Terceira Força a serviço da Revolução
“Tomar entre os Excessos e os Crimes da Revolução, de um lado e a Contra-Revolução, de Outro, uma linha media moderada”
Cunha Alvarenga
Na resposta a algumas objeções que se poderia levantar contra o seu magistral trabalho "Revolução e Contra-Revolução", o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em artigo publicado no no 101 de "Catolicismo", demonstrava que não passa de forma revolucionaria sub-reptícia "a idéia de tomar entre os excessos e os crimes da Revolução, de um lado, e a Contra-Revolução, de outro, uma linha media moderada".
Essa atitude sistemática de "moderação", a que, de uns tempos para cá, se costuma em certos casos dar o nome de "Terceira Força", se manifesta nas várias frentes da ciclópica conjuração revolucionaria, tais como a religiosa, a filosófica, a político-social, a econômica, a artística, etc.
Temos, por exemplo, na história do jansenismo uma eloquente amostra da ação nefasta dessa Terceira Força, o que prova que, se a expressão é nova, a realidade que ela encerra é já bem velha e surrada. Sob o pretexto de conciliar os extremos em luta, de salvar a união dos católicos e de manter a paz, os que se colocaram nessa posição intermediaria nada mais fizeram que abrir caminho para o erro e preparar para a Cristandade dias bem amargos. E era natural que tal acontecesse, pois "não pode haver união no mal e no erro", como observava São Vicente de Paulo a alguns adeptos dos panos quentes, que temiam, entre outras coisas, que o recurso a Roma para uma definição da verdadeira doutrina levasse os rebeldes jansenistas à desobediência e ao cisma. "Catolicismo" já se ocupou do assunto através de trabalho de um seu eminente colaborador (artigos sob o título de "Como se prepara uma Revolução — O Jansenismo e a Terceira Força", números 20 e 21, de agosto e setembro de 1952).
DUAS GRANDES ALAS DA TERCEIRA FORÇA
É nosso propósito, hoje, dar outros exemplos práticos dessa atitude, atendo-nos exclusivamente ao campo político-social.
São muito variadas, e frequentes vezes até divergentes em matéria de pormenores, as correntes da Terceira Força, embora haja entre elas perfeita convergência de esforços para a consecução do fim principal que todas se propõem. Do ponto de vista político-social, podemos dividir essas diversas correntes em dois grandes grupos: 1) a Terceira Força nitidamente hostil à Igreja, anticlerical e confessadamente laicista; 2) a Terceira Força que, no seio da Igreja, procura "adaptar" a doutrina social católica para melhor atingir seus velados e às vezes até mesmo ostensivos fins revolucionários.
Assinalemos, de início, como ambos esses grupos dão uma noção completamente deturpada e facciosa tanto da Revolução quanto da Contra-Revolução. Por mais que disfarcem, seus pendores para a primeira se manifestam desculpando-lhe os excessos, mostrando a "pureza" de intenção de seus doutrinadores e mentores, explicando que tais excessos são o resultado da triste contingência das coisas humanas, quando não são provocados pelos reacionários, pelos "fixistas", por aqueles que se opõem aos progressos da causa revolucionaria. Por outro lado, não admitem a existência de uma autêntica Contra-Revolução. Por Contra-Revolução tomam, com muita desenvoltura, para seu jogo dialético, certos frutos da própria Revolução no campo político-social, tais como o liberalismo, o fascismo, o nazismo.
Isto posto, vejamos outros aspectos dessa Terceira Força, através da palavra de elementos representativos dos dois aludidos grupos.
CAMINHO PARA O SOCIALISMO INTEGRAL
O Sr. Paulo de Castro é declaradamente um membro do primeiro grupo. Em seu recente livro "Terceira Força" (Editora Fundo de Cultura S. A., Rio de Janeiro, 1ª edição brasileira, dezembro de 1958), diz ele, ao desfazer o que denomina de equívocos sobre a Terceira Força, que a grande importância desta "é justamente corresponder à linha de interesse de todos os povos, exceto dos Estados Unidos, Rússia e, em parte, da Inglaterra, na sua luta pela libertação econômica e política, na sua batalha contra o colonialismo militar ou financeiro. A Terceira Força é, nos países subdesenvolvidos, a condição de sua libertação econômica do imperialismo e, nos países industrializados, o caminho próprio para o socialismo" (p. 108).
