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Rezemos e sacrifiquemo-nos pela grande intenção de João XXIII: o próximo Concílio Universal

Continuaçao

erro, o bem e o mal, nem a uma fusão absurda de doutrinas visceralmente incompatíveis. Essa intervenção do Pontífice resultou eficaz. Os boatos foram decrescendo, e como que por encanto se restalebeceu um ambiente de realismo e de equilíbrio em torno das perspectivas abertas pelo futuro Concílio. Assim, os exemplos poderiam indefinidamente multiplicar-se. Por certo, um dos atos mais marcantes do novo Pontificado é a providencial circular da Sagrada Congregação dos Seminários, de que esta folha publica alguns tópicos mais salientes, em outro local desta edição. Nela bem se vê, ainda uma vez, o misto de paternal bondade e santa firmeza, que está na tradição invariável da Santa Sé, tomar aquele cunho de suavidade e força tão típico no ambiente que circunda João XXIII.

Todos estes predicados explicam o fenômeno psicológico curioso, que se vai dando a respeito do novo Papa. Em doze meses de reinado, todos sentem a impressão de que há muitos e muitos anos já o conhecem, já o veneram, já lhe deram todo o seu afeto.

Agradecendo à Providencia todo o bem que, nestes 365 dias, tem feito à Cristandade por intermédio do novo Sucessor de Pedro, convém entretanto que não fiquemos apenas em considerações pessoais. Por mais que se ame e venere na pessoa augusta do Papa o conjunto de suas qualidades como homem de piedade, de pensamento e de ação, é bom acentuar que o verdadeiro católico firma sua veneração e seu afeto filial em razões muito mais profundas. Acima de tudo, antes de tudo, ama-se o Papa porque ele é o Papa, isto é, como dizia Santa Catarina de Siena, o doce Cristo na terra, o Sucessor augusto de São Pedro, posto pela Providência para ensinar, governar e santificar toda a Igreja, e para atrair a esta o mundo inteiro. Ama-se o Papa porque ele é Pedro, e porque a Pedro foi dito pelo Divino Salvador: “... sobre essa Pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela” (2). Ama-se este Papa, como se amou Pio XII, e antes dele São Pio X, São Gregório VII ou São Lino, por ser o representante de Cristo na terra.

Amar implica em rezar, em sacrificar-se, em agir. Participamos das preocupações, das fadigas, das provações daqueles a quem amamos. E sem isto não há amor digno de tal nome. Se queremos estar intimamente unidos ao Papa, devemos pois rezar por ele, oferecer sacrifícios segundo as suas intenções, agir para que se realizem seus desígnios para o bem da Igreja.

Os aniversários da eleição e da coroação do Soberano Pontífice devem, portanto, ser assinalados por todo leitor de “Catolicismo” com uma resolução especial neste sentido. Essa intenção não deve ser vaga, indefinida, platônica. Pelo contrário, precisa ser bem determinada e concreta.

A título de sugestão, indicamos aqui alguns pontos de reflexão.

Se queremos ser atendidos em nossas orações pelo Chefe da Igreja, lembremo-nos de lhes dar um cunho profundamente material. Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Por ela devem passar nossas súplicas, para chegarem verdadeiramente a Deus Nosso Senhor. E já que, segundo a doutrina dos Pontífices, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é particularmente adequada a atrair sobre nós as graças do Alto, peçamos insistentemente a esse Divino Coração pelo Papa João XXIII.

Peçamos o que? O maior bem que se pode desejar para uma pessoa consiste em que ela esteja inteiramente unida ao Senhor, e seja instrumento docílimo para a realização de sua Vontade. Isto se deve pedir para todos, e até para Aquele que é maior que todos.

Mas há algumas intenções do Santo Padre que notoriamente lhe estão mais a peito. Entre elas, parece que nenhuma tem importância maior que o próximo Concílio Universal. Assim, rezemos muito pelo Concílio, para que a Providencia prepare generosamente as vias para a sua realização, proteja de todos os modos as suas sessões, e assegure todo o fruto ao que ele deliberar.

Mas, disto estamos certos, a cada um de nós João XXIII pede mais ainda. Pede algo que está inteiramente em nossas mãos dar-lhe. É nossa alma. Que Nossa Senhora nos alcance a graça de termos uma devoção perfeita ao Vigário de Jesus Cristo: é este o ato de generosidade interior, a imolação de alma, que sem dúvida mais lhe tocará.

