O Santo Oficio adverte contra erros referentes à virtude da castidade
Sebastiano Masala, Notário
A «Acta Apostolicae Sedis» publica, em seu n° 10-11 do ano LIII, datado de 22-25 de setembro último (p. 571), o oportuníssimo «Monitum» da Suprema Sagrada Congregação do Santo Oficio que passamos a traduzir do latim:
Esta Suprema Sagrada Congregação, sabendo com segurança que por toda parte se divulgaram e ainda se divulgam muitas e perigosas opiniões sobre os pecados contra o 6° mandamento do Decálogo e sobre a imputabilidade dos atos humanos, resolveu publicar as seguintes normas:
Os Bispos, os Reitores das Faculdades Teológicas e os Diretores dos Seminários e das escolas de Religiosos exijam absolutamente, daqueles a quem incumbe o múnus do ensino da teologia moral ou de disciplina congênere, que rigorosamente se conformem à doutrina ensinada pela Igreja: (cfr. can. 129).
Os censores eclesiásticos usem de grande cautela no exame e no julgamento dos livros e periódicos em que se trata do 6° mandamento do Decálogo.
1 - Aos Clérigos e Religiosos é proibido o exercício da atividade de psicanalistas, segundo a intenção do can. 139, § 2°.
2 - Deve ser reprovada a opinião dos que afirmam que o estudo prévio da psicanálise é absolutamente necessário para a recepção das ordens sagradas, ou que os candidatos ao sacerdócio e à profissão religiosa devem submeter-se aos exames e às investigações psicanalíticas propriamente ditas. Isto vale também se se trata de examinar a necessária aptidão para o sacerdócio e para a profissão religiosa. Do mesmo modo, os Sacerdotes e os Religiosos de ambos os sexos não consultem psicanalistas, a não ser que, por uma causa grave, o seu Ordinário o permita.
Dado em Roma, no Palácio do Santo Ofício, no dia 15 de julho de 1961.
VERDADES ESQUECIDAS
O ESTADO DEVE FAVORECER O BEM COMUM ESPIRITUAL
Os Bispos congoleses, no momento em que seu país se tornava soberano, afirmaram (apud Emmo. Cardeal Paul Emile Léger, Arcebispo de Montreal, em alocução de 7-X-1960, publicada em Tradition et Progrès, Montréal, vol. 3, n.° 4):
Esperamos firmemente que o Estado congolês se esforçará sempre por promover o bem temporal de seus súditos sem nunca esquecer os altos destinos espirituais destes. Os bens temporais não poderão jamais se tornar um fim em si; eles são meios, necessários sem dúvida, mas apenas meios para ajudar os homens a realizar sua vocação sobrenatural. A melhor garantia da felicidade dos povos será sempre o reconhecimento público dos direitos imprescritíveis do Criador.
MONS. SALES BRASIL,
GRANDE AMIGO DE "CATOLICISMO"
“Catolicismo” consigna em suas páginas todo o pesar que lhe causou o falecimento do piedoso e ilustre Mons. Francisco de Sales Brasil, ocorrido em Salvador no dia 4 de dezembro último, pouco depois da sessão solene em que o escol dos meios religiosos e intelectuais da Bahia o homenageou por motivo do jubileu de prata de sua ordenação sacerdotal.
Mons. Francisco de Sales Brasil exercia funções de relevo na Arquidiocese de São Salvador, pois era examinador sinodal, Cônego capitular e professor do Seminário. Além disto, era Prelado da casa de Sua Santidade.
Geralmente benquisto por suas virtudes sacerdotais, bem como pelo trato afável e cortês, sua figura se projetou sobretudo como jornalista e escritor. E, graças à cultura, à inteligência e à «verve» que a este título evidenciou, era o pranteado Mons. Brasil uma das primeiras figuras intelectuais dos meios católicos brasileiros. Especialmente sua campanha vitoriosa contra o cunho comunista da obra infantil de Monteiro Lobato, consagrou-o definitivamente como pensador penetrante e polemista de envergadura.
Entre tantos dotes, tinha especial realce na personalidade de Mons. Sales Brasil seu amor à ortodoxia. Não duvidou em sair a campo mais de uma vez, com penetração e brilho, na luta contra os desvios doutrinários que se têm manifestado não só fora como dentro das fileiras católicas.
