Em nosso hemisfério a política dos sonâmbulos dirigentes ocidentais vem favorecendo o comunismo
(continuação)
em todos os países sob o jugo marxista, sofrem as injustiças desse regime frontalmente contrario às mais elementares liberdades dos filhos de Deus. E o reconhecimento desses governos que abertamente se situam fora da lei natural, sem sombra de dúvida vem fortalecer os elos da cadeia que escraviza essas imensas legiões de infelizes.
Ainda recentemente tomávamos conhecimento das razões que um conhecido diplomata ocidental invocava para a admissão de China comunista na ONU: «O embaixador figura o caso de um governo brasileiro ser deposto, por um movimento qualquer, e conseguir instalar-se num pequeno Estado da Federação, proclamando a independência deste, e depois se reconhecer este pequeno Estado como o Brasil, ignorando o resto. Seria o mesmo caso, o mesmo erro». O impressionante é que essa enormidade é dita com a maior naturalidade, não parecendo atinar quem as profere com o que realmente se acha em jogo. O crime deixa de ser crime pelo fato de ser praticado por uma eventual maioria. Que interessa a esses cegos diplomatas do Ocidente cristão o destino reservado àqueles que, em Formosa, esperam o auxílio do mundo livre para libertar seus irmãos do jugo comunista implantado em vastíssimas regiões do continente asiático?
Ora, se aplicássemos ao problema os critérios ditados pela lógica e pela coerência, veríamos que as mesmas razões que impedem o reconhecimento da China comunista pelos povos livres, deveriam impedir o reconhecimento do regime despótico que trucidou os heróis da resistência húngara, bem como de todos os governos títeres de Moscou.
COMO SE FORJAM CRISES FAVORAVEIS AO MUNDO COMUNISTA
Mas há gradações nessa cegueira que leva ao suicídio os povos do Ocidente. E é assim que nesse jogo de vaivém destinado a forçar uma sempre maior receptividade em relação ao comunismo, Kruchev passa a ser agora uma personagem bem simpática e compreensiva, com quem se pode entrar em negociações, ao contrario do lobo mau que é o carrancudo Mao Tsé-tung, que se mostra impermeável a qualquer entendimento. Com muita facilidade se esquece o bater de sapatos sobre a mesa da ONU, e se abstrai que, do ponto de vista ideológico, o fariseu Kruchev continua fiel à linha marxista-leninista, embora dê uma folga ao Ocidente para investir como uma fúria contra o cadáver de Stalin, outra prova inequívoca, aos olhos de toda classe de cegos, de que está havendo uma reviravolta no comunismo soviético.
E o curioso é que, quando atentamos para as negociações que vêm sendo propostas pelo governo russo, verificamos que elas invariavelmente dizem respeito a pontos nevrálgicos situados fora da área encerrada pela cortina de ferro e de bambu. E já houve quem observasse, aliás com bom senso nada excepcional, que a causa comunista só tem a ganhar e nada a perder com tais negociações, todas elas referentes a crises artificialmente suscitadas em países livres. Quando acontece, fora da programação soviética, que uma crise estoure além da cortina de ferro, como foi o caso da Hungria, todo o mundo sabe que o diplomata Kruchev resolve a questão com tanques e canhões. Assim, por exemplo, fala-se muito da crise da Coréia do Sul, do Vietnã, do Laos ou de Berlim ocidental, mas ninguém tem notícia de negociações em torno da Coréia do Norte, da Polônia, da Lituânia ou mesmo de Berlim oriental.
De modo que, se bem atentarmos para o caminho percorrido, particularmente neste ano que findou, veremos que o resultado dessas negociações é sempre a favor das pretensões Comunistas.
Em nosso hemisfério, como fruto dessa política dos sonâmbulos dirigentes ocidentais, temos a consolidação do comunismo em Cuba, a ascensão de um chefe de governo socialista na Guiana Britânica, uma situação perigosamente favorável ao domínio soviético em São Domingos, além de outros focos de agitação esquerdista em países da América Central e do Sul.
Quanto ao Brasil, apesar de nossa capacidade de resistência, o quadro não deixa de apresentar sombras inquietadoras. Como no resto do mundo livre, a causa do comunismo entre nós é promovida muito menos pelos militantes do PCB, do que pela enorme ajuda que lhes vem de outros e às vezes insuspeitados setores.
