"Fiducia" se dirige com brilho e Firmeza à nação chilena
A REFORMA AGRARIA DO PRESIDENTE FREI É SOCIALISTA E CONFISCATÓRIA
A. A. Borelli Machado
Fiducia, a combativa e prestigiosa revista católica de Santiago do Chile, fez publicar no dia 26 de fevereiro p.p. um "Manifesto à nação chilena sobre o projeto de reforma agrária do Presidente Frei", que constitui uma vigorosa denúncia do atentado que essa propositura representará para o direito de propriedade, se convertida em lei.
O documento foi publicado na íntegra, primeiramente, pelo diário "El Mercurio", da capital chilena, de grande circulação em todo o país. Outros cinco jornais, da capital e do interior, reproduziram-no também na íntegra: "El Diario Ilustrado", de Santiago; "El Mercurio" e "La Unión", de Valparaíso; "La Patria", de Concepción; e "El Diario Austral", de Temuco. Estampamos abaixo um resumo do manifesto.
No dia 27 "Fiducia" divulgou um comunicado, assinado pelo diretor da revista, Sr. Patricio Larrain Bustamante, sob o título "É lícito aos católicos discordar do projeto de reforma agrária do Presidente Frei?" Nesse comunicado tecem-se considerações em torno de uma entrevista concedida à imprensa pelo Emmo. Cardeal Raul Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago do Chile, cujas declarações estavam sendo apresentadas pelos círculos interessados como se constituíssem uma aprovação do projeto agro-reformista do governo. "EI Mercurio", "El Diario Ilustrado" e "Tercera de la Hora", diários da capital chilena, bem como "El Mercurio" de Valparaíso, publicaram o comunicado de "Fiducia" na íntegra. Reproduzimos adiante o texto desse documento.
Como se vê, o manifesto de nossos jovens confrades e o comunicado que se lhe seguiu foram largamente divulgados pela imprensa chilena e pode-se dizer que todo o país tomou conhecimento deles. O rádio e a televisão também se ocuparam de ambos repetidamente. Programas dos mais ouvidos noticiaram-nos com destaque. Diversas emissoras consagraram-lhes amplos comentários.
"La Nación", órgão demo-cristão e porta-voz do governo, esquivando prudentemente o debate doutrinário, procurou identificar o pronunciamento de "Fiducia" com a defesa de interesses pessoais de seus redatores. O resumo que apresentamos mais adiante mostra que na realidade as censuras feitas ao projeto governamental de reforma agrária se situam estritamente no plano dos princípios.
O semanário ilustrado "Ercilla" assumiu um curioso tom de superioridade: comentou que a intervenção de "Fiducia" estaria "fora de hora" e classificou-a como uma tentativa da revista de oferecer ao público "o maravilhoso unguento de seus conceitos sobre direito de propriedade e reforma agrária".
Por outro lado, o jornal conservador "El Diario Ilustrado" assinala que as duas "importantes declarações do grupo Fiducia" foram muito esclarecedoras no que diz respeito ao direito de propriedade.
Nos meios rurais, o manifesto provocou vivo interesse e simpatia. Em alguns lugares, proprietários se reuniram para discutir e comentar, favoravelmente, o documento.
Várias personalidades do mundo político chileno exprimiram abertamente o seu apoio. O Senador Enrique Curti, presidente da Comissão de Agricultura do Senado, solidarizou-se em termos calorosos com a posição assumida por "Fiducia". Em carta dirigida ao diretor da revista afirmou que o acurado estudo que esta fizera do projeto permitia concluir que ele era atentatório ao direito de propriedade, tendendo a implantar na agricultura chilena o dirigismo socialista ou a coletivização das terras.
O deputado conservador Gustavo Monckeberg externou a sua "entusiástica adesão" a "Fiducia" pela sua corajosa e decidida defesa do direito de propriedade, com a qual se convertera "no intérprete de todos os que não somos marxistas nem democratas-cristãos".
O presidente da Associação Nacional de Defesa do Contribuinte, ex-deputado Miguel L. Amunategui Johnson, felicita a revista pela sua tomada de atitude "em face do avanço deliberado e imposto de uma política coletivista e comunizante com que se pretende comprometer gravemente o futuro e o progresso normal do Chile". Estas declarações foram divulgadas pela imprensa e pelo rádio.
