«ESTUDO MUITO PROFUNDO QUE FAZ PROVA DE ERUDIÇÃO NA DOUTRINA DA IGREJA»
O artigo «A liberdade da Igreja no Estado comunista», de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em primeira mão por esta folha (n.° 152, de agosto de 1963), continua a repercutir largamente, não só nos círculos eclesiásticos e intelectuais do País e do Exterior, como na imprensa nacional e estrangeira.
Publicamos aqui algumas cartas de destacadas personalidades, sobre o estudo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
Emmo. Cardeal Alfredo Ottaviani, Secretario da Suprema Sagrada Congregação do Santo Oficio: «Ringrazia cordialmente il signor Corrêa de Oliveira per il cortese invio del suo studio sulla libertà della Chiesa nello stato comunista, augurando che esso riesca a far riflettere sopratutto gli uomini responsabili della cosa pubblica e del bene comune sulla grave realtà del comunismo».
Exmo. Revmo. Mons. Paul II Cheikho, Patriarca de Babilonia dos Caldeus, Bagdad, Iraque: «J'ai bien reçu votre precieuse publication «La liberté de l'Eglise dans l'Etat Communiste». Je vous en remercie de coeur. C'est une étude très profonde qui fait preuve d'une érudition dans la Doctrine de l'Eglise. Que Notre Seigneur bénisse vos travaux scientifiques. Demandons Lui avec une pleine confiance de daigner éclairer les esprits de tous les hommes pour qu'ils rendent à l'Eglise Mère de tous les droits que Lui-même lui a donnés».
Exmo. Revmo. Mons. Guillermo C. Hartl, Bispo titular de Stratonicea de Caria e Vigário Apostólico de Araucanía, Chile: «( ) saluda muy atentamente al señor Plinio Corrêa de Oliveira y le agradece el envio del folleto «La Libertad de la Iglesia en el Estado Comunista», que expone que una coexistencia pacífica entre un régimen comunista y la Iglesia Católica es imposible. La mejor ilustración de esto es Cuba».
Revmo. Sr. Cônego Antonio dos Reis Rodrigues, Lisboa, Portugal: «Li, e muito vivamente apreciei, o artigo de V. Excia. no «Catolicismo» sobre «A liberdade da Igreja no Estado comunista». Julgo-o um ensaio doutrinariamente muito seguro e, na ordem prática, sobremaneira equilibrado e oportuno. Rogo, pois, a V. Excia. se digne aceitar as minhas gratas felicitações por mais este elevado beneficio que lhe ficamos a dever, os que andamos empenhados no «bom combate» da Verdade».
Sr. Jean Bruchesi, Embaixador do Canadá na Espanha e no Marrocos: «Remercie le Professeur Corrêa de Oliveira de lui avoir adressé le texte de sa remarquable étude sur «La liberté de 1'Eglise dans l'Etat communiste». Il a lu ce texte avec infiniment de joie et de profit. D'après ce qu'il comprend, l'étude a été distribuée aux Pères du Concile oecuménique, donc à plusieurs Canadiens. La presse du Canada — du moins celle de langue française — devrait en parler».
Sr. Robert Rumilly, Montreal, Canadá: «Merci, cher Monsieur, de votre nouvel envoi: «La liberté de 1'Eglise dans l'Etat communiste», arrivé la veille de Noêl. Je reproche souvent à nos amis de ne pas mettre, dans leurs polemiques, assez de rigueur logique. Je voudrais voir à tout ce qui sort de nos plumes la force d'une démonstration. Avec vous, ce voeu est comblé. C'est pourquoi j'aime particulièrement ce que vous écrivez».
Sr. Leo Magnino, Roma, Itália: «Muito, muito obrigado pela sua amável carta (...) e pelo exemplar do artigo traduzido em italiano do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira. É uma publicação que sem dúvida nenhuma pode contribuir notavelmente para esclarecer todos os que ainda acreditam na possibilidade de um colóquio entre Catolicismo e comunismo».
Sr. R. Darricau, Bordeaux, França: «Je viens de recevoir le tiré à part de l'article de M. de Oliveira. Il est excellent et il faudrait le diffuser. Si vous vouliez des adresses où vous pourriez l'envoyer je vous en donnerais volontiers. Je suis heureux de vous dire combien je suis heureux de suivre vos efforts et de savoir que vous menez le bon combat».
Entre as repercussões mais interessantes na imprensa estrangeira, figura a publicação integral do artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira nas conceituadas revistas «Nouvelles de Chrétienté» de Paris, e «Fiducia» de Santiago do Chile.
O «Diário de São Paulo» e a «Gazeta Esportiva», diários de grande circulação na Capital paulista, também publicaram integralmente o referido trabalho, o mesmo fazendo a «Gazeta Mercantil», o «Diário do Comercio» e o «Diário Comercio e Indústria», órgãos de prestigio nos meios comerciais e industriais daquela cidade.
Referências encomiásticas ao artigo foram publicadas em mais de dez jornais dos Estados do Rio, Guanabara, São Paulo, Minas e Ceará.
VERBA TUA MANENT IN AETERNUM
Tendências atuais que se dizem mais autenticamente cristãs criticam formas comuns da vida católica
PAULO VI: Hoje, ainda, os católicos devem retornar a consciência desta essencialidade religiosa sobrenatural (sopranaturale essenzialità religiosa), em que o mistério da graça, e conseqüentemente o exercício humilde e piedoso da oração, da liturgia e da vida sobrenatural detêm a primazia, tanto mais quanto entre nós se manifestam por vezes tendências, umas de feição moralizadora, outras de feição cultural, que ainda querem chamar-se cristãs, e até pretendem ser mais autenticamente cristãs, adotando atitudes criticas e intolerantes a propósito de numerosas formas comuns da vida católica, tachadas de convencionais, exteriores e medíocres; mas que, em seguida, não dão ao contacto com a Igreja e com as fontes vivas da Palavra e da Presença de Cristo, que dEle somente promanam, a importância primordial e decisiva que tal contacto merece.
(Discurso ao Congresso dos Presidentes Diocesanos da Ação Católica Italiana, de 30 de julho de 1963).
Médicos católicos levianamente desaconselham a observância da castidade consagrada a Deus
PIO XII: Mas, se a castidade consagrada a Deus é virtude difícil, a sua prática fiel e perfeita é possível às almas que, depois de tudo bem ponderado, correspondem generosamente ao convite de Jesus Cristo e fazem quanto podem para a observar. Com efeito, se abraçarem este estado de virgindade ou de celibato, receberão de Deus o dom da graça para cumprirem o propósito feito. Por isso, se se encontrarem pessoas "que não sentem ter o dom da castidade (mesmo depois de terem feito o voto)" (cf. Conc. Trid., sess. XXIV, can. 9), não julguem por isso que não podem satisfazer às suas obrigações nesta matéria: "Porque "Deus não manda coisas impossíveis; mas, ao mandar, recomenda que se faça o que se pode e que se peça o que não se pode" (cf. S. Augustin, De natura et gratia, c. 43, n. 50; PL XLIV, 271) e ajuda a poder" (Conc. Trid., sess. VI, c. 11). Esta verdade muito consoladora, lembramo-la também aos doentes, cuja vontade se enfraqueceu com perturbações nervosas, e por isso ouvem com excessiva facilidade a certos médicos, às vezes até católicos, o conselho de pedirem dispensa da obrigação contraída, sob o pretexto de que não podem observar a castidade sem prejuízo do equilíbrio psíquico. Quanto mais útil não seria ajudar esses doentes a reforçarem a própria vontade e a convencerem-se que não lhes é impossível a castidade, segundo a sentença do Apóstolo: "Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes fará que tireis ainda vantagem da mesma tentação, para a poderdes suportar" (1 Cor. 10, 13).
(Encíclica "Sacra Virginitas", de 25 de março de 1954).
