Estudantes e Lavradores de Minas Gerais contra a Reforma Agrária Socialista e Anticristã
Reportagem de
Antonio Ceron Neto e Gustavo A. Solimeo
Duas conferências do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em Belo Horizonte, promovidas pela UEE e pelos Diretórios Acadêmicos de Medicina, Engenharia e Odontologia e Farmácia da Universidade de Minas Gerais
Não exageraria quem dissesse que a repercussão de "Reforma Agrária -Questão de Consciência" continua aumentando dia a dia, embora seu lançamento se tenha dado há mais de um ano, isto é, em 10 de novembro de 1960. Com efeito, o leitor de "Catolicismo" pode verificar, pelas notícias que esta folha publica a respeito todos os meses, que cada vez mais o livro vai penetrando a fundo nos meios religiosos, políticos, rurais, econômicos, sociais e estudantis.
O sucesso da obra dos Srs. Arcebispo de Diamantina, Bispo de Campos, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e economista Luiz Mendonça de Freitas é particularmente notável em Minas Gerais, que se destaca, dentro da Federação, pelo espírito conservador e católico de seu povo. No interior daquele Estado dezenas de exemplares do livro se têm vendido nos últimos meses, e todas as semanas a Editora Vera Cruz Ltda. atende a numerosos pedidos feitos por particulares, por casas religiosas, por livrarias. Na capital mineira, onde só recentemente foi lançada a terceira edição de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", provocou ela imediatamente amplos movimentos de opinião pública, em que era patente a simpatia frequentemente calorosa que as teses e posições do livro encontravam por toda parte, — fora dos ambientes esquerdizantes, os quais, pelo contrário, lhes manifestaram vigorosa hostilidade.
Reflexo de todo esse movimento ideológico foram os convites endereçados ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para pronunciar em Belo Horizonte duas conferencias sobre a reforma agrária. Essa iniciativa partiu da União Estadual dos Estudantes, entidade máxima dos universitários mineiros, e dos Diretórios Acadêmicos das Faculdades de Medicina, Engenharia e Odontologia e Farmácia da Universidade de Minas Gerais.
A DEMAGOGIA, MENTIROSA COMO SEU PAI
A Escritura diz que o demônio é mentiroso e pai da mentira (cf. Jo. 8, 44). Não é de admirar, portanto, que a demagogia, sua filha dileta, também seja necessariamente mentirosa.
A campanha agro-reformista que se vem movendo de norte a sul do Brasil é toda ela baseada na mentira. Diz que só a pequena propriedade é plenamente produtiva, — e isso não é verdade. Diz que a doutrina católica exige uma plena igualdade entre os homens, — e isso não é verdade. Diz que o trabalhador agrícola vive remoendo ódios contra o fazendeiro e querendo tomar o que ele possui, — e isso não é verdade. Diz que os meios estudantis são quase unanimemente a favor de uma reforma agrária radical e revolucionaria, — e até mesmo isso não é verdade...
É falso que os estudantes brasileiros queiram o socialismo para o campo. O que acontece é que grupos de universitários comunistas ou para-comunistas, que se intitulam porta-vozes da classe, vivem pelas capitais a bradar "slogans" agro-reformistas. Mas o grosso dos estudantes, que muitas vezes não manifesta suas opiniões com estridência, não é favorável a essas investidas do comunismo e da demagogia.
Prova dessa afirmação, que pode parecer temerária a quem julga a realidade brasileira apenas pelas manchetes dos jornais, é o êxito magnífico obtido pelas duas exposições sobre reforma agrária que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira fez para os estudantes de Belo Horizonte.
Nas diversas Faculdades, foi aguardada com vivo interesse essa oportunidade de ouvir sobre o tema S. Sa., cuja personalidade já era conhecida na capital mineira como líder católico e como orador. A enorme propaganda das conferencias, feita pelos próprios universitários, foi um primeiro sinal do estado de espírito destes; merece destaque nesse particular um veículo que durante dois dias percorreu ininterruptamente as ruas da cidade, convidando o povo, por meio de um alto-falante, a comparecer às sessões. Também por iniciativa dos estudantes, as conferencias foram fartamente anunciadas pela imprensa, rádio e televisão.