Os meios democratas-cristãos preferiram, de um modo geral, recorrer ao silêncio. Quando muito chegaram até as invectivas indiretas. Assim, a Rádio Cooperativa Vitalícia, de propriedade do Sr. Carlos Vial, ex-senador demo-cristão independente, disse que se estava fechando a possibilidade do diálogo agrário, em virtude de se delinearem duas posições antagônicas: uma minoritária, que grita muito e não admite a reforma agrária, e outra que a quer total.
Não faltaram também as atitudes ditas equilibradas. O Revmo. Pe. Miguel Ibáñez, do "Opus Dei", em um artigo intitulado "Guerrilha de textos" procura situar-se entre o que chama o ultramontanismo de "Fiducia" e o socialismo, criticando o uso de documentos pontifícios e textos evangélicos a favor de uma posição ou de outra. Concede que a interpretação dada pelo tópico final do manifesto à Carta do Emmo. Cardeal Cicognani é correta, mas acrescenta que a revista teria caído em contradição quando procura confrontar os princípios católicos com as disposições concretas do projeto. Como se não fosse missão dos leigos católicos empenhar-se em aplicar os princípios emanados da Santa Sé ao julgamento dos casos concretos com que se defrontam!
No momento de encerrarmos esta crônica, a campanha encetada por "Fiducia" — situada, como já salientamos, no campo doutrinário — contra o projeto de reforma agrária do Presidente Frei, vem apenas de se iniciar, e as repercussões que acabamos de registrar tendem a crescer em intensidade nos próximos dias. Manteremos nossos leitores informados dos desenvolvimentos que ela vier a ter.
O Manifesto
O manifesto de "Fiducia" observa inicialmente que "a opinião pública do País está assistindo a um debate tenso e decisivo, cujo desfecho se mostra carregado de angustiosas interrogações. O centro desse debate é constituído pelo projeto de reforma agrária que o Sr. Frei, sob sua firma e responsabilidade, levou à consideração do Congresso Nacional".
Em meio a esse debate, "ainda que ninguém o expresse abertamente, percebe-se com clareza que não é um mero projeto de lei que se discute, senão que, por trás dele, algo de imensamente decisivo para a vida e o futuro do Chile está posto em jogo.
"É que sopra sobre o Chile, como um vento, uma tendência de antipatia para com a propriedade privada. (...) tal sopro, que não procede de razões técnicas, mas é de caráter ideológico e doutrinário, vinha se fazendo notar com clareza crescente. Assim, a opinião pública viu como se apresentou um projeto de reforma constitucional que deixa sem garantias, ao arbítrio do Estado, o direito natural de propriedade privada; viu aplicar-se uma política tributária opressiva e injusta; ouviu o tom ameaçador das declarações e discursos: hoje, o Sr. Frei, à testa de seu governo, dá mais um passo, e temos uma "reforma agrária"
Conclui na página 6
A INGLATERRA FAZ ECONOMIA
Alberto Luiz Du Plessis
Triste acontecimento acaba de dar-se para todos aqueles que amam a tradição: em Livro Branco publicado a 22 de fevereiro último, o governo britânico anuncia a sua decisão de, praticamente, acabar com a sua gloriosa marinha de guerra, transformando-a em força simbólica. Mesmo sem levar em conta o imenso prejuízo que isto representa para a defesa do mundo ocidental, não se pode deixar de ficar contristado ante tal fato. Atos de valor como os que assinalam a história das forças navais inglesas — quando estas não se viram desviadas de sua legítima missão — honram não só a elas como a toda a espécie humana, e em todas as armadas do mundo livre, mesmo naquelas que várias vezes foram suas adversárias, paira certamente um sentimento de desolação desde que se divulgou que a marinha de Nelson estava condenada a desaparecer. Nós brasileiros não podemos esquecer que foi sob as ordens de um almirante inglês, Lord Cochrane, Marquês do Maranhão, que nossa armada teve seu batismo de fogo e, apesar das circunstâncias adversas, derrotou e perseguiu até o Tejo a frota portuguesa.
Como protesto pela decisão do governo laborista, demitiram-se o Ministro da Marinha, Christopher Mayhew, o Primeiro Lord do Almirantado, Almirante Sir David Luce, e vários outros oficiais generais da "Royal Navy".
Nova concepção
A diminuição gradual da marinha britânica, anunciada no Livro Branco, insere-se num conjunto muito mais vasto. Como veremos, aquele documento consubstancia uma nova concepção do papel que a Inglaterra deve representar no mundo.
