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"Ad Petri Cathedram"

(continuação)

tudo o que Nossos Predecessores, e especialmente Pio XI (61) e Pio XII (62), estabeleceram sobre o assunto, de modo tão feliz, em suas Encíclicas.

Às Religiosas

Não queremos deixar passar aqui em silêncio as almas privilegiadas que, consagradas a Deus pelos votos para não servirem senão a Ele, se uniram estreitamente ao Divino Esposo por núpcias místicas. Com efeito, quer passem a vida à sombra do claustro monástico, na oração e na penitência, quer se entreguem às obras de apostolado exterior, não só podem prover à própria salvação de maneira mais fácil mais feliz, mas podem também auxiliar grandemente a Igreja, tanto nas nações cristãs, quanto nas terras longínquas em que ainda não brilha a luz do Evangelho. Que boas obras não praticam essas Religiosas! Ninguém mais poderia fazer esse bem com tanto desinteresse e ternura maternal! E isso não em um só campo, senão em muitos: entregam-se à boa instrução e educação da juventude; dão catecismo para meninos e meninas nas paróquias; nos hospitais tratam dos doentes e os elevam aos pensamentos sobrenaturais; nos asilos de velhos cercam estes últimos de uma bondade paciente, sorridente e misericordiosa, e podem orientá-los docemente para o desejo da vida eterna; nas creches e nos orfanatos, enfim, cumulam de amor materno as crianças abandonadas ou órfãs, que sem elas não teriam ninguém para criá-las e amá-las. Essas Religiosas, sem dúvida nenhuma, não só prestam relevantes serviços à Igreja Católica, à educação cristã e às obras de misericórdia, mas também à sociedade civil, preparam para sua eternidade uma maravilhosa coroa no Céu.

À Ação Católica e a todos os que colaboram no apostolado

Hoje, todavia, como sabeis, Veneráveis irmãos e amados filhos, tornaram-se tão grandes e tão variadas as necessidades do serviço de Cristo, que o Clero, os Religiosos e as Religiosas já não parecem suficientes para atendê-las inteiramente. Acresce a isto que em nem todos os ambientes podem penetrar os Sacerdotes, os Religiosos e as Religiosas; nem todas as vias de acesso lhes estão abertas: muitas pessoas, com efeito, não lhes dão atenção ou os evitam e, infelizmente, às vezes até acontece que sejam desprezados e se lhes tenha horror.

Igualmente por esta grave razão, fonte de desgosto amargo, Nossos Predecessores chamaram os leigos ao exército pacífico da Ação Católica para auxiliarem na obra do apostolado a Hierarquia Eclesiástica; aquilo que, nas circunstâncias atuais, esta última não poderia fazer, os homens e mulheres católicos o fariam com coragem, colaborando com os Bispos e obedecendo-lhes sempre. É para Nós motivo de grande consolação considerar aquilo que no decurso do tempo, até nas regiões de missão, esses auxiliares dos Bispos, dos Sacerdotes, de todas as idades condições sociais, empreenderam e levaram avante para fazer brilhar aos olhos de todos a verdade cristã e para que as virtudes cristãs arrebatem e atraiam todos os corações.

O campo de ação que permanece aberto diante deles é, todavia, imenso; por demais numerosos são ainda os que precisam de seu exemplo e de seu apostolado. Eis porque temos intenção de desenvolver de novo, mais tarde, este assunto que consideramos gravíssimo e de soberana importância. Nessa expectativa, temos firme esperança de que todos os que trabalham nas fileiras da Ação Católica, ou nas múltiplas associações piedosas que florescem na Igreja, prosseguirão com o maior zelo numa atividade tão necessária: quanto maiores as necessidades de nossa época, tanto mais intensos devem ser os seus esforços, o seu zelo, a sua engenhosidade, a sua atividade. Mantenham-se em perfeita concórdia, pois — eles bem o sabem — uma força unida é mais eficaz; ponham suas opiniões pessoais em segundo plano sempre que se trate da causa da Igreja Católica, porque não pode haver nada maior e mais importante. E isso não só no que concerne à doutrina, mas também à disciplina eclesiástica, que reclama sempre a obediência de todos. Em fileiras cerradas, em união permanente e estreita com a Hierarquia Católica, e na obediência a esta, progridam e se desenvolvam; não poupem nenhum esforço, não recuem diante de nenhuma dificuldade para que triunfe a causa da Igreja.

