O desenrolar dos acontecimentos na Polônia, com a indicação do Sr. Tadeusz Mazowiecki, católico de esquerda, como primeiro-ministro, torna patente a nossos leitores de modo, por assim dizer, a tocar com a mão, a atualidade do tema abordado em "A Liberdade da Igreja no Estado Comunista".
"À PRIMEIRA VISTA, dir-se-ia .... que as almas podem conhecer e amar a Deus sem ser instruídas sobre o princípio da propriedade privada. Isto nos parece falso .... O princípio da propriedade privada está consignado em dois mandamentos da Lei de Deus (não roubar e não cobiçar os bens alheios). Renunciar a ensiná-lo aos fiéis seria, para a Igreja, o mesmo que renunciar a promover nos homens o conhecimento e o amor de Deus .... Com efeito, sem senso de propriedade não há senso de justiça. A Igreja, se renunciasse a formar nos fiéis a noção exata da propriedade, renunciaria a formá-los na justiça.
A 'liberdade condicionada: um simulacro falacioso
"De mais a mais, o mandato de Jesus Cristo à sua Esposa consiste em que pregue a Lei inteira a todos os povos, em todos os tempos. Se algum governo terreno exige d'Ela o contrário como condição para ser livre, Ela não poderá aceitar essa liberdade que não é senão um simulacro falacioso.
"Consideremos um outro aspecto da questão.
"Segundo certas notícias da imprensa, alguns governos comunistas enunciam o propósito de, pari passu com a concessão de certa liberdade religiosa, operar um recuo parcial no socialismo, admitindo a título provisório algumas formas de propriedade privada. Neste caso, a influência do regime sobre as almas seria menos funesta. A pregação e o ensino católico não poderiam então aceitar de passar sob silêncio, não propriamente o princípio da propriedade privada, mas toda a extensão que este tem na moral católica?
"A isto se poderia responder que nem sempre os regimes mais brutalmente antinaturais - ou os erros mais flagrantes e declarados - são os que conseguem deformar mais fundamente as almas. O erro descoberto ou a injustiça brutal, por exemplo, revoltam e causam horror, ao passo que mais facilmente são aceitas como normais as meias injustiças e como verdade os meios erros, e uns e outras mais rapidamente corrompem as mentalidades.
"Para aniquilar as vantagens que, no Ocidente, o comunismo já vem alcançando com seus acenos de uma certa distensão no terreno religioso e social, é importante e urgente esclarecer a opinião pública sobre o caráter intrínseca e necessariamente fraudulento da "liberdade" por ele concedida à Religião, e sobre a impossibilidade da coexistência pacífica de um regime comunista - ainda que moderado - com a Igreja Católica" ("Catolicismo", n° 152 - O subtítulo e os destaques são nossos).
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (na foto tirada em 1964, com a edição do jornal polonês "Kierunki" na mão) respondeu ao ataque dessa publicação ao seu estudo através do "Catolicismo" (n.o 162, de junho de 1964).
EM AGOSTO passado completaram-se 26 anos da memorável data em que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publicou em "Catolicismo" essa sua portentosa obra (1).
Memorável para "Catolicismo" , memorável para os brasileiros e, sem nenhum temor de exagerar, afirmamos que memorável também para os católicos fiéis do mundo inteiro. Não só porque dito estudo vem sendo difundido com enorme repercussão pelo orbe católico (2), mas talvez principalmente porque sua atualidade não fez senão crescer, sendo hoje sua tese central o ponto rectrix em torno do qual gira a situação religioso-política mundial.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira bem merece aqui nossa homenagem e gratidão por haver discernido e denunciado com tanta antecedência, lucidez e coragem a trama montada pelo comunismo para conduzir aos poucos, através da tática da coexistência pacífica, milhares de católicos do mundo inteiro à apostasia total.
A repercussão do livro foi imediata e de grande alcance.
Merecem especial destaque neste sentido Roma e Polônia.
Na Cidade Eterna, realizava-se nesse momento a segunda sessão do Concílio Vaticano II, e na Polônia preparava-se a fórmula "mágica" de coexistência pacífica comuno-católica.
"A Liberdade da Igreja no Estado Comunista" de tal maneira colocava o dedo na chaga da "questão polonesa", que apenas três meses depois de publicado em "Catolicismo", o próprio Sr. Mazowiecki, então deputado do grupo católico "Znak" na Dieta polonesa, escreveu, em colaboração com o Sr. A. Wieloviesky, um artigo que procurava ser uma réplica ao estudo do Prof. Plinio. O atual Primeiro-Ministro polonês o fez estampar no semanário "Wiez" (n°s 11-12 novembro-dezembro de 1963), do qual era redator-chefe. Sobre outras manifestações de mal-estar produzidas em Mazoviecki pelo livro de Dr. Plinio ver a entrevista publicada nesta edição.
Ainda na Polônia, o Sr. Zbigniew Czajkowski, "católico"-comunista, ao mesmo tempo que se levantava contra a obra, viu-se obrigado a reconhecer que esta alcançou grande repercussão atrás da cortina de ferro.
Pouco depois de publicado em "Catolicismo", o livro foi distribuído a todos os padres conciliares presentes à segunda sessão do Concílio (como também o foi na seguinte).
O "anjo da guarda" de Walesa, Mazowiecki (à esquerda), respondia diretamente as perguntas de mais densidade dirigidas ao líder sindical polonês ...
Os fatos se foram sucedendo rapidamente.
Com efeito, a 4 de janeiro de 1964 "A Liberdade da Igreja no Estado Comunista" era publicado na íntegra em "Il Tempo", o diário de maior circulação em Roma, com uma nota introdutória da agência ASSI, que bem poderíamos chamar de profética, por sua impressionante atualidade.
Nela se lê: "Assistimos nos dias passados a precisas e concretas tentativas marxistas de penetrar decididamente no mundo católico. Para realizá-las .... chegaram a Roma o ministro das Relações Exteriores polonês, o presidente da Dieta e o ex-secretário do Partido operário unificado polonês [comunista], e um deputado de um grupo dito católico [seria talvez o Sr. Mazoviecki? Não o sabemos] .... Parece justamente que, na atualidade, a Polônia assumiu o papel de ponte entre o mundo comunista e o mundo católico, através de mil vias e ambientes" (Cfr. "Catolicismo", fevereiro de 1964, n° 159 - destaques nossos)
Como a difusão e as repercussões da obra se multiplicavam, para atender o pedido de amigos e responder a objeções de adeptos da tese oposta, seu Autor a ampliou em vários pontos, e assim foi publicada em "Catolicismo" de maio de 1964.
Eloquente e cheia de significado como aprovação das teses da obra foi a carta de 2 de dezembro de 1964, da Sagrada