CONFUSÃO, INSENSATEZ
Vejamos a questão da «Reforma Agrária», que aqui foi suscitada pela primeira vez logo após a segunda guerra mundial, em relatório de «técnicos» da ONU que chegaram à conclusão de que a nossa agricultura se achava em fase feudal, tornando necessário o fracionamento dos «latifúndios» para entregar a terra a quem a cultivasse com suas próprias mãos.
De lá para cá, ao lado das mais que suspeitas Ligas Camponesas, indulgentemente aceitas por aqueles a quem incumbiria a repressão de suas atividades criminosas em nossos campos, surgiu toda uma série de projetos de «Reforma Agrária», cujo colorido ia das mais suaves tonalidades róseas, ao mais berrante vermelho. Em fins do ano de 1960, saiu a lume o providencial livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência» destinado a alertar a opinião pública quanto à ameaça que pesava sobre nossa tão desamparada agricultura. Então, ao lado do decidido apoio de extensos setores do povo brasileiro, teve início uma campanha para lançar uma cortina de fumaça sobre os patrióticos propósitos dos autores daquela obra. Vozes se levantaram inflamadas para declarar que a «Reforma Agrária» é uma fatalidade tão inelutável quanto a lei da queda dos corpos, e se fará sem nós ou contra nós, razão pela qual cumpre aceitá-la sem mais discussão. Assim como quem dissesse: «Façamos o comunismo antes que Kruchev o faça». E até a grande Encíclica «Mater et Magistra» vem sendo usada, através de textos violentados e deturpados, por aqueles que desejam implantar o socialismo em nossa terra por vias «evolutivas», tão irreversível se lhes apresenta o fenômeno da marcha do mundo para o coletivismo totalitário.
Debalde os novadores e fumadores de ópio do panteísmo gnóstico porfiam em torturar as palavras do Papa, no afã de dar a entender ao público incauto que a Igreja presta um concurso impossível à causa da subversão universal, ao advento do omniarca totalitário, instrumento do demônio para varrer da face da terra a harmonia que o Filho de Deus veio estabelecer entre a ordem natural e a ordem sobrenatural.
«Adorabunt eum omnes reges terrae: omnes gentes servient ei» — «Adorá-Lo-ão todos os Reis da terra, e os povos todos O servirão», proclama a Sagrada Liturgia na festa da Epifania (Ofertório). Vivemos tempos de confusão e de insensatez. Mas se o comunismo é o flagelo que a Virgem de Fátima em 1917 anunciou como castigo a ser infligido por Deus pelos pecados do mundo; façamos violência aos Céus pelas nossas orações, boas obras e penitencias para que não tarde a raiar o dia em que, por fim, o Imaculado Coração triunfará. E em que de novo os dirigentes de todas as nações, identificados com os povos que governam, adorarão e servirão Aquele que é o único a quem a humanidade pode ir, pois somente Ele tem palavras de vida eterna (cf. Jo. 6, 69).
1ª Página:
Adoração dos Magos — Catedral de Colônia — Quadro do século XV:
REFORMA AGRÁRIA - QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA EM TRINTA DIAS
• O Exmo. Revmo. Sr. D. José Mauricio da Rocha, DD. Bispo Diocesano de Bragança, acaba de publicar notável "Carta Pastoral apresentando a Encíclica Mater et Magistra" na qual se refere à obra RA-QC nos seguintes termos:
"É de recente publicação substancioso livro, que já corre pela 3a edição, escrito por dois Senhores Bispos e por dois leigos especializados no assunto sobre reforma agrária.
"Havendo sempre as duas faces da medalha, há reforma agrária aceitável e há reforma agrária inaceitável, dependendo tudo de fatores diversos.
"No caso, a opinião dos autores do aludido livro, que o escreveram com reta intenção e com patriotismo, visando o bem geral, é a seguinte nele exarada assim: "Se por reforma agrária se entende uma legislação que, sem exorbitar das funções do Estado e sem atacar o princípio de propriedade privada, visa a melhorar a situação do trabalhador rural e do agricultor, só aplausos lhe temos a dar. Não nos opomos senão a uma reforma agrária de sentido igualitário e socializante, que altere nossa estrutura agrária injustamente, de maneira a abalar o instituto da propriedade, no qual vemos, como já dissemos, a base e a condição de toda economia sadia".
