SOCIALISMO E CRISTIANISMO
No Congresso de Munique Pôs-se em Relevo que um dos Componentes do Marxismo é o Liberalismo Racionalista
(continuação)
menos temporariamente, pôr de lado os princípios.
Mas não vemos de que modo se possam ignorar os fundamentos ideológicos que inspiram, caracterizam, determinam o fim último da ação prática. A verdade é que, embora por vezes os socialistas recorram ao Evangelho, de fato lhe falseiam o sentido, e, nos princípios essenciais, há antítese entre Cristianismo e socialismo.
O TOTALITARISMO ESTATAL NO SISTEMA SOCIALISTA
A concepção socialista do Estado não é cristã. O Estado senhor da economia é senhor de tudo. O totalitarismo econômico leva inevitavelmente a atribuir ao Estado funções, encargos, direitos, que não lhe cabem. O socialismo o transforma numa gigantesca máquina administrativa, que despersonaliza o indivíduo pela multiplicidade dos seus controles. Ademais, o socialismo (embora não seja o único nessas condições) separa a economia da moral, enquanto que para o Cristianismo a ordem econômica e a ordem moral não são estranhas uma à outra, mas dependem uma da outra.
A LUTA DE CLASSES É CONDENADA PELA IGREJA
Nas relações entre as classes, o socialismo é pela luta, se bem que sob forma mitigada. Ora, a luta de classes é um princípio errôneo, que a Igreja não pode aceitar, entre outras razões, porque, conforme mostrou Pio XII, ela não pode ser um fim social e não resolve o problema do trabalho. A Igreja ensina que se deve tender à colaboração e à harmonia das classes através de uma coordenarão entre o empregador e o operário, entre o capital e o trabalho; Ela ensina igualmente que a oposição entre ricos e pobres, entre operários e patrões, pode ser resolvida pela aplicação integral dos princípios cristãos.
IMPIEDADE OU INDIFERENTISMO RELIGIOSO NO REGIME SOCIALISTA
Diferentes — não é necessário dizê-lo — são as posições de ambos em face da Religião. O socialismo, quando não se opõe abertamente a esta, considera-a como um fato puramente pessoal, e chega à indiferença para com toda forma de religião. Esta indiferença é contraria à ra-zão e, como nasce do ateísmo, conduz a ele.
O SOCIALISMO DESTRÓI OS FUNDAMENTOS DA FAMÍLIA
Concebem ambos o matrimonio de maneiras também opostas. Para a Igreja ele é uma instituição sagrada e não um contrato puramente civil. A vida familiar, segundo o direito natural, se funda sobre a indissolubilidade do vínculo. Os princípios socialistas, pelo contrário, dissolvem e destroem a vida familiar, pois lhe arrebatam a força resultante do matrimonio cristão e favorecem o divórcio: relembremos a este propósito o projeto de lei de parlamentares italianos em favor de um "pequeno divorcio" (pequeno por enquanto).
Negando à vida humana todo caráter espiritual, o socialismo faz do matrimonio e da família uma instituição puramente artificial e civil, isto é, o fruto de um sistema econômico determinado. Em oposição, a família é para o Cristianismo a base e a célula fundamental da sociedade, o centro de toda a educação e de toda a cultura. Ela possui direitos inalienáveis e independentes do poder do Estado, tais como, justamente, a indissolubilidade, a proteção da vida antes do nascimento, os direitos dos pais sobre os filhos perante o Estado, — direitos que este não pode violar.
ESTATISMO E AGNOSTICISMO NO ENSINO SOCIALISTA
Diferentes são, enfim, os princípios cristãos e socialistas relativos ao ensino e à educação. Em primeiro lugar, o Cristianismo não pode aceitar o princípio segundo o qual o ensino seria uma função principalmente, senão exclusivamente, da competência do Estado. Para o socialismo, ademais, a liberdade de ensino consistiria na escola laica, neutra, de total agnosticismo quanto ao ensino religioso. É supérfluo acentuar quanto essa concepção está afastada da doutrina católica sobre a educação.
O MATERIALISMO É INERENTE AO SOCIALISMO
Não ressaltamos senão algumas das divergências fundamentais entre o Cristianismo e o socialismo. A razão profunda dessas divergências reside no fato de o socialismo não ter em nenhuma conta a ordem sobrenatural. Disto decorre que, mesmo nas reivindicações sociais, ele parte de princípios diferentes, emprega meios diferentes, tende a fins diferentes dos do Cristianismo.