O que caracteriza a posição de terceira força vem a ser "a linha deste combate pela independência econômica nacional ou pela independência política contra o domínio econômico do imperialismo americano ou o domínio político da Rússia (p. 109). E contra aqueles que afirmam que a Terceira Força não tem qualquer partido político ou organização internacional que lhe sirva de intérprete ou instrumento, afirma o Sr. Paulo de Castro que "todos os partidos socialistas e trabalhistas são, em tese, intérpretes" dela (p. 109). "Nos países subdesenvolvidos nem sempre, contudo, os partidos socialistas (por vezes meros agrupamentos de intelectuais) encarnam na forma mais enérgica os princípios da Terceira Força. Nestes países, o nacionalismo é potencialmente ou já efetivamente o elemento central de uma posição de terceira força" (pp. 109/110).
Sua nota constante é o socialismo, como podemos ver por mais esta afirmação do Sr. Paulo de Castro: "Na política interna a Terceira Força tenderá, através de várias fases, segundo os países e seus níveis de desenvolvimento e sua zona geopolítica, para uma realização mais próxima ou mais longínqua do socialismo, partindo da luta direta e do processo de luta contra o imperialismo e as oligarquias nacionais. Na zona do domínio da Rússia, tenderá para soluções do tipo Polônia ou Iugoslávia (p. 113).
Trata-se apenas de uma fase de transição para a plena realização do programa revolucionário: "O fim da Terceira Força não é constituir um movimento mundial para sempre, pois a sua origem é dialética e o seu desaparecimento será também o fruto da solução positiva das contradições atuais" (p. 113).
"OVES, BOVES ET SERPENTES"
Nesse caminhar para a República Universal socialista, a Terceira Força chega até ao extremo de magnanimidade de tolerar a adesão dos que ainda se prendem a preconceitos religiosos, desde que não se atrevam a desejar o que aconteceu no seio da Cristandade em tempos idos, isto é, a união da Igreja e do Estado ou a ação da Igreja na vida civil dos povos: "A Terceira Força não tem uma filosofia homogênea, uma cosmovisão exclusivista, e nela participam, consciente ou inconscientemente, materialistas e religiosos, ateus e católicos, protestantes, muçulmanos e judeus. Mas no seu espírito e verdade bem como na sua dinâmica, é essencialmente contraria ao domínio temporal de igrejas ligadas às classes privilegiadas e, sutilmente, ao esquema do imperialismo, além de representarem classes privilegiadas e uma reação constante, no plano nacional, às reformas de estrutura, aliando-se aos elementos mais bisonhos e residuais contra as aspirações populares. O respeito da liberdade religiosa e de consciência não significa fraqueza em face de qualquer tentativa de mutilação do Estado laico" (pp. 112/113).
A Terceira Força é tão latitudinária, que pode acolher os próprios comunistas, desde que estejam em discordância com Moscou: ela é "uma herdeira de grandes aspirações humanas que a social-democracia e o comunismo não souberam ou não puderam realizar. Mas, tanto a social-democracia renovada, ou os grupos renovadores dentro da social-democracia, como os partidos comunistas titoistas e os dissidentes do comunismo, fiéis à luta antiimperialista e ao socialismo, têm lugar neste movimento, bem como os cristãos progressistas ou os progressistas laicos, e todos, enfim, que desejam que o homem não seja crucificado entre os dois blocos nem condenado a servir eternamente o capitalismo, a ser um estranho ao mundo em que vive e a si próprio, ou como dizia Marx, um ser alienado" (p. 115).
Em resumo, a finalidade principal da Terceira Forca é realizar o genuíno, o autêntico programa da Revolução Comunista de 1917, comprometido pelos ferrabrases da polícia política de Josef Stalin e de Nikita Krutchev: "Como já verificamos, um dos motivos por que se tornou possível e necessária a existência da Terceira Força mundial, criação das circunstâncias históricas e não de misantropos ou poetas, foi exatamente a convicção de que o movimento de outubro de 1917 se tinha desviado da sua intencionalidade, dos seus propósitos e objetivos" (p. 120).
