– A esfera que vedes representa o mundo inteiro, particularmente a França... e cada pessoa em particular...
"Aqui eu não sei exprimir o que senti e o que vi, a beleza e o fulgor, os raios tão belos...
- 'É o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que m'as pedem', fazendo-me compreender quanto é agradável rezar à Santíssima Virgem e quanto Ela é generosa para com as pessoas que a Ela rezam, quantas graças concede às pessoas que lhas rogam, que alegria Ela sente concedendo-as... Nesse momento formou-se um quadro em torno da Santíssima Virgem, um pouco oval, onde havia no alto estas palavras: 'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós', escritas em letras de ouro. .... Então, uma voz se fez ouvir, que me disse: 'Fazei, fazei cunhar uma medalha com este modelo. Todas as pessoas que a usarem receberão grandes graças, trazendo-a ao pescoço. As graças serão abundantes para as pessoas que a usarem com confiança... 'Nesse instante, o quadro me pareceu se voltar, onde vi o reverso da medalha. Preocupada em saber o que era preciso pôr do lado reverso da medalha, após muitas orações, um dia, na meditação, pareceu-me ouvir uma voz que me dizia: 'O M e os dois Corações dizem o suficiente".
A espetacular conversão de Alphonse Ratisbonne comoveu a Europa.
Poucos dias depois, em dezembro de 1830, a Santíssima Virgem visita Catarina pela terceira e última vez.
É com o mesmo vestido cor de aurora e o mesmo véu que a Virgem Maria se faz ver, segurando novamente um globo de ouro encimado por uma pequena cruz.
Dos mesmos anéis ornados de pedras preciosas jorram, com intensidades diversas, a mesma luz:
"Dizer-vos o que senti e tudo quanto compreendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o Globo a Nosso Senhor é impossível de exprimir.
"Como estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo de meu coração: 'Estes raios são símbolo das graças que a Santíssima Virgem obtém para as pessoas que lhas pedem'. Essas linhas devem ser colocadas como legenda embaixo da Santíssima Virgem.
"Eslava eu cheia de bons sentimentos, quando tudo desapareceu como algo que se apaga; e eu fiquei repleta de alegria e consolação".
Encerrava-se assim o ciclo das aparições da Santíssima Virgem a Santa Catarina, que recebe no entanto uma consoladora mensagem: "Minha filha, doravante não mais me vereis, porém ouvireis minha voz durante vossas orações".
Mas o confessor de Santa Catarina, Pe. Aladel, a quem ela tudo relata, mostra-se frio e incrédulo, considerando-a sonhadora, visionária, alucinada.
Dois anos de tormento se passam: "Nossa Senhora quer..., Nossa Senhora está descontente..., é preciso cunhar a medalha", declara-lhe a Santa.
Por fim, depois de consultar o Arcebispo de Paris, Mons. de Quélen, que o encoraja a levar adiante o empreendimento, o Pe. Aladel encomenda à Casa Vachette, em 1832, as primeiras 20.000 medalhas.
A execução ia começar, quando uma epidemia de cólera, vinda da Rússia através da Polônia, irrompeu em Paris a 26 de março, em pleno Carnaval, ceifando vidas, num imenso cântico fúnebre... Num só dia houve 861 vítimas fatais. No total foram registradas oficialmente 18.400 mortes, porém, na realidade, houve mais de 20.000.
As descrições da época são aterradoras: em quatro ou cinco horas, o corpo de um homem em perfeita saúde reduzia-se ao estado de um esqueleto. Como se fora num abrir e fechar de olhos, jovens cheios de vida tomavam o aspecto de velhos carcomidos, e logo depois não eram senão cadáveres.
Nos derradeiros dias de maio, a epidemia parecia recuar. Inicia-se enfim a cunhagem das primeiras medalhas.
Na segunda quinzena de junho, porém, um novo surto do tremendo castigo redobra o pânico do povo.
Mas, finalmente, no dia 30, a Casa Vachette entrega os primeiros 1.500 exemplares, que são distribuídos pelas Filhas da Caridade e abrem o cortejo sem fim das graças e dos milagres (ver exemplos dos milagres em quadro a seguir).
AS MEDALHAS Milagrosas iniciaram seu esplendoroso cortejo de milagres durante a epidemia de cólera havida na França, em 1832. Seguem alguns exemplos:
- Na escola da praça do Louvre, a pequena Caroline Nenain (oito anos), da paróquia de Saint Germain l'Auxerrois, única em sua classe a não portar a Medalha, é também a única atingida pela cólera. No dia seguinte àquele em que recebera com grande piedade sua Medalha Milagrosa, a menina, curada, retorna à aula.
- Na diocese de Meaux, uma senhora atingida pela cólera, já desenganada, e às vésperas de dar à luz, recebe uma Medalha Milagrosa: nasce uma bela e saudável criança, e sua mãe vê-se totalmente curada.
- Prestes a falecer, um militar de Alençon respondia com blasfêmias e insultos a todos os incitamentos à conversão que lhe dirigiam o capelão e as religiosas: "O vosso Deus não gosta dos franceses: dizeis que Ele é bom e me ama, mas se assim fosse como deixar-me-ia sofrer deste modo? Não preciso de vossos conselhos, nem de vossos sermões".
À medida que se aproximava a morte, multiplicavam-se as imprecações. Quando ninguém mais esperava sua conversão, seis dias depois de uma freira haver prendido ao leito, sem que ele o percebesse, uma Medalha Milagrosa, o militar declara: "Não quero morrer no estado em que me encontro; peçam ao padre que faça o favor de ouvir-me em confissão".
E em meio a terríveis tormentos, morre com serenidade afirmando: "O que me causa pesar é haver amado tão tarde, e não amar muito mais".
Os prodígios voavam de boca em boca por toda a França, transpunham as fronteiras e os mares; e, assim, em breves anos, tornara-se corrente em o todo mundo católico a notícia de que Nossa Senhora pessoalmente apresentara a uma religiosa, Filha da Caridade, o modelo de uma medalha, que logo mereceu ser chamada "milagrosa", tão grandes e tão abundantes foram as graças alcançadas, conforme a Santíssima Virgem prometera, por aqueles que a usavam com confiança.
Já em 1839 mais de dez milhões de medalhas haviam sido difundidas pelos cinco continentes. E relatos de milagres chegavam de todo o orbe: Estados Unidos, Polônia, China, Abissínia...
Em 1842, uma notícia estampada por toda imprensa corre como rastilho de pólvