P.06-07

ESCREVEM OS LEITORES

Sr. Jorge I. Hubner G., Santiago do Chile, em carta a nosso colaborador Prof. J. de Azeredo Santos: "He leído con vivo interés su profundo y generoso artículo titulado "Os Católicos na Política", que apareció en el n.° 106 de la Revista CATOLICISMO.

Por intermédio de estas lineas, deseo agradecer a Vd. de todo corazón los inmerecidos elogios con que se refiere a mi modesto libro "Los Católicos en la Política". Sus palabras de estímulo, provenientes de una pluma tan autorizada como la de Vd., constituyen para mí un consuelo y un aliciente, en medio de los muchos ataques que he tenido que soportar con motivo de la publicación de mi trabajo.

Al mismo tiempo, aprovecho esta oportunidad para felicitarlo por la magnífica labor apostólica e intelectual que con tanto brillo desarrolla Vd. desde las columnas de la admirable Revista CATOLICISMO".

*

Sr. Jairo Damasceno Assis, São Paulo (Est. São Paulo):

“Aproveito a oportunidade para exprimir-lhes a minha grande admiração pelo jornal, o qual, sem interesses terrenos, luta valorosamente em prol da causa da Igreja”.

*

Sr. Enrique Michemberg, Lanus (República Argentina):

“...recibo con regularidad la publicación (CATOLICISMO) y estoy muy contento con su contenido de extraordinario valor”.


"Omnes de Saba venient"

HONG-KONG A MAIS FLORESCENTE MISSÃO DE TODA A ÁSIA

“CATOLICISMO” dá hoje início a uma nova secção, dedicada às atividades das Missões : Omnes de Saba venient. Acompanharemos em primeiro lugar os esforços ingentes da Santa Igreja para levar a Verdade às multidões que ainda jazem nas trevas do paganismo. Segui-La-emos também nos seus desvelos para garantir o pleno desenvolvimento das novas comunidades católicas. Estaremos, por fim, com Ela na luta sem quartel que trava na defesa das Missões contra os assaltos da impiedade, desferidos principalmente pelos algozes comunistas.

Desse modo nos uniremos mais vivamente ao zelo particular que o Santo Padre João XXIII devota às Missões, e poderemos rezar com mais fervor pelas intenções missionárias propostas aos fiéis, especialmente as que o Apostolado da Oração indica todos os meses aos seus membros.

A matéria desta secção será colhida habitualmente na excelente revista "Crociata", editada pelas Obras Pontifícias Missionárias, entidades subordinadas à Sagrada Congregação da Propagação da Fé.

"PÉROLA DAS MISSÕES NO ORIENTE"

Um dos últimos números de "Crociata" publica um relato significativo da situação missionária em Hong-Kong, feito pelo Bispo daquela cidade, Mons. Lorenzo Bianchi, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras.

A Diocese foi confiada ao P. I. M. E. em 1858. O centenário deste fato foi comemorado no ano atrasado com a participação do Emmo. Cardeal Agagianian, que, vivamente impressionado com a vida católica local, definiu a colônia como "a pérola das Missões católicas no Oriente".

De fato, Hong-Kong é hoje a Diocese mais florescente de toda a Ásia. Nos últimos oito anos o número de seus fiéis passou de 24.000 para 154.000, registrando-se atualmente a média de 20.000 conversões por ano.

Seu Clero consta de 50 Sacerdotes chineses e numerosos missionários estrangeiros. O apostolado atinge os mais variados setores: desde paróquias otimamente instaladas às pequenas capelas dos bairros chineses; desde o grandioso "Raimondi College" e o "Catholic Center" — a maior editora católica do Oriente — aos campos de refugiados chineses.

Foi sobre este último setor que o Bispo de Hong-Kong quis falar ao jornalista de "Crociata".

Disse S. Excia. que, desde a ascensão dos comunistas ao poder na China, fugiram para Hong-Kong cerca de 1.500.000 chineses, o que fez duplicar sua população em poucos anos. Surgiu assim o imenso problema da assistência aos refugiados, para cuja solução estão contribuindo poderosamente as Missões católicas.

Para se ter ideia da situação desses infelizes, mesmo depois do muito que já se fez por eles, basta dizer que 35% dos homens em idade de trabalho estão desempregados e 25% têm ocupação instável, insuficiente para manter a família. Estão afetados de tuberculose 3% deles, e acham-se predispostos para a moléstia 95%. Quase todos moram em barracas feitas de tábuas ou latas, com um só cômodo.

Diz Mons. Bianchi que o esforço empreendido pelos 15 centros católicos de assistência ainda está muito aquém das necessidades. Citou o caso de uma escola primaria que inaugurara recentemente, dotada de 520 vagas. Os pedidos de inscrição atingiram a cifra de 3.200!

O ROSÁRIO CHEGOU AO JAPÃO ANTES DOS MISSIONÁRIOS

Conta-se que a devoção do rosário entrou no Japão antes mesmo da chegada dos missionários. Foi em 1543, ano em que atracava na pequena ilha de Tanegashima uma nau estrangeira. Três negociantes portugueses que viajavam nessa embarcação, tendo estabelecido amizade com o daimio Otomo Yoshigue, fizeram-no conhecer o rosário. Em 1549 o chefe japonês se converteu e se tornou zeloso propagador dessa devoção entre os neo-convertidos.

Em 1565, o poderoso daimio de Kioto baixou um decreto proibindo, sob severas penas, que se usassem em público sinais ou objetos de devoção. Ao tomar conhecimento dessa medida, o valoroso príncipe Dario Takayama, cristão de admirável piedade, resolveu enfrentar o tirano. Tomou de empréstimo quantos terços pôde e colocou-os todos ao pescoço. E assim pôs-se a passear em frente ao palácio do temível daimio. Este, intimidado, não teve coragem de agir contra ele.

O filho de Dario, Justo Hukon Takayama, morreu mártir. As imagens desse valente príncipe representam-no sempre com o terço à mão.

Durante a feroz perseguição que se abateu sobre os católicos ao longo de um período de mais de duzentos e cinquenta anos, o rosário foi para eles a oração dos fortes, a arma dos duros tempos de combate.

Os terços bentos passavam de pai a filho como herança preciosa, símbolo da fidelidade à Santa Igreja e do amor a Maria Santíssima. Algumas destas relíquias três vezes centenárias podem ser vistas no museu "Doutor Nagai" de Nagasaki.

Dos 168 mártires japoneses canonizados, sabe-se que 78 eram membros da Confraria do Rosário, fundada pelos missionários dominicanos..

Cerca de 20% das igrejas no Japão promovem a recitação pública cotidiana do terço, e, se as circunstancias o permitissem, todas o fariam, porque os fiéis não faltariam com sua presença.

Pelo menos 60% dos católicos japoneses rezam o terço todos os dias, igual porcentagem de famílias realiza diariamente esta piedosa pratica no lar.

É possível encontrar um católico japonês sem livro de orações, mas nunca sem o seu terço no bolso, ou visível sobre o pescoço, como se fosse um colar. O primeiro presente dado aos catecúmenos ou aos neo-cristãos, no dia do batismo, é o terço.

Foi, por certo, esta admirável devoção que realizou o milagre impressionante de preservar através de séculos de luta a comunidade católica de Nagasaki, reencontrada pelos novos missionários, no ano, de 1865, intacta na sua fidelidade a Cristo, à Virgem e ao Papa.

Esta mesma prática de amor a Maria, cultuada no país sob o nome de Nossa Senhora de Edo, com que Ela é proclamada Rainha do Japão, há de alcançar a conversão do número esmagador de japoneses pagãos — são ainda quase cem milhões — para que afinal o Japão se torne uma grande nação católica e mariana.


VERBA TUA MANENT IN AETERNUM

* Os abusos da liberdade de imprensa

Ao receber no dia 8 de dezembro passado os participantes do X Congresso Nacional da União dos Juristas Católicos Italianos, disse o Santo Padre João XXIII:

• Relembrando palavras terríveis de Jesus

“... Quem tem o dever de julgar as coisas deste mundo segundo o critério elevado dos direitos de Deus e da salvaguarda da perfeição moral das almas não pode furtar-se a relembrar solenemente as terríveis palavras de Jesus: "Aquele que escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe atasse ao pescoço uma pedra de moinho, e o lançassem ao fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos!... ai do homem por quem vem o escândalo!" (Mat. 18, 6-7).

