Do discurso ao jornal católico "L'Avvenire d'Italia":
"Um dos meios mais potentes de que Deus pode servir-Se para penetrar nas casas, para Se fazer compreender e amar, é precisamente a imprensa católica.
Se daí resulta uma grave responsabilidade para todos os católicos que devem sustentá-la e propagá-la, não é menor o encargo que vos incumbe, a vós que tendes a missão, nobre e solene, de prestar um grande serviço à palavra de Deus, fazendo-a ressoar em toda a sua beleza e atualidade, sem empobrecê-la nem alterá-la, mas pelo contrário, tornando-a viva e atraente. Que honra, que mérito aos olhos de Deus e dos homens!”(texto completo nas pp. 4 e 5).
JOÃO XXIII
A Revolução em 1960
Plinio Corrêa de Oliveira
Tornou-se tradição desta folha publicar em sua edição de janeiro um retrospecto dos acontecimentos do ano findo. Em lugar disto, pareceu-nos mais adequado, desta vez, fazer uma análise dos problemas que, neste voltar de página da história do século XX, se apresentam como mais importantes e candentes.
Dupla face
Em muitas polícias existe o hábito de “tratar” os depoentes recalcitrantes por um sistema que se poderia chamar da ducha fria e da ducha quente. A pessoa de quem se procura extorquir uma informação é arguida por um agente tremendamente furioso. Se, esgotada toda a pirotecnia das táticas de intimidação, o interrogado não faz a revelação desejada, o agente se torna subitamente afável, carinhoso, “compreensivo”. Elogia a nobre constância de sua vítima, manifesta sua compaixão pelos sofrimentos que ela arrosta, oferece-lhe seus préstimos comovidos para tirá-la da situação em que está. Só pede uma coisa, uma coisinha pequena e fácil: que em justa retribuição a tanta bondade, ela conte ao policial – oh, a ele só, é bem claro – o segredo tão obstinadamente guardado. Se a vítima resiste, volta-se ao sistema dos berros. Ou, mais drasticamente, passa-se para os soros da verdade ou as salas de tortura...
Quando o assunto que se quer conhecer importa muito, costuma haver um desdobramento de papéis. Um policial faz o papel de fera, e outro o de “bonzinho”. Ao que parece, a maior parte das pessoas se mostra muito “sensível” a esse “tratamento”, e acaba deitando no coração do “bonzinho” o segredo que a “fera” não lograra extorquir.
A dupla face comunista
Este sistema, em que o terror induz a vítima a considerar com pusilânime otimismo o “agente bom” que é sua tábua de salvação contra o “agente mau”, não se emprega apenas para obter confissões policiais. Ele é utilizado também em política. Põe-se o adversário diante da ameaça de um terrível perigo que ruirá sobre ele caso não ceda neste ou naquele ponto. Após um longo período de guerra de nervos, a vítima transigirá com algum representante de seu opositor, no gênero “bonzinho”. Concederá apenas uma parte do que se lhe pediu, e julgará fazer assim um bom negócio. Depois de uma pausa, o representante “bonzinho” será posto de lado e voltar-se-á à ameaça. Em seguida, virão novo “bonzinho”, nova concessão, nova pausa e nova ofensiva de ameaças, até final liquidação do adversário.
Ora, todo o ano de 1959, como os anteriores, foi utilizado pelo comunismo internacional para depauperar por este processo a vitalidade da reação anticomunista no mundo inteiro. Só que, em 1959, a ação política da União Soviética entrou francamente na fase correspondente ao policial “bonzinho” e na operação “sorriso”.
Em edição recente ( ), já nos referimos, com toda a extensão desejável, à manobra pela qual o comunismo russo foi mudando gradualmente de atitude, até chegar à risonhíssima visita do risonhíssimo K. aos Estados Unidos. Entretanto, nossas referências ao papel da China nesse jogo foram menos pormenorizadas. É o caso, pois, de voltar ao assunto neste mudar de ano.
A Revolução tem por ponto de mira eliminar toda influência cristã no mundo. Ora, desde o declínio do poderio muçulmano nos Tempos Modernos, pode-se dizer que os povos-líderes da terra foram sempre cristãos. O império da Casa d’Áustria, a hegemonia política e cultural francesa, a dominação inglesa no século XIX, o poderio dos Estados Unidos, que se tornou há algumas décadas verdadeiramente dominante em boa parte do globo, por fim a ascensão da terrível influência da URSS não alteraram essa constante. Com efeito, cristãos em situação correta, saudável e normal só os católicos, apostólicos, romanos, filhos da única Igreja verdadeira de Nosso
(continua)