A Revolução não produzirá jamais o aperfeiçoamento das instituições humanas
JOÃO XXIII: Na realidade não faltam os que, dotados de coração generoso, ao defrontarem situações de fato, pouco ou nada conformes com os preceitos da justiça, sentem-se possuídos de tal desejo de tudo reformar, e com tal impetuosidade, que até parecem fazer apelo à revolução.
Nós desejaríamos lembrar-lhes que, por imposição da natureza, todas as coisas crescem gradativamente, e que as instituições humanas, elas também, não podem ser aperfeiçoadas senão através de uma ação interna a elas, e de modo progressivo. É o que adverte Nosso Predecessor Pio XII, com estas palavras: "Não é a revolução, mas uma evolução harmoniosa que trará a salvação e a justiça. Pois, a obra da violência sempre consistiu em abater, nunca em construir; em exasperar as paixões, nunca em aplacá-las. Geradora de ódios e de desastres, ao invés de promover a reconciliação entre as partes litigantes, sempre lança os homens e os partidos à dura necessidade de reconstruir lentamente, depois de provas dolorosas, sobre as ruínas acumuladas pela discórdia" (cf. Alocução de 13 de junho de 1943, aos trabalhadores da Itália).
(Encíclica "Pacem in Terris", de 11 de abril de 1963).
Para alcançar a salvação é necessário aceitar toda a doutrina de Cristo, sem excetuar um único ponto
LEÃO XIII: Pela virtude dos seus milagres, Jesus Cristo prova a sua divindade e a sua missão divina; dedica-se a falar ao povo para instruí-lo nas coisas do Céu, e exige absolutamente que se preste fé inteira ao seu ensino; exige-o sob a sanção de recompensas ou de penas eternas. "Se Eu não faço as obras de meu Pai, não Me creiais" (Jo. 10, 37). "Se Eu não tivesse feito entre eles obras que nenhum outro fez, eles não teriam pecado" (Jo. 15, 24). "Mas, se faço tais obras e se não quereis crer em Mim mesmo, crede ao menos nas minhas obras" (Jo. 10, 38). Tudo o que Ele ordena, ordena-o com a mesma autoridade; no assentimento de espírito que exige, Ele não excetua nada, não distingue nada. Portanto, os que escutavam Jesus, se queriam chegar à salvação, tinham o dever não somente de aceitar em geral toda a sua doutrina, mas de dar pleno assentimento da alma a cada uma das coisas que Ele ensinava. Com efeito, recusar crer, ainda que num único ponto, em Deus que fala, é contrario à razão.
(Encíclica "Satis Cognitum", de 29 de junho de 1896).
VERDADES ESQUECIDAS
NÃO IMPEDIR A HERESIA É FAVORECÊ-LA
São Vicente de Paulo
De uma carta, datada de 25 de junho de 1648, ao Padre D'Horgny, Sacerdote da Missão, em Roma:
Deixando de lado outras muitas razões (que haviam levado o Santo a se declarar contra as opiniões novas que mais tarde seriam condenadas sob o nome de jansenismo), a quarta e última foi que tive presente o que disse o Papa Celestino ("Epistola 2 ad Episcopos Galliae") contra certos Sacerdotes em cujas doutrinas se entreviam alguns erros contra a graça, e aos quais seus Bispos respectivos haviam condenado. Esse bom Papa, depois de ter louvado esses Bispos por se terem oposto à doutrina de ditos Sacerdotes, lhes disse estas palavras textuais: "Timeo ne connivere sit hoc tacere; timeo ne illi magis loquantur qui permittunt illis taliter loqui; in talibus causis non caret suspicione taciturnitas, quia occurreret veritas, si falsitas displiceret; merito namque causa nos respicit, si silentio faveamus errori" ("Receio que calar sobre tais erros seja tornar-se com eles conivente; receio que permitir que tais coisas sejam afirmadas, equivalha a afirmá-las com mais força ainda. Em tais assuntos o silêncio é suspeito, pois a verdade se patentearia caso o erro fosse tido como mau. Na realidade, portanto, a causa nos diz respeito, uma vez que, silenciando, estaríamos favorecendo o erro"). Se alguém me disser que isso é certo com referencia aos Bispos e não no que diz respeito aos particulares, responderei que provavelmente essa doutrina compreende não só os Bispos, senão também todos aqueles que, conhecendo o mal, não o impedem tanto quanto está em suas mãos. — ("San Vicente de Paúl - Biografia y Selección de Escritos" — Padres José Herrera, C. M., e Veremundo Pardo, C. M. — BAC - Madrid, 1950 — p. 829).