Cartazes foram colocados em livrarias e nas Faculdades. Folhetos impressos, distribuídos principalmente no interior das escolas superiores, vinham completar o quadro desse vasto trabalho de propaganda.
A essa expectativa entusiástica correspondeu a ampla aceitação que as teses magistralmente sustentadas pelo conferencista encontraram numa assistência composta sobretudo de estudantes e fazendeiros.
Confirmação disso é o fato de que, em oposição à frente operário-estudantil-camponesa que o Deputado Francisco Julião quer criar em Minas, como em todo o Brasil, várias pessoas que presenciaram o êxito das conferencias do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira propuseram que se constituísse uma frente de estudantes e agricultores contra a reforma agrária socialista e anticristã.
DOIS AUDITORIOS REPLETOS
O ilustre conferencista chegou a Belo Horizonte no dia 29 de outubro, desembarcando no aeroporto de Pampulha. Em sua companhia viajou o jornalista José Luiz Bravo Collado, diretor da revista "Cruzada", de Buenos Aires, que se encontrava no Brasil em viagem de estudos.
No aeroporto esperavam-no o Prof. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, colaborador desta folha em São Paulo, que já estava na cidade havia alguns dias, e um grupo de mais de 70 estudantes, tendo à frente o acadêmico Milton Alvares Cordeiro, presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais. Estava também presente outro colaborador paulista de "Catolicismo", o Prof. Orlando Fedeli, que na antevéspera pronunciara uma conferência na Escola Preparatória de Cadetes do Ar de Barbacena, a convite da direção daquele estabelecimento.
Num desfile de quinze automóveis, os universitários acompanharam o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira até o hotel.
À noite desse mesmo dia, realizou-se, no auditório da Escola de Engenharia da Universidade de Minas Gerais, a primeira conferência, que foi promovida pela UEE e se subordinou ao tema "Reforma Agrária". Vários estudantes de engenharia ali presentes comentavam que nunca o auditório abrigara um público tão numeroso. Frisava-se, de modo especial, que a assistência era duas ou três vezes maior do que em outras conferencias realizadas no mesmo local e na mesma semana, quando falaram dois Governadores e um Ministro de Estado.
À mesa tomaram assento os Srs. acadêmico Milton Alvares Cordeiro, presidente da UEE, que saudou o conferencista; Capitão Benoni Koscky Pimenta, representante do Governador Magalhães Pinto; Deputado Federal Geraldo Freire da Silva, da UDN mineira, autor de um dos projetos de reforma agrária apresentados à Câmara dos Deputados; Prof. José de Alencar, Diretor da Escola Superior de Agricultura de Viçosa; Prof. José Geraldo de Faria, Diretor da Escola de Arquitetura da UMG; Francisco Ferreira Coelho, representante do Presidente do Tribunal de Justiça, e Prof. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, da PUC de São Paulo.
No dia seguinte, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira falou sobre "O Problema Rural Brasileiro". Essa segunda conferencia foi promovida pelos Diretórios Acadêmicos de Engenharia, Medicina e Odontologia e Farmácia da UMG, e teve lugar no auditório da Faculdade de Medicina.
O orador foi saudado pelo universitário Herbert Francisco Hudson, presidente do Diretório Acadêmico "Alfredo Balena", da Faculdade de Medicina. Compuseram a mesa que presidiu os trabalhos os Srs. Paulo Salvo, Secretário da Agricultura e representante do Governador; Josaphat Macedo, Presidente da FAREM; Prof. Sylvio da Mata Machado, representante do Prof. Clovis Salgado da Gama, Vice-Governador do Estado e Diretor da Faculdade de Medicina; Prof. Luiz Lima, representante do Diretor da Escola de Arquitetura da UMG; Prof. Firmino Soares Siqueira, Diretor da Escola Agrotécnica de Januaria; Prof. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira; universitário Milton Alvares Cordeiro, presidente da UEE; Rodrigo Pires do Rio Neto, representante da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR); Roldão Nogueira, presidente da Associação Rural de Formiga; José Garcia de Freitas, presidente da Associação Rural de Carangola; e acadêmicos Vitor Santos e Luiz Sávio, dos Diretórios dos Estudantes de Engenharia e Odontologia e Farmácia da UMG.
Nesta segunda noite, mais uma vez, o auditório estava repleto. O interesse extraordinário despertado por ambas as conferencias é bem uma prova, não só do largo prestigio do orador, como também de que os princípios católicos, quando expostos em toda a sua pureza e com todo o seu vigor, como os expôs o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, atraem os espíritos com uma força extraordinária. Como andam longe da realidade os que afirmam que é preciso edulcorar a doutrina católica e adaptá-la à civilização neopagã de nossos dias, para que ela atraia os filhos do século XX!
À imprensa mineira não passou despercebida a excepcional afluência de pessoas às duas sessões. O "Estado de Minas" do dia 30 registrava que, na véspera, a assistência ocupara "todos os lugares do auditório da Escola de Engenharia". O "Diário de Minas" da mesma data afirmava que o público "lotou completamente o salão". E, em relação à segunda conferencia, o "Estado de Minas" observava que um "numerosíssimo público, na sua maioria universitários, superlotou o salão de conferencias da Faculdade".
CABRAL NÃO ERA AGRO-REFORMISTA...
A sessão do dia 29, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira condenou a tendência simplista de resolver os problemas sociais com fórmulas abstratas e demagógicas. Mostrou que a tradição brasileira e especialmente a mineira é de se solucionarem as questões nacionais de modo cristão, matizado, lento e sábio. Fazendo uma sólida dissertação a respeito dos fundamentos do direito de propriedade, e lembrando os textos pontifícios que condenam o socialismo, o orador expôs que é pelo amparo à lavoura, pelo credito fácil e barato, pela assistência médica, técnica e educacional, e por outras medidas sem caráter revolucionado, que se resolverão os problemas do campo no Brasil. Citando a Encíclica "Mater et Magistra", mostrou que tal modo de pensar é o que corresponde à doutrina ali exposta pelo Santo Padre João XXIII.
Na segunda conferencia, S. Sa. desenvolveu sobretudo a tese de que os homens são e devem ser desiguais, e de que, portanto, não se pode desejar uma igualdade de fortunas no campo, como em nenhum outro setor da vida social. Em defesa desses princípios, aduziu numerosos textos de Papas.
Em ambas as exposições, ressaltou um ponto que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira chamou de "Marcha para o Oeste". Conforme argumentou o orador, não se pode pensar em desapropriar e retalhar terras que têm dono, enquanto continuarem a existir vastíssimas regiões do País que não estão ocupadas. Lembrou que duas terças partes do território nacional não foram ainda apropriadas, pertencendo, portanto, à União e aos Estados. Como se pode, diante disso, pretender fazer uma revolução social para espoliar os proprietários nas regiões habitadas, deixando desertas as que estão à espera de colonizador? Citando um deputado com quem conversara recentemente em Brasília, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira disse, com muito espírito, que no Brasil o problema não é de "João sem terra", mas da "terra sem João"...
Esse ponto despertou o mais vivo interesse dos ouvintes, como se pôde verificar pelas perguntas que estes formularam por escrito, depois de terminadas as conferencias. Nas respostas, as ideias expostas durante a dissertação foram mais largamente desenvolvidas, tendo o orador frisado, por exemplo, que não é por faltar no sertão assistência hospitalar, educacional, técnica, etc., que o brasileiro pode se eximir do dever de povoá-lo. "Com efeito — argumentou S. Sa. — se os primeiros portugueses que vieram para cá tivessem esperado que os hospitais e as escolas os precedessem, o Brasil não existiria. Se os bandeirantes que penetraram pelas terras mineiras pensassem como os partidários da reforma agrária expropriativa, o que seria do Estado de Minas Gerais?"
Pedro Álvares Cabral não era agro-reformista... Demos graças a Deus!