Por esta razão, cheio de audácia, com voz súplice e acentos veementes, apresentamos à atenção dos pais e educadores, dos homens de governo e dos legisladores e juristas, dos produtores e dos industriais, as diretrizes seguintes, confiando na boa vontade e retidão de cada um.

• Qual é a missão da imprensa

1) Em primeiro lugar é necessário ter uma consciência clara, constantemente guiada por um justo equilíbrio e atenta contra a insensibilidade e igualmente contra o laxismo.

O direito à verdade e à formação de uma regra moral objetiva, fundamentada na perenidade das leis divinas, é anterior e superior a qualquer outro direito e a qualquer outra exigência. A liberdade de imprensa deve integrar-se e encontrar sua linha de ação neste respeito às leis divinas que se refletem nas leis humanas, do mesmo modo que a liberdade dos indivíduos se integra nas prescrições positivas e é represada por elas.

... Qualquer outra exigência, quer feita em nome do lucro, quer da difusão de notícias, deve submeter-se a essas leis fundamentais.

Esta consciência clara deve ir de par com a compreensão exata da missão que é própria a cada um. Com efeito, a imprensa não restringe sua função à mera informação, mas ela quer formar, em outras palavras, ela se propõe a educar. A bem dizer, ninguém negará que os órgãos de imprensa não são apenas meios de expressão da opinião pública, mas também instrumentos de formação, e por conseguinte, às vezes, igualmente de deformação da opinião pública.

Ora, a educação não é outra coisa senão o respeito aos valores do homem. Esta educação é lenta e as inclinações perversas podem ser mortais para ele, se não for suficientemente defendido. Esta educação, segundo a velha concepção socrática, sempre boa, consiste em fazer sair à luz, da intimidade do espírito humano, a vida, a perfeição. Em consequência, educar não poderá jamais ser injetar veneno, fomentar deliberadamente as más inclinações, contribuir para empanar e até oprimir e aviltar a dignidade humana!

• Limitações necessárias à ação da imprensa

2) Esta consciência clara reclama por sua própria natureza e prescreve limitações necessárias, que devem manter os direitos da imprensa dentro do respeito, da ordem, da legalidade. Estas limitações impõem um freio à morbidez da expressão e da narrativa, à tentação do sensacional e do que é proibido; elas reprimem a sedução do ganho, a indiferença moral e a leviandade que arrebatam violentamente a inocência à criança e ao adolescente, sob o pretexto, à guisa de justificação, de que isto deve acontecer fatalmente.

Nesta matéria mais vale ser explícito, sem essas precauções que seriam respeito humano, se não cumplicidade culposa. Não é o amor do saber, da cultura ou da verdade que guia certas penas, mas a febre mal sã das paixões, mas a sede imoderada de popularidade e lucro, que, sobrepujam todos os apelos imperiosos da consciência.

É licito entregar despreocupadamente à avidez da curiosidade pormenores e descrições que são da competência exclusiva da polícia e da magistratura? É licito explorar toda espécie de crimes, que mais valeria cobrir com um véu de piedade, e fazer deles descrições e reconstituições que não passam de uma escola de crimes e de uma excitação ao vício? A própria publicidade, especialmente em certos campos, e em obediência a regras nefastas, adotou aspectos perturbadores e espantosos, que não se explicam a não ser pelo propósito deliberado de ferir violentamente os sentidos, de forçar a entrada nos espíritos, sem ligar para a ferida deixada na alma.

O exame atento de situação a tal ponto dolorosa deveria conduzir as autoridades e os organismos responsáveis a uma conclusão lógica e obrigatória de que limitações necessárias se impõem ao exercício da liberdade de imprensa. E estas devem ser fixadas rigorosamente, em virtude da lei e por ela, para que problema tão delicado, tão importante, e do qual depende o futuro de qualquer nação, não seja abandonado ao acaso da improvisação, ao controle arbitrário do indivíduo, de que muito já se falou, ou, pior ainda, à má fé ou ao proxenetismo.