A ALA ESQUERDA DA DEMOCRACIA CRISTÃ
Vejamos agora um exemplo típico dessa atitude de "moderação" nos meios católicos. Em crônica recente, publicada na cadeia de jornais em que colabora, assim se exprimia o Sr. Tristão de Ataide:
"Das quatro grandes forças coletivas em ação nesta última fase do século XX, já tratamos de duas: o totalitarismo soviético e a democracia norte-americana. A visita de Mikoyan aos Estados Unidos e a reunião do 21o Congresso Comunista Internacional, em Moscou, foram os mais recentes acontecimentos representativos dessas duas forças antitéticas. A revolução cubana nos leva ao campo das chamadas Terceiras Forças.
"O nome apareceu antes da Segunda Guerra Mundial, quando as duas forças dominantes, entre as quais nos pretendiam impor uma opção irrestrita, eram o Comunismo e o Fascismo. Essa terceira força era precisamente a Democracia, renovada pelo Cristianismo ou pelo Socialismo não comunista. Ainda hoje, o Governo italiano, baseado na coligação entre o Partido Democrata-Cristão e a ala moderada dos Socialistas, de Saragat, é um exemplo prático dessa forma de terceira força política em ação, que a ala direita da Democracia Cristã italiana, de namoro com o neofascismo, está ameaçando destruir" (crônica "As Quatro Forças", em "O Diário", de Belo Horizonte, 17 de maio de 1959).
Seguindo as pegadas do Sr. Paulo de Castro, o Sr. Alceu de Amoroso Lima procura mostrar como, após a liquidação do fascismo e do nazismo, as duas forças passaram a ser os Estados Unidos e a Rússia, com a posterior incorporação, ao bloco soviético, da China e dos Bálcãs. "A denominação de Terceira Força passou, então, a ser aplicada às nações economicamente subdesenvolvidas, mas não comunistas e ciosas de sua independência em face dos dois blocos. Esse terceiro bloco inclui as nações asiáticas e africanas não comunistas e, por extensão, a América Latina e os movimentos democráticos reformistas, em toda a parte" (artigo citado).
UMA POSIÇÃO FACCIOSA
Também o Sr. Tristão de Ataide aceita esse jogo dialético, e procura justificar as atrocidades revolucionarias como consequências das provocações dos que se opõem com sinceridade aos progressos da Revolução, ou daqueles que, embora situados em campo contra- rio, não passam de meros instrumentos de uma fase ultrapassada da própria Revolução (como acontece com a corrupção liberal combatida pelos heróis "carismáticos" que surgem para "salvar" os povos pela solução socialista). Assim é que o Sr. Tristão de Ataide declara a propósito do que se passa em Cuba: "Seja qual for, porém, a veemência de nossa condenação aos processos violentos de vingança política, herança do jacobinismo terrorista dos Robespierre e dos Saint Just de outrora, — o fato é que os culpados são os que criam situações políticas que provocam, em sociedades diferentes, revoluções ainda desse tipo. Tipo, aliás, de violência menos desumana que a tortura psicológica, as pseudoconfissões e a política secreta dos regimes totalitários mais modernos" (artigo citado).
Faz o articulista claramente a apologia dessa Terceira Força, e mostra como a revolução cubana é, não somente uma advertência aos Estados Unidos contra a tolerância dos regimes ditatoriais latino-americanos, mas também "a demonstração da autenticidade, da autonomia e da importância dessa Terceira Força universal. Nela se encontram a violência implacável dos nacionalistas argelinos ou dos fidelistas cubanos, como a não-resistência vitoriosa da espiritualidade hindu ou o espírito de proporção e equilíbrio da Democracia Cristã em toda a parte" (artigo citado). Tal Terceira, Força, continua o conhecido escritor maritainista, "constitui um elemento novo sadio na luta pela nova ordem do mundo, que a nossa geração e o nosso século seguramente não verão..." Mais ainda: "A Terceira Força é um protesto veemente e puro contra o universo satelitario" (artigo citado).