"Estas palavras injustificam a celeuma, que, com perda de tempo e tinta, se levantou, sem fundamento, contra o referido livro".
• RA-QC foi elogiada ou citada de modo favorável nos seguintes artigos: "A Igreja e o agro-reformismo", de D. A. C., no "Monitor Campista", desta cidade; "Paçoca Agrária", do Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira, criticando a revisão agrária paulista, em "O Unitário"; de Fortaleza; "Reforma agrária artificial inadaptável ao nosso País", do Sr. Paulo Eugenio de Niemeyer, em "O Jornal do Rio de Janeiro"; "Reforma agrária e socialismo", do Prof. Paulo Corrêa de Brito Filho, em "O Diário", de Santos, e "O Diário de Pernambuco", de Recife; "Procura-se um economista favorável à reforma agrária", do Eng. Plinio Vidigal Xavier da Silveira, em "A Voz do Povo", de Olímpia (SP). Outras referências elogiosas a RA-QC foram publicadas no "Correio do Sul", de Bagé (RS), no "Estado de Minas", de Belo Horizonte, em "A Voz do Povo", de Olímpia (SP), e no "Diário de São Paulo". Referencias desfavoráveis ao livro foram feitas nas páginas de "Última Hora", de São Paulo, e de "O Alfenense", de Alfenas (MG).
• Elementos esquerdistas ou esquerdizantes da UEE de Minas Gerais protestaram contra o fato de aquela entidade ter promovido uma conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, um dos autores de RA-QC, sobre a reforma agrária (cf. "Catolicismo", no 132, de dezembro p. p.), exigindo que o líder agro-reformista Deputado Francisco Julião fosse convidado para falar sobre o mesmo tema.
• "Le Monde", um dos mais importantes jornais de Paris, estampou em sua edição de 16 de novembro p. p. uma nota sobre a repercussão de RA-QC, que "está tendo um grande êxito no Brasil e suscitando numerosas discussões entre os especialistas e os membros do Clero".
• "La Tradición", revista cultural católica de Salta, no Uruguai, dirigida pelo Revmo. Pe. Hervé Le Lay, publicou extenso comentário sobre RA-QC, apresentando as principais teses da obra e dados biográficos de seus autores.
• A AICA, agencia noticiosa de Buenos Aires, registra em seu Boletim Informativo de 10 de novembro p. p. que RA-QC "se transformou em best-seller no Brasil", acrescentando que "tem o mérito de haver estimulado o interesse pelo problema" da reforma agrária.
• RA-QC foi objeto de debates na Assembleia Legislativa do Paraná, a propósito da posição da Igreja em face da reforma agrária.
• O economista Luiz Mendonça de Freitas, um dos autores de RAQC, proferiu uma das conferencias oficiais da Exposição de Animais de Alfenas, MG, tratando do tema da reforma agrária.
• Em viagem de propaganda de RA-QC estiveram visitando várias zonas do Rio Grande do Sul os Srs. Manoel de Souza Pinto, Wilson Gabriel da Silva, Hagop Seraidárian, Marcelo Fedeli, João Clá Dias e Luiz Gonzaga Franco Soares.
• De passagem por Vacaria, e a convite da direção da Rádio local, o Sr. Fabio Vidigal Xavier da Silveira ocupou o microfone daquela emissora para falar sobre a reforma agrária e apresentar o livro RA-QC, respondendo em seguida, durante hora e meia, às numerosas perguntas feitas, por telefone, pelos ouvintes.
• Por ocasião do primeiro aniversário do lançamento de RA-QC, que transcorreu a 10 de novembro último, a Editora Vera Cruz publicou na imprensa paulista o seguinte comunicado:
"A Editora Vera Cruz comemora hoje o primeiro aniversário do lançamento de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", de autoria de D. Geraldo de Proença Sigaud —Arcebispo de Diamantina, de D. Antonio de Castro Mayer — Bispo de Campos, do Professor Plinio Corrêa de Oliveira e do economista Luiz Mendonça de Freitas.
