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O direito de saber

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Um repetido contato com o público dos países da Europa Ocidental deixou-me absolutamente convicto de que poucos povos acompanham, como o nosso, os acontecimentos internacionais.

A respeito das greves que têm sacudido a Itália, por exemplo, e da crise ministerial que ali se vai avolumando, estou persuadido de que o brasileiro de cultura mediana possui conhecimentos sensivelmente mais pormenorizados do que o francês ou o austríaco de igual nível. Não se pense que a razão disto se encontra no opulento noticiário internacional de nossa imprensa, superior habitualmente ao noticiário dos jornais europeus. O contrário é que é verdade. Porque o brasileiro se interessa vivamente pelo ocorrido em todo o mundo, é que a nossa imprensa lho relata tão largamente. Diz-se que os jornais modelam o público. Mais verdade ainda é, que o público modela os jornais.

Diria pouco quem se cingisse a afirmar que o brasileiro lê noticiários internacionais amplos. Ele os medita, ele os comenta, e deles extrai observações que depois aproveita para resolver problemas domésticos. Em outros termos, o brasileiro possui o senso do universal. É esta uma de nossas riquezas de alma. E felicito nossa imprensa por atender com tanta fidelidade às exigências desse senso do universal, que nos distingue.

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Por isto mesmo, qualquer enclausuramento, qualquer confinamento da opinião nacional nos tabiques de uma informação dirigida, que lhe subtraia alguma parcela ponderável do que no Exterior ocorre, a mim se afigura como um atentado a um dos traços mais nobres do espírito brasileiro.

Ora acontece que, a respeito do modo por que largos setores europeus estão recebendo o novo texto da Missa — o novo “Ordo Missae”, se quisermos usar a expressão correta — parece-me que o público nacional está muito pouco informado. Penso contribuir para que se remedeie a lacuna assim criada, com algumas notícias típicas, que passarei a enunciar. Não me assusta o melindroso do assunto, precisamente porque discordo da ideia de que se deva sujeitar a uma filtragem de notícias melindrosas um povo inteligente — e de tanta Fé — como o nosso.

Limito-me, na nota de hoje, a noticiar. Noticiar - repito - é atender a um direito do público. É cumprir um dever de jornalista. Atendo aqui a esse direito. E cumpro meu dever.

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Como todos sabem, a Missa é o ato mais augusto do culto católico, pois renova de modo incruento o Sacrifício do Calvário. Tudo quanto toca na Missa toca, pois, no que a Religião tem de mais nobre, sensível e vital. O papa Paulo VI instituiu recentemente um “Ordo Missae”, diferente em vários pontos muito importantes do “Ordo” anterior, decretado por São Pio V, no séc. XVI. Não espanta, pois, que a atenção de todos os teólogos se tenha fixado, desde logo, sobre o novo texto.

Ora, se em muitos ambientes este foi vivamente aplaudido, e em outros foi recebido com uma confiante despreocupação, dois cardeais — duas personalidades muito chegadas, pois, ao Papa — não trepidaram em escrever a Paulo VI uma carta em que manifestavam viva apreensão e fundas reservas quanto ao novo “Ordo”. E, mais ainda, os dois purpurados julgaram dever comunicar ao público a carta que haviam enviado ao soberano Pontífice.

Não veja o leitor, neste episódio, um ato de contestação teatral, destes que se vão tornando banais na vida tragicamente conturbada da Igreja. Não é uma atroada à maneira do cardeal Suenens. Nem um ato de oposição, no estilo do cardeal Alfrink. Desta vez, os cardeais em causa são pessoas famosas exatamente por sua disciplina para com o Papado. Trata-se do célebre Cardeal Ottaviani, secretário emérito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. E do grande latinista Cardeal Bacci. É particularmente expressivo que, precisamente deles, tenha partido esse brado pensado, comedido e respeitoso — mas que nem por isto deixa de ser um brado — a respeito do novo texto da Missa.

Há tempos atrás, as agências telegráficas publicaram algo sobre esta carta. Não disponho aqui do espaço necessário para a transcrever. Menciono apenas que, segundo os dois Cardeais, o novo “Ordo” apresenta a Missa, não como um sacrifício conforme à doutrina católica, mas como uma ceia. E isto — acentuam eles — se aproxima do conceito protestante. Creio não ser preciso dizer mais, para que o leitor se dê conta da gravidade do pronunciamento dos dois cardeais...