Os estudantes e o povo de Belo Horizonte assinam o memorial ao Presidente da Republica. A Caravana Nossa Senhora Aparecida do Universitários Católicos desfila pelas ruas de Brasília
O Congresso da CUTAL protegido contra imaginaria ameaça dos estudantes. Chegando ao Palácio, os estudantes (com a imagem de N. S. Aparecida) entregam o memorial ao oficial de dia.
UNIVERSITÁRIOS CATÓLICOS ENFRENTAM INVESTIDA COMUNISTA
A. A. Borelli Machado
Repercutiu intensamente em todo o Brasil a reação que o povo de Belo Horizonte opôs à iniciativa de realizar naquela Capital o chamado Congresso Continental de Trabalhadores da América Latina, de orientação comunista, obrigando seus promotores a transferirem-no, à última hora, para Brasília.
O Congresso, segundo se noticiou, tinha por objetivo promover a fundação de uma Central Única de Trabalhadores da América Latina (CUTAL) e foi marcado para os dias 24 a 28 de janeiro p.p.
Entretanto, logo que a escolha da Capital mineira para sede de um certame marxista se tornou de domínio público, provocou uma reação incontida da população de Belo Horizonte, reação essa que foi crescendo nos dias subseqüentes, até culminar com a campanha dos congregados marianos universitários, que em dois dias coletaram 30 mil assinaturas de belo-horizontinos para um memorial de repulsa contra a realização do Congresso naquela cidade ou «em qualquer recanto do Brasil», e em seguida foram a Brasília para entregar o documento ao Presidente João Goulart.
PRIMEIRAS REAÇÕES
Já no dia 19 de janeiro, atendendo às instancias de numerosas senhoras da capital mineira, o Arcebispo Coadjutor e Administrador Apostólico de Belo Horizonte, S. Excia. Revma. o Sr. D. João Rezende Costa, se pronunciava contra a realização do Congresso, declarando-o de orientação nitidamente comunista.
A Congregação Mariana dos Diplomados em Cursos Universitários dirigiu, logo no dia seguinte, uma carta-aberta ao Sr. Magalhães Pinto, pedindo-lhe que fizesse uso de suas atribuições de Governador do Estado a fim de impedir que o Congresso tivesse lugar em Minas Gerais. O documento relembrava a incompatibilidade da doutrina marxista com o Catolicismo, para o que se valia do artigo publicado nesta folha e intitulado «A liberdade da Igreja no Estado comunista», de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. A carta-aberta citava também a petição recentemente dirigida ao Concílio, por iniciativa do Arcebispo de Diamantina e do Bispo de Campos, pedindo uma nova condenação do marxismo, do socialismo e do comunismo.
O movimento contra a realização do Congresso ganhava em intensidade a cada momento. Pronunciamentos autorizados e taxativos reconheciam na projetada CUTAL uma entidade de caráter francamente marxista.
Causou, pois, viva estranheza uma nota divulgada pela Assessoria de Imprensa do Palácio da Liberdade, na qual o Governo do Estado declarava estar «convencido de que se trata de um Congresso de Trabalhadores de variada tendência», e que, nessas condições, iria permitir a sua realização.