MINEIROS (PROVERBIALMENTE RESERVADOS) APLAUDEM DE PÉ
Ao terminarem ambas as conferencias, o orador foi saudado por prolongada e vigorosa salva de palmas. À medida, entretanto, que S. Sa. ia respondendo as perguntas formuladas pelo auditório, os aplausos intensificavam-se cada vez mais.
Era mesmo de entusiasmar a precisão de pensamento, a agilidade de espírito, a vivacidade das expressões com que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira redarguia aos seus interlocutores. Sobretudo em relação às perguntas de inspiração comunista ou socialista, tal era a segurança com que a réplica atingia o seu alvo, e tal era o brilho com que a verdade resplandecia então, que numerosas vezes o auditório prorrompia em aplausos calorosos e incontidos, interrompendo o conferencista.
"Por que V. Excia. não considera o problema social da reforma agrária independentemente da Igreja Católica?" — indagava alguém.
Outro perguntava como o orador poderia explicar a atitude de muitos católicos que desejam o socialismo.
Uma das autoridades estaduais presentes, exprimindo sua admiração pela conferencia que acabava de ouvir e sua inteira adesão às ideias expostas, perguntou: "Não poderia V. Sa. sugerir o meio para que os católicos, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, se unam em ação conjunta, com o objetivo de repelir a reforma agrária socialista?"
Verificava-se pelas perguntas o quanto certos ambientes intelectuais brasileiros, inclusive católicos, têm ideias confusas sobre a doutrina social da Igreja. Uma das perguntas defendia o "socialismo cristão", já tantas vezes condenado pelos Papas. Outra pretendia que o Antigo Testamento proibia a propriedade privada da terra. Uma terceira confundia a "socialização" de que falam diversas traduções da "Mater et Magistra", com o socialismo. Outra ainda considerava que pequenos proprietários e colonos são, ipso facto, escravos...
O ponto culminante da sabatina a que se submeteu o orador foram sem dúvida as últimas perguntas da segunda noite, as quais podem ser resumidas na seguinte: "Como explica as oposições de tantos eclesiásticos ao livro de que V. Excia. é co-autor?" Fazendo uma desassombrada profissão de fé católica e de submissão ao Soberano Pontífice e à Hierarquia, de que o Papa é a Cabeça, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira lembrou vários pronunciamentos de eminentes figuras do Episcopado Nacional em harmonia com a doutrina exposta em "Reforma Agrária — Questão de Consciência", entre os quais se destaca a magnífica declaração dos Bispos do Vale do Rio Doce, de 7 de julho p.p. (cf. "Catolicismo", n.° 128, de agosto de 1961). A seguir, expôs sinteticamente a doutrina desenvolvida pelo Revmo. Pe.. João Bloes Neto, Secretario da Diocese de Campos, em seu importantíssimo "Esclarecimento" sobre a posição dos católicos em face daquele livro (in "Catolicismo", n.° 121, de janeiro de 1961). O povo mineiro, sempre amigo das atitudes claras e genuinamente católicas, aplaudiu o orador de pé, em prolongada salva de palmas.
Foram tantas as perguntas feitas depois das conferencias, e tal o interesse do numeroso público presente por tudo o que expunha o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, que o auditório permaneceu repleto das 20 horas às 23 horas na primeira noite, e das 20 horas às 23 horas e 30 minutos na seguinte. Verificando que nessa segunda noite não haveria tempo para responder a todas as questões formuladas pela assistência, o orador "deu preferência àquelas que contrariavam os seus pontos de vista", conforme escreveu o "Estado de Minas", em ampla reportagem que publicou sobre a sessão.
Se se considerar que ambas as conferencias se basearam em argumentação sólida, extensa e por vezes inevitavelmente árida, melhor se compreenderá o quanto os ambientes brasileiros ainda não dominados pela Revolução têm uma sede cada vez maior de doutrina séria e profunda.
Tudo isso leva a observar, novamente: como é falso dizer que o homem do século XX quer um Catolicismo diluído, morno, sem heroísmo e sem intransigência...