PROMOÇÃO DO "SOCIALISMO DEMOCRÁTICO"
Como vemos, as características e componentes, que o Sr. Alceu de Amoroso Lima empresta à Terceira Força coincidem, em substancia, com os que lhe atribui o Sr. Paulo de Castro. E àqueles que objetarem que o Sr. Tristão de Ataide sobrepõe a essa Terceira Força uma Quarta Força, constituída "pelas forças espirituais", responderemos que quem é coerente é o Sr. Paulo de Castro, que procura isolar a Terceira Força de qualquer influência da Igreja em seus quadros e em seu programa. O que se pede à ala, católica da Terceira Força é um trabalho de preparação da opinião pública para aceitar certas "reformas de estrutura" e a certas medidas "moderadas" que conduzem disfarçadamente à Revolução integral.
A esquerda da Democracia Cristã, tão simpática ao Sr. Alceu de Amoroso Lima, corteja os partidos socialistas, não somente na Itália, mas em todo o mundo, com eles entra em combinações políticas, naturalmente visando a promoção do chamado "socialismo democrático", que nada mais é que a realização do programa da Revolução pelos métodos chamados "evolutivos".
O mesmo podemos dizer dos partidos trabalhistas que seguem idêntica linha de conduta: visam a implantarão do socialismo ou do programa revolucionário por "evolução", vale dizer, através de processos políticos e eleitorais.
Que pretendia Karl Marx ao pregar a revolução proletária senão conduzir o mundo ao socialismo? Pouco importa, na perspectiva mais ampla do assunto, que o ideal totalitário da vida, que é o ideal socialista, seja implantado por métodos violentos, ou seja infiltrado no campo social por hábeis medidas legislativas e políticas que caracterizam o chamado "socialismo democrático". Em um e outro caso, é perpetrado um crime contra o Direito natural, pois não se cometem violências apenas a mão armada, mas também através de leis iníquas.
Que um homem como o Sr. Paulo de Castro faça uma distinção completamente gratuita entre o "socialismo democrático" e o "socialismo totalitário preconizado por Moscou", isto é lá com ele; aliás essa confusão mental era de esperar-se em quem põe a doutrina social católica entre parêntesis. Mas que o Sr. Tristão de Ataide insista em aplaudir a ação nefasta da ala esquerda da Democracia Cristã em seu conluio com os partidos socialistas, e considere "puro", "sadio", "autêntico" esse movimento de Terceira Força de âmbito universal, que não passa de outra vertente da Revolução, é coisa incompreensível, mesmo porque ele confessa confiar na Quarta Força, que diz ser a força do espírito e que para nós, católicos, só pode ser a Santa Igreja Católica, dispensadora dos frutos da Redenção, nosso refúgio e esperança.
OS VARIOS CAMINHOS DA REVOLUÇÃO
São claros os ensinamentos pontifícios quanto à inaceitabilidade de qualquer espécie de socialismo, atenuado ou extremista. E a impossibilidade de apoiar ou aceitar essas formas "moderadas" se evidencia quando consideramos que toda a caudal socializante tem um sentido comum. Vejamos um exemplo de casa, a título ilustrativo. Diz o ponto VII do programa do Partido Socialista Brasileiro ser "o objetivo do Partido, no terreno econômico... a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios da produção, que procurará realizar na medida em que as condições do país a exigirem". Compare-se esta declaração com o artigo 4o da Constituição soviética: "A base econômica da U. R. S. S. é constituída pelo sistema socialista da economia e pela propriedade socialista dos instrumentos e meios de produção, estabelecidas em seguida à liquidação do sistema capitalista da economia, da abolição da propriedade privada dos instrumentos e meios de produção". O Sr. João Mangabeira, um dos próceres mais em evidência do citado Partido Socialista Brasileiro, em entrevista publicada no número de 7 de junho de 1933 da revista "Flan", diz expressamente: "A livre empresa e a livre concorrência são mitos da economia capitalista". A diferença entre o Sr. João Mangabeira e o Sr. Nikita Kruchev está em que o líder do socialismo tapuia quer destruir a liberdade econômica no Brasil pela alquimia parlamentar, isto é, pelos processos fabianos de infiltração socialista. Que não há diferença essencial quanto aos resultados práticos em um e outro caso, é também o Sr. João Mangabeira quem o diz nessa mesma entrevista: "Crê o Sr. que a classe burguesa aceitaria uma evolução democrática e socialista através do voto popular? — Acho que sim, retrucou. O próprio Marx admitiu que na Inglaterra a transição para o socialismo poderia fazer-se democraticamente. Os fatos demonstraram a justeza de sua asserção. Os partidos sociais democráticos na Europa, o Partido Trabalhista inglês, em suma os Partidos Socialistas, aceitam, esse princípio... Na Escandinávia, na Inglaterra, na Austrália, na Nova Zelândia, o programa socialista vem-se cumprindo lenta e parceladamente, mas avançando sempre". Não parece suficiente?