Populares começaram a se agrupar diante do Palácio do Governo para exprimir o seu protesto. Alto-falantes percorriam as ruas protestando contra o Congresso. Manifestaram-se nesse mesmo sentido numerosos deputados, vereadores e líderes partidários, bem como organizações católicas e entidades representativas de todas as classes sociais e categorias profissionais. A Assembléia Legislativa, em recesso, foi convocada para tratar do assunto. A Municipalidade decretou luto oficial na cidade durante os dias da realização do Congresso. Anunciou-se que nas igrejas dobrariam os sinos a finados.
OS CONGREGADOS SE DIRIGEM AO GOVERNADOR
A Congregação Mariana dos Universitários elaborou, então, um oficio ao Governador, estranhando os termos da declaração divulgada pela Assessoria de Imprensa e solicitando as garantias necessárias para uma delegação de estudantes católicos acompanhar os trabalhos do Congresso (a exemplo dos observadores que o Governo do Estado anunciara que ia enviar) e assim verificar diretamente a orientação do certame.
À noite do dia 21, universitários daquela Congregação compareceram à TV Itacolomi e transmitiram ao público o teor do oficio a ser encaminhado ao Sr. Magalhães Pinto. Nessa entrevista foi mais uma vez citado o artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre «A liberdade da Igreja no Estado comunista».
No dia seguinte, o Governador recebeu pessoalmente uma comissão de congregados que lhe fez a entrega do oficio. Constituíam essa comissão os universitários Antonio Candido Lara Duca, Manoel Ricardo Rocha Fiuza, João Batista Varela Viana e Paulo Teixeira Campos, que se faziam acompanhar pelo Sr. Edélcio Barbosa Freire, da CM dos Diplomados em Cursos Universitários.
Os ânimos se exacerbaram durante uma grande concentração popular promovida por correntes partidárias e entidades de classe anticomunistas, que se realizou, nesse mesmo dia, de fronte da Matriz de São José, no centro da cidade. Os manifestantes se dirigiram em passeata ao Palácio da Liberdade, protestando em altos brados contra a realização do certame comunista.
Entrementes, noticiava-se que o Congresso não teria mais caráter de reunião pública, mas se realizaria em recinto fechado. O Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo Coadjutor publicou uma nota recomendando moderação ao povo.
Destoando da posição assumida pela imensa maioria da população, elementos ligados à Democracia-Cristã e a entidades estudantis de orientação esquerdizante fizeram declarações em favor da realização do Congresso.
No entanto, como a reação não decrescesse, anunciou-se oficialmente a transferência do certame para Brasília.
30 MIL ASSINATURAS EM DOIS DIAS
Como era de esperar, nem por isso cessaram as manifestações de repulsa da católica população de Belo Horizonte, que tampouco podia aceitar que o conclave marxista repelido de sua cidade viesse a ter lugar na Capital do País, ou em qualquer outro ponto do território nacional.
Logo no dia seguinte, 23, um grupo de congregados da CM dos Universitários decidiu sair à rua a fim de colher assinaturas para um memorial a ser dirigido, nesse sentido, ao Sr. Presidente da República. Em bancas instaladas em diversos logradouros da cidade, esse memorial recebeu 18 mil assinaturas no primeiro dia, número que no dia seguinte, quando se encerrou a coleta de assinaturas, se elevou a 30 mil. Cabe ressaltar que nove décimos dos signatários pertenciam à classe media ou operaria.
A tarefa dos congregados foi, de resto, facilitada por populares que, ao ver do que se tratava, se ofereciam para ajudar na montagem das bancas e se detinham junto a estas, exprimindo sua solidariedade e convidando os transeuntes a assinarem. Um professor quis um exemplar do memorial para lê-lo aos seus alunos. Um Sacerdote pediu uma lista para colher assinaturas entre seus paroquianos, numa cidade vizinha. Muitos dos que assinavam faziam questão de manifestar alto e bom som seus sentimentos anticomunistas. Os marxistas, intimidados, limitavam-se a gritar aqui e ali alguns de seus «slogans».
Conclusão da página 6
Nas bancas também eram expostos à venda exemplares das Pastorais anticomunistas dos Srs. Arcebispo de Diamantina e Bispo de Campos, do «Catecismo Anticomunista» de D. Geraldo de Proença Sigaud, e de «Reforma Agrária — Questão de Consciência», de autoria daqueles Prelados e dos Srs. Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e Luiz Mendonça de Freitas.