E para fazê-lo, cuidem antes de tudo — coisa de que estão seguramente persuadidos — de se conformarem pessoalmente com a doutrina e a virtude cristã. Só então, com efeito, lhes será possível dar aos outros o que tiverem adquirido para si mesmos com a ajuda de Deus. Nós o recomendamos especialmente aos adolescentes e aos jovens, cujo ardor natural se inclina facilmente para o ideal, mas que tem particular necessidade de prudência, de moderação de obediência aos superiores. A esses amados filhos que crescem para esperança da Igreja, e em cuja ação temos tanta confiança, queremos abrir Nosso coração amantíssimo.

Aos aflitos e aos que estão sendo provados

E agora Nos parece ouvir subirem até Nós as vozes, entrecortadas de soluços dos que sofrem de modo cruel, física ou moralmente, dos que se acham em dificuldades materiais tão grandes, que não lhes é possível ter uma casa digna de um ser humano, nem obter por seu próprio trabalho o alimento necessário para si mesmos e para seus filhos. Essas vozes comovem profundamente Nosso coração, e queremos, em primeiro lugar, levar aos doentes, aos fracos, aos velhos a consolação que vem do Céu. Lembrem-se de que não temos moradia permanente nesta terra, mas buscamos a do futuro (63); lembrem-se de que, pelas dores desta vida mortal, que purificam a alma, a elevam, a enobrecem, podemos ganhar a felicidade eterna do Céu; lembrem-se de que o próprio Divino Redentor, para apagar e purificar a nódoa de nossos pecados, sofreu voluntariamente o suplício da cruz, as injúrias, as torturas, e angústias crudelíssimas. A seu exemplo, todos nós somos igualmente chamados da cruz à luz, segundo Ele o disse: "Se alguém quiser vir coMigo, renuncie a si mesmo, tome sua cruz todos os dias e siga-Me" (64), e assim terá no Céu um tesouro imperecível (65).

Queremos, além disso — e temos plena confiança de que Nossa exortação será recebida de bom grado — que as dores do corpo e da alma não somente se tornem degraus que permitam, aos que sofrem, elevar-se para a pátria eterna, mas também sirvam para expiar as faltas dos outros, para obter que voltem ao seio da Igreja os que infelizmente A deixaram, e, finalmente, para o tão desejado triunfo do nome cristão.

Aos economicamente fracos

Que aqueles cujos recursos econômicos são insuficientes e que se queixam de suas miseráveis condições de vida saibam, antes de tudo, que sua sorte não Nos causa aflição menor do que a eles próprios. E isso não só por causa do desejo de Nosso coração paterno de que a justiça, que é uma virtude cristã, seja observada igualmente no domínio social, que ela regule as relações entre as diversas categorias de cidadãos, mas também porque sofremos vivamente ao ver que os inimigos da Igreja se aproveitam da situação injusta dos necessitados para atraí-los a seu partido por meio de promessas e asserções enganadoras.

Rogamos a esses amados filhos que observem que a Igreja não lhes é hostil, não Se opõe a seus direitos, mas, pelo contrário, qual mãe amantíssima, defende-os e prega uma doutrina social que, se fosse, como é devido, integralmente aplicada, suprimiria toda injustiça e promoveria uma mais justa distribuição de bens (66); daí resultaria igualmente uma colaboração amigável entre as diversas categorias sociais, e todos poderiam chamar-se, e ser na realidade, não só cidadãos livres de uma mesma sociedade, como também membros de uma mesma família.

De resto, se se considerarem honestamente as melhorias obtidas nestes últimos tempos pelos que vivem de seu trabalho quotidiano, será preciso reconhecer que tais melhorias provêm especialmente da ação eficaz que os católicos têm sabido desenvolver no domínio social, segundo os sábios ensinamentos e as incessantes exortações de Nossos Predecessores. Aqueles, pois, que se esforçam por defender os direitos dos necessitados já possuem na doutrina social da Igreja regras seguras e bem definidas, que, se forem corretamente postas em prática, assegurarão uma salvaguarda suficiente para esses mesmos direitos. Eis porque esses homens nunca devem voltar-se para os fautores de uma doutrina condenada pela Igreja. Se é verdade que estes os atraem por meio de promessas enganadoras, na realidade, todavia, sempre que se vêem no poder, eles se esforçam, com louca audácia, em arrancar do coração dos cidadãos os bens supremos da alma, a fé cristã, a esperança cristã, a lei cristã, e até restringem ou suprimem completamente aquilo que mais se estima no mundo de hoje e na civilização moderna, a saber, uma justa liberdade e o respeito da pessoa humana. E chegam ao extremo de se aplicarem a arruinar os fundamentos da civilização cristã. Aqueles, pois, que querem realmente conservar o nome de cristãos tem o gravíssimo dever de consciência de se manterem absolutamente afastados dessas doutrinas falazes que Nossos Predecessores, particularmente Pio XI e Pio XII, reprovaram e que Nós reprovamos novamente.