HÓSPEDE DO GOVERNO MINEIRO
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira foi hóspede oficial, em Belo Horizonte, do Governo do Estado. Em ambas as conferencias, como ficou dito acima, o Governador Magalhães Pinto se fez representar. Na do dia 30 foi o Sr. Paulo Salvo, Secretário da Agricultura, que o representou; nessa ocasião, a convite do orador, S. Excia. usou da palavra a fim de responder a uma pergunta do plenário sobre o plano de reforma agrária do Governo mineiro.
No dia 31, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira fez uma visita ao Sr. Magalhães Pinto, para agradecer a hospedagem oferecida pelo Executivo, bem como as atenções que o Governo lhe dispensara. Nessa oportunidade trocaram-se ideias sobre os princípios expostos no livro "Reforma Agrária — Questão de Consciência", e sobre a reforma agrária mineira.
Juntamente com o ilustre líder católico, estiveram no Palácio da Liberdade os Srs. Prof. Arnaldo Vidigal Xavier da Silveira, Milton de Salles Mourão, representante de "Catolicismo" em Minas Gerais, Antonio Rodrigues Ferreira e acadêmico Edélcio Barbosa Freire.
No mesmo dia, o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira fez visitas de cortesia ao Exmo. Revmo. Sr. D. João de Rezende Costa, Arcebispo Coadjutor de Belo Horizonte, e ao Sr. Paulo Salvo, Secretário da Agricultura.
Noticiando seu regresso para São Paulo, o "Diário da Tarde" observou que o conferencista "deixou a melhor impressão, pelo trato seguro de um problema de grande atualidade, como é a reforma agrária".
"OS FAZENDEIROS DE MINAS ESTÃO COM O DR. PLINIO"
A reportagem procurou ouvir várias pessoas que estiveram presentes às conferencias, especialmente estudantes e fazendeiros, a fim de oferecer aos leitores de "Catolicismo" um quadro das repercussões que elas tiveram.
"Ontem no auditório da Escola de Engenharia — declarou o Sr. José Dale Mascarenhas, Prefeito Municipal de Caetanópolis e importante fazendeiro da região — tivemos o prazer imenso de ouvir a palavra certa e abalizada do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, que, pela sinceridade cristã com que expôs o seu pensamento, valeu-nos como uma encíclica".
Diversos estudantes anticomunistas acercaram-se do orador para felicitá-lo no fim de suas exposições, pedindo-lhe que autografasse exemplares de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", e exprimindo a certeza de que o meio estudantil não é comunista, mas apenas parece sê-lo, às vezes, devido à inação dos bons.
Os fazendeiros presentes mostravam-se simplesmente entusiasmados. Um propunha que se promovessem novas conferencias do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na capital mineira e no interior do Estado. Outro comparava as idéias revolucionárias do Deputado Francisco Julião, ouvidas na véspera em Belo Horizonte mesmo, com os ideais cristãos defendidos naquela noite. Um terceiro vinha dizer ao conferencista que todos os lavradores de sua região estavam com ele e com seus princípios. Outro, ainda, frisava que a posição definida na reunião da FAREM (Federação das Associações Rurais do Estado de Minas), nos dias anteriores, era a mesma que o Professor expusera.
"Agora encontramos um caminho para seguir", comentava-se numa roda de fazendeiros.
Particularmente significativo foi o depoimento de um fazendeiro que a reportagem ouviu alguns dias mais tarde: "Tendo dormido duas noites depois de ouvir o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira — dizia com calor — devo afirmar que estamos inteiramente com ele". A sinceridade com que essa declaração foi feita deve ser analisada em função de um traço próprio do espírito mineiro: primeiro pensar longamente, depois dormir sobre o caso, para só então tomar uma posição definitiva... Segundo o dito popular, "o mineiro dá um boi para não entrar numa briga, mas, tendo entrado, dá uma boiada para não sair dela".
Essas e outras manifestações de adesão exprimiam, de modo iniludível, que os fazendeiros de Minas não estão dispostos a aceitar a reforma agrária socialista e anticristã.