• Intransigência, sem temor à alcunha de escrupulosos ou fanáticos

... 3) Enfim, são necessárias posições claras e um programa positivo.

Por disposição natural do espírito, não apreciamos aplicar, salvo raramente, expressões fortes às situações múltiplas da vida social, enquanto conservamos a esperança de possível melhora. Mas aqui sentimos o dever de dizer tudo e de confiar Nossas ansiedades e esperanças aos que são para Nós filhos e irmãos, seja pela pratica da fé católica, seja ainda pelo acordo sincero e humano sobre este assunto da imprensa que se desvia e sobre a conta em que se deve ter os escritores indignos desse nome.

Eis portanto qual deve ser a atitude corajosa dos católicos: não ter medo de que os tratem de "escrupulosos" ou de fanáticos, por reprovar certa imprensa. Em seguida, não comprar, não prestigiar, não favorecer, e nem mesmo mencionar a imprensa corrompida. Não temer utilizar todos os meios para levar esta fração a obedecer a princípios, antes mesmo que cristãos, humanos e civis. Os católicos, sobretudo, são chamados a esta obra de defesa e de intransigência, bem como todos os que têm consciência reta e vontade sincera de serem úteis à sociedade: porque é principalmente neste domínio que se deve sentir a gravidade do pecado de omissão.

• Legislação para a imprensa, em defesa da pessoa humana

Quanto ao programa positivo a ser seguido, depois de ressaltar que a legislação deu passos de gigante na defesa dos direitos da pessoa humana, cumpre reconhecer que outro tanto não se pode dizer a propósito do terreno da imprensa. Entretanto, ainda aí, trata-se de um direito fundamental que diz respeito à liberdade da pessoa: ...

Nós vos confiamos Nossas profundas ansiedades e preocupações, e o tê-lo feito Nos aliviou, como acontece quando se depõe uma carga que pesa sobre a alma: dixi et liberavi animam meam. E agora estamos reconfortado por saber que encontramos junto de vós uma inteira compreensão da gravidade dos problemas, e uma vontade decidida de dar-lhes remédio,..."


AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Finura e Grã-finismo

Plinio Corrêa de Oliveira

O normal numa sociedade bem ordenada, numa sociedade cristã e orgânica, constituída de classes diversas, harmonicamente graduadas e intimamente entrosadas umas nas outras, é que haja para todos abundância dos bens indispensáveis à existência, como o alimento, o vestuário, a habitação, os remédios correntes e os meios de transporte comuns. Pelo contrário, os bens que são meramente convenientes, e não necessários, como os vinhos de ótima qualidade, as iguarias, as obras de arte, os tecidos preciosos, os meios de transporte luxuosos, são muito menos abundantes. E, pela natural ordem das coisas, devem eles confluir para as classes dirigentes, mais cultas, dotadas de mais gosto para apreciá-los, de mais capacidade de com eles se desenvolver.

Estas considerações nos põem assim em presença de um trinômio: função dirigente, cultura, riqueza. Há entre os elementos desse trinômio uma afinidade natural: a cultura é o predicado próprio de quem dirige, e a riqueza é a um tempo instrumento de direção e meio de destilar e quintessenciar cultura.

* * *

Esses conceitos são banais. Entretanto, a Revolução os nega de mil modos. Ela se opõe à diferença de classes, cultura e de fortuna. Sob sua inspiração, em muitos lugares onde falta o necessário se constituem indústrias de quinquilharias vistosas, de objetos supérfluos, baratos e sem duração, e dão ao pobre, de estômago vazio, a ilusão de ser rico. E por fim, graças às perturbações econômicas e sociais que ela engendra por toda parte, o trinômio de que há pouco falávamos se vai desconjuntando. As classes tradicionais, que representam o fator educação, gosto, alto estilo de vida, absorvidas pelo prazer ou pela inércia, se vão tornando sempre menos cultas e menos ricas. As profissões intelectuais, em que a instrução é meio de vida, vão tendo uma situação econômica cada vez mais modesta, a que corresponde uma situação social sempre mais apagada. O dinheiro conflui em imensas massas para elementos sem tradição, sem cultura, sem instrução e sem gosto.

E daí vem uma série de idéias falsas que concorrem em parte para o ambiente de confusão em que vivemos.