O TEXTO DO MEMORIAL AO PRESIDENTE
É o seguinte o texto do memorial subscrito por 30 mil belo-horizontinos e dirigido ao Presidente João Goulart:
• «Os abaixo assinados apresentam a Vossa Excelência as suas mais respeitosas saudações e trazem ao mesmo tempo ao seu alto conhecimento as considerações e o pedido abaixo:
1) O repudio unânime da católica população de Belo Horizonte impediu que aqui se realizasse o Congresso da Central Única dos Trabalhadores da America Latina, de orientação nitidamente comunista. Foram todos os belo-horizontinos, sem distinção de classe e idade, e com relevantíssima participação das camadas mais modestas da população, que intransigentemente se negaram a favorecer de qualquer modo a realização do conclave esquerdista.
2) Belo Horizonte não é egoísta e não se preocupa apenas consigo mesma. O que ela acha indigno de si, acha indigno de qualquer parte do Brasil. O que ela acha perigoso para si, acha perigoso também para qualquer parte da Nação brasileira.
3) Se tais sentimentos são devidos para com qualquer parte do País, são devidos especialmente com relação à Capital brasileira. Pelo próprio fato de ser sede dos Poderes supremos da Nação, qualquer coisa que de bom aí se realize honra o País todo, e qualquer coisa de mal que aí se dê fere o brio de toda a nacionalidade.
4) Brasília, já tão nova, foi calcada aos pés pelo ditador da Iugoslávia, Josip Broz Tito. Pedimos ao Presidente da República que poupe ao País a dor e a indignação que suscitará a realização, em suas terras, de um congresso destinado a implantar a ideologia comunista em toda a América, Latina.
5) Exatamente no momento em que o renome internacional do Brasil brilhou, com a liderança, no Concílio Vaticano, por dois ilustres Prelados — D. Geraldo de Proença Sigaud, S. V. D., Arcebispo de Diamantina, e D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos — de um movimento de centenas de Bispos, pedindo que o Concílio condene o socialismo e o comunismo, causará uma impressão dolorosa em todo o mundo ver que aqui se realiza um congresso comunista de âmbito internacional.
6) Não pode haver dúvida para os brasileiros de que o regime comunista é incompatível com a Religião Católica, ainda mesmo quando ele atenua por efeitos táticos a sua luta contra a Religião, como provou o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, da Universidade Católica de São Paulo, em magistral artigo intitulado «A Liberdade da Igreja no Estado Comunista», artigo este largamente divulgado por órgãos da imprensa européia e norte-americana.
Por todas estas razões, Senhor Presidente, os abaixo assinados pedem que em nenhum recanto do Brasil este congresso se realize.
Porque todos os belo-horizontinos querem que Nossa Senhora Aparecida continue sendo a Rainha do Brasil.
Deus guarde a Vossa Excelência».
OS CONGREGADOS EM BRASÍLIA
Para entregar esse manifesto ao Presidente da República, os congregados marianos universitários organizaram uma caravana de automóveis a Brasília. Tomou ela o nome de «Caravana Nossa Senhora Aparecida dos Universitários Católicos» e estava composta por mais de cinqüenta congregados, distribuídos por cinco automóveis, uma camioneta e um ônibus. Os veículos conduziam faixas com os dizeres: «Os universitários católicos vão a Brasília em defesa da dignidade do Brasil»; «Minas não pode tolerar para o Brasil o que não aceitou para si»; «O Brasil se sente abalado e conspurcado com a realização do congresso comunista em seu território». Junto ao pára-brisa dianteiro do ônibus foi colocada uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Depois de dar varias voltas pela cidade e receber o aplauso do povo de Belo Horizonte, por volta das 12h30m do dia 25, sábado, a caravana se pôs em marcha para Brasília.