Sabemos que bom número de Nossos filhos, cuja condição econômica é por demais modesta ou mesmo miserável, se queixam frequentemente de que a doutrina social da Igreja ainda não esteja completamente posta em prática. Cumpre, pois, trabalhar, com ardor e eficácia, e é um dever não só para particulares, mas sobretudo para os que se ocupam dos negócios públicos, que a doutrina social da Igreja, tantas vezes exposta excelente e sabiamente por Nossos Predecessores, e que Nós confirmamos, seja o mais cedo possível, embora progressivamente, posta em vigor de maneira real e total (67).

Aos refugiados e aos emigrados

Não menor é Nossa solicitude por todos os que, premidos pela necessidade de buscar sustento, ou pelas deploráveis condições de seus países e pelas perseguições religiosas, tiveram que abandonar a pátria. Quantas privações e sofrimentos resultam para eles da transferência para países longínquos, que os força frequentemente a viver em cidades grandes, em fábricas ruidosas, em condições tão diferentes de seus costumes ancestrais, às vezes mesmo, o que é pior, tão nocivas ou até hostis à virtude cristã. Decorre amiúde dessas condições de vida, que muitos se encontram em situação perigosa para sua fé, e se afastam pouco a pouco dos princípios religiosos e das tradições de seus antepassados. A isto se acrescenta que, com frequência, os esposos são separados um do outro, os filhos vão para longe de seus pais, os laços de família se afrouxam, em detrimento da união do lar.

Por isto fomentamos de todo o coração a obra meritória dos Sacerdotes que, impelidos pelo amor de Jesus Cristo, e seguindo as sabias diretrizes desta Sé Apostólica, fazem-se exilados por Cristo, e não poupam nenhum esforço para assegurar a assistência espiritual e social desses filhos tão provados, e para fazer-lhes sentir por toda parte a caridade da Igreja, tanto mais presente e ativa quanto maiores as necessidades em que se acham.

Do mesmo modo, é com grande prazer que consideramos e apreciamos os esforços feitos por diversas nações nesta importante matéria, seus acordos e iniciativas recentes que visam a solução mais pronta possível desses graves problemas. Tudo isto, é Nossa firme esperança, contribuirá não somente para ampliar e facilitar a entrada de imigrantes, mas também para conseguir a feliz reintegração de pais e filhos num mesmo lar; esta reconstituição da unidade familiar beneficiará evidentemente os emigrantes, sua religião, seus bons costumes, seu bem-estar econômico, do mesmo modo que as próprias nações que os acolhem.

À Igreja perseguida

E ao mesmo tempo em que exortamos todos os Nossos filhos em Cristo a evitarem os erros funestos que podem arruinar não só a Religião, mas também a própria comunidade humana, apresentam-se a Nosso espírito tantos Veneráveis Irmãos no Episcopado, tantos caros Sacerdotes e fiéis escorraçados para o exílio, detidos em campos de concentração ou em prisões, por não terem querido faltar ao dever episcopal ou sacerdotal, nem apostatar da fé católica.

A ninguém queremos ofender, antes desejamos conceder a todos o perdão e pedi-lo a Deus para todos. Mas a consciência de Nosso dever sagrado reclama que defendamos segundo Nossas forças os direitos desses Irmãos e desses filhos, e que solicitemos com insistência que a liberdade legítima a todos devida, e portanto também à Igreja de Deus, seja a todos concedida como se faz mister. Os que observam realmente os princípios da verdade e da justiça, os que zelam pelos interesses dos indivíduos e das nações não negam a liberdade, não a restringem, não a sufocam; não têm necessidade de recorrer a esses meios. Pois não se pode chegar à justa prosperidade dos cidadãos através da força, da opressão dos espíritos e dos corações.