Se todos os católicos se puserem nessa disposição, estamos bem certos de que alegria e conforto maior Sua Santidade não poderia ter.

Daí decorrerá aquela adesão íntima de nossa mente ao ensinamento pontifício, aquele generoso fogo de apostolado no setor onde nosso zelo nos chamar, e em consequência aquele êxito sobrenatural que a Providência jamais recusa — embora, por vezes, com nossos olhos humanos não o vejamos — aos que se dedicam à ação por verdadeiro e puro amor de Deus.

(1) «Convém saber levar por toda parte e com grande dignidade o habito talar, nobre e distinto: imagem da túnica de Cristo — Christus sacerdotum tunica — sinal resplandecente da veste interior da graça», — in Exortação ao Clero das três Venezas, de 21-IV-1959 (A. A. S., vol. 51, n.o 6-7, p. 380).

(2) Mt. 16, 18.


COMENTANDO...

“A SOCIEDADE FALA com a roupa que veste”

Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira

Um dos traços salientes do pontificado do Santo Padre Pio XII é a extensão dos temas sobre os quais ele se pronunciou. Os Sumos Pontífices sempre se manifestaram sobre os problemas mais importantes da época; mas Pio XII voltou sua atenção também para os mais corriqueiros, orientando os fiéis nas coisas grandes e nas pequenas. Assim é que ele falou, por exemplo, sobre o trabalho dos carteiros, dos ourives, dos porteiros de hotéis, sobre a viuvez, sobre a educação física, sobre a anestesia.

Nesses discursos, encontra-se com frequência a afirmação de uma tese importantíssima, que o homem moderno em geral não admite: as diversas atividades humanas interessam à moral, não apenas enquanto podem favorecer a prática de atos desonestos, mas também enquanto, em todas elas, o católico deve ter como objetivo espelhar nas coisas criadas, cada vez mais, as perfeições de Deus.

Uma das alocuções de Pio XII que tratam especificamente desse relevante problema é a que ele dirigiu, em 8 de novembro de 1957, aos participantes do I Congresso Internacional de Alta Moda (Editora Vozes Ltda., serie «Documentos Pontifícios», n° 126).

Logo no início do documento, lê-se que «todas as atividades humanas, mesmo as profanas em aparência», devem encaminhar-se para a gloria de Deus. Note-se a expressão «em aparência», que é muito significativa.

Pouco adiante, o Papa salienta que, à moral, a veste não interessa apenas enquanto deve ser «proteção da honestidade moral e escudo contra a sensualidade desordenada», mas também enquanto deve ser decorosa. Com efeito, a veste «responde à exigência inata, sentida principalmente pela mulher, de realçar a beleza e a dignidade da pessoa». E esclarece: «A inclinação ao decoro da própria pessoa procede claramente da natureza, e é portanto legítima».

Muitas vezes «Catolicismo» tem feito certas críticas a estilos de arquitetura, a vestuários, a decorações, a hábitos e costumes sociais de nossos dias, sobretudo na secção «Ambientes, Costumes, Civilizações». A alguns espíritos essas críticas parecem infundadas e gratuitas, porque elas abstrairiam do fato de serem, esses, aspectos meramente profanos das coisas. Ora, com base no referido discurso de Pio XII, pode-se, em nome da moral, censurar as pessoas que na idade madura se vestem com pouca dignidade e seriedade; a excessiva mutabilidade da moda; «a ânsia de superação do passado, facilitada pela índole frenética da época contemporânea»; a opinião dos que são contrários ao luto por entenderem que nenhuma relação existe entre o traje e os estados de espírito; etc.

«A sociedade — proclama o imortal Pontífice — por assim dizer, fala com a roupa que veste; com a roupa revela suas secretas aspirações, e dela se serve, ao menos em parte, para construir ou destruir o próprio futuro». Por isso, em matéria de moda deve-se «reagir com firmeza contra as correntes contrarias às melhores tradições».

Claro está que, ao lado dessas considerações de ordem cultural e estética, Pio XII analisa também, dando-lhes todo seu imenso relevo, os problemas de vaidade e sensualidade relacionados com o traje, lembrando, por exemplo, que «a moda não deve nunca fornecer uma ocasião próxima de pecado».

E, prevendo a objeção de que os autores espirituais, ao longo dos séculos, não tiveram em vista senão as relações da moda com a vaidade e a impureza, o Santo Padre observa: «Essa propensão da natureza humana corrompida, a abusar da moda leva a tradição eclesiástica a tratá-la não raro com desconfiança e com severos julgamentos... Por tais manifestações de severidade, que no fundo mostravam a solicitude materna da Igreja para com o bem das almas e os valores morais da civilização, não é porém licito deduzir que o Cristianismo exija como que uma abjuração absoluta do cultivo ou cuidado da pessoa física e do seu decoro externo». E menos ainda que baste uma moda não ser contraria ao pudor, para só por isso ser considerada irrepreensível do ponto de vista moral.


OS CATÓLICOS INGLESES DO SÉCULO XIX

O PROBLEMA DA FORMAÇÃO DAS ELITES

Fernando Furquim de Almeida

Depois do malogro de “The Home and Foreign Review", os católicos liberais não fizeram outra tentativa de organizar um movimento favorável às suas idéias na Inglaterra. Fechada a revista de John Acton, Mons. Manning pôde dedicar-se completamente ao seu apostolado. Ajudado pelos padres Faber, Coffin, Herbert Vaughan e por William Ward, apoiado em Roma por Mons. Talbot, um dos mais íntimos colaboradores do Papa, e seguindo fielmente as diretrizes de Pio IX, aplicou-se a transformar a Inglaterra em baluarte do ultramontanismo.

Na Irlanda, o Cardeal Cullen, Arcebispo de Dublin, também lutava para que sua pátria conservasse a fidelidade aos princípios católicos tradicionais. Convencido de que um dos principais fatores de um apostolado profícuo é a existência de um clero piedoso e bem formado, um dos seus primeiros cuidados foi reformar o Seminário Central de Maynooth, que, como acontecera com seus congêneres em muitos países da Europa, se desviara insensivelmente da ortodoxia, a ponto de adotar como livro de texto para o ensino de Teologia o tratado de Bailly, que Pio IX condenara. O Padre 0’Hanlon, ultramontano decidido, foi nomeado professor de Teologia, e substituiu Bailly pelos livros de Santo Afonso de Ligório e Perrone. Outras providências foram tomadas, e em pouco tempo o seminário se transformou. Terminado o curso, muitos de seus alunos eram enviados ao Colégio Irlandês de Roma, que Pio IX fundara, e que completava a obra do Cardeal. De lá voltavam preparados para orientar, dentro da mais pura ortodoxia, a grande população irlandesa, fundamentalmente católica.

Em dissensão na esfera política, a Inglaterra e a Irlanda se uniram no apostolado. Sob a direção enérgica e esclarecida de Mons. Manning e do Cardeal Cullen, promoveram o ressurgimento do Catolicismo anglo-irlandês no séco XIX.

A "Dublin Review", sob a direção de William Ward, era o órgão comum do pensamento católico de ambos os países. Já vimos que importância tinha para o apostolado a vibrante orientação que Ward imprimira à revista. Mas ela visava as classes cultas, e, dado o seu caráter, não atingia o grande público. Mons. Manning desejava fundar um jornal que combatesse ao lado da “Dublin Review” e que, com artigos mais acessíveis, levasse a boa doutrina a todas as camadas da população. Em 1868 a ocasião se apresentou com a possibilidade de reformar a direção de “The Tablet”. 0 Padre Herbert Vaughan, futuro arcebispo de Westminster, foi nomeado diretor. Desde esse momento, Mons. Manning tinha toda a imprensa católica das ilhas a serviço de sua obra.

Um problema continuava, no entanto, a dificultar o desenvolvimento do Catolicismo na Inglaterra. Era a questão da formação das elites. Não havia pai inglês que não pensasse nas universidades de Oxford e Cambridge quando seus filhos terminavam a educação secundária. De confissão anglicana, apesar de já não exigirem que seus alunos fossem protestantes, constituíam ambas um perigo para a formação católica. Depois do fracasso do Padre Newman na tentativa de fundar a universidade católica de Dublin, o assunto não saiu das preocupações do episcopado. Os liberais achavam que os estudantes católicos podiam frequentar Oxford ou Cambridge, desde que se criassem obras que os protegessem contra a propaganda protestante e lhes facilitassem a prática da fé. Já em 1851, Newman propusera abrir, para esse fim, uma casa do Oratório em Oxford, e chegara a comprar um terreno para a futura construção, mas a intervenção da Santa Sé impediu a realização do projeto.

Em 1865 o episcopado voltou a estudar o problema. Newman tinha saudades de Oxford, a ponto de escrever a um amigo: "De todas as coisas humanas, Oxford é, talvez, a que está mais perto do meu coração, e não consigo convencer-me de que nunca mais verei o que tanto amo". De novo propôs a fundação do Oratório na célebre cidade universitária. A Congregação de Propaganda Fide, chamada a se pronunciar, condicionou a tais cautelas a matrícula de católicos nessas universidades, que se tornou impraticável a solução aventada. O Padre Newman, desanimado, renunciou ao projeto e pensou mesmo em vender o terreno destinado à casa tão sonhada.

Além dos graves inconvenientes e perigos para a fé, inerentes à frequência de escolas heréticas, temia a Santa Sé que a influência de Newman enervasse em eventuais alunos católicos a necessária reação contra os erros ensinados nas duas universidades. Por isso, quando Mons. Ullathorne, no ano seguinte, solicitou à Congregação o abrandamento das condições e a licença para a fundação do Oratório em Oxford, Mons. Barnabo enviou ao bispo um rescrito que deferia o pedido, desde que o Pe. Newman não fosse mandado para a nova casa.

A condição imposta por Mons. Barnabo era secreta, ou pelo menos Mons. Ullathorne, com a esperança de conseguir posteriormente a sua revogação, dela não deu conhecimento ao interessado quando lhe transmitiu a notícia da licença. O fato é que em pouco tempo estava tudo preparado para a fundação. No próprio dia em que o primeiro oratoriano, Padre Neville, partiria para Oxford, o Padre Newman convidou-o para, num passeio pela cidade, combinarem as últimas providências. Mas uma indiscrição do "Weekly Register" tornara pública a proibição da Santa Sé, e ao voltar para casa Newman encontra uma carta de Mons. Ullathorne comunicando que ele não poderá residir em Oxford. Diante dessa restrição, Newman renunciou ao projeto e a casa de Oxford não se fundou.

Um ano mais tarde, em 1867, numa reunião do episcopado, Mons. Manning insiste na apreensão que causava a frequência dos católicos às universidades protestantes, e seus colegas manifestam-se de pleno acordo, lembrando que só uma grave necessidade justificaria expor-se um fiel a esses perigos. Estava assim consumada mais uma derrota dos católicos liberais.


NOVA ET VETERA

Os Católicos na Política

J. de Azeredo Santos

Embora possa variar o modo de apreciá-la, triste e confrangedora realidade se apresenta aos nossos olhos: a divisão dos católicos em face da grave conjuntura político-social do mundo de hoje.

Achamo-nos diante de divergências profundas quer do ponto de vista da ação prática, quer do teórico ou doutrinário. Estão separados os católicos não apenas quanto ao aspecto positivo do problema, ou das bases em que se deve assentar uma sadia organização político-social, mas também quanto ao aspecto negativo, ou do combate aos inimigos da cidade católica.

A SOMBRA AMEAÇADORA DO LEVIATÃ

Não são poucos os que lamentam essa inegável cisão. Atribuem-lhe, não raro, motivos frívolos ou superficiais, quando a verdade é que tamanho e deplorável desentendimento resulta da diferença de atitude em face da grande Revolução que corrói as entranhas da sociedade contemporânea.

São tão acentuados os contornos desse imenso manipanso da Revolução, que somente a miopia e falta de perspectiva de enormes setores da opinião pública faz com que muitos se percam no intrincado cipoal de sua barba, caiam nos profundos valos de suas rugas, e perguntem incrédulos: onde se acha tão fabuloso monstro?

Das «falsas ideologias de nosso tempo», entre as quais avulta a grande heresia religiosa, política e social do comunismo, disse o Santo Padre João XXIII, gloriosamente reinante, que a ruína que ela ameaça acarretar às almas é muito mais grave do que os escombros materiais causados pelo grande terremoto que arrasou a cidade de Messina a 28 de dezembro de 1908 e que tantos sofrimentos trouxe aos filhos daquela região do sul da Itália (radiomensagem de 28-XII-1958).

Ora, se diante da desgraça material do nosso próximo, em momentos de hecatombes tão trágicas, todos os católicos deveriam se entregar, com todas as energias, à obra de socorro aos seus irmãos atingidos pela ação impiedosa dos fenômenos naturais, não seria o caso de haver a mesma e até maior convergência de esforços contra essa ameaça de um cataclismo infinitamente mais graves, contra esse perigo de escravização na terra e de condenação eterna de tantas criaturas de Deus, que se verão enleadas pela hidra da Revolução no coroamento de sua obra nefasta?

A verdade, a triste realidade é que a miopia e a consequente clamorosa inação de tantos católicos diante de tão iminente perigo são filhas da impostura que acompanha certos processos da propaganda revolucionaria. Conseguiram os mentores dessa conjuração forçar uma brecha na muralha da cidadela católica, por ela fazendo entrar seus comparsas, lobos vorazes escondidos sob peles de ovelhas.

Temos, assim, os agentes da Revolução dentro do próprio exército dos filhos da luz, a contrariar os esforços no sentido de uma ação comum, não somente para a instauração de uma ordem social segundo os ensinamentos da Igreja, mas ainda para o indispensável combate àqueles que, além de se oporem à concepção católica de vida, ativamente trabalham na demolição do que ainda permanece de pé nesse majestoso edifício da civilização nascida do Evangelho.

UMA SADIA REAÇÃO

Quando falamos em ação política dos católicos, é claro que temos em vista a atuação dos católicos enquanto tais, enquanto filhos da Igreja e fiéis à sua doutrina.

Que diríamos de um corpo de bombeiros que se dispusesse a combater os incêndios por meio de lança-chamas? Por mais ridículo e insensato que pareça, nisto consiste a ação política dos chamados católicos liberais e esquerdistas, bem como dos seus às vezes equivocados filhos que são os adeptos das pseudo-direitas, sabido como é que o fascismo, o nazismo, o falangismo representam apenas um disfarce do esquerdismo, segundo figurinos adrede preparados para mais facilmente embair e confundir a opinião católica e conservadora.

Felizmente, por toda parte surgem movimentos de sadia reação contra essa vocação suicida ou revolucionaria de certos setores da ação política dos católicos. E se temos diante dos olhos o triste espetáculo de representantes das novas gerações que se deixaram desviar e seduzir pela atuação da velha guarda do esquerdismo católico, é consolador para os combatentes da primeira hora receber o reforço entusiasta das jovens inteligências que se vão revelando nos meios intelectuais católicos, como é o caso do Professor Jorge Iván Hubner Gallo, catedrático da Introdução às Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade do Chile, a cuja pena devemos um lúcido e substancioso ensaio sobre «Os Católicos na Política» (Empresa Editora Zig-Zag S. A., Santiago do Chile, 1959). Com grande segurança de doutrina e não menor coragem de afirmar, propicia o Professor Hubner Gallo aos seus leitores uma visão panorâmica dos variados erros que se infiltraram na atividade política dos católicos no mundo contemporâneo, traçando suas origens históricas e demorando-se em lhes estudar as tristes repercussões. Temos, sobretudo, um retrato fiel do caso particular do Chile, por onde vemos que «toda la América es una sola», para repetir a pitoresca frase que nos disse certa vez um Sacerdote guatemalteco, ao tomar conhecimento das vicissitudes políticas dos católicos brasileiros.

"SEJA VOSSO DIZER: SIM, SIM; NÃO, NÃO"

Não serão as concessões e os recuos, mas a inteireza e firmeza com que defendermos os direitos de Deus e da Lei Natural que nos farão respeitados pelos nossos inimigos. «Por desgraça — diz o autor — ante a maior heresia de todos os tempos (pois que é uma heresia total) e da maior das ameaças de toda a história, os católicos estão desunidos, dividem-se entre eles, permitem-se formar variadíssimas correntes, debilitando perigosamente suas posições.

«As diversas correntes que se observam vão desde a adesão respeitosa, integral e fiel à doutrina pontifícia até as mais audazes atitudes de antítese, passando por uma vasta gama de tendências (maritainismo, falangismo, de todos os matizes, socialismo católico, cristianismo progressista, etc.), nas quais, medida em que se avança em interpretações e distinções, se vai perdendo de vista cada vez mais a pura clareza das definições papais.

«Em presença desta absurda e suicida multiplicidade de pontos de vista, o conservantismo tradicionalista se coloca aqui, como em todos os campos, em uma posição de enérgica defesa do mundo cristão, sem reservas nem claudicações, e de aberta decidida combatividade contra os jurados inimigos de Deus da civilização» (p. 102 da obra citada).

Eis um modo de falar claro e sem subterfúgios. Saudamos, assim, no Professor Hubner Gallo uma inteligência vigorosa e moça, servida por excelente cultura, que se coloca a serviço da boa causa, uma espada e um escudo que prometem grandes feitos nas batalhas para as quais o Senhor Deus dos Exércitos conclama os seus fiéis servidores.