Ao longo do percurso sucederam-se as manifestações de simpatia: em Matozinho, Sete Lagoas e Paraopeba, as populações se postavam à margem da estrada para aplaudir a caravana. Em Sete Lagoas, o prefeito fez um discurso de saudação; em Paraopeba, atendendo a um apelo do Vigário, o povo rezou pelo êxito da caravana diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida que era conduzida pelos estudantes.
A caravana chegou a Brasília na manhã de domingo. Depois de assistirem à Missa e comungarem, os universitários organizaram uma passeata pela cidade. Os alto-falantes instalados nos carros anunciavam a finalidade da caravana, e foguetes chamavam a atenção do povo para o desfile. Os dizeres das faixas causavam viva impressão.
Enquanto os congregados percorriam as principais avenidas de Brasília, varias pessoas se incorporaram ao desfile, com os seus próprios automóveis, manifestando assim o seu apoio. Muitos pediam faixas e cartazes e os pregavam em seus carros.
Os estudantes dirigiram-se em seguida ao Palácio do Planalto. Ali, na ausência do Presidente (que estava viajando) e de seus assessores, entregaram o memorial com as 30 mil assinaturas ao oficial de dia, que prometeu encaminhá-lo ao secretario particular do Presidente João Goulart.
APARATO POLICIAL
A chegada dos universitários mineiros a Brasília provocou a mobilização de cerca de cem investigadores e guardas do Departamento Federal de Segurança Pública, o qual tinha sido alarmado por noticias falsas segundo as quais os integrantes da caravana vinham para «fechar à força» o congresso comunista. Em contacto que tiveram com o Cel. Lemos de Avelar, chefe do DFSP, os dirigentes da caravana puderam esclarecer que os estudantes católicos não pretendiam senão, dentro da maior ordem, «mostrar ao povo brasileiro que o comunismo jamais será implantado no Brasil, porque a grande maioria da mocidade está atenta e vigilante», conforme declarou o Sr. Paulo Teixeira Campos, Presidente da Congregação Mariana Universitária. Na oportunidade, o Sr. Nicomedes Ferreira Filho, um dos chefes da caravana, expressou ao Cel. Lemos de Avelar a estranheza dos universitários pelo aparato bélico com que a policia os recebera, pois durante todo o desfile tinham sido seguidos por viaturas da Radio Patrulha com guardas e investigadores armados com pistolas, metralhadoras e bombas de gás lacrimogêneo, ao mesmo tempo que um pelotão de policiais permanecia postado em frente ao Hotel Nacional, onde se realizava, da maneira mais inexpressiva, o congresso comunista.
À tarde, a caravana partiu de volta para Belo Horizonte, sempre dentro da mais completa ordem. Ao chegar à capital mineira, nova passeata foi feita pela cidade. O povo dava vivas a Nossa Senhora Aparecida e aos universitários pela brilhante atuação destes.
Nos dias 27 e 28 os jornais de Belo Horizonte, de São Paulo e do Rio de Janeiro divulgaram o manifesto entregue pelos estudantes católicos mineiros, dando grande destaque à noticia da caravana. Os universitários compareceram nesses dias às estações de radio e televisão de Belo Horizonte, onde apresentaram um completo relato dos acontecimentos de Brasília.
EM CURITIBA
A reação do povo mineiro e em particular dos estudantes católicos encontrou eco em vários pontos do País. Em Curitiba, universitários católicos promoveram a coleta, entre o povo, de assinaturas para um manifesto idêntico ao de Belo Horizonte, e conseguiram cerca de 12 mil assinaturas.
NA GUANABARA
Henrique Barbosa Chaves
Rio, fevereiro (CATOLICISMO) — Ao tomar conhecimento da campanha promovida por seus colegas mineiros, um grupo numeroso de universitários católicos desta Capital iniciou movimento idêntico, pedindo que o povo carioca assinasse uma mensagem ao Sr. Presidente da República solidarizando-se com a população de Belo Horizonte pela repulsa que demonstrara à pretendida realização do congresso comunista em sua cidade, e fazendo um respeitoso mas veemente protesto por motivo da instalação do mesmo em Brasília, capital da maior nação católica do mundo.