E se existe uma coisa que cumpre considerar como certa, e que onde os direitos sacrossantos de Deus e da Religião são desprezados e calcados aos pés, os fundamentos mesmos da sociedade humana são abalados e desmoronam mais cedo ou mais tarde, como o notava muito sabiamente Nosso Predecessor de imortal memória, Leão XIII: "É normal... que a força das leis seja quebrada, que toda autoridade seja enfraquecida, quando se repudia a ordem soberana e eterna de Deus que manda ou proíbe" (68). Esta afirmação concorda com a sentença de Cícero: "Vós, ó pontífices, mais eficazmente do que com as muralhas, defendeis a cidade com a religião" (69).

Considerando estas coisas, com suma dor abraçamos a cada um daqueles que devem enfrentar restrições e dificuldades para praticar a Religião, e que até, com frequência, "sofrem perseguição pela justiça" (70) e pelo reino de Deus; compartilhamos suas dores, angústias e amarguras; e elevamos Nossas súplicas ao Céu para que brilhe enfim para eles a aurora de tempos melhores. E desejamos vivamente que a Nós se unam nesta mesma oração todos os Irmãos e filhos que temos sobre a terra, de tal modo que de todos os rincões suba para o Deus de misericórdia um concerto de súplicas que alcance abundantes graças para estes desventurados membros do Corpo Místico de Cristo.

Exortações finais

Não pedimos a Nossos amados filhos somente orações, mas também uma renovação da vida cristã, que, mais do que as próprias orações, pode obter que Deus se torne propício para nós e para nossos irmãos. Comprazemo-Nos em vos repetir a todos as sublimes palavras do Apóstolo das nações: "Tudo o que há de verdadeiro, de nobre, de justo, de puro, de amável, de respeitável, tudo o que pode haver de virtude e de louvor de costumes, eis aí o que vos deve preocupar" (71). "Revesti-vos de Nosso Senhor Jesus Cristo" (72). Isto é: "Revesti-vos dos sentimentos de terna compaixão, de benevolência, de humildade, de mansidão, de paciência E acima de tudo, tende a caridade, que é o vínculo da perfeição. E assim, reine em vossos corações a paz de Cristo, na qual fostes chamados num mesmo corpo" (73).

Se pois alguém, por causa de seus pecados, se afastou para longe do Divino Redentor, que volte a Ele — Nós o pedimos encarecidamente — a Ele que é "o caminho, a verdade e a vida" (74) ; se alguém é tíbio, débil, frio e negligente na prática da Religião, que reanime sua fé, alimente sua virtude com a graça divina, desenvolva-a e aumente-a; se alguém, enfim, graças a Deus, "é homem de bem, viva ainda mais no bem, e o santo santifique-se mais ainda" (75).

E, visto que há hoje tantos homens que têm necessidade de nossos conselhos, da luz de nosso exemplo, e mesmo de nossos socorros, em virtude do estado de miséria em que se encontram, exercitai-vos, cada um de acordo com as próprias forças e recursos, nas obras de misericórdia, que são muito agradáveis a Deus.

Se vos esforçardes todos em cumprir estas coisas, ver-se-á de novo brilhar na Igreja este esplendor de vida cristã descrito de maneira tão admirável na epistola a Diogneto: "Eles estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Habitam a terra, mas são cidadãos do Céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas por seu gênero de vida superam as leis... São desconhecidos e condenados; são mortos e recebem a vida. São mendigos e fazem ricos a tantos; carecem de tudo e tudo possuem em abundância. São desonrados e no meio da desonra são cumulados de gloria; sua reputação é dilacerada e presta-se testemunho de sua honestidade. São repreendidos e abençoam; injuriados e retribuem com honras. Embora façam o bem, são condenados como malfeitores, e quando punidos alegram-se como se fossem vivificados... Numa palavra, o que a alma é no corpo os cristãos são no mundo" (76). Certos trechos da passagem citada podem ser aplicados de modo especial aos que pertencem à Igreja do Silêncio, pelos quais estamos especialmente obrigados a rezar a Deus, conforme recomendamos instantemente aos fiéis em Nossas recentes exortações pronunciadas na Basílica de São Pedro, no dia de Pentecostes e na festa da Sagrado Coração (77).

Nós vos auguramos a todos esta renovação da vida cristã, esta virtude, esta santidade, e o pedimos constantemente a Deus em Nossas orações, não apenas para os que perseveram com ânimo na unidade da Igreja, mas também para os que se esforçam por reunir-se a Ela, com amor da verdade e com uma vontade sincera.