"Três edições do monumental trabalho, num total de 22 mil volumes, se escoaram inteiramente nesses doze meses, estando já no prelo a 4ª edição.
"A repercussão da obra nos círculos rurais, na mocidade universitária e nos ambientes culturais, políticos e sociais de todo o País, em boa medida se deveu, nos diversos Estados da Federação, à cooperação desinteressada e entusiasta de propagandistas espontâneos, das mais variadas classes sociais, empenhados em evitar que através de uma reforma agrária socialista e anticristã o Brasil enveredasse pelo triste rumo do fidel-castrismo.
"A esses propagandistas, em torno dos quais se constituiu uma poderosa corrente de opinião pública, a Editora expressa, em seu nome próprio e no dos Autores, todo o seu reconhecimento e simpatia".
• O stand da Editora Vera Cruz na VII Feira do Livro de Porto Alegre teve extraordinária repercussão. Antes mesmo de sua instalação, várias vezes a imprensa local comentou o fato inédito de que ele se destinava a vender um só livro. Iniciada a Feira, elementos comunistas, ameaçando depredações, passaram a reclamar contra a existência, no stand, de cartazes anti-agro-reformistas, especialmente um que relacionava a reforma agrária expropriatória com o regime comunista de Fidel Castro. Diante disso, a direção da Feira tomou a surpreendente iniciativa de solicitar a retirada do cartaz. Inconformada, a Editora telegrafou à Comissão Organizadora perguntando a que órgão superior poderia recorrer contra decisão tão infeliz. Não menos surpreendente foi a resposta. Assinava-a o próprio órgão a que deveria ser dirigido o recurso, ou seja, a presidência da Câmara Brasileira do Livro — Secção de Porto Alegre, que, sem ter ouvido a Editora, confirmava a decisão da Comissão Organizadora. Recusando-se á tomar conhecimento dessa resposta, que feria o mais comezinho princípio de justiça, expresso no velho brocardo "audiatur et altera pars", a Vera Cruz apresentou regularmente seu recurso para o órgão competente. Tendo o presidente da Secção local da Câmara Brasileira do Livro mantido então a exigência da Comissão Organizadora da Feira, a Editora retirou o cartaz alusivo a Fidel Castro, e fez publicar na imprensa da capital gaúcha o seguinte comunicado:
"Tendo despertado viva simpatia na Feira do Livro um cartaz da parte interna do stand da Vera Cruz, editora de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", em que figura o tirano comunista Fidel Castro e em que se mostra a afinidade entre a reforma agrária cubana e o agro-reformismo confiscatório brasileiro, sentimo-nos na obrigação de dar ao público rio-grandense uma explicação sobre os motivos que nos forçaram a retirar o referido cartaz: 1 — A Editora mantém integralmente as afirmações nele contidas. Ela só o retirou para obedecer a uma imposição da direção da Feira, que alegou para tanto desejar evitar no recinto da exposição qualquer propaganda ideológica e recear revide promovido por comunistas. 2 — Submetendo-se à deliberação da direção da Feira, a Editora Vera Cruz manifesta sua estranheza e seu pesar pelo fato de que ela se haja implicitamente declarado neutra entre o princípio cristão da propriedade privada e a ideologia dissolvente e pagã do comunismo, e tenha afirmado sua impotência para garantir contra violências dos agentes de Fidel ou de Kruchev um cartaz que se destinava à defesa dos princípios básicos da civilização cristã no Brasil. — EDITORA VERA CRUZ".
Depois desse comunicado, numerosas pessoas passaram pelo stand para hipotecar solidariedade à Editora. Estudantes da Universidade do Rio Grande do Sul, em número de 236, assinaram e publicaram o manifesto que passamos a reproduzir:
"Os estudantes abaixo assinados da Universidade do Rio Grande do Sul vêm de público: 1 — expressar sua repulsa às violências sofridas por uma Editora, a lançadora de "Reforma Agrária — Questão de Consciência", durante a última Feira do Livro; 2 — reafirmar o direito que possui essa Editora de continuar esclarecendo a opinião pública sobre a debatida questão agrária, com o referido livro; 3 — alertar a opinião pública sobre o sempre crescente e notório perigo comunista em nosso Estado e em nosso País, uma vez que, de maneira inédita, já se atenta contra a própria liberdade de expressão e pensamento".
