do que nunca, que Nossa Senhora do Grand Retour entra em Evreux (p. 24).
* Em Beauvais os "espíritos-fortes" são organizados. Espalham um folheto conclamando a população, seja qual for a orientação política, "livres pensadores e tudo o que a República tem de defensores (sic!) para se levantar ao grito de 'Defendamos Marianne contra a Virgem Maria" (p. 25) (3). Tudo inútil. O triunfo da Virgem é total.
* Em outras cidades, como Houilles e Reims, conclamam para contra-manifestações no mesmo dia e hora em que estavam programadas homenagens à Virgem. Na primeira cidade praticamente não comparece ninguém ao ato ímpio, e, na segunda, enquanto 30 a 35 mil pessoas acompanham a Virgem Náutica, apenas uma dúzia de envergonhados cidadãos comparecem à Bolsa de Valores para a contra-manifestação ... (pp. 25-26).
* Argenteuil, nos arredores de Paris, é um reduto comunista. Apesar disso, a recepção à Virgem é um triunfo. O prefeito, despeitado, não pôde fazer nada senão tentar processar o missionário dirigente da peregrinação por:
1°) ter organizado procissão sem permissão municipal;
2°) ter feito o povo cantar e;
3º) haver gente descalça no ato! ... (p. 24).
A ação do sobrenatural se faz sentir quando menos se espera, mesmo havendo relutância em relação a ela. Assim:
* Léran, pequena cidade do Ariége, é convidada a mudar o dia da festa local para dar acolhida a Nossa Senhora do Grand Retour que por lá passará. – "De jeito nenhum!" é a resposta peremptória. O povo, pouco fervoroso, tem mais empenho na famosa festa, com a feira que atrai todos os anos gente da redondeza, do que na passagem de uma imagem. Chega o dia; a festa atinge seu auge: todos comem, bebem, cantam e dançam. Subitamente, sem que ninguém saiba de onde, um sussurro começa a correr de boca em boca: "A Virgem está chegando!" Os músicos são os primeiros a abandonar seu estrado, seguidos pelos dançantes. Em poucos minutos a feira está vazia. À noite, em vez de ser no local da festa, é na praça da Matriz que todos se apinham, pois o templo é pequeno para conter tanta gente para a Missa da meia-noite (pp. 26-27).
* Numa cidade da Borgonha, o respeito humano impera de tal modo que contagia o vigário. Por isso, este não avisa ninguém da passagem da Virgem. Julga ridículo o que se conta de procissões com os braços em cruz, pés descalços ... – "Isso não é mais para o século XX!" Quando chega o cortejo do Grand Retour, minguado, pois ninguém o fora esperar nos limites da paróquia, é percebido apenas por alguns. Nada está preparado e a igreja está vazia. Entristecidos, os missionários improvisam um altar para a imagem da Senhora do Grand Retour e se retiram à casa paroquial para almoçar. Apenas começam a refeição, alguém os interrompe: – "Vinde, a igreja está cheia. Todos vos esperam". Como?! Sim, em menos de meia hora o templo está superlotado. Nossa Senhora se incumbira de fazer circular a notícia por meio das poucas pessoas que tinham visto o magro cortejo. Depressa um missionário sobe ao púlpito e outro entra no confessionário. Aí, também, sem que ninguém tivesse ousado prenunciar, há vários retornos a Deus. A Missa é celebrada em meio a um fervor indizível, sendo inúmeras as comunhões. "Que sopro, em algumas horas, passou para desencantar tantas almas enferrujadas na rotina e na negligência?" (pp. 51-52). Simplesmente a ação irresistível e avassaladora d'Aquela que é a Rainha dos corações.
Reza-se, reza-se, reza-se ...E, nesse clima de fervor, nada se teme pedir. Como filhos que sabem que sua mãe tudo pode, as súplicas jorram abundantes, confiantes:
* Esta menina de nove anos, por exemplo, já reza fervorosamente há uma hora, os braços em cruz. O que pede ela à Virgem com tanta insistência? O missionário a interpela. Quer o que milhares e talvez milhões de crianças, na Europa, deveriam desejar nesses terríveis anos da guerra: a volta do pai que partiu para o front e do qual há quatro anos não tem mais notícias. Em casa, é este quem a espera de braços abertos! A oração dos pequenos faz violência ao Céu ... (pp. 52-53).