Enfim, como sinal e penhor das graças celestes, concedemos a cada um de vós, com grande amor paterno, Veneráveis Irmãos e amados filhos, a Benção Apostólica.

Dada em Roma, junto de São Pedro, aos 29 de junho de 1959, Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, no primeiro ano de Nosso Pontificado.

JOÃO PP. XXIII

1.

Cfr. Is. 11, 12. 2.

1 Tim. 6, 16.

3.

lo. 1, 14.

4.

Io. 1, 9.

5.

2 Tim. 3, 7.

6.

Eph. 4, 13-16.

7.

Epist. "Saepenumero considerantes": A.L. vol. III, 1883, p. 262.

8.

Epist. "Exeunte iam anno": A.L. vol. VIII, 1888, p. 396.

9.

Encycl. "Humanum genes": A.L. vol. IV, 1884, p. 53.

10.

Epist. "Praeclara gratulationis":A.L. vol. XIV, 1894, p. 210.

11.

Epist. "Permoti Nos"; A.L. vol. XV, 1895, p. 259.

12.

Encycl. "Rerum novarum"; A.L. vol. XI, 1891, p. 109.

13.

"Radiomessaggio Natalizio 1944"; Discorsi e Radlomessaggi di. S. S. Pio XII, vol. VI, p. 239.

14.

Radiomessaggio al 73o Congresso dei cattolici tedeschi; ibid. vol. XI, p. 189.

15.

Marc. 8, 2.

16.

A.A.S. vol. XXIII, 1931, p. 393-394.

17.

Per un solido ordine sociale; Discorsi e Radiomessaggi di S. S. Pio XII, vol. VII, p. 350.

18.

1 Cor. 13, 4-7.

19.

Epist. "Inter graves"; A.L. vol. XI, pp. 143-144.

20.

Matth. 28, 20.

21.

Cfr. Hebr. 5, 7.

22.

Io. 17, 21.

23.

Io. 10, 16.

24.

lo. 14, 6.

25.

Cfr. Encycl. "Mortalium animos" de vera religionis unitate fovenda; A.A.S. vol. XXX, 1928, 5 sq.

26.

2 Cor. 13, 8.

27.

Cfr. J. H. NEWMAN, Difficulties of Anglicans, vol. I, lect. X, p. 261 sq.

28.

Act. 20, 28.

29.

Cfr. Matth, 16, 18.

30.

Cfr. Ibid. 16, 19.

31.

Cfr. Luc. 22, 32.

32.

Cfr. lo. 21, 15-17.

33.

Epist. XLIII, 5; Corp. Vind. III, 2, 594; cfr. Epist. XL, apud Migne, PL. IV, 345.

34.

Cfr. Ps. 44, 15.

35.

Canon Missae.

36.

Cfr. Hom. in mysticam coenam; PG. LXXVII, 1027.

37.

Phil. 1, 8.

38.

Hebr. 13, 7.

39.

S. August., In Ps. 32, Enarr. II, 29; Migne, PL. XXXVI, 299.

40.

Id., In Ps. 82, Enarr. II, 14; Migne, PL. XXXVII, 1140.

41.

Io. 17, 11, 17, 20, 21, 23.

42.

Gen. 45, 4.

43.

2 Cor. 7, 2.

44.

Phil. 4, 7.

45.

Cfr. Luc. 2, 14.

46.

Io. 14, 27.

47.

Matth. 6, 33.

48.

2 Cor. 6, 11.

49.

Cfr. Matth. 20, 12.

50.

lac. 1, 17.

51.

Io. 15, 5.

52.

Phil. 4, 13.

53.

Ibid. 4, 19.

54.

FUNK, Patres Apostolici, I, 243-245.

55.

Ibid., I, 267; cfr. Migne, PG. V, 699.

56.

2 Tess. 3, 1.

57.

Cfr. lo. 1, 9.

58.

Cfr. Phil, 2, 21.

59.

2 Cor. 5, 20.

60.

Ibid. 10, 3.

61.

Encycl. "Rerum Ecclesiae", A.A.S.vol. XVIII, 1926, p. 65 sq.

62.

Encycl. "Evangelii praecones", A.A.S. vol. XLIII, 1951, p. 497; e Encycl. "Fidei donum", A.A.S.vol. XLIX, 1957, p. 225 sq.

63.

Cfr. Hebr. 13, 14.

64.

Luc. 9, 23.

65.

Cfr. Ibid. 12, 33.

66.