Poder-se-ia assinalar que os princípios errôneos expostos acima não são próprios ao socialismo, mas pertencem também a outras ideologias, tais como o liberalismo ou o laicismo, É bem assim, com efeito. Durante o congresso de que falávamos no início deste artigo, uma das mais importantes personalidades presentes frisou exatamente que um dos componentes do marxismo é o liberalismo racionalista.
A MÃO ESTENDIDA: PERIGOSO E FALAZ ESTRATAGEMA
Isto dito, vê-se claramente o que pensar de certas mãos estendidas. Neste momento, na Itália, o socialismo estende suas mãos para dois lados: uma delas, em nome da unidade da classe operaria, quer apertar a do comunismo. A outra está estendida aos católicos, e não somente pelos socialistas que, embora ficando solidários com os comunistas, afirmam que desejam situar-se no terreno da democracia, mas também por aqueles que querem estar com os comunistas em qualquer caso, e pedem que os católicos votem no Partido Socialista, reservando a este último papel de elo de junção entre católicos e comunistas.
Estes, de sua parte, estão sempre prontos, sob os mais diversos pretextos, a atrair a si quantos possam nutrir a ilusão de utilizá-los para seus fins, quando na realidade são esses ingênuos que se tornam instrumentos mais ou menos inconscientes do comunismo.
UMA SABIA ADVERTENCIA DE PIO XI
Pio XI igualmente alertou os fiéis contra este perigo, nessa outra grande Encíclica que é a "Divini Redemptoris": "Sem nada abandonar de seus princípios perversos, eles convidam os católicos a colaborar no terreno humanitário e caritativo, como se diz, propondo às vezes coisas inteiramente conformes ao espírito cristão e à doutrina da Igreja... O comunismo é intrinsecamente mau, e não se pode admitir colaborarão com ele em terreno algum, por parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã. Se alguns, induzidos em erro, cooperassem para a vitória do comunismo em seu país, seriam os primeiros a perecer, vítimas de seu próprio desatino".
Nada perderam de sua atualidade estas palavras; dir-se-ia mesmo que as circunstancias fazem com que se apliquem melhor ainda aos problemas de nossa época.
(1)Confederação Geral Italiana do Trabalho, organismo sindical dominado pelos comunistas (N. R.).
Proibido Cooperar com os “Inocentes Úteis”
Traduzimos do “Osservatore Romano” edição semanal em francês, de 24 de abril p. p., o texto oficial do importante decreto da Sagrada Congregação do Santo Oficio que tem sido, nas últimas semanas, largamente mencionado na imprensa:
"Foi perguntado a esta Suprema Congregação se, na escolha dos representantes do povo, é permitido aos católicos dar seu voto àqueles partidos ou àqueles candidatos que, embora não professem princípios contrários à doutrina católica ou mesmo se atribuam a qualificação de cristãos, se unem, todavia, de fato, aos comunistas e os favorecem por sua ação.
Na reunião de quarta-feira, 25 de março, Suas Eminências Reverendíssimas os Cardeais prepostos à defesa da Fé e dos costumes decretaram que se responda:
Negativamente, em virtude do decreto do Santo Oficio datado de 1o de julho de 1949, no 1 (A. A. S., vol. XLI — 1949, p. 334).
Esta resolução dos Eminentíssimos Padres foi apresentada ao Soberano Pontífice na audiência concedida em 2 do corrente a Sua Eminência o Cardeal Pro-Secretario do Santo Oficio, e Sua Santidade a aprovou, prescrevendo que ela fosse publicada.
Roma, no Palácio do Santo Oficio, 4 de abril de 1959.
Hugo O'Flaherty, Notário".
Para governo dos leitores, traduzimos da mesma edição do "Osservatore Romano" o texto do número 1 do decreto do Santo Oficio de 1o de julho de 1949, citado no presente documento:
"Foram propostas à Suprema Sagrada Congregação as seguintes questões:
1°) Se é permitido inscrever-se em partidos comunistas ou dar-lhes apoio...