A mensagem elaborada pelos universitários católicos da Guanabara reproduzia na íntegra o memorial assinado por mais de 30 mil belohorizontinos, frisando que este último documento obtivera a maior repercussão na capital mineira e constituíra um dos fatores decisivos para que o congresso da CUTAL não pudesse ter lugar ali.
Instalando bancas em diferentes pontos da cidade, estudantes de diversas Faculdades da Guanabara — Nacional de Direito, Nacional de Filosofia, Direito do Catete, Ciências Econômicas do Rio de Janeiro, Nacional de Agronomia — começaram no dia 24 de janeiro a coleta de assinaturas entre a população, sem distinção de classe ou idade. Logo de início puderam comprovar quanto era oportuno o trabalho que estavam realizando. A receptividade, o entusiasmo do povo carioca para com a campanha foi realmente alentador. Em muitas oportunidades os transeuntes formavam filas para subscrever o memorial. Assim é que já no dia 27 à tarde haviam sido conseguidas mais de 20 mil assinaturas entre pessoas de todas as categorias profissionais e níveis sociais, notando-se elevado número de altas patentes militares, profissionais liberais e elementos do Clero. Tal como acontecera em Belo Horizonte, foi relevante a participação das camadas mais modestas da população. É característico o caso de um edifício em construção na Rua Senador Vergueiro, onde os operários quiseram prestar sua adesão à iniciativa dos estudantes anticomunistas. Como, porém, somente um deles sabia escrever, este teve que assinar, a pedido, pelos seus companheiros. Muitos populares, entusiasmados, ofereciam-se para colaborar na coleta de assinaturas, tendo varias listas sido preenchidas desta maneira. Destacou-se entre esses colaboradores voluntários e eficientes um general do Exército.
Os comunistas e filocomunistas, por seu lado, não permaneceram inativos. Por diversas vezes tentaram tumultuar o trabalho dos estudantes. As táticas usadas para esse fim foram as costumeiras. Aproximavam-se das bancas e iniciavam uma discussão na qual, à míngua de argumentos, procuravam ridicularizar os universitários católicos. É importante ressaltar que os promotores da campanha tiveram pouco trabalho com esses elementos: os populares, que permaneciam sempre em grande número ao redor de cada banca, se encarregavam de desmascarar e enxotar os indesejáveis perturbadores da ordem.
Outras vezes recorriam os comunistas diretamente à tática das provocações, lançando contra os universitários seus velhos e surrados baldões, tais como os de nazistas, fascistas, exploradores do operariado (isto apesar do grande número de operários que estavam assinando), lacaios do imperialismo, para citar somente os que são publicáveis. Também essa tática fracassou completamente, devido à atitude firme e serena dos universitários e à pronta e eficaz reação de populares anticomunistas (principalmente estudantes) que se declararam dispostos a defender a campanha a todo custo.
Em uma oportunidade elementos comunistas em grande número teriam conseguido destruir o material de uma das bancas, se não fosse a intervenção oportuna de choques da Policia de Vigilância e da Radio Patrulha. Ainda assim chegaram a rasgar alguns cartazes e agrediram uma senhora que lhes verberava a atitude.
Ultrapassado o número de 20 mil assinaturas, os universitários católicos encerraram sua campanha na Guanabara, considerando que ela já atingira pleno êxito. A reportagem de «Catolicismo» não tem dúvida em afirmar que, se necessário fosse, os estudantes teriam alcançado em pouco tempo 100 mil adesões. Vale a pena ressaltar, ainda, as inúmeras manifestações de elogio e incentivo que eles receberam de elementos representativos dos meios eclesiásticos, civis e militares, de senhoras da sociedade, de simples donas de casa, e principalmente de estudantes e operários.
A imprensa diária e quase todas as estações de radio da Guanabara deram ampla cobertura à campanha. A TV Tupi filmou as bancas de coleta das assinaturas.