Cfr. Encycl. "Quadragesimo anno", A.A.S. vol. XXIII, 1931, pp. 196-198.

67.

Cfr. Discorso di Pio XII agli iscritti alie Asociazioni Cristiani dei Lavoratori Italiani dell'll marzo 1945; A.A.S. vol. XII, 1945, pp. 71-72.

68.

Epist. "Exeunte iam anno"; A.L. vol. VIII, 1888, p. 398.

69.

De Natura Deorum III, 40.

70.

Matth. 5, 10.

71.

Phil. 4, 8.

72.

Rom. 13, 14.

73.

Col. 3, 12-15.

74.

Io. 14, 6.

75.

Apoc. 22, 11.

76.

FUNK, Patres Apostolici, I, 196.

77.

Cfr. L'Osservatore Romano, 1819 de maio de 1959 e 7 de junho de 1959.

Tradução (inclusive subtítulos) feita sobre a versão francesa do “Osservatore Romano”, edição semanal de 10-VII-1959, com algumas retificações segundo o original latino.


OS CATÓLICOS INGLESES DO SÉCULO XIX

NOVO MALOGRO DE JOHN ACTON

Fernando Furquim de Almeida

Como vimos, em consequência dos artigos de "The Rambler" contra o poder temporal do Papa, Mons. Manning pediu ao Padre Newman que aconselhasse John Acton a interromper a publicação da revista, pois, caso contrário, o episcopado inglês a condenaria. Newman acedeu, mas, não concordando com o Arcebispo, escreveu-lhe uma carta em que expunha claramente sua opinião, isto é, que a soberania territorial do Pontífice não lhe parecia condição indispensável para a Igreja cumprir a sua missão. Revelava essa carta um tal estado de espírito, que Mons. Manning compreendeu já não ser possível qualquer colaboração com o oratoriano. A partir dessa explicação, afastou-se completamente de Newman.

"The Rambler" desaparecia exatamente num momento em que em todo o mundo havia um recrudescimento do movimento liberal. Mons. Manning, com sua energia, conseguira impedir que o mesmo acontecesse na Inglaterra. John Acton julgou que não podia deixar o terreno sem tentar reconquistar as posições perdidas, e lançou em julho de 1862, três meses depois do fechamento de “The Rambler”, um novo periódico, “The Home and Foreign Review”, com artigos ainda mais nítida a desabusadamente liberais.

O Padre Newman, que suspendera as relações com os católicos liberais desde que se vira forçado a abandonar a revista de John Acton, voltou a se corresponder com este último, numa tentativa de moderar-lhe os excessos. De nada adiantou o seu esforço. Irritado com os ultramontanos, especialmente com William Ward, que não poupava "The Home and Foreign Review" em brilhantes artigos publicados na "Dublin Review", John Acton atirou-se de corpo e alma no movimento liberal, apoiando ruidosamente as suas mais ousadas iniciativas.

Em 1863, os católicos liberais procuravam conquistar prestígio dentro da Igreja por meio de uma grande ofensiva. Estava anunciado em Malines um congresso de católicos de todo o mundo, para uma ampla divulgação das respectivas atividades de apostolado. Ao mesmo tempo, em Munich, Doellinger desejava reunir os cientistas católicos alemães para provocar uma verdadeira revolta contra a autoridade pontifícia. Em Malines, Montalembert pronunciou o discurso tristemente célebre em que defendeu a tese da Igreja livre no Estado livre, pouco depois condenada pelo “Syllabus”. Em Munich, a Teologia Histórica alemã procurou impedir o renascimento do tomismo, promovido por teólogos italianos apoiados pela Santa Sé. Como John Acton estudara com Doellinger, teve a Assembléia dos Cientistas Católicos de Munich maior repercussão na Inglaterra. "The Home and Foreign Review" se comprometeu a fundo com ela, razão pela qual vamos explicar brevemente a sua gênese.

Ignaz von Doellinger era um dos principais chefes liberais e dos mais qualificados representantes da chamada Teologia Histórica. Esta, fazendo alarde de uma erudição maciça, dominava as universidades alemãs e combatia o tomismo, que era sustentado pelos ultramontanos. Várias vezes tentaram os liberais promover um congresso onde se debatessem as teses que opunham as duas escolas, mas sempre esbarraram com a recusa dos ultramontanos. No início de 1863, o editor Herder convenceu Doellinger de que deveria realizar esse congresso de qualquer modo. Doellinger, Alzog e o orientalista Hannenberg enviaram então um convite a todos os cientistas católicos alemães, austríacos e suíços para se reunirem em setembro, em Munich. 0 verdadeiro objetivo da reunião não era confessado oficialmente, mas em cartas aos amigos Doellinger revelava que pretendia fazer explodir uma guerra civil entre os teólogos da Alemanha e concentrar suas forças vivas contra o inimigo comum, a saber, o movimento tomista.