Os Eminentíssimos e Reverendíssimos Padres decretaram que se deve responder:
— ao 1o) Negativamente: com efeito, o Comunismo é materialista e anticristão; e os dirigentes do Comunismo, embora às vezes declarem, por palavras, que não combatem a Religião, de fato todavia, na teoria e na ação, se mostram hostis a Deus, à verdadeira Religião e à Igreja de Cristo..."
OS CATÓLICOS INGLESES DO SÉCULO XIX
MANNING, ARCEBISPO DE WESTMINSTER
Fernando Furquim de Almeida
0 rápido crescimento do Catolicismo na Inglaterra suscitara inúmeros problemas, que o Cardeal Wiseman procurava enfrentar com sua habitual energia, mas para os quais só via solução definitiva na constituição de um grupo de sacerdotes inteiramente dedicados ao movimento católico que ele criara. Indo ao encontro de seus desejos, o Padre Manning fundou em 1856 uma comunidade, os Oblatos de São Carlos, cujas regras se inspiravam nas de São Carlos Borromeu. Subordinados completamente à autoridade do Cardeal, eles vieram dar novo impulso às suas obras.
Essas eram dificuldades próprias a um movimento em ascensão. Quando muito, poderiam retardar o seu desenvolvimento. A verdadeira ameaça para o apostolado do Arcebispo de Westminster residia na ação do liberalismo católico que Lord Acton e “The Rambler” procuravam infiltrar na Inglaterra, e que era coadjuvado pelos “velhos católicos”, remanescentes da era anterior ao restabelecimento da Hierarquia, para os quais todo apostolado combativo parecia uma loucura. Tanto uns quanto outros encontraram um adversário decidido no Padre Manning. Antes de passarmos à luta sem tréguas que ele moveu a "The Rambler", é interessante estudarmos as circunstâncias que tornavam os "velhos católicos" um perigo, apesar de serem um grupo fraco e sem expressão na vida da Inglaterra. Veremos também como foram eles completamente derrotados.
Já dissemos que o Cardeal Wiseman, entregue à reconquista da Inglaterra para o Catolicismo, não podia dedicar-se aos assuntos administrativos da Arquidiocese de Westminster, e deles encarregara Mons. Errington, seu Bispo Coadjutor. Ótimo administrador, era este um auxiliar precioso para o Cardeal. Mons. Errington, no entanto, era "velho católico". Como coadjutor, tinha direito à sucessão. Por isso o Pe. Manning temia pela sorte do movimento católico inglês, pois a ascensão desse prelado ao sólio de Westminster "comprometeria toda a obra construída por Wiseman e faria recuar de toda uma geração o progresso do Catolicismo".
Em uma memória justificativa que apresentou sobre Mons. Errington, o Pe. Manning precisa o seu pensamento. Trata-se — escreve ele — de "saber se, sim ou não, a Igreja da Inglaterra se contentaria com uma distribuição um pouco melhor dos sacramentos e uma pequena comunidade estabelecida no país, ou se tomaria parte na vida da nação, agindo sobre seu espírito por uma cultura católica séria, e sobre sua vontade por um maior e mais vigoroso emprego das energias despertadas pelo restabelecimento da Hierarquia".
Em 1859, o Cardeal Wiseman, convencido da necessidade de afastar o seu coadjutor, iniciou tratativas em Roma. Mons. Errington se defendeu, naturalmente, e o liberalismo católico aproveitou essa questão para estreitar os laços que já os uniam aos “velhos católicos” na luta contra a influência crescente de Manning.
Em julho de 1860, depois de uma ordem formal de Pio IX, Mons. Errington se demitiu. Mas não terminou com isso a campanha que os "velhos católicos" e os liberais moviam ao Padre Manning. Acusavam-no de promover cisões no seio do Catolicismo inglês, e atribuíam-lhe um autoritarismo que se tornaria funesto caso ele continuasse a influir nos destinos da Igreja na Inglaterra.
Em fevereiro de 1865 morre o Cardeal Wiseman, e o cabido de Westminster, apoiado por vários bispos, elege Mons. Errington Vigário Capitular. Essa eleição de um prelado que se demitira por ordem expressa do Papa era um ato de insubordinação em relação à Santa Sé, e indispunha o cabido com o Vaticano.
