mundo? Mais do que nunca, na crise contemporânea, não é necessário um novo Grand Retour da humanidade a Deus, por Maria? Não foi, em certo sentido, um Grand Retour que Nossa Senhora prometeu em Fátima, quando falou no triunfo de Seu Imaculado Coração? Por que não pedir que ele venha o quanto antes?
Guillaume Babinet
Porta da cidade de Boulogne-sur-mer.
Ao fundo, a cúpula da Basílica onde se venera a Imagem.
A LITURGIA católica, tal como a foi concebendo a Tradição, é uma sinfonia ininterrupta de louvor a Deus.
Tem ela aspectos suaves, amenos, quase diríamos meigos; comporta grandezas de uma elevação sublime; não lhe faltam ainda impostações guerreiras como a ponta de uma espada. Estas últimas são certamente as mais esquecidas nesta época de convergencialismo e consenso.
E como toda verdade esquecida produz um vácuo irreparável, tal omissão deturpa a visão que se tem do conjunto da Liturgia. É como se de repente se calassem os trompetes, no momento mesmo em que deveriam tocar para a beleza da sinfonia.
Convém, pois, e muito, para evitar uma ideia adocicada e falsa dos esplendores litúrgicos, lembrar algo de seus aspectos guerreiros.
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O Bispo é um pastor de almas, todo mundo o sabe. Mas o que se evanesceu das mentes de muitos é que, diante do lobo, o Pastor ou é um combatente, ou ele trai sua missão.
O Pontifical Romano, muito a propósito, na cerimônia de sagração episcopal, ao impor a mitra ao Bispo, lembrava-lhe sua condição de guerreiro:
"Impomos, Senhor, sobre a cabeça deste Bispo, soldado vosso, o capacete de defesa e salvação, a fim de que seu rosto por ele ornado e sua cabeça por ele protegida apareçam, como cornos dos dois testamentos, terríveis aos inimigos da verdade, e destes se torne ele poderoso adversário" (destaques nossos).
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Da revista "Ecclesia" de Madri (janeiro/1955, pp. 117 a 122) extraímos:
"Todos os anos, no dia da Epifania (6 de janeiro), celebra-se em Cividale-le-Frioul (Itália), a Missa dita do Espadão. Durante a Missa inteira, o diácono empunha a espada nua na mão direita, e sobre sua cabeça tem um capacete riquissimamente ornado e com plumas.
"Os liturgistas dizem que a palavra evangélica é como um gládio cortante e que todo cristão deve estar pronto a defendê-la até o sangue. 'Não vim trazer a paz, mas a espada', disse Jesus.
"Esta explicação é excelente, mas ela não nos impede de buscar a origem histórica de um tão raro rito na Igreja.
"O Patriarca de Aquileia (cidade que teve como sucessora Veneza), Paulin, obteve, pela generosidade de Carlos Magno, imensos territórios. Com o tempo, o Patriarca de Aquileia tomou lugar na hierarquia feudal (. . .) Tornou-se não só alto dignitário eclesiástico (ele é o ancestral do Patriarca de Veneza), mas também um senhor muito poderoso.
"A espada que figura na festa da Epifania, nesta igreja, deve lembrar essas circunstâncias históricas.
O Patriarca é não só o pregador do Evangelho, mas o cavaleiro de Deus. Ele não a empunha, mas a espada está a seu serviço no exercício de sua missão. O diácono, sendo o servidor temporal do Bispo de acordo com a tradição, ele deve empunhá-la, na proclamação do Evangelho, simbolizando assim a resolução de combater militarmente os inimigos do Evangelho e de barrar o caminho aos infiéis".
Isto explica, aliás, um bonito hábito que existiu quase até a Revolução Francesa, no Antigo Regime, época em que os nobres sempre levavam consigo uma espada. Durante a Missa, à leitura do Evangelho, todos eles desembainhavam suas espadas, em sinal de que estavam prontos a lutar em defesa da Palavra de Deus e da Santa Igreja.
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Tais aspectos guerreiros da Liturgia católica autorizam-nos a uma pergunta em relação ao futuro. Quando tiver cessado o processo de "autodemolição" da Igreja e tiver sido expelida de seu interior a "fumaça de Satanás" - reportando-nos às expressões empregadas por Paulo VI - pelo espetacular triunfo do Imaculado Coração de Maria, previsto em Fátima, como se dará o desenvolvimento da face combativa da Liturgia? Serão introduzidos nela ritos que lembrem a execrabilidade de toda a convergência com o mal? A Santa Igreja, então limpa da "fumaça de Satanás", saberá o que convém fazer!
C.A.