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CALICEM DOMINI BIBERUNT

A PATARIA,

UMA ASSOCIAÇÃO GLORIOSA

Fernando Furquim de Almeida

A história da Pataria é pouco conhecida nos meios católicos, embora seja de capital importância para uma boa compreensão da luta das investiduras, na qual São Gregório VII se opôs às pretensões regalistas do Imperador Henrique IV. É, pois, conveniente recordarmos as principais fases da vida dessa gloriosa associação, antes de narrarmos a sua ação sob o pontificado de São Gregório VII.

A Pataria surgiu em Milão no século XI, quando Guido da Velate sucedeu a Ariberto de Intimiano no sólio da arquidiocese ambrosiana. Seus fundadores foram Santo Arialdo, que morreu martirizado pelos simoníacos, Anselmo da Baggio, depois Papa sob o nome de Alexandre II, e Landulfo Cotta, clérigo virtuoso e de nobre família, fiel companheiro dos dois primeiros. Essa associação tinha por finalidade combater a simonia e o nicolaísmo — duas pragas que corroíam as fileiras do clero católico nessa época conturbada — apoiando a reforma que o monge Hildebrando iniciara e, como Arquidiácono da Santa Igreja Romana, incentivava e conduzia.

O Arcebispo Guido da Velate logo se revelou protetor dos adversários da reforma. Ele mesmo era suspeito de simonia, e para confundir os católicos foi a Roma justificar se. O Papa São Leão IX aceitou as suas explicações e o absolveu. De volta à sua diocese, desmandou se e começou a combater frontalmente a Pataria, supondo talvez que a ausência de Anselmo da Baggio, entrementes nomeado Bispo de Luca, enfraquecera o zelo de Santo Arialdo e de Landulfo Cotta. Foi mal sucedido, apesar de fazer uso de toda a sua autoridade prepotente. Santo Arialdo e Landulfo Cotta resolveram ir a Roma, a fim de expor a situação ao Papa e solicitar a intervenção da Santa Sé. Os soldados do Arcebispo tentaram impedir a viagem por meio da violência. Em uma emboscada, Landulfo Cotta foi ferido e obrigado a regressar a Milão, onde morreu pouco depois em conseqüência desses ferimentos. Santo Arialdo, no entanto, conseguiu chegar à Cidade Eterna e denunciar Guido da Velate a Estêvão IX, que sucedera a São Leão IX. 0 Papa decidiu intervir, enviando a Milão o monge Hildebrando, seu fiel amigo São Pedro Damião e Anselmo da Baggio.

Prestigiando a Pataria e exortando o Arcebispo a se conter, os legados pontifícios conseguiram desanuviar o ambiente. Os pátaros gozaram de relativa liberdade em Milão até a morte de Estêvão IX.

A ascensão do novo Papa, Nicolau II, descontentou profundamente os bispos da Lombardia, que esperavam conquistar o sólio pontifício. Provocaram então vários incidentes que culminaram com a eleição do antipapa Bento X. Esses acontecimentos deram um novo alento a Guido da Velate, que reiniciou a perseguição à Pataria. O arrependimento de Bento X e seu ingresso em um convento para fazer penitência permitiram a Nicolau II ocupar se de Milão, enviando para lá São Pedro Damião com plenos poderes para definitivamente pôr cobro aos desmandos de Guido da Velate.

São Pedro Damião conseguiu do Arcebispo que fizesse confissão pública de seus erros e jurasse não reincidir neles. De novo a calma aparente voltou a reinar na cidade.

A situação em Milão, porém, dependia essencialmente dos acontecimentos que se passavam em Roma. O Arquidiácono Hildebrando comandava de lá a reforma, e até os menores episódios desta tinham ressonância em toda a Cristandade. Quando morria um Papa, as esperanças dos simoníacos ressuscitavam com a expectativa da ascensão de algum de seus partidários, e eles tornavam a promover desordens por toda parte. Foi o que aconteceu em Milão quando Nicolau II faleceu. Guido da Velate, faltando ao juramento que fizera, reabriu as hostilidades. A eleição de Anselmo da Baggio, fundador da Pataria, para o trono de São Pedro, sob o nome de Alexandre II, levou ao auge o furor do Arcebispo. A luta se tornou acérrima, tanto mais que justamente nessa época a Pataria recebeu um novo membro que lhe elevaria bem alto o nome já glorioso. Era Erlembaldo, irmão de Landulfo Cotta, que regressara de uma peregrinação à Terra Santa e se tornou um fiel companheiro de Santo Arialdo. Sempre na primeira linha, conduzindo com grandeza e humildade o combate pela ortodoxia, era odiado pelos simoníacos, amado pelos católicos e respeitado por todos. São Gregório VII o chamava de intrépido cavaleiro de Cristo.