Mons. Talbot, prelado inglês muito amigo de Pio IX, propôs-lhe a nomeação de Manning para suceder ao Cardeal, no que foi apoiado pelo Padre Coffin, convertido de Oxford, e nessa época Provincial dos Redentoristas da Inglaterra. Era esse também o desejo dos ultramontanos ingleses, que achavam que não havia ninguém mais indicado para continuar o maravilhoso apostolado de Mons. Wiseman. Eram muitos, porém, os boatos que chegavam a Roma, espalhados pelos liberais católicos, de que as consequências da nomeação de Manning seriam as piores possíveis. O que levou Mons. Barnabo, Prefeito da Congregação de Propaganda, a sugerir ao Papa a eleição de Mons. Ullathorne, Bispo de Birmingham, que conseguira grande ascendência sobre o episcopado inglês durante a enfermidade do Cardeal. Pio IX, todavia, passando por cima da Propaganda, nomeou o Padre Manning Arcebispo de Westminster.
Contra todas as previsões pessimistas dos liberais e "velhos católicos", a nomeação foi muito bem recebida na Inglaterra. Mons. Manning tomou posse de sua diocese sob aplausos gerais dos fiéis ingleses, que nele viam o sucessor natural do restaurador do Catolicismo em sua pátria, o Cardeal Nicolau Wiseman.
NOVA ET VETERA
MARITAIN, GHANDI, ETC.
J. de Azeredo Santos
Por curiosa coincidência, chegam-nos às mãos dois livros excelentes que se completam. Um, «El Mito de la Nueva Cristiandad» (1), do Prof. Leopoldo Eulogio Palacios, trata com brilho e magistral segurança dos desvarios maritainianos no campo religioso, político e social. O outro, «Estimación de Lanza del Vasto» (2), do Sr. Guillermo Gallardo, analisa muito oportunamente um fato que se nos afigura uma frisante aplicação prática dos princípios esposados pelo Sr. Jacques Maritain.
Os leitores de «Catolicismo» já se acham familiarizados com a concepção de Maritain no que diz respeito a um abstruso «Estado leigo vitalmente cristão». Põe o Prof. Leopoldo Palacios luminosamente em evidência que essa doutrina sobre o temporal e o espiritual se acha baseada em uma especiosa distinção entre indivíduo e pessoa, de onde decorre o chamado «personalismo» que seu autor assim resume em «Três Reformadores». «O indivíduo para o Estado, o Estado para a pessoa, a pessoa para Deus».
UMA SEQUÊNCIA DE ERROS PERNICIOSOS
Dá assim a obra do ilustre Prof. Palacios sólido fundamento às críticas dos que sabem ler nas linhas e entrelinhas dos confusos textos do Sr. Maritain. As idéias desse escritor nos levam de um lado ao liberalismo religioso, e de outro ao Estado coletivista, absorvente e totalitário. Com efeito, «a religião chega por este caminho a fazer-se assunto privado, como para o liberalismo teológico. Se Deus não é bem comum, não há bem comum espiritual. E sem bem comum espiritual, não há como justificar um poder público espiritual. A Igreja não tem direitos de sociedade perfeita, deve ser reduzida a sociedade invisível, e tragada pelo Estado, único agente do único bem comum. E assim chegamos ao totalitarismo, que é o erro que o personalismo tratava de evitar» (pp. 126/127). Gostaríamos de acrescentar que a «cidade fraternal» do Sr. Maritain, conglomerado de católicos, heterodoxos e incrédulos de todo naipe, professa a não-resistência diante do mal, e os chamados «meios pobres» na luta contra a opressão do mundo moderno, tomando o gandhismo para exemplo dos cristãos que se empenham na obra de reconstrução da sociedade. Atribui o filósofo francês grande papel à mística oriental nessa reação contra a concepção materialista de vida do homem hodierno.
Tudo isto é bem estranho em quem insiste em chamar de «cristã» a ordem de coisas que pretende instituir. E é aqui que cabe referência ao livro do distinto intelectual argentino Guillermo Gallardo, sobre Lanza del Vasto. Observando o progresso vertiginoso da técnica e da revolução industrial, que em concreto tem tido o efeito de cada vez mais arrastar o mundo para o embrutecimento moral, o escritor portenho Lanza del Vasto sai a campo à procura de uma solução. E descobre o remédio para os males da sociedade moderna nos ensinamentos de Gandhi.