* É comovente ver o modo como esse senhor reza. E há horas aí está, de joelhos, o olhar fixo na Virgem. O missionário quer ajudá-lo, mas só Nossa Senhora pode fazê-lo: tem seis filhos pequenos e a esposa está em agonia, desenganada pelos médicos. O que será de seus filhinhos sem o amparo da mãe? indaga ele, súplice, Àquela que é a Mãe de Deus e dos homens. Quando chega em casa, compreende que fora atendido. Não querendo ser ingrato como os nove leprosos, volta para agradecer. Durante dois dias mais acompanhará a Senhora do Grand Retour em ação de graças (pp. 116-117).
Se esses rezam facilmente, com fervor, movidos pela confiança, outros são como que forçados a fazê-lo por um poder irresistível:
* Esse ferreiro que aí está, rezando tão contrito, ainda de manhã tinha bem outros propósitos. Anticlerical, alto e bom som anunciara que, para perturbar "essa palhaçada", iria bater violentamente na bigorna exatamente quando o cortejo passasse por sua rua. E assim o faz até que o andor da Virgem, fortuitamente, para bem diante de sua porta. Sem deixar de bater, ele ergue os olhos encontrando os da Senhora. É o suficiente para fazê-lo largar a marreta e incorporar-se ao cortejo (p. 149).
* E esse camponês, ainda com roupa de trabalho? Não sabia que a Virgem Náutica estava na cidade vizinha. Mesmo que o soubesse não teria ido vê-la, pois "o trabalho não espera". Assim que começa a arar o campo, relata: "Uma voz me disse: 'Vá até a cidade. Alguém o espera'. Quem poderia me esperar? Eu não podia imaginar. Mas aquilo se tornou obsedante. Deixo o trabalho sem saber por que e parto. Chego e compreendo imediatamente quem me esperava. E sei por quê. Ela me esperava. E eu faço o que Ela de mim esperava" (p. 150).
* O que faz aí essa jovem tão impropriamente vestida com trajes de baile? É simples. Para ir ao clube, tem ela de passar diante da igreja. Lá está a Virgem do Grand Retour. O som dos cânticos e preces, a atmosfera de bênçãos que se desprende do edifício sacro é tão forte, que ela não resiste: entra para ver e ali permanece (p. 151).
* Esse outro senhor era um "espírito forte". Há pouco, enquanto tomava um copo de vinho com os amigos no principal bar da cidade, bradava contra essas "superstições", e afirmava: "A mim a Virgem não terá". Pouco depois, seus companheiros, atônitos, o veem no confessionário. A saída, querem tirar satisfações. Ele, ainda emocionado, só responde: "Vocês não podem compreender o que se passou em mim. Eu mesmo não compreendo. Eu não pude deixar de ir lá" (p. 131).
* É o que acontece também com este que acompanha a procissão como a contragosto, o olhar crispado, os punhos cerrados, falando consigo mesmo. Caminha como que impulsionado por uma força irresistível, resmungando: "Verdadeiramente Ela é terrível, essa Virgem. Ela é terrível!" Na igreja, ainda sob efeito da mesma força, lança-se ao confessionário depois de tantos e tantos anos (p. 149).
Imagem de Nossa Senhora de Boulogne, levada em procissão.
Numeroso público acompanhava sempre as procissões; nas fotos, com trajes típicos.
* * *
Tudo isso e muito mais acontecia no Grand Retour. Não havia vergonha, acanhamento ou respeito humano que detivessem as pessoas movidas pela graça. Eis como o confirma um depoimento da época: "É algo de maravilhoso, escreve a revista 'A Semana Religiosa', de Nevers, de sobre-humano e, - não tenhamos medo da palavra - milagroso, os redemoinhos espirituais que se levantam quando a barca da Virgem avança ao longo de nossos caminhos e ruas ... É a atmosfera de Lourdes, dizem. Nós ousamos declarar que é mais forte do que Lourdes, em certo sentido. O peregrino, em Lourdes, é transplantado para fora de seu ambiente, para um contexto e um meio de tal maneira impregnados de sobrenatural, que nada lhe parece difícil, nem o terço na mão, nem a prece com os braços em cruz ou com os joelhos em terra. Essas manifestações de fé (no Grand Retour) Nossa Senhora nô-las leva a fazer em nosso próprio ambiente, em nossa rua, sob os olhares atentos de nossos vizinhos, de pessoas que nos conhecem. Nós não nos inquietamos mais com o que eles possam pensar. .. É sempre o mesmo o grande vencido do dia: o respeito humano" (p. 58).
* * *
Uma última pergunta não pode deixar de vir à mente do leitor: dada toda a epopeia missionária dessas imagens e o bem espiritual de que foram ocasião, por que não se organizam novas peregrinações pela França e pelo
Página seguinte