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ESTRELA DE BELÉM,

ESTRELA DE MOSCOU.

Por D. Geraldo de Proença Sigaud

Arcebispo Metropolitano de Diamantina

Comentando o voo dos dois cosmonautas russos, o chefe do comunismo mundial experimentou fazer "blague" dizendo: "Enviamos ao espaço por uma hora a Gagarin, e ele procurou lá o paraíso, e não o encontrou. Mandamos depois a Titov, com ordem de olhar para todos os lados e procurar muito bem. Depois de, 25 horas de buscas por todos os cantos do espaço, retornou com a mesma resposta: "Não encontrei nada". Logo, não há paraíso!"

Poderia o ditador russo mandar várias dúzias de seus súditos percorrerem o universo em múltiplas orbitas, todos eles voltariam com a mesma resposta. Mas, se em lugar de procurar o Paraíso, procurassem a alma, os comunistas não precisariam ir tão longe. Seguindo o mesmo método, poderiam dirigir-se a todos os cirurgiões de seus atrasados hospitais, fazer um imenso inquérito para saber se, ao cortar as carnes vivas dos seus pacientes, algum deles teria encontrado uma alma, um espírito. A resposta unânime seria esmagadoramente negativa. Daí concluiriam: logo, não há alma!

Acontece, porém, que, se em vez de procurar no espaço e na ponta dos bisturis, procurassem nas folhas da História e nas de um pequenino livro, chamado Evangelho, os sábios da matéria encontrariam algo de diferente.

Criancinha que descansais numa manjedoura, tendes alguma mensagem a nos dar, no Natal deste apocalíptico ano de 1961, sobre a alma e o Paraíso?

O comunismo tira as mais radicais consequências do materialismo evolucionista. Baseando-se em dois preconceitos, constrói seu universo. O primeiro é o preconceito evolucionista. O segundo, o preconceito materialista.

Consideremos o primeiro. Diz o evolucionismo marxista: o homem provém dos primatas superiores e estes dos inferiores, que por sua vez provêm das espécies animais menos perfeitas. Numa sucessão ininterrupta, a árvore dos antepassados do homem chega às formas mais rudimentares da vida animal. Destas passa a linhagem humana para as plantas, das plantas para a matéria orgânica mais simples, e desta para a matéria inorgânica. Uma força elementar, universal, misteriosa, provoca este desenvolvimento, dando início à organização do corpo vivo e impelindo os corpos vivos a se aperfeiçoarem sempre mais.

Assim, dizem os que professam esse preconceito, numa sequência sem hiatos, partindo da matéria inorgânica, uma força cega material deu origem ao primeiro ser vivo, deste a vida evoluiu até o animal, e daí até o homem primitivo. Continuando sua ascensão ininterrupta, o homem chegou à perfeição atual.

Vejamos o preconceito materialista. Não há Deus. Não há espírito. Portanto, nenhuma intervenção divina transformou o bruto em homem, pela infusão de uma alma espiritual. Eis-nos no materialismo mais crasso. Não há alma humana, distinta da matéria, porque só há matéria no universo. Atualmente, a forma mais perfeita, mais organizada da matéria é o cérebro humano, e tudo o que a escolástica chama de espiritual são secreções do cérebro.

Mas o homem hodierno não é o termo final da evolução. O processo continua. Cada nova geração que chega é insensivelmente mais perfeita que a passada e, somando estas diferenças, um dia a humanidade chegará ao super-homem, que será tão superior ao atual "homo sapiens", como este é superior aos símios de que descende.

Deste materialismo evolucionista deduz o marxismo a completa relatividade das ideias, dos valores, da moral, do dogma.

Não há verdades, não há normas morais válidas, porque não há ser imutável, não há espécies fixas. Não há unidade de natureza entre homens de séculos diversos. "Homem" não é um conceito eterno e válido absolutamente, é um estado da evolução da matéria. Não há metafísica. O que interessa a metafísica?

As ideias não valem como expressão da verdade imutável. Não pode haver conformidade da inteligência com a coisa. Uma vez que a inteligência se muda, e todas as coisas se mudam, que interessa ao homem uma aparente concordância? Mas as ideias são fenômenos interessantes, porque estas secreções da massa encefálica têm um poder de ação, conseguem desencadear movimento.

“No princípio era a ação”, dizia Goethe.

Eis a visão do universo que está na mais profunda base do comunismo.

Desta visão nasce a ideia de que a humanidade marcha inexoravelmente para o "Progresso" e para novas formas de vida individual e coletiva; de onde se segue que a soma dos seres em evolução, ou ao menos a soma dos mais autênticos homens, os proletários, sua soma, digo, que é o Estado, tem direitos soberanos sobre a coletividade. Tudo o que fornece os bens necessários para a felicidade da massa proletária deve pertencer a ela, ser por ela dirigido e reverter em seu benefício, mediante a posse e administração de todos os bens de produção pela coletividade, pelo Estado.

Não havendo ordem natural, nem Direito natural, mas simples evolução material, todos os meios podem ser empregados, contanto que contribuam para promover e apressar a evolução para uma sociedade de iguais, uma sociedade sem classes. Tudo o que perpetua a família, a desigualdade, as classes, é criminoso. Ora, a propriedade particular é a maior responsável pela perpetuação das classes. Logo, deve ser abolida.

O paraíso do homem está exclusivamente na terra. A lei da felicidade é criada e imposta pela massa proletária, e todos, sem exceção, têm de se sujeitar a ela. Não há direito, não há liberdade. Há a força.

“No princípio era o Verbo" (Jo."1, 1)!

As multidões de Anjos que aparecem sobre a campina de Belém na noite de Natal cantam a encarnação do Verbo.

Não é a ação que está no princípio. No princípio está o Ser, e está a Verdade. Está o

(continua)