A "CIDADE FRATERNAL" DE L. DEL VASTO
Lanza del Vasto se convenceu de que a sede de riqueza material é a causa da violência exercida por uns homens contra os outros, e «imaginou fundar uma ordem, não religiosa, ainda que o religioso lhe interesse primordialmente, cujos integrantes devem renunciar quase por completo à técnica, devem voltar as costas ao progresso material, afastar-se das cidades para viver nos campos uma vida simples, de trabalho manual obrigatório para todos no cultivo do solo — cada qual produzindo o necessário para seu próprio sustento — e, mediante a não-violência e a resistência passiva, aprender a dominar suas próprias paixões e resistir à injustiça» (p. 10). Sob o nome de «Companheiros da Arca» cria Lanza del Vasto, em Buenos Aires, um movimento de linhas que nos parecem nitidamente maritainistas, de caráter interconfessional, que procura reunir todos os que trazem aos seus, semelhantes mensagens mais ou menos fracas. Não se pede aos «Companheiros da Arca» que pertençam a uma religião determinada, pois diz Lanza del Vasto (que se professa católico): «Só exigiremos que eles sigam sua religião como nós a nossa. Somos um ponto de reunião para todas as tradições porque não nos colocamos acima das religiões, mas sob elas» (p. 12). Mais ainda: «Não pregamos uma nova religião nem somos uma seita. Nosso ensinamento se refere ao conteúdo da Revelação Primitiva, e, sem deixar de lado as distinções necessárias, sem misturar e embaralhar as formas, se aplica a destacar o fundo comum de todas as religiões» (ibid.).
Como Maritain, Lanza del Vasto «crê ver em Gandhi a verdadeira realização do ideal cristão, não vacilando em afirmar que o Ocidente precisa dele para interpretar verdadeiramente a mensagem do Evangelho» (p. 13). E nesse particular o fundador dos «Companheiros da Arca» leva às últimas consequências as idéias do escritor francês: «Posto já, por inteiro sem reservas, sob a direção do Mahatma, pede que este lhe outorgue um novo nome. Gandhi condescende e o denomina Shantidas, ou seja, Servidor da Paz» (ibid.).
A LOGICA INTERNA DOS ERROS
Exposta assim com lucidez a doutrina de Lanza del Vasto, o autor lhe faz a crítica com perspicácia notável e muita segurança de doutrina. Assim, mostra ser «um erro fundamental que um católico pretenda fundar, fora ou à margem da Igreja, uma associação onde os homens encontrem seu aperfeiçoamento moral com seus meios próprios para isto, distintos dos que propõe a Igreja, única e exclusiva sociedade fundada por Deus para que nela toda a humanidade encontre o verdadeiro caminho do aperfeiçoamento moral e da salvação» (p. 17). Tanto mais que, embora se declare católico, Lanza del Vasto, em seu sincretismo religioso, deixa entrever que «para ele a Filosofia, assim com maiúscula, é o Iogue com seus quatro ramais: Iogue do conhecimento, Iogue real, Iogue da ação Iogue das macerações» (p. 49).
Dir-se-á que somos injustos ao assim jungir o Sr. Jacques Maritain a esse charlatão que é Lanza del Vasto. Mas há uma lógica interna nos erros, contra o qual não pode protestar autor desses mesmos erros. O «personalismo» de Maritain leva a uma Igreja sem dogmas, a uma Igreja desencarnada e posta nas nuvens, a chamada Igreja pneumática ou da caridade, que reuniria todos os espíritos ou homens enquanto pessoas, desligados das peias que os escravizam na condição de indivíduos. Lanza del Vasto, por sua conta, organiza seu movimento em moldes que se adaptam perfeitamente ao figurino maritainiano. Não nos cabe a culpa, portanto, deste confronto.
Livros como o do Prof. Leopoldo Eulogio Palacios e do Sr. Guillermo Gallardo prestam um inestimável serviço: o de claramente trazer à tona aquilo que, nas águas turvas desses movimentos heterodoxos, vai levando ao erro um sem número de nossos irmãos na Fé, e ao mesmo tempo tornando mais difícil a conversão de tantos infelizes descrentes.
(1) "El Mito de la Nueva Cristiandad", por Leopoldo Eulogio Palacios, Ediciones Rialp, S.A., Madrid, 1951.
(2) "Estimación de Lanza del Vasto", por Guillermo Gallardo, Buenos Aires, 1957.