Não conseguindo vencer a Pataria, Guido da Velate tentou abafar lhe a voz. Uma sua parenta, desesperada com a resistência encontrada pelo Arcebispo, mandou dois clérigos se apoderarem de Santo Arialdo, e estes o mataram com requintes de perversidade. Esse martírio é uma das mais belas páginas da história da Igreja, pela firmeza revelada por Santo Arialdo, que reafirmava a cada instante a sua fidelidade à causa que abraçara, enquanto os seus algozes o assassinavam lentamente. São Pio X, no início de nosso século, confirmou lhe o culto imemorial como mártir.

Esse crime teve conseqüências funestas para Guido da Velate. O corpo de Santo Arialdo foi lançado a um rio, mas veio à tona de modo miraculoso, e o povo de Milão foi buscá lo processionalmente, tendo à frente Erlembaldo. Ao ter conhecimento do ocorrido, Alexandre II, de acordo com Hildebrando, enviou a Milão o Cardeal de Silva Candida com uma Constituição, na qual eram relembradas as condições impostas por São Pedro Damião. Guido da Velate, vendo se numa situação insustentável, demitiu se.

A luta, entretanto, não cessou. Os simoníacos convenceram Guido da Velate a vender o Arcebispado a um homem sem escrúpulos, Gofredo de Castiglione, que, sob promessa de entregar Erlembaldo vivo ou morto ao Imperador, obteve de Henrique IV que lhe desse a investidura.

Em Milão, Erlembaldo, que era o verdadeiro senhor da cidade, convocou o clero, a nobreza e o povo para a eleição canônica do novo Arcebispo, e conseguiu que a escolha recaísse sobre Aton, um virtuoso sacerdote da diocese. Os nobres partidários de Gofredo de Castiglione não aceitaram o novo Arcebispo, alegando que era muito jovem, e reiniciaram as hostilidades.

Alexandre II excomungou então Gofredo, e escreveu a Henrique IV pedindo lhe que deixasse Milão ter um bispo "secundum Deum". Como única resposta, o Imperador ordenou a Ratopone, um bispo que lhe era fiel, que fosse a Milão sagrar Gofredo de Castiglione.

A oposição sistemática de Henrique IV à Santa Sé se tornava dia a dia mais insuportável, e o Papa já o ameaçara de excomunhão por ter investido um monge de Bamberg na abadia de Reichenau. Agravava se, pois, o conflito com a sagração de Gofredo, e tudo fazia prever um choque mais violento. A morte de Alexandre II e a rápida eleição de São Gregório VII distenderam o ambiente. Colhidos de surpresa ao verem o seu maior inimigo no trono pontifício, os simoníacos resolveram aguardar as primeiras medidas do novo Papa para voltarem novamente à luta.


NOVA ET VETERA

PARTICIPANDO DA HIERARQUIA...

J. de Azeredo Santos

Por vários anos a fio vem o Sr. Alceu Amoroso Lima sustentando uma estranha tese sobre a posição dos leigos em face da Sagrada Hierarquia, que pode ser resumida na seguinte afirmação de artigo de sua autoria publicado, sob o título de «Clero e Laicato», na revista «A Ordem», n.° 61, de março de 1935: «Apresenta-se portanto a posição do laicato em face do clero, não sob o aspecto de qualquer confusão de funções, nem sob o da distanciação —, mas como uma participação dos leigos na própria hierarquia da Igreja».

No memorável e nunca assaz citado livro «Em Defesa da Ação Católica», o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dá o devido destaque a tão lamentável e generalizado erro decorrente de falsa interpretação de documentos pontifícios, refutando-o de modo cabal e irretorquível. A pretensão de participar da Hierarquia chegou a tais extremos, que o Boletim Oficial da Ação Católica Brasileira, do Rio de Janeiro, referiu em seu número de junho de 1942 o caso típico de certo jovem que escrevera a um venerando Prelado: «Aceite, Sr. Bispo, um abraço do seu colega de Sacerdócio».

