Em 1956 a Hungria levantou-se, quase sem armas, contra a tirania soviética. As bandeiras ostentam novamente o velho emblema nacional: a coroa real de Santo Estevão.
O brado de socorro dos húngaros não foi atendido pelo Ocidente. As bandeiras cobrem os cadáveres dos patriotas que tombaram; o povo os saúda com o hino nacional.
NATO E CONTRA-REVOLUÇÃO
Sergio Brotero Lefevre
A segunda guerra mundial foi, como a primeira, um dos capítulos cruentos dessa Revolução que desde a Renascença procura destruir a civilização católica e implantar a república universal atéia, igualitária e anárquica (cf. Plinio Corrêa de Oliveira, "Revolução e Contra-Revolução", em "Catolicismo", no 100, abril de 1959: Parte I — Cap. VII, 1, B). Seria muito útil para o contra-revolucionário conhecer todos os progressos da Revolução durante aquela hecatombe e como resultado dela. Nos vinte anos que nos separam da invasão da Polônia pelas tropas de Hitler, o mundo assistiu a uma tal "transformação das instituições, das leis e dos costumes" (art. cit.), que julgamos não errar afirmando ser quase impossível avaliar-lhe exatamente a extensão e profundidade. Podemos em todo caso indagar que influência exerceram sobre a marcha da Revolução os principais fatos históricos desse período. Assim, no presente artigo, procuraremos analisar desse ponto de vista uma das consequências da guerra: a Aliança Atlântica.
O Tratado do Atlântico Norte, assinado por algumas das grandes potencias do que outrora se chamou a Cristandade, juntamente com países do Novo Mundo, conseguiu fazer com que a Revolução marcasse passo? Ou regredisse? Ou, pelo contrário, facilitou as suas conquistas? Há dez anos, em abril de 1949, era firmado em Washington esse acordo que se tornou mais conhecido pela sigla da organização a que deu origem: NATO ou OTAN. Subscreveram-no os Ministros das Relações Exteriores da Bélgica, do Canadá, da Dinamarca, dos Estados Unidos, da França, da Holanda, da Inglaterra, da Islândia, da Itália, do Luxemburgo, da Noruega e de Portugal. Mais tarde a Alemanha Ocidental, a Turquia e a Grécia foram convidadas e aderiram. Nesses dois lustros de vigência do tratado, quais foram as vitorias da Revolução ou, mais concretamente, do comunismo, no mundo? Não examinaremos os progressos da legislação socialista, da mentalidade igualitária ou da imoralidade. Vamos circunscrever nossas observações à extensão da influência direta da União Soviética nas diversas regiões do globo, resumindo-as em função dos limites de espaço impostos por um artigo de jornal. Sabemos que, na realidade, nem sempre é possível isolar dos outros esse aspecto do processo revolucionário (cf. art. cit., Parte I —Cap. V, 4, B). Mas julgamos possível fazê-lo ao menos como simples método de estudo.
A guerra de 1939 pôs fim ao isolamento em que se mantivera ou fora mantida até então a U. R. S. S. Foi pela mão do nacional-socialismo hitlerista que a Rússia, tornada comunista, voltou a representar um papel de primeira grandeza no palco da política internacional. O início desse retorno foi o célebre pacto Ribbentrop-Molotov, que unia os dois regimes totalitários e pagãos na sua tentativa de destruir os restos da civilização católica ainda existentes. Mas, por razões ainda não esclarecidas, em junho de 1941 Wehrmacht invadiu a União Soviética, que de agressora de seus vizinhos passou a agredida. Os países cristãos, imprudentemente, foram em seu socorro sem impor qualquer condição. Graças ao vultoso auxílio financeiro e militar dos Estados Unidos, as tropas vermelhas conseguiram expulsar os alemães da Rússia e ocupar toda a Europa Oriental, inclusive grande parte do território da sua antiga aliada, a Alemanha. O dia da derrota final do nazismo e do fascismo encontrou a U.R.S.S. dotada de um potencial bélico só inferior ao norte-americano, e de uma indústria em grande progresso. A opinião pública mundial iria assistir, estarrecida ou iludida, a formação do grande império soviético que hoje ameaça o Ocidente católico.