O núncio apostólico na Baviera acolheu mal a idéia do congresso, chegando mesmo a declarar que este seria uma espécie de sínodo que se reuniria sem aprovação eclesiástica. O Bispo de Paderborn, Mons. Martin, proibiu o comparecimento de seus padres. Outros prelados, no entanto, encorajaram a iniciativa, o que permitiu a realização da Assembléia dos Cientistas Alemães com 84 participantes. Na primeira reunião, a 28 de setembro de 1863, Doellinger foi eleito presidente e pronunciou um discurso bastante moderado, destinado a tranquilizar os ultramontanos que tinham atendido ao convite.

Numerosos ultramontanos, de fato, tinham comparecido. Outros, como os de Tubingen, se recaram coletivamente a ir à assembléia. O fato de não terem os anti-liberais reagido de maneira uniforme, e de muitos terem concordado em participar desse encontro, prestigiou a assembléia e permitiu que os teólogos históricos nela debatessem as teses mais avançadas.

Pio IX alarmou-se com a audácia dos liberais. O discurso de Montalembert em Malines fora pronunciado em agosto de 1863, e um mês depois se levantavam os alemães. Apesar de já estarem quase prontos o “Syllabus” e a Encíclica “Quanta cura”, que seriam publicados em 1864, o Papa enviou a Montalembert uma carta de censura, e escreveu ao Arcebispo de Munich lamentando que um congresso de teólogos se tivesse reunido sem mandato da Hierarquia, à qual pertence dirigir e controlar a Teologia. Alguns meses mais tarde, a Santa Sé punha em vigor um regulamento que tornava impossíveis novas reuniões desse gênero.

“The Home and Foreign Review” se fizera um dos mais entusiastas defensores da assembléia e se comprometera completamente com ela. John Acton percebeu que fora também atingido pela censura do Papa, e resolveu então suspender a publicação da revista. No último número, expôs as razões do fechamento no artigo "Conflitos com Roma". Sem renunciar às suas idéias, declarava que não queria opor uma resistência ativa e perseverante à vontade conhecida do Santo Padre.

A vida efêmera de "The Home and Foreign Review", de julho a dezembro de 1863, não permitiu que ela chegasse a ter a influência que inegavelmente conseguira “The Rambler”. Foi esse mais um esforço, uma última tentativa de refrear o progresso incessante do ultramontanismo inglês. Daí por diante John Acton renunciaria definitivamente a publicar uma revista e se limitaria a reunir uma biblioteca liberal, destinada a fornecer elementos para a história do liberalismo, que ele pretendia escrever.


NOVA ET VETERA

Senso Católico na Arquitetura

Celso da Costa Carvalho Vidigal

Em nosso último artigo nesta secção («Ditadura de especialistas», «Catolicismo», n° 103, julho de 1959) iniciamos uma serie de observações sobre a arquitetura contemporânea. Hoje continuaremos a nossa exposição, lembrando, como de início, que não temos a pretensão de esgotar o assunto.

Já nos referimos a algumas escolas de arquitetura cujos padrões estéticos representam idéias mais ou menos semelhantes e que, para simplificar, chamamos englobadamente de «arquitetura moderna». Essa denominação não abrange, como é obvio, maneiras de expressão arquitetônica relacionadas com estilos tradicionais o que, hodiernamente, têm tido boa acolhida por parte do público não «escolado».

VALORES MATERIAIS E ESPIRITUAIS

Pode haver, numa obra de arquitetura moderna, a representação de qualidades que são valores positivos, tais como a força, a segurança, a riqueza. A existência de tais qualidades, porém, de maneira nenhuma liberta esse estilo do mau espírito que lhe é inerente.

Poderíamos, a par disso, enumerar algumas virtudes que a arquitetura moderna nunca sabe exprimir, como, por exemplo, a majestade, a graça, a sublimidade, a gloria.