O caso repercutiu amplamente na imprensa escrita e falada de Porto Alegre, tendo a TV Piratini chegado a noticiar que o cartaz havia sido retirado por agentes do DOPS.
A França revolucionária, que preparou esta sepultura para glorificar seu grande profeta, teve o senso das conveniências, não colocando nenhum símbolo cristão no tumulo de Jean Jacques Rousseau (no clichê, gravura da época), o doutrinador do ímpio dogma da soberania popular absoluta. Infelizmente, não faltam católicos que procuram amalgamar esse dogma com os da Igreja, numa tentativa que os próprios revolucionários consideram um "non sens".
Na perspectiva do próximo concílio
Algumas manifestações da desoladora confusão ideológica entre Católicos
Plinio Corrêa de Oliveira
Cada hora que passa vai incrementando entre os fiéis a ânsia pelo dia abençoado em que se reunirá o II Concílio do Vaticano, convocado providencialmente pelo Papa João XXIII, gloriosamente reinante.
Entre as muitas razões que justificam essa espera apressada e jubilosa, está sem dúvida a esperança fundada de que em conseqüência do Concílio venha a cessar a espantosa desorientação que lavra em numerosos ambientes católicos. Essa desorientação vai tomando no Brasil e no mundo proporções verdadeiramente apocalípticas, e constitui a meu ver uma das maiores calamidades de nossos tempos. No decurso de 1961, ela se manifestou com uma amplitude sem precedentes. E se entre os bons lavra a desordem, como esperar que subjuguem o mal?
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Três fatos bem diversos, que nos pareceu conveniente reunir neste comentário, dão bem uma idéia de quanto se difundiu entre os próprios católicos a obnubilação dos princípios mais firme e constantemente ensinados pelos Pontífices Romanos.
Comecemos pela entrevista que o Presidente John F. Kennedy — católico de projeção em seu país — concedeu no dia 25 de novembro p.p. em sua residência de Hyannis Port, Massachusetts, ao redator-chefe do jornal moscovita “Izvestia”, Alexei Adzhubei. Reportamo-nos ao texto integral publicado em “O Estado de São Paulo” de 29 do mesmo mês.
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Para um verdadeiro católico, as relações entre as potências ocidentais e as comunistas devem ser inspiradas pelos princípios seguintes:
1 - A existência de um regime autenticamente comunista em seu espírito e em sua atuação concreta importa necessariamente na institucionalização de todas as injustiças. Pois sujeita todos os homens a uma igualdade antinatural e despótica, e cria todo um conjunto de leis, instituições, sistemas e costumes que, prescindindo inteiramente do princípio da propriedade, viola fundamentalmente a ordem natural criada por Deus.
2 - Sendo intimamente conexos o instituto da propriedade e o da família, o comunismo, por motivos análogos aos que o levam a negar a propriedade, nega também o matrimônio e a família. Com isto, institucionaliza o concubinato, e nega ipso facto o 6º e o 9º mandamentos da Lei de Deus.
3 - Por seu caráter visceralmente ateu e materialista, o comunismo não pode deixar de ter em mira a completa destruição da Igreja Católica, guardiã natural da ordem moral, inconcebível sem a família e a propriedade.
4 - Em razão de seus princípios mais básicos, o comunismo não pode contentar-se em viver no interior das fronteiras de um Estado ou de um grupo de Estados. Muito mais do que um partido político, ele é uma seita filosófica que contém em si uma cosmovisão. E por isto mesmo que sua doutrina envolve uma concepção do universo, tende logicamente a reger segundo seus princípios todo o orbe.
5 — No interior de cada país, como no plano internacional, o comunismo está num estado de luta inevitável, constante, multiforme, com a Igreja e os Estados que se recusam a deixar-se tragar pela seita marxista. Esta luta é tão inexorável, tão ampla, tão implacável, quanto a que existe entre Nossa Senhora e a Serpente. Para a Igreja, que é indestrutível, ela só cessará com o esmagamento final da seita comunista. Para as nações cristãs, que são perecíveis, ela só poderá cessar pela escravização delas, ou pela extinção do comunismo não só no Ocidente mas por toda a face da terra, inclusive nos antros mais recônditos de Moscou, Pequim e alhures.
