ENTRE CATÓLICOS E SOCIALISTAS
Apesar da clareza dos ensinamentos pontifícios, alguns, preocupados excessivamente com realizações práticas imediatas, quereriam, ao
(continua)