Uma destas confusões existe entre os conceitos de fino e grã-fino. Dela nos ocuparemos hoje.

* * *

Grã-fino se diz atualmente de uma pessoa, um traje, um ambiente, etc. Um vestido grã-fino precisa, antes de tudo, ser novo em folha, com aquela forma de esplendor que só as coisas novas têm. Tudo o que é grã-fino deve, além disto, causar um certo espanto: fazer a mulher parecer homem, a velha ter jeito de moça, ou o velho, de frajola. Deve dar ao móvel, à casa ou ao templo uma impressão de máquina ou de fábrica, e deve de algum modo produzir a sensação de que viola as leis da física. Seu aspecto tem de ser "democrático": nada de pompa, de solenidade, de seriedade. Tudo simples, lambido, com lampeirices de garoto em férias. Em compensação, deve ser muito limpo. E sobretudo caro. Quanto mais caro, melhor.

Assim, o grã-finismo não é apanágio de grandes cidades: até vilarejos o têm. Nem é o distintivo de uma classe: até nos botequins de bairro há grã-finos suburbanos. O grã-finismo é um estilo, um gênero, uma categoria, uma doença. Quase diríamos que forma uma seita...

* * *

Os grã-finos em seus respectivos níveis são tudo, o resto não é nada.

Daí vem uma ideia de que a classe dirigente, se não tem o monopólio do grã-finismo, é como a matriz dele. E que ter dinheiro, ter gosto, ser grã-fino são uma só coisa.

Ora, precisamente não são. O grã-finismo é o triunfo da vulgaridade e do mau gosto, tendo a seu serviço o dinheiro. É fruto de um trinômio, sim, mas que é o oposto do primeiro de que falávamos.

Para fazer algo de fino, o dinheiro é útil, porém absolutamente não é necessário. Ao se fazer algo de grã-fino, o dinheiro é malbaratado e só serve para dar força de estardalhaço à vulgaridade.

* * *

Esta sala de nossa gravura, de segunda classe aliás, visa nitidamente ao grã-finismo. O banco do primeiro plano tem almofadas muito cômodas, que convidam o corpo a largar-se. Mas este encosto e este assento tão macios não são completados por braços. O largar-se é completo e incompleto. Ademais, o corpo que se larga forçosamente pesa. As perninhas esguias desse móvel parecem precisamente destinadas a carregar entes diáfanos. As pessoas sentem tudo isto sem o poder enunciar. Sabem, outrossim, que a cadeira não vai cair. Tudo contradição rebuscada e matreira. Divertido. Ou melhor, gozado. Novinho em folha, catita, custou seu dinheirinho: enfim, grã-fino, ou antes grã-fininho.

O tapete dá a impressão de mal penteado. É lanudo, enovelado, sem ser propriamente fofo. É de boa qualidade? Sim, porque não é rapado. Não porque se diria que saiu da fábrica antes de sofrer os acabamentos finais. Enquanto não tiver a menor mancha, nem desbotar, será gozado e grã-fino. Isto durará pouco. Manchado, desbotado, continuará felpudo: felpo horrível que irá para o lixo.

O vaso é um vaso ou um cilindro qualquer? Estas varetas o que são? Foram colhidas, ou apanhadas soltas em qualquer jardim, rolando pelo chão? E a almofada que flutua só e desolada no sofá do fundo? Não é ela bem a figura do observador sensato, mísero destroço a flutuar descoroçoado e sem lastro neste pequeno oceano de contradições vistosas, pedantes e ufanas de suas próprias cacofonias?

Caro, um pouco. Pretensioso, muito. Extravagante, inteiramente Grã-fino, até o fundo. Fino, nem um pouco.

* * *

Uma grade de ferro forjado protege a entrada de um velho edifício, calçada com grandes tábuas largas e belas. Paredes de pedra. Tudo muito pouco dispendioso. Quanta afabilidade, quanta seriedade, quanta nobreza. Linhas distintas, natural dignidade do que é sério e reto. É caro? Nem um pouco. É fino? Muito. É grã-fino? Pelo contrário.

Positivamente, nada existe mais errado que confundir finura e grã-finismo.