Censura pública a 213 Padres Conciliares

O uso do cachimbo faz a boca torta. A custa de tanto insistir nessa concepção errada, o Sr. Alceu Amoroso Lima parece que acabou por convencer-se de que de fato faz parte da Hierarquia Eclesiástica. E como S. Sa. em todos os assuntos dá-se uns ares de mestre em Israel, sua desenvoltura não somente ultrapassou a desse moço que tratava os Bispos como colegas, mas chegou mesmo ao extremo de se erigir em censor daqueles que o Espírito Santo constituiu para regerem a Igreja de Deus. O Sr. Tristão de Ataide se considera, assim, um autêntico Patriarca leigo da Igreja, valendo seu «mandato» não somente dentro das fronteiras do Brasil, mas até mesmo para a Igreja Universal. Só desse modo se explica a ligeireza com que S. Sa., inconformado com a sua posição de simples fiel, se põe a censurar a petição através da qual 213 Padres Conciliares de 54 diferentes países rogam faça o II Concílio Ecumênico Vaticano, em sua próxima sessão, uma nova condenação do marxismo, do socialismo e do comunismo. Diz o Sr. Tristão de Ataide: (E dentro do próprio Vaticano II não vemos, a cada momento, refletido o espírito de divisão que domina o mundo moderno? Não assistimos, na véspera do encerramento da segunda sessão do Concilio, à entrega de um Manifesto em que se procura desvirtuar totalmente o espírito ecumênico com que foi convocado por João XXIII e reafirmado por Paulo VI, renovando-se a preocupação de condenar heresias e de anatematizar regimes políticos, finalidades visceralmente estranhas ao espírito com que foi convocado este Concilio?» (artigo «Em volta de Pedro», publicado na «Folha de São Paulo» de 17 de janeiro de 1964).

Ecumenismo que congrega lobos e cordeiros

Ora, neste trecho vemos não somente a falta de respeito com que o Sr. Alceu Amoroso Lima se permite profligar um solene documento firmado por venerável plêiade de Bispos (e veja-se a contradição de quem apregoa não gostar de anátemas!), mas também uma manifestação clara do extravagante ecumenismo professado por S. Sa.: ecumenismo em torno de posições equívocas, em torno de erros declarados, confusão dos lobos com as ovelhas, contubérnio entre os que se dispõem a seguir o Bom Pastor e aqueles que não somente porfiam em matar os corpos de seus semelhantes, mas também preparam quantas almas podem para o fogo eterno.

Tal ecumenismo se acha nos antípodas daquela aspiração do Divino Salvador: «Tenho também outras ovelhas que não são deste aprisco; importa que Eu as traga, e elas ouvirão a minha voz» (Jo. 10, 16). Pois o verdadeiro Pastor, aquele que não é mercenário, tem o dever de defender suas ovelhas, até mesmo as desgarradas, contra todos os perigos, livrando-as dos ladrões e dos lobos vorazes (cf. Jo. 10, 1-18).

Ao confiar aos setenta e dois discípulos a missão de preparar os filhos de Israel para a visita do Divino Mestre, deu-lhes este o «poder de calcar serpentes e escorpiões, e de vencer toda a força do inimigo» (Luc. 10, 19), o que nos mostra claramente que o propósito de salvar as ovelhas é inseparável da luta contra o erro. E é em virtude do caráter obrigatório da pregação da verdade e do combate ao erro, que Nosso Senhor Jesus Cristo afirma: «Julgais que vim trazer paz à terra? Não, vos digo Eu, mas separação» (Luc. 12, 51). Pois não se trata de obter unanimidade em torno de um equívoco, mas de seguir com toda a fidelidade Aquele que é «o Caminho, a Verdade e a Vida» (Jo. 14, 6).

Por conseguinte, é agindo como verdadeiros Pastores, e não como mercenários ou como pessoas estranhas ao rebanho, que declaram os 213 Padres Conciliares na petição em apreço: «Serpeiam entre católicos numerosos erros e estados de espírito que encontram sua origem na Revolução Francesa e são espalhados pela propaganda bolchevista; eles tornam os espíritos propensos a aceitar as doutrinas marxistas e a estrutura social e econômica do comunismo. Enredados por tais idéias, muitos católicos consideram com simpatia o comunismo, admiram as nações comunistas, põem em duvida os próprios fundamentos da ordem social cristã, ou a concebem segundo o que agrada aos comunistas. Mais ainda, muitos fiéis há que experimentam um certo sentimento de culpa porque ainda não professam abertamente o comunismo ou o socialismo».