Muito expressiva foi a afirmação de uma das autoridades presentes: "Ontem estive na conferencia do Deputado Julião, e devo dizer que não se pode comparar o magnífico espetáculo a que assistimos hoje com as cenas revolucionárias, comunistas e vergonhosas de ontem; e a palestra desta noite bem mostra como se pode organizar um debate proveitoso, ordenado e, de nível elevado, mesmo num meio tantas vezes agitado, como é o estudantil".
Na mesma semana em que falou o Sr. Plinio Corrêa de Oliveira, várias outras conferências importantes foram pronunciadas em Belo Horizonte. Falaram na capital mineira o Sr. Celso Peçanha, Governador do Estado do Rio, o Sr. Magalhães Pinto, Governador de Minas, o Sr. Paulo Salvo, Secretário da Agricultura, e o Deputado Francisco Julião, sobre a reforma agrária; o Sr. Mauro Borges, Governador de Goiás, e o Ministro Gabriel Passos, sobre problemas econômicos do País; o Deputado Fernando Ferrari, sobre o movimento político que lidera; e o Sr. Alceu de Amoroso Lima, sobre a Encíclica "Mater et Magistra". Naqueles mesmos dias, a FAREM realizou uma importantíssima convenção, especialmente para fixar a posição da entidade em face da reforma agrária, tendo-se feito ouvir figuras exponenciais dos meios agrícolas de Minas e outros Estados.
Naquela semana houve em Belo Horizonte, portanto, um amplo debate sobre problemas sociais do Brasil, exprimindo-se representantes de relevo das mais diversas correntes de pensamento do País. Tanto os jornais como o público em geral não podiam deixar de comparar as diversas conferencias, e de comentar a oposição profunda que se verificava entre as tendências de umas e de outras. Nesse conjunto, as exposições do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobressaiam pela ortodoxia, pelo vigor de suas convicções católicas, pela nobreza das ideias e da expressão, e pelo cunho eminentemente tradicionalista e antidemagógico.
"CUIDADO COM AS PERGUNTAS, SENÃO..."
Conferencias assim, em nossos dias, encontram sempre no público a que se dirigem a oposição de uma minoria tanto mais ativa quanto menos numerosa. Isso é verdade até na católica e conservadora Minas Gerais.
No auditório de ambas as sessões em que falou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira havia grupos coesos de elementos esquerdistas, que não escondiam sua posição. Constava que vários desses elementos tencionavam criar um ambiente de caos na plateia, como acontecera dias antes na conferência do Deputado Francisco Julião, durante a qual teve-se que recorrer à polícia para restabelecer a ordem. No entanto, a figura eminente e grave do conferencista, mostrando-se ao mesmo tempo intransigente e combativo na defesa da verdade, e acessível ao responder minuciosamente a todas as perguntas, ainda que hostis e agressivas, de tal modo se impôs, que as duas sessões decorreram na mais completa tranquilidade.
Muito expressivo é este "flash" que a reportagem colheu na primeira noite, enquanto o auditório formulava as questões. Num dos grupos de esquerdistas, um estudante dizia a outro: "Cuidado com as perguntas que você faz, porque, senão, ele nos esmaga; faça perguntas inteligentes..."
Mais significativa, ainda, foi a cena a que o repórter assistiu à saída da última conferencia: estudantes anticomunistas, com ar vitorioso, aproximavam-se dos grupos formados pelos socialistas, e lhes falavam em tom ora amigo, ora irônico, interpelando-os sobre as conferencias, indagando de suas impressões, colhendo os louros do magnífico êxito que a boa causa acabava de obter.
Nos arraiais esquerdistas, que no nosso mundo paganizado se mostram habitualmente à vontade, alegres e triunfantes, as fisionomias exprimiam desaponto e preocupação. Raramente se esboçava uma tentativa de explicação. Um socialista, em quem é preciso reconhecer uma meia-sinceridade, disse o que os demais não queriam dizer e gostariam de poder negar para si mesmos: "Realmente, tenho que reconhecer que a exposição foi muito boa"...