Através dessas enumerações, constatamos que há uma ordem de valores que a arquitetura moderna sabe exprimir, e outra que ela é incapaz de fazê-lo. Os primeiros são valores materiais, e os outros são espirituais. Somente estes últimos são aptos a referir a obra de arte às perfeições de Deus. E é na medida em que existe essa relação que uma obra arquitetônica é aceitável. Aguardando a oportunidade em que esta folha tratará de maneira mais profunda do conceito de arte católica, queremos acenar aqui com a idéia de que uma arte — a arquitetura, no caso — pode ser católica ou não.

ARTE DIRIGIDA

As principais correntes da arquitetura moderna são inequivocamente materialistas, e é sob esse aspecto que tal arquitetura deve ser rejeitada. Se ela conseguiu se difundir e impor nos dias de hoje, é porque o mundo atual não está preparado espiritualmente para repeli-la.

Mas, por si só, isso não lhe explicaria o êxito. Toda alma tem, ao lado das más tendências que resultaram do pecado original, aspirações elevadas que a impelem para Deus. Para que alguém se decida entre um caminho e outro, é necessário, na maior parte das vezes, um impulso externo.

No caso da arquitetura, são os arquitetos que dão esse impulso. Formados, tantos deles, em escolas de orientação materialista, procuram de todas as maneiras se impor como os «donos do negócio». Em todo o mundo a lei lhes reserva, em caráter de exclusividade, o direito de conceber obras arquitetônicas.

Ao leigo, mesmo quando dotado de real talento e sensibilidade artística, não restará, em última análise, senão o direito de contemplar os trabalhos projetados por aqueles que têm diploma.

Note-se que não censuramos que se reserve aos arquitetos a parte técnica de um projeto. Mas não podemos compreender porque se há de lhes atribuir exclusivamente no que diz respeito à concepção de sua parte estética. Este privilégio é que serve, na maioria das vezes, para impor ao público aberrações que afastam o homem de Deus porque não sabem representar valores relacionados com as perfeições divinas.

ALGUMAS OBJEÇÕES

Chegamos agora à parte crítica deste nosso trabalho. Depois de negarmos valor espiritual a essa arquitetura moderna, é natural que o leitor espere indicações acerca do estilo ou dos estilos que devem ter as obras arquitetônicas nos dias de hoje.

Responderemos que há diversos estilos, atualmente em desuso — como era de se esperar — que correspondem a ideais espirituais mais elevados ou menos, e que por isso são perfeitamente aceitáveis. Alguém dirá que o românico, o gótico, o renascentista, o neoclássico, o colonial americano, o colonial brasileiro — todos eles comportam múltiplas subdivisões dos nossos contemporâneos. Concordamos em que estão fora de moda, porque raramente se encontra quem escolha um deles para construir sua residência. Também concedemos que eles não contentam os anseios representados por certas doutrinas sociais e políticas infelizmente predominantes em nossos dias; mas não é, evidentemente, a católicos que esse argumento irá impressionar.

Outro argumento dos defensores da arquitetura moderna é o de que aos materiais de construção ultimamente inventados ou descobertos deve corresponder uma nova forma de expressão arquitetônica, da mesma maneira como os estilos antigos eram fruto da carência de materiais tecnicamente capazes de formar em um conjunto mais evoluído. O argumento colheria se se provasse que os «conjuntos mais evoluídos» são necessários, e que é indispensável aproveitar os recursos técnicos que os novos materiais vieram trazem à engenharia. Pois não se admite que a inspiração artística se obrigue ao aproveitamento de artifícios de que ela não tem necessidade para manifestar-se plenamente.

Uma terceira objeção, e essa é mais séria: uma arquitetura católica não pode limitar-se a copiar e repetir as obras de outras épocas, mesmo quando elas atingiram grande elevação. Concordamos inteiramente, mas redarguimos que, nesse terreno artístico como em outros, só é possível progredir quando se parte de resultados positivos já obtidos, e que é explorando esses resultados que se consegue uma originalidade realmente valiosa.

O CAMINHO A SEGUIR

Estamos convencidos de que nessa arte, e não só nela, só se poderá produzir algo inteiramente novo e de valor, quando uma parte considerável da humanidade passar a viver de acordo com o Evangelho. Ademais, uma escola artística necessita de ambiente para se formar. E uma das maneiras de se obter esse ambiente é fomentar a cópia e a repetição de obras que contenham valores espirituais verdadeiros, capazes de, transformados, catalisar o aparecimento de um novo estilo arquitetônico católico. E então a arquitetura voltará a contribuir para a salvação das almas.