No “Courrier de Rome” (25-7), leio uma declaração que procedente de fonte diametralmente oposta, caminha para a conclusão a que chegaram os dois Cardeais. Uma das mais célebres instituições protestantes da atualidade é o convento de Taizé, na França. Ora, em artigo publicado no diário católico parisiense “La Croix” o “irmão” Thurian, de Taizé, escreveu: “A reforma litúrgica deu um passo notável [com o “Ordo” novo] no campo do ecumenismo. Ela se acercou das próprias formas litúrgicas da igreja luterana”.

Tudo isto talvez explique o fato de que uma parte ponderável do Clero francês continue a celebrar a Missa no texto de São Pio V. Recebi de Paris a relação mimeografada, contendo a relação “incompleta” das igrejas em que se celebra a Missa “à antiga”, com os respectivos horários. Trata-se nada menos de 19 igrejas e capelas em Paris, e 102 em 36 cidades de província.

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Talvez espante ainda mais o leitor o fato de que, da catolicíssima Espanha, tenha partido uma atitude ainda mais impressionante. Na revista “Que Pasa?” de Madrid (n.º 315, de 10 deste mês), leio que a Associação de Sacerdotes e Religiosos de Santo Antônio Maria Claret — em cujas fileiras estão inscritos nada menos que 6 mil sacerdotes — enviou uma carta ao Pe. A. Bugnini, secretário da Sagrada Congregação para o Culto Divino, reputado o autor do novo “Ordo”, na qual lemos esta frase: “Nós, Sacerdotes católicos, não podemos celebrar uma Missa da qual o sr. Thurian, de Taizé, declarou que poderia celebrá-la sem deixar de ser protestante. A heresia não pode jamais (nos) ser imposta por obediência”. Assim, para essa prestigiosa associação sacerdotal, não celebrar a Missa segundo o texto novo é um imperativo de consciência.

Para voltar à França, forneço aos leitores ainda uma notícia, aliás apenas colateral ao assunto. “La Pensée Catholique”, editada em Paris pelo Padre L. Lefèvre, é um dos mais altos órgãos da cultura religiosa contemporânea. No no 122 (1969) dessa revista (pp. 53-54), leio que em não pequeno número de igrejas os padres progressistas fazem uma estrepitosa pressão moral para que todas, absolutamente todas as pessoas presentes comunguem. A Sagrada Hóstia é recebida na mão, e não mais na boca. Muitos dos presentes, não se sentindo em condições de comungar, levam as hóstias de volta para seus lugares. E ali as deixam. De sorte que, terminada a Missa, se encontram Hóstias atiradas nos bancos, ou até rolando pelo chão. Isto já não é raro em certas igrejas.

A Hóstia é o próprio corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo...

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Não é bem verdade que estas são coisas que nosso público tem o direito, o triste direito de saber?

O povo católico mais numeroso da terra é o brasileiro. Lúcido, inteligente, marcado pelo senso do universal, não pode ficar na ignorância da controvérsia que o novo texto da Missa vai despertando.

Piedoso, sinceramente piedoso, ele não pode deixar de se interessar — por outro lado — pelo que conta a “Pensée Catholique” e que constitui, não uma controvérsia mas uma ignomínia.

(Transcrito da “Folha de S. Paulo” de 25/1/70)

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Legendas:
- Goiania: o brado de campanha, logo após a Missa.
- Rio Negro: "Introibo ad altare Dei..." a Miisa foi em latim.
- Londrina: No primeiro banco, autoridades presentes ao ato.
- Ribeirão Preto: como em São Paulo, o Arcebispo proibiu que os militantes usassem a capa rubra. Usaram uma faixa negra com filete dourado, atravessada sobre o peito.


MISSAS PELAS VÍTIMAS DO COMUNISMO

Conforme noticiamos em nossa última edição, a TFP promoveu em 23 cidades do Brasil a celebração de Missas pelas vítimas do comunismo em todo o mundo, com especial menção dos brasileiros mortos pela sanha do terrorismo. A ocasião foi a do transcurso de mais um aniversário da revolução bolchevista na Russia. Apresentamos hoje mais alguns flagrantes das cerimônias.