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O lucro que o trabalhador autônomo aplica na sua profissão também não seria renda

No caso dos empregadores, ou dos trabalhadores autônomos, o rendimento se refere à retirada mensal, ou seja, de acordo com a própria pesquisa, "ao rendimento bruto, menos as despesas efetuadas com o negócio ou profissão". É simples perceber como tal definição tende a subestimar a renda real, pois facilmente não toma em consideração a renda investida em máquinas, equipamentos, gado etc.

A valorização dos ativos, como bens imóveis e outros, também não é considerada como renda. O mesmo se dá com a valorização, fruto de alteração na composição de certos ativos como gado etc. Facilmente isso redunda numa subestima significativa da renda, especialmente daqueles que vivem por conta própria, sobretudo no setor agrícola.

O ganho real pode ser o dobro do calculado pelo PNAD

Uma avaliação detalhada dessa subestima tem sido feita por vários autores, como os já citados.

A subestima atinge valores em torno de 43%, e, no caso dos estratos de rendas mais baixas, pode atingir até 80 e mesmo 100%. Ou seja, o ganho realmente obtido pode chegar ao dobro do estimado pelo PNAD.

A pobreza é bem menor do que parece

Não quero cansar o leitor com mais dados e cálculos. Eles são abundantes, mas cabem melhor em estudo para especialistas. Basta assinalar que, tomando em consideração as limitações aqui apontadas, os índices de pobreza se mostram drasticamente reduzidos. Eles chegam a níveis em torno de 18 a 20% da população.

Tais índices são similares aos que prevaleciam no início da atual década. Obviamente não se pretende negar, com isso, a anomalia que eles revelam. No entanto, indicam uma situação de muito menos gravidade do que aquela correntemente difundida.

A solução não está no socialismo

Buscar, na via socialista das reformas de estrutura, a solução para esse problema, é caminhar para o agravamento da situação. Assim o mostra a experiência dos países socialistas.

A saída para essa situação deve ser procurada na análise e extirpação das causas que a originaram. Elas residem principalmente no modelo de desenvolvimento induzido, de industrialização forçada a que foi submetido o Brasil nas últimas décadas. Isto criou desequilíbrios profundos, que afetaram principalmente os setores primários da economia que empregam mão-de-obra não qualificada.

A solução caminha pela via da desestatlzação

Paralelamente, o Estado brasileiro interveio maciçamente na economia por meio de controle de preços e outras medidas, e comprometeu seus recursos em atividades produtivas (como siderurgia, energia, indústrias química e mineradora etc), com péssimos resultados; e deixou de lado atividades próprias de sua esfera, como saneamento, habitação popular, assistência educacional etc.

Portanto, a solução verdadeira deve caminhar no sentido de tirar a economia de controles governamentais artificiais e transferir atividades diretamente produtivas, do Estado para o setor privado, liberando assim recursos para a realização de programas que melhorem os conhecimentos e capacidades da população de baixa renda.

Abrir-se para a concorrência externa

Concomitantemente a esta redefinição do papel do Estado na economia, a política econômica deveria ser orientada no sentido de aproveitar as vantagens comparativas do País, abrindo com critério a economia à concorrência externa, o que redundaria em benefício de todos, especialmente dos mais necessitados.

Os primeiros resultados seriam uma queda da inflação e consequente diminuição das incertezas que atualmente assolam o País. Isso poderá ser tema de um próximo artigo.

Notas (1) "Zero Hora", 25-9-88, p. 48. (2) "Gazeta Mercantil" ,31-3-89, declaração de Christopher Lund, presidente da Câmara Americana de Comércio. (3) "Jornal do Brasil", 9-4-89, dados publicados no estudo do Pro f. Maurício Romão, a pedido da OIT (Organização Internacional do Trabalho). (4) "Veja", 5-11-86, p. 123. (5) Cfr. Oscar Altimir, "The extended of poverty in Latin America", Word Bank Staff Working Papers, n" 522; Guy Pierre Pfeffermann, "The Distribution of Income in Brazil" , Word Bank Staff Working Papers, n. 356.


| ENTREVISTA |

Entrevista com o diretor-presidente da CAL

Estilo colonial: manifestação das mais autênticas da arte brasileira

Na Fazenda Três Pedras, em Souzas (SP), destacam-se grandes janelas encimadas por arcos e belo terraço com colunas de ferro.

Dr. Adolpho Lindenberg, fundador e diretor-presidente da Construtora Adolpho Lindenberg - CAL, e membro do Conselho Nacional da TFP, concedeu uma entrevista a "Catolicismo" (ver nossa edição de junho/89) sobre a atual voga dos estilos tradicionais em matéria de construção.

Convidamo-lo agora, tendo em vista sua conhecida competência no assunto, a discorrer sobre o estilo colonial - essa joia da arquitetura brasileira - suas vantagens e seus aperfeiçoamentos possíveis para nossos dias.

CATOLICISMO - O senhor considera a construção de casas e edifícios em estilos tradicionais como a solução para se evitar os absurdos e contra-sensos do estilo moderno? Os estilos acadêmicos não ficaram superados pelas novas técnicas construtivas e pelo aparecimento de novos materiais de construção?

ADOLPHO LINDENBERG - Absolutamente. É verdade que a Revolução Modernista de 1922 truncou a evolução natural do Estilo Colonial. Se ela não tivesse ocorrido, haveria um progresso sadio nas linhas tradicionais e uma absorção espontânea dos novos materiais que têm sido descobertos.

CATOLICISMO - Quais são as características do Estilo Colonial que poderiam perdurar, apesar dos progressos na arte de construir? O Estilo Colonial é funcional?

AL - Antes de mais nada, a atmosfera patriarcal que impregna as nossas velhas casas de fazenda. Um misto de senhorio e simplicidade, uma altanaria acolhedora, um bem-estar caseiro, familiar, íntimo. Suas características construtivas são: largas varandas que permitem reuniões praticamente ao ar livre, beirais ao redor da toda a casa que a protegem das fortes chuvas e do calor do sol, paredes grossas que proporcionam um esplêndido isolamento térmico (visitei um antigo edifício colonial, o convento de São Francisco, em São Sebastião, que causava a impressão de um ambiente com perfeito sistema de ar condicionado!); pisos de

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