Não vemos retratada neste trecho da petição a própria atuação de homens como o Sr. Tristão de Ataide, que não regateiam aplausos até a órgãos que fazem abertamente o jogo da subversão socialista, como é o caso de «Brasil, Urgente»? Compreende-se, afinal de contas, a irritação que esse documento causou ao Sr. Alceu Amoroso Lima, pois só quem manifesta simpatia pelo comunismo e pela socialização de todas as coisas é que pode, em toda a força da lógica, ser contrario à reiteração da condenação desses erros que preparam o advento do Leviatã totalitário, e que constituem, por isso mesmo, a mais tenebrosa ameaça que a Igreja e a Cristandade jamais tiveram de enfrentar.

Uma irritação que tem sua lógica

Disse o Divino Salvador que o mundo O odeia porque Ele faz ver que as suas obras são más (cf. Jo. 7, 7). Verdadeiros discípulos de Nosso Senhor, esses dois luminares do Episcopado Nacional que são os Exmos. Revmos. Srs. D. Geraldo de Proença Sigaud e D. Antonio de Castro Mayer tiveram a iniciativa dessa petição em que se mostra, por uma questão de consciência, como é deletéria a obra daqueles que por todo o mundo emprestam uma colaboração direta ou indireta à conjuração totalitária que, através de atentados contra a ordem natural, visa o estabelecimento universal do «reino legal da fraude e da violência, e (da) opressão dos fracos, daqueles que sofrem e que trabalham» (São Pio X na Carta Apostólica «Notre Charge»).

Não pretendem os ilustres peticionários promover aquilo que o Divino Mestre recusou fazer, que é um ecumenismo que abranja os lobos e as ovelhas, ou que tente a conciliação da verdade com o erro. O propósito deles é semelhante àquele que nos recomenda o Filho de Deus na parábola do Bom Pastor: apontar mais uma vez à execração da Igreja esses lobos vorazes que compõem as alas extremadas e moderadas da subversão socialista, procurando assim proteger o redil confiado à guarda da Sagrada Hierarquia contra uma devastação que já vai atingindo proporções catastróficas em todo o mundo.


À MARGEM DE TRÊS DOCUMENTOS PROVIDENCIAIS

“CATOLICISMO" noticia, em sua edição de hoje, a entrega feita pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Arcebispo de Diamantina, ao Santo Padre Paulo VI, de uma petição em que 510 Arcebispos e Bispos residenciais rogam ao Vigário de Cristo que, consoante o pedido feito por Nossa Senhora de Fátima, Sua Santidade, em união com todo o Episcopado católico, consagre o mundo, e especialmente os países sob jugo comunista, ao Imaculado Coração de Maria.

Esse pedido coletivo, formulado por tão grande número de Prelados, corresponde a uma iniciativa pessoal do ilustre Arcebispo de Diamantina e de nosso insigne Bispo Diocesano, S. Excia. Revma. o Sr. D. Antonio de Castro Mayer.

Paternalmente acolhido pelo Sumo Pontífice em audiência particular no dia 3 de fevereiro p.p., o Exmo. Revmo. Sr. D. Geraldo de Proença Sigaud fez entrega a Sua Santidade dos 510 exemplares da petição, artisticamente encadernados. Com afáveis palavras de agradecimento, o Santo Padre prometeu ponderar o assunto em seus vários aspectos, para tomar no momento oportuno a decisão mais conveniente, comprazendo-se em aventar, dentre os mais célebres Santuários de Nossa Senhora, aqueles em que melhor se faria eventualmente a consagração. Terminada a audiência, foi tirada a foto que publicamos em outro local desta edição.

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O fato de que 510 Prelados — a terça parte dos Bispos residenciais existentes na Igreja — hajam pedido a consagração do mundo e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria apresenta um significado próprio a alegrar os corações fiéis.