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A política bolchevista nas regiões invadidas se desenvolveu com uma firmeza e um realismo dignos de nota. Desde o princípio o alvo visado se delineava com implacável nitidez: as nações ocupadas deveriam permanecer indefinidamente sob a tutela de Moscou e adotar o seu sistema político e social. Recorreu-se a vários meios para a consecução desse fim; nunca se deixou de aplicar dois deles: a abolição das monarquias existentes (cf. art. cit. Parte 1 — Cap. III, 5, E), e a realização de simulacros de eleições sob a "proteção" das tropas soviéticas. Assim, proclamando que não se imiscuiria nos negócios internos dos romenos, o Kremlin estabeleceu em Bucarest, sob a direção do russófilo Groza, um governo no qual os marxistas detinham todo o poder. A fachada de uma Romênia livre foi mantida até dezembro de 1946, quando, ainda sob a ocupação militar, as urnas deram uma vitória esmagadora aos comunistas. Um ano depois, o Rei Miguel foi obrigado a abdicar e deixar o país, ao mesmo tempo em que o parlamento proclamava por unanimidade a República Popular.
Em Sofia começou-se por constituir um governo de "frente patriótica". As instituições tradicionais foram mantidas, mas pouco a pouco se viram alteradas. O Partido Comunista, que se apresentava como o único defensor da ordem, foi arrebatando as rédeas do poder e, em setembro de 1946, 93% dos búlgaros votaram contra a monarquia e a favor da República Popular. Formou-se um novo ministério, presidido por Dimitrov, antigo secretário geral do Komintern, e, no fim do ano seguinte, com o desaparecimento dos partidos da oposição, a Bulgária adotou integralmente o regime bolchevista.
Tito, apoiado pela Rússia desde o início de suas guerrilhas, introduziu nas regiões sob seu controle o sistema unipartidário e os princípios da República Popular. Quando conquistou a Eslovênia e a Croácia setentrional, onde estava situada a maior parte das indústrias iugoslavas, apoderou-se de suas fábricas, foi-lhe fácil dominar todo o país. Convocou para novembro de 1945, eleições que deram 90% dos votos ao seu partido. A Constituinte, reunida logo a seguir, pronunciou-se pela abolição da monarquia e pela proclamação da República Federal dos Povos da Iugoslávia.
A Albânia sofreu as consequências da adoção do regime comunista pela sua maior vizinha, a Iugoslávia. Em eleições realizadas em dezembro de 1945, a coligação de partidos chefiada pelos vermelhos obteve 93% dos sufrágios.
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Na primeira consulta ao povo húngaro no após-guerra, este, leal à sua fé de mil anos, deu a vitória ao Partido dos Pequenos Proprietários, derrotando fragorosamente os asseclas de Moscou. Apesar disso, a Constituição aprovada em fevereiro de 1946, com a presença das tropas russas, extinguiu a monarquia milenar e criou a República Popular. No ministério de coalizão imediatamente formado, os vermelhos receberam três pastas, entre as quais a do Interior, que controlava a polícia (o exército ainda não existia) e todo o funcionalismo. Uma nova lei eleitoral, imposta pelos soviéticos para privar do direito de voto milhares de cidadãos, foi o instrumento eficaz pelo qual os comunistas passaram a ser o mais forte partido da coligação governamental e apossaram-se de todos os postos-chave do Estado. Mais tarde, tendo reduzido à impotência os seus opositores e absorvido o Partido Socialista, eles se tornaram executores fiéis e servis das ordens do Kremlin.
Na Polônia, a implantação do bolchevismo vinha sendo preparada desde a invasão de 1940. A política soviética consistiu ali em eliminar as classes dirigentes, especialmente a aristocracia de sangue, e todos os que se opunham ao regime marxista. Massacres de oficiais, deportações para a Sibéria, e a destruição de Varsóvia pelos nazistas, à qual as tropas russas assistiram passivamente, a dois passos da cidade,
(continua)