Seus brilhantes artigos sobre o livro «Reforma Agrária — Questão de Consciência», que publicamos nesta folha, são uma expressão genuína de sua argúcia e de sua combatividade.
No momento em que redigimos estas notas, temos em mãos um precioso legado do saudoso Sacerdote: é o livro «Em Defesa», coletânea atraente e substanciosa de seus principais artigos, publicada por alguns amigos por ocasião de seu jubileu sacerdotal. Pretendemos comentar oportunamente o importante volume.
Pedimos a nossos leitores que sufraguem a alma desse grande amigo de «Catolicismo», cuja intercessão no Céu certamente não nos faltará.
MAIS UM SABOROSO ARGUMENTO PARA OS EVOLUCIONISTAS.
Atanasio Aubertin
É conhecido de modo mais ou menos universal o caso do homem de Piltdown, que constitui o maior escândalo de que se tem notícia na história da paleontologia humana. Um grupo de pesquisadores britânicos, como Sir W. Le Gron Clark, Oakley, Weiner, Claringball, Hey e Vries, demonstrou, ao longo destes últimos dez anos, que tudo foi fraudulento no achado de Piltdown: mandíbula de gorila associada a crânio humano, ambos tingidos com sulfato de ferro para aparentar idade, implementos líticos também tingidos, ossos de animais pré-históricos trazidos de outras regiões, etc., etc. Pensou-se até há pouco tempo que o crânio fosse antigo e a mandíbula de macaco, recente. Pois nem isso é verdade, já que medidas de idade feitas com carbono radioativo (cf. H. de Vries e H. P. Oakley — «Nature», vol. 184, p. 224, 1959) mostraram que o crânio «pré-histórico» de Piltdown tem apenas 600 anos. Não se sabe ao certo quais foram os autores do monstrengo com mandíbula de macaco e crânio de homem, encontrado por Smith Woodward, Dawson e o Revmo. Padre Teilhard de Chardin, S. J.
Outra fraude, não tão importante, mas também muito significativa, e ainda desconhecida do grande público, veio a ser constatada em 1957 e confirmada em 1961. Referimo-nos à mandíbula infantil de Ehringsdorf.
Essa mandíbula foi descoberta, em 1916, em estratos arqueológicos do Paleolítico Médio, situados nos arredores da cidade alemã de Ehringsdorf; trata-se pois de um fóssil da raça humana neanderthalense. Em 1920 o achado foi reconstituído pelo cientista alemão Hans Virchow. Pelo trabalho de Virchow os paleontologistas ficaram «sabendo» que a sucessão da irrupção dentaria na segunda dentição da raça de Neanderthal era semelhante à dos primatas e antropóides, e diferente da nossa. A mandíbula juvenil considerada «evidenciava» que naquela raça o molar 2 surgia antes do pré-molar 2, contrariamente ao que acontece com o homem moderno. Dai passou-se a considerar, nos meios científicos, que a evolução dentaria nos homens de Neanderthal era intermediaria entre a que se verifica nos macacos e a que ocorre no homem atual. Como vemos, um saboroso argumento para os evolucionistas.
Mas, já em 1939 surgia uma primeira dificuldade seria nesta questão. Um paleontólogo russo descobriu em Teshiktash, no Uzbekistão, uma mandíbula infantil neanderthalense pela qual se tornava evidente que a sucessão da segunda irrupção dentaria no homem de Neanderthal era idêntica à dos homens modernos (cf. A. Houghton Brodrick — «El Hombre Prehistórico» — Fondo de Cultura Económica, p. 228, 1955).
O saboroso argumento para os evolucionistas acaba de receber agora o golpe de misericórdia. Os cientistas norte-americanos K. Koski S. M. Garn mostraram que na mandíbula de Ehringsdorf se tinha arrancado um molar da primeira dentição e posto em seu lugar um molar da segunda, a fim de sugerir esta sucessão de irrupção dentaria: molar 2 — pré-molar 2 (cf. K. Koski e S. M. Garn — «American Journal of Physical Antropology», nova série, vol. 15, p. 469, 1957).