Antes de tudo, essa petição constitui um solene e impressionante testemunho da adesão de tão ilustres e numerosos Pastores à historicidade e ao conteúdo da Mensagem de Fátima, e, pois, um alento para que em direção a Fátima se voltem com renovado fervor os corações dos católicos.

Ademais, a petição representa — nesta época em que tão freqüentemente se olvida o sobrenatural — a afirmação de que os destinos do mundo, e mais especialmente os terríveis problemas relacionados com a expansão universal do comunismo, hão de se resolver precipuamente com as grandes armas da oração e da reforma dos costumes.

É bem verdade que um ato como a consagração desejada pelos ilustres e numerosos Prelados, traz consigo, no plano político, uma serie de implicações que só o Santo Padre tem todos os meios para conhecer em toda a sua extensão, e as graças de estado para ponderar em toda a sua complexidade. Só ele tem o poder supremo para decidir se e quando tal pedido pode ser atendido. Entretanto, não pode deixar de comover ao Imaculado Coração de Maria o fato de que para Ele se voltam nesta hora crucial da Historia, as almas aflitas e confiantes de tantos Bispos. E daí só podem promanar para a Santa Igreja, a Cristandade e o mundo todo, preciosas graças.

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Este é o profundo significado, o alto alcance da petição de que os Exmos. Revmos. Srs. Arcebispo de Diamantina e Bispo de Campos tiveram a piedosa iniciativa.

A nós nos compraz assinalar toda a projeção que as duas petições, essa e a em que 213 Padres Conciliares pedem a condenação do comunismo, confere no plano internacional ao Venerando Episcopado Brasileiro, do qual são ornamentos preclaros os dois promotores das agora já celebres petições.

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Esta folha publicou em sua edição de janeiro p.p., em primeira mão, o texto integral da petição em que duas centenas de Padres Conciliares pedem a condenação do comunismo pelo II Concílio Ecumênico do Vaticano.

Depois de publicado o texto, é oportuno um comentário sobre o respectivo conteúdo.

Para a historiografia católica em nossos dias, oferece o mais relevante interesse ver que tão grande número de Prelados apontam, nos considerandos da petição, a Revolução Francesa como um movimento nocivo, que preparou os espíritos para a trágica explosão comunista do século XX: tese que o chamado progressismo católico tende sempre mais a esquecer ou negar.

Igualmente é digno de nota que esses Prelados não pediram apenas a condenação do comunismo, como também do socialismo, erro que apontam como inteiramente consectário do comunismo: outra afirmação que os ditos progressistas católicos esquecem ou negam.

E por fim, em matéria de "progressismo católico" — escrevemo-lo assim por não sabermos em qual das duas palavras melhor pôr as aspas — devemos notar a grave afirmação feita pelos Padres Conciliares, de que as simpatias pelo socialismo e pelo comunismo se infiltraram nos meios católicos e até — proh dolor — em certos elementos das sagradas fileiras do Clero : “Serpeiam entre católicos numerosos erros e estados de espírito que (...) tornam os espíritos propensos a aceitar as doutrinas marxistas e a estrutura social e econômica do comunismo. Enredados por tais idéias, muitos católicos consideram com simpatia o comunismo (...) . Tais erros são difundidos por muitos mestres pertencentes às fileiras do Clero”.

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Ambas as petições — pela consagração do mundo e das nações sob jugo comunista ao Imaculado Coração de Maria, e pela condenação do socialismo e do comunismo — constituem um todo. De um lado, ante a terrível tormenta que se vai estendendo pela terra inteira, uma representa um brado para o Coração dAquela que é o Auxilio dos cristãos, a pedir socorro. A outra é a expressão do desejo de que mais uma vez, e com redobradas energias, sejam chamados à luta os fiéis.

Em plano diverso, o artigo "A liberdade da Igreja no Estado comunista", do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, traduzido em francês, inglês, italiano e espanhol, e distribuído aos Padres Conciliares pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — Seção do Rio de Janeiro, é a denuncia clarividente e enérgica do embuste que o comunismo prepara para o supremo assalto, e a formulação sintética, lúcida, irresistível, dos argumentos que contra este embuste devem ser usados.

No seu conjunto, os três documentos constituem, cada qual a seu modo, três episódios de inconfundível importância, na luta contemporânea contra o maior adversário do Santo Padre, da Igreja Católica e da Cristandade, isto é, o comunismo.