6 — Não quer isto dizer que se deva desesperar de manter a paz na terra. Pio XII fez e João XXIII continua fazendo, pelo contrário, tudo quanto por ela tem sido possível fazer. Mas esta atuação não corresponde de nenhum modo à idéia de que poderia haver uma conciliação entre comunistas e católicos. Ela provém da esperança de que a mutabilidade das coisas humanas e a ação benfazeja da Providência abram curso a acontecimentos que possibilitem a ruína do marxismo sem os horrores de uma guerra. O declínio do comunismo, por exemplo, por alguma reação profunda das massas na Rússia ou na China.
7 — Tudo isto posto, não se pode admitir entretanto que a coexistência entre os países cristãos e os comunistas seja susceptível de ter a estabilidade, a compostura, a coerência inerente ao Direito Internacional que deve reger as nações cristãs. Pois o Direito Internacional supõe a probidade no trato entre os povos. Ora, a probidade supõe a aceitação de uma moral. E é inerente à doutrina comunista que a moral é um mero e vácuo princípio burguês.
8 — Não se pode admitir tampouco que um Estado comunista seja capaz de proporcionar a seus súditos — melhor diríamos seus escravos — verdadeiro bem-estar, progresso civil genuíno. Ele pode dar esta ilusão, concentrando em uma ou duas cidades todos os recursos oriundos do trabalho forçado dos milhões de súditos de um império fabuloso, como o russo. Mas isto é muito diverso, é exatamente o oposto de criar o verdadeiro bem-estar coletivo e individual em todas as partes deste império. Esta irremediável esterilidade dos Estados comunistas para todo progresso verdadeiro provém do fato de que eles são a “des-ordem”, a antiordem institucionalizada. E da violação frontal e sistemática de tantos princípios da ordem posta por Deus não pode decorrer a verdadeira prosperidade, pelo mesmo motivo pelo qual não pode funcionar satisfatoriamente um motor cujas peças estejam em desordem.
9 — A esta razão natural, acresce outra, sobrenatural. Os povos, como os indivíduos, não podem prescindir das bênçãos de Deus. Ora, um povo que se constituísse voluntariamente em Estado comunista violaria gravissimamente a Lei de Deus. Irrogando uma injúria atroz ao Criador, como poderia deixar de atrair sobre si a cólera divina?
Examine o leitor cada um destes itens, e depois nos responda: pode manifestar-se em desacordo com qualquer deles uma católico que conheça o que é o comunismo e ao mesmo tempo leve a sério sua Religião?
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Se assim deve pensar todo católico, como explicar várias tiradas da entrevista do jovem Presidente estadunidense, que timbra em se afirmar católico?
Vejamos alguns exemplos.
1 — Diz ele, a certa altura, o seguinte:
“Acho, que a União Soviética e os Estados Unidos deveriam viver juntos, em paz. Somos povos grandes, realizadores, estamos continuamente procurando em nossos países melhorar o nível de vida. Se pudermos manter a paz por vinte anos, a vida do povo da União Soviética e a vida do povo dos Estados Unidos será muito mais rica e muito mais feliz, à medida que for continuamente elevando-se o nível de vida”.
Perguntamos: pode ser “realizador”, no sentido profundo da palavra, pode crescer autenticamente em riqueza, um povo governado com menosprezo de todas as leis naturais e divinas? Mas, dirá alguém, e o poderio militar russo, os êxitos astronáuticos, a expansão da propaganda marxista em todo o universo? Alcançar um grande poderio militar é na Rússia o fruto da escravização e não da boa ordem da nação. Quanto aos êxitos astronáuticos, só por eles não se mede o progresso de todo um país, mas apenas o trabalho de uma equipe de cientistas para o custeio do qual sua, labuta e geme todo um povo. Quanto ao sucesso da expansão comunista, isto é realizar? Só se “realização” é a exploração das mais baixas paixões humanas para generalizar no mundo o ódio, a luta de classes e as ruínas de toda ordem.
2 — Mais adiante, o Sr. Kennedy afirma:
“O que produz dificuldades é o esforço da União Soviética em comunizar o mundo inteiro. Se a
(continua)