Recentemente o paleontologista francês Pierre Legoux, em comunicação à Academia de Ciências de Paris (Pierre Legoux — «Comptes Rendus de l'Académie des Sciences», tomo 252, p. 1821, 1961), mostrou que toda a mandíbula é fraudulenta, tendo sido deliberadamente montada e apresentando flagrantes contradições entre suas diversas partes. O Prof. Legoux assim sintetiza o resultado de suas pesquisas: «Montagem deliberada. (...) Esta mandíbula é pois arbitrariamente constituída de fragmentos estranhos uns aos outros. (...) Os diversos estágios de evolução dentaria que ela apresenta não concordam, além do mais, entre si. (...) Não é mais possível, portanto, referir-se à mesma para provar a ordem de sucessão M2 — P2 entre os hominídeos, já que essa montagem parece falsa e não pode ser invocada para provar uma ordem de evolução em contradição com seus aspectos biológicos evidentes».
Estas fraudes não sugerem a existência de forças interessadas em impingir a todo custo a teoria evolucionista, em enganar o público, em confundir os defensores da doutrina tradicional da Igreja?
Os acontecimentos dramáticos que marcaram tão a fundo a vida brasileira no decurso de 1961, deram ocasião a que se acentuasse em "Catolicismo" um aspecto que sempre o caracterizou, mas que ganhou muito realce devido às circunstâncias. É seu profundo interesse pela realidade brasileira quotidiana, viva e palpitante.
Nos anos anteriores, "Catolicismo", sem cerrar os olhos, é claro, ao que se passava no País, se vinha preocupando mais especialmente com o desenrolar da Revolução no plano internacional. Em 1961, pelo contrário, ei-lo que toma atitude, com uma precisão e uma energia sem precedentes, em face dos problemas brasileiros.
A razão disto é óbvia. A Revolução, que vinha progredindo a fogo lento no âmbito nacional, tinha no cenário internacional o aspecto de um verdadeiro incêndio. Mas nestes doze últimos meses as proporções se inverteram. A Revolução passou a apresentar no Brasil o caráter de um incêndio alarmante, em progressão ainda mais acentuada do que no plano mundial.
Com sua admirável percepção das realidades, "Catolicismo" foi sensível a esta transformação. E, mantendo-se embora alheio às rivalidades pessoais, às disputas de mero alcance eleitoreiro, ao que em suma se pode chamar politicagem e demagogia, ele soube participar a fundo do drama brasileiro. A fundo, dizemo-lo de propósito, porque, em meio a tantos acontecimentos deploráveis, manifestou-se no ano passado um que merece registro alvissareiro. De modo geral, havia várias décadas que a vida pública do Brasil decorria em um ambiente em que mais se viam os homens que as ideias. Agora, ao impacto da luta social artificialmente fomentada de Moscou, Pequim e Havana, as ideias começam a tomar vulto, as pessoas vão perdendo importância, e implicitamente os acontecimentos vão ganhando em profundidade.
Realmente, uma vez que se fala em termos confiscatórios e socialistas de reforma agrária, reforma industrial, reforma urbana, reforma bancaria, etc., há um problema capital que assoma ao espírito de milhões de brasileiros: serão justas estas reformas? E, desde logo, se o problema se põe em termos morais, é para a Igreja, guardiã e mestra da moralidade, que se voltam todos os olhos. A pergunta ganha ipso facto em precisão, e se enuncia assim: segundo a doutrina católica, são justas estas reformas?
Ninguém, por mais que queira, conseguirá escamotear o caráter fundamentalmente moral e religioso destes problemas, para tentar resolvê-los em termos meramente econômicos e laicos. O Brasil autêntico, modelado por uma formação cristã de mais de quatro séculos, não aceitará este modo neopagão de ver as coisas.
Por tal motivo, porque o público quer conhecer os aspectos doutrinários mais profundos dos problemas sociais e econômicos, e não se contenta mais com explicações superficiais e vazias, a hora é chegada para o exercício de uma grande missão para a imprensa que serve, não a pessoas, mas a princípios. E quem poderá negar que nas fileiras desta imprensa brilha em lugar inconfundível, por sua ortodoxia, sua coerência, sua afirmatividade, sua coragem, nosso tão amado "Catolicismo"?
Abençoando de coração esse jornal na oportunidade de seu 11º aniversario, damos-lhe assim por diretriz, para o novo ano de vida que ele inicia, o serviço sempre mais denodado dos princípios a que, com tanto êxito, até aqui se vem consagrando. Melhor contribuição não poderia ele prestar para a orientação de nossos diocesanos nos dias difíceis que, segundo parece, o ano de 1962 trará consigo.
Que Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, o inspire e o guie sempre na realização desta alta tarefa.
† Antonio, Bispo de Campos