O primeiro item desta nova concepção implica em liquidar, o mais rápido possível o pouco que resta do império colonial britânico e a quase totalidade das bases que a Inglaterra ainda possui. Embora estas últimas territorialmente pouco representem, sua importância estratégica é imensa. Antilhas, Malta, Chipre, Aden, Ilhas Maldivas, Colombo, Singapura, Hong-kong, constituem uma cadeia de praças fortes que dominam as vias de comunicação mais importantes do mundo e, pela sua posição, permitem apoiar atividades militares que venham a se tornar necessárias em qualquer parte do globo. Nem mesmo o pretexto de que é preciso acabar com uma dominação colonial odiada pode ser invocado para abandonar essas bases. A maioria delas está localizada em países já, independentes, tendo sido objeto de tratados com os respectivos governos. Em Hong-kong, que é realmente uma colônia, tamanho é o afluxo de refugiados da China Vermelha, que o seu exíguo território está superlotado, causando sérias dificuldades às autoridades locais, circunstância que positivamente não parece indicar que o "jugo" britânico seja detestado ali.
Assim, o aspecto fundamental da filosofia que se depreende do Livro Branco consiste em que, para o futuro, a Inglaterra deseja retrair-se para as suas ilhas, renunciando a uma responsabilidade política em escala mundial e marchando para uma posição de segunda plana. Pior ainda, isto tudo se fará sob a alegação tão deploravelmente prosaica quanto falsa de que o Reino Unido precisa fazer economia, o que supõe visivelmente o princípio de que o conforto está acima de tudo.
Os corolários
Fixado este princípio, os corolários surgem naturalmente. Além de suprimir sua marinha e suas bases em todo o mundo, a Inglaterra não terá mais tropas no Exterior, com exceção dos 51 mil homens acantonados na Alemanha Ocidental, subordinados a NATO, — e, mesmo estes, só enquanto a Alemanha pagar as despesas de manutenção: amigos, amigos, negócios à parte.
Os foguetes, arma básica da guerra moderna, foram deixados de lado há muito tempo. A aviação perde seu sustentáculo material: a indústria aeronáutica. Sempre alegando economia, o governo trabalhista reduzirá ao mínimo a produção aeronáutica inglesa, e passa desde logo a adquirir aviões nos Estados Unidos, já tendo feito uma encomenda de bombardeiros F-111. Resta perguntar: que é que sobra depois de tudo isto?
Israel não quer
Na lista de bases a serem abandonadas pela Inglaterra terá talvez algum leitor notado a ausência de duas: a das ilhas Faran, que guardam a entrada do Mar Vermelho, e Gibraltar. Este fato poderia dar a impressão de que John Bull afinal não está tão demissionário assim, posto que conserva dois bastiões no tradicional caminho das Índias, pronto a dali partir para a luta caso seus interesses se vejam ameaçados. Nada mais ilusório.
As ilhas Faran, que deverão ser completamente desmilitarizadas, não são guardadas para constituírem um anteparo da cristandade contra o comunismo e os infiéis, mas sim para ... agradar o Estado de Israel. A Grã-Bretanha, que não está mais disposta a se incomodar com coisa alguma fora de seu próprio território — pois precisa fazer economia — abre uma exceção para não aborrecer o governo de Tel Aviv, que fez sentir que a presença árabe na extremidade meridional do Mar Vermelho lhe seria desagradável.
E Gibraltar?
Resta Gibraltar. Último baluarte do poder britânico em todo o mundo. Tem o mesmo sentido que uma porta aferrolhada numa casa que tem todas as demais arrombadas. Para um povo prático como o inglês, que ademais se queixa de dificuldades financeiras, que significado pode ter a manutenção desta base depois do abandono de todas as outras? Será que os habitantes de Gibraltar não têm direito à autodeterminação que, hoje em dia, não se recusa às tribos papuas? Ou será que o socialista e ateu Mr. Wilson quer prolongar uma situação que é penosa e vexatória para a Espanha, lembrado, quem sabe, da Invencível Armada e de tantas outras "insolências" daquela nação católica?
SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT expirou, há precisamente 250 anos, neste quarto que é hoje um oratório na Casa Mãe dos Filhas da Sabedoria, em Saint-Laurent sur Sèvres, na Vendeia. (p. 2)