A TERRIVEL IMAGEM DO LEVIATAN
Não foi, portanto, sem razão que a referida revista "Flan", em reportagem sob o título de "Generais da Terceira Força", publicada no mesmo número de 7 de junho de 1953, incluiu o Sr. Tristão de Ataide entre os comandantes, no Brasil, dessa lamentável milícia. E se S. Sa. se acha colocado em tão estranha companhia, convenhamos que a culpa é exclusivamente sua.
Estamos diante de mais uma prova de que não lhe fazemos injustiça quando interpretamos suas atitudes como tendo sentido inequivocamente esquerdista. Que concluir, por exemplo, desta sua afirmação: "O anticomunismo socialista é legítimo, porque associou sinceramente a ordem econômica, que pretende impor pela socialização dos meios de produção, as liberdades humanas essenciais" ("Folha da Manhã", de São Paulo, de 15 de maio de 1949). O anticomunismo socialista (como também quer o Sr. Paulo de Castro) seria "legítimo e insuspeito por mais que os capitalistas, os neofascistas e os policialistas o considerem com desconfiança" (artigo citado). Mais ainda: afiança o Sr. Tristão de Ataide que "o socialismo democrático se oporia ao socialismo comunista" e "representa uma nova, modalidade da ascensão política do trabalho, que poderá participar da convivência democrática tão difícil de realizar com o fanatismo e a intolerância do comunismo em sua forma atual" ("O Problema do Trabalho", Editora Agir, 1947, p. 149).
Como se vê, essa Terceira Força sui generis corteja a Revolução através do socialismo. E é inútil a pele de ovelha do sufrágio universal ou dos chamados processos democráticos. Um atentado contra a liberdade ou contra o Direito natural continua sendo um crime ainda mesmo quando tem a seu favor uma eventual maioria. Quando a Santa Igreja condena o socialismo — convém acentuar — não tem em vista apenas sua facção materialista, violenta, da ação direta, fanática e intolerante, mas o socialismo em si mesmo, como sistema econômico e social ou mera técnica no campo das atividades sociais e econômicas. É esse socialismo que tanto Leão XIII quanto Pio XI e Pio XII dão como um dos inimigos capitais da cidade católica. O socialismo atenuado, o socialismo "democrático", as medidas socializantes, são etapas intermediarias, são as primeiras pedras da avalanche. Onde a ação direta não encontra ambiente propício, é assim que se vai sorrateiramente instalando o Estado Moloch. Esse é o início do processo totalitário de dissolução contra o qual dramaticamente nos advertiu o Pai Comum da Cristandade: "É preciso impedir a pessoa e a família de se deixarem arrastar para o abismo onde tende a lançá-las a socialização de todas as coisas, ao fim da qual a terrível imagem do Leviatan tornar-se-á uma horrível realidade. É com a maior energia que a Igreja travará esta batalha em que estão em jogo valores supremos: a dignidade do homem e a salvação eterna das almas" (Alocução de Pio XII ao Katholikentag de Viena, 14 de setembro de 1952).
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Em resumo, como abertamente declara o Sr. Paulo de Castro, a Terceira Força tem vida efêmera, pois não passa de uma ala revolucionaria destinada a canalizar para a primeira força, ou para o comunismo, os amigos incondicionais da "moderação", da conciliação a todo o custo. Os fracos, os tíbios e os vacilantes se espantariam se se lhes acenasse com o programa completo da Revolução. Através desse caminhar cauteloso e disfarçado a conquista de extensas áreas fechadas à Revolução declarada será mais fácil e segura.
Na encruzilhada em que se acha o mundo, nada menos conveniente que as meias tintas, os compromissos entre a luz e as trevas, as Terceiras Forças que simulam uma imparcialidade impossível de se manter diante dos objetivos tão claros do inimigo. Ou acham os agentes da Revolução que a obliteração das inteligências já chegou a tal ponto, que a opinião pública não percebe um embuste tão primário?