ESCREVEM OS LEITORES
Exmo. Revmo. Sr. D. Armando Lombardi, DD. Arcebispo titular de Cesareia de Filipe e Núncio Apostólico no Brasil, escreveu a seguinte carta a nosso redator, Prof. Plínio Corrêa de Oliveira: "A Santa Sé foi convidada pelo Governo do Chile a participar de uma Exposição de publicações, organizada pela Associação Nacional de Imprensa, a ter lugar em Santiago no próximo mês de dezembro.
A Secretaria de Estado de Sua Santidade, ao dar-me esta notícia, manifestou o desejo de que também o Brasil seja dignamente representado naquela Exposição com os seus melhores jornais e periódicos católicos.
Venho, portanto, solicitar a Vossa Senhoria Ilustríssima a gentileza de me remeter com urgência alguns exemplares mais significativos de CATOLICISMO, a fim de que a Nunciatura Apostólica possa providenciar em tempo a expedição do material.
Antecipadamente grato pela benévola colaboração, aproveito o ensejo para reiterar a Vossa Senhoria Ilma. a expressão dos sentimentos da minha elevada estima, com que me subscrevo atenciosamente,
(a.) † Armando Lombardi, Núncio Apostólico".
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Revmo. Sr. Pe. Cesar Dainese, S. J., Superior da Casa de 3ª Provação da Companhia de Jesus no Brasil, Três Poços (Est. Rio): "Acabo de receber o no 105 de CATOLICISMO com o texto completo, em vernáculo, da Encíclica "Ad Petri Cathedram".
Queira aceitar a expressão muito sincera do meu mais penhorado agradecimento, assim como as mais calorosas felicitações por tão benemérita iniciativa! Ainda ontem escrevi a um amigo em Roma pedindo o favor de nos enviar pelo menos um exemplar da tradução portuguesa, anunciada na "Acta Apostolicae Sedis", e eis que hoje o CATOLICISMO nos mimoseia com um brinde tão valioso! V. Revma. está de parabéns pelo relevante serviço prestado aos seus leitores e a quantos conseguirem ter às mãos o preciosíssimo documento.
É justo salientar que a excelente tradução do CATOLICISMO é grandemente valorizada pela divisão das partes e pelos subtítulos, o que facilita enormemente a leitura e a consulta, de acordo com desenvolvimento lógico do pensamento pontifício.
Renovando os sentimentos da minha gratidão, assim como os mais efusivos parabéns, peço a V. Revma. queira aceitar os protestos da minha estima e lembrar-se diante de Deus deste seu humilde servo em J. C.".
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Exmo. Revmo. Mons. José M. Mackinnon, Vigário Ecônomo de Nossa Senhora de Lujan, Buenos Aires (Argentina): "...la interesante y valiente Revista".
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Revmo. Pe. Francisco Volle, C. P. C. R., Superior da Casa de Ejercicios Cristo Rei, Madrid (Espanha): "...inútil decir que la leemos con mucho interés por su gran valor doctrinal".
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Sr. Carlos Alberto Felici, Diretor de "Combate", Buenos Aires (Argentina): "CATOLICISMO es una de las pocas revistas, junto con VERBE, CRUZADO ESPAÑOL y LA PENSÉE CATHOLIQUE, que luchan verdaderamente contra el germen nefasto de la revolución en cualquiera de sus etapas: protestantismo, liberalismo o marxismo.
...COMBATE tiene el agrado de felicitar y saludar a los directores y colaboradores de CATOLICISMO por su continuada y constante prédica en defensa de la Fe y la Patria y el Reino de Cristo en el mundo.
La verdad entera, la verdad que quema y que los timoratos y débiles no se atreven a pronunciar es la misión de CATOLICISMO, y también es la de todos los católicos del mundo que no han sido devorados por la peste del liberalismo, todavia.
CATOLICISMO es la expresión cabal de la defensa de la Verdad contra el error, la herejía y la mentira. Por eso, los católicos de COMBATE adherimos sin vacilación a su posición, por desgracia muy poco difundida, y deseamos el mayor de los éxitos en la infatigable lucha".
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Sr. Celso Nunes da Silva, Botucatu (Est. São Paulo): "Desejoso de me tornar assinante de CATOLICISMO, jornal que sobremaneira me impressionou pela matéria que apresenta e pelo modo como apresenta...".
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Sr. Francisco Faria, Dores do Indaiá (Est. Minas Gerais): "CATOLICISMO pode-se afirmar ser a "estrela-d'alva" de todo o Estado do Rio, seus artigos são de um fundo filosófico, cheio de "Fatos Esquecidos" que até hoje fazem chorar o mais endurecido coração".
COMENTANDO...
Arte moderna, demônio e loucura
Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira
No vasto saguão ia inaugurar-se uma exposição de arte moderna. Naquela manhã os preparativos já estavam quase concluídos. Encontrava-se ali apenas uma pintora, que estudava a colocação de seus quadros. De tempos em tempos, passos sonoros cruzavam o silencioso recinto, que dava acesso ao elevador do prédio.
Um pequeno grupo menos apressado, que por ali transitava, entabulou conversa com a artista. Espírito vivo, falante e despachada, pôs-se ela a explicar, quase com sofreguidão, o sentido das suas obras. Passou depois a narrar sua evolução artística. Apaixonara-se inicialmente pela arte figurativa. Aos poucos, fora-se libertando das imagens objetivas, à medida que o seu sentimento estético se tornava mais puro. Chegara ao abstracionismo. Ali estavam seus trabalhos, a testemunhar o itinerário pictórico que ela ia descrevendo com todas as minúcias. Enquanto falava, sua voz se tornava mais segura, suas expressões mais calorosas. Seu gosto pelas formas avançadas se fazia sentir de modo cada vez mais vivo.
"E agora, em que estilo a senhora pinta?" — perguntou um de seus interlocutores.
"Atualmente — respondeu ela com ênfase — estou louquinha. Sim, é isso que define o estilo em que agora pinto". E, como que receando que duvidassem dessa afirmação tão ousada, apontava seus quadros mais recentes, repetindo: "Agora estou louquinha".
Nesse momento, tomada de um entusiasmo singular, baixou a voz e, mostrando um desenho escuro, quase preto, cortado por linhas brancas incompreensíveis, sussurrou: "Sabe o que é aquilo? Sabe o que é? Aquele é o capeta..."
O episódio é verídico, e passou-se neste nosso Brasil. É uma confirmação de duas teses que "Catolicismo" tem defendido, e que causam estranheza a muitos. A primeira é que existem intimas relações de causalidade recíproca entre a arte dita moderna, sobretudo a abstracionista, e os desequilíbrios mentais. A segunda é que essa arte moderna, por trás das diversas escolas em que se divide, e das explicações com que se apresenta ao grande público, esconde um influxo esotérico, de fundo gnóstico e portanto satânico.
Com efeito, a artista que, dizendo-se louquinha, pinta o demônio, não é um testemunho vivo e eloquente de que existe um parentesco muito próximo entre a chamada arte moderna, Satã e a loucura?
VERBA TUA MANENT IN AETERNUM
• Apesar do mundanismo avassalador, todos sentem a necessidade de que o Padre seja digno e santo
JOÃO XXIII: O Concílio de Trento; que, em suas várias sessões, aprovou a necessidade de uma adaptação perfeita do Sacerdote a seus elevados deveres, nos relembra com palavras graves e penetrantes o que, diversas vezes, Nos permitimos sussurrar, como numa prece, na direção dos seminaristas e Sacerdotes de Nossa amada Veneza; eis as elevadas e graves palavras do Concílio de Trento (sess. XXIII, cap. 18): "Sic decet omnino clericos in sortem. Domini vocatos ut habitu, gestu, incessu, sermone nihil nisi grave, moderatum ac religionis plenum praeseferant". São termos precisos E dignos de serem conservados no pensamento e repetidos como o Gloria Patri do Breviário.
O povo cristão, malgrado a transformação das idéias e o enfraquecimento do antigo espírito de recolhimento ao redor da paróquia, quer ainda e sempre que o Sacerdote seja digno, esclarecido, amável e santo.
Infelizmente, a poeira do mundanismo parece tudo turvar e envolver. Mas a necessidade da dignidade eclesiástica permanece intacta na opinião geral e na intimidade mais secreta dos corações, mesmo entre as crianças.
Se o Sacerdote é inflamado como o fogo, e consequentemente luminoso, puro e ardente, ele tudo vale; senão, em nada é levado em conta, mesmo na consideração dos que momentaneamente abandonaram as práticas religiosas. — (Exortação de 23-IV-1959 ao Clero das Três Venezas, em peregrinação junto às relíquias de São Pio X em São Marcos).
REAPARECIMENTO DE "CRUZADA"
Paulo Corrêa de Brito Filho
Após um hiato de quase dois anos, reapareceu na Argentina uma publicação destinada a auspicioso porvir: "Cruzada". Seu nascimento deve-se ao zelo de um grupo de jovens que, percebendo a gravidade da crise atual, decididamente se lançaram na luta em defesa da Igreja e das tradições católicas.
"Ao cabo destes dois anos — lê-se no editorial de apresentação da nova fase — um fruto positivo resultou de nossa retirada momentânea. Todos os que integramos o grupo de redação, jovens da novíssima geração, ganhamos em maturação e meditação da verdade, com a qual cingimos nosso corpo e armamos nossa mão. Temos, pois, a esperança de que essa maturação se reflita nas páginas de Cruzada, para que esta melhor sirva ao prestigio e difusão da doutrina da Igreja, na qual, unicamente, é possível a pacificação de nossa Pátria". Eis uma bela profissão de fé, que enuncia igualmente um nobre programa de ação.
Os redatores de "Cruzada" julgam, com razão, que todo trabalho apostólico a ser desenvolvido no terreno social e político supõe, como princípio básico, sólida vida interior e virtude. Toda reforma das instituições atuais, que prescindir desse fundamento e de uma concepção católica do Estado, está fadada ao fracasso.
Convém ainda acentuar o verdadeiro conceito de patriotismo exposto nesse artigo de introdução. Lembrando que a nação argentina "nasceu católica, e que em seu catolicismo foi possível sua grandeza moral, a ordem e a paz social", a revista propugna uma volta a essas fontes católicas da nacionalidade, como sendo um labor eminentemente patriótico. Na verdade, a civilização católica, implantada no país vizinho desde a colonização espanhola, vigora ainda hoje, embora — como no Brasil — muito debilitada devido aos "ataques sempre renascentes da utopia malsã e da impiedade". Haverá, pois, obra mais profundamente patriótica do que restaurar o primitivo esplendor daquela civilização, que é uma só em seus princípios essenciais?
Todas as colaborações da revista se enquadram nesses princípios básicos, tanto as de caráter mais nitidamente religioso, quanto as de cunho político-social. Dentre as primeiras, destacamos "A vocação cristã", cujo autor, o Revmo. Frei Domingo Renaudière de Paulis, O. P., desenvolve o tema com segurança, chamando a atenção do leitor para o mistério da cruz, que encerra a essência da vocação de todo católico. A vocação de Jesus Cristo é criativa, pois além de chamar, concede força espiritual para que se responda a esse apelo. Por outro lado, essa vocação acha-se penetrada sempre do mistério da Igreja. É necessário grande espírito de fé para admitir a parte mais profunda dessa vocação, que está mergulhada na obscuridade.
Outro trabalho sobre assunto religioso merece especial referência: "Intervenções da Santíssima Virgem na história recente", por Cosme Beccar Varela (h.). Uma vez que Nossa Senhora ama tanto seus filhos, e contempla as profundas misérias morais do mundo atual, não é natural — comenta o articulista — que "Ela se manifeste a nós, por intermédio de certas testemunhas, para advertir-nos de que, se não houver oração e penitência, nada poderá evitar o advento do desastre"?
Em matéria político-social destaca-se a colaboração de Jules Presence — "Considerações sobre a Cátedra Romana". O autor ressalta, com perspicácia, o erro em que incidem alguns católicos ao perderem, a visão total da doutrina da Igreja e acentuarem, de modo unilateral, determinados aspectos da mesma. Assim, certos desvios liberais nasceram de uma leitura fragmentaria da Encíclica "Libertas" de Leão XIII. O mesmo sucedeu com algumas alocuções de Pio XII, especialmente a do Natal de 1942, na qual aquele Pontífice falou sobre a dignidade da pessoa humana. Uma compreensão, truncada desses documentos serviu para se construir toda uma filosofia político-social, que passou a ser denominada "personalismo cristão" e cujos porta-vozes mais altissonantes são os Srs. Jacques Maritain e Emmanuel Mounier.
Invocou-se igualmente a alocução, natalícia de 1944 — na qual Pio XII abordou o tema da democracia — para tentar fundamentar o democratismo, que apresenta a forma de governo democrática como a única legítima. Além disso, essa corrente confunde democracia enquanto forma de governo, com democracia no sentido de concepção de vida. Este último significado traduz a idéia rousseauniana de que a origem da autoridade é a vontade da maioria. Na realidade, esse democratismo não passa de um panteísmo da vontade popular, pois apresenta esta como a fonte de toda razão e justiça.
Idêntico falseamento se realizou no plano econômico, valendo-se alguns de documentos como a "Rerum Novarum" e a "Quadragesimo Anno" para pregar um mal disfarçado socialismo.
Finalizando, o artigo assinala como meio de se evitarem os desvios apontados — liberalismo, personalismo, democratismo e socialismo — uma visão global da doutrina católica, que poderá ser adquirida mediante o estudo conjugado de alguns documentos fundamentais da Cátedra Romana.
Congratulamo-nos pelo reaparecimento de "Cruzada", que desde o título se mostra, em nosso triste século, animada do mesmo espírito combativo que fez a gloria de um Godofredo de Bouillon.
AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES
Casas para a alma, e não só para o corpo
Plinio Corrêa de Oliveira
"Atelier", quadro de Vermeer, famoso colorista holandês, século XVII. Pertence ao Museu do Estado, de Viena.
A nosso ver, o título do quadro, para ser mais explícito, deveria ser "Ambiente em um atelier". Pois o verdadeiro "tour de force" do artista não consiste tanto na descrição dos elementos físicos do atelier, pintor, modelo, cavalete, tela, mapa, lustre, cortina, etc., mas em reviver o ambiente tão cheio de significação psicológica que se desprende do conjunto de todos estes elementos.
A sala é baixa, sobretudo em comparação com outros edifícios do tempo. O pintor, de pé sobre o banco, poderia tocar o teto com a mão. A impressão de pouca altura é realçada pelo lustre, de não pequenas dimensões. A parede é pintada simplesmente com uma só cor. Parece grossa e simples, como numa residência modesta e comum de pequena burguesia. Esta idéia de força, estabilidade e simplicidade quase rústica é acentuada pelo vigamento à vista no teto, escuro, sóbrio, inteiramente comum. O que se pode perceber do nível social dos personagens — pintor e modelo — confirma esta sensação pequeno-burguesa.
Dizemo-lo, é claro, num sentido bem diverso do que é usado pela propagando comunista. Esta apresenta o pequeno burguês como um microbandido. Numa sociedade cristã, pelo contrário, a pequena burguesia constitui um valor precioso e indispensável. Sua vida ordenada, séria, simples, mas dotada de uma dignidade fundamentalmente superior à do trabalho manual ( o que não quer dizer que este também não seja digno, etc., etc., - ressalvemo-lo para desarmar as chicanas dos intrigantes ), representa na escala harmônica dos valores um elemento de transição indispensável entre o operário e o burguês. A despreocupação, a naturalidade, a intimidade e o aconchego fazem o encanto próprio da vida pequeno-burguesa. E é o que nesta sala se nota. Ela constitui um mundo fechado. Dentro dela, o homem se sente numa atmosfera moral específica, inteiramente diversa da rua, para a qual talvez dê a janela, mas que fica psicologicamente a mil léguas do pintor e do modelo.
"Ambiente fechado", sim. Porém não ambiente vazio e sem vida. Nele penetram várias claridades de várias espécies. Da janela vem uma luz esplêndida, que inunda o modelo e se transforma em suave e inteligente penumbra junto ao pintor. Um chão de mármore serve para multiplicá-la um pouco e dá a este ambiente quase pobre uma nota agradavelmente contraditória, de riqueza e distinção. Essa sensação de riqueza é acentuada por uma cortina opulenta de um tecido ricamente trabalhado, e por um esplendido mapa mural, que dá uma impressão de intelectualidade e largueza de horizonte. Dir-se-ia que o talento e o luxo luzem nessa penumbra de simplicidade, como a luz brilha com mil tonalidades diversas ( rosto do modelo, dorso do pintor, bota de sua perna direita, mapa, lustre ) na meditativa e recolhida obscuridade da sala. É a beleza específica de um ambiente pequeno-burguês, fortemente intelectualizado, e um tanto largo em recursos econômicos.
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Em suma, a sala tem ambiente. E a alma humana precisa de compartimentos fechados em que organize ambientes feitos segundo suas próprias necessidades, como o corpo precisa de casa e agasalho para não deperecer.
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Há em muitos arquitetos modernos a tendência a ignorar essa imperiosa necessidade da alma, construindo casas em que o homem se sente como na rua. Nada de isolado, de recolhido, de típico. Tudo permeável, anódino, vulgar. Claro está que não faltam decoradores que lhes completem a obra.
Típica desta tendência é a capela da segunda gravura, toda de vidro com colunas de madeira, construída na Califórnia para uma seita protestante. Corresponde ela, na arte sacra aos edifícios civis com grandes paredes de vidro, em que de cimento só há o necessário para suportar o piso dos vários andares, e o teto.
Nada de recolhido, nada de "ambientação". O prédio tem a mera função física de proteger contra o frio, vento ou calor. É tão desnudo de significação moral para os homens, quanto o é para os respectivos ocupantes uma chocadeira.
Não censuraríamos que em um lugar de esplêndido panorama, onde tudo convida ao culto de Deus, por exceção se construísse uma igreja de vidro. Levando as coisas ao extremo, compreenderíamos como legítimas até exceções mais largas. Sempre, porém, na linha da exceção. Mas, por sistema, desejar que edifícios assim sejam frequentes no muno inteiro, parece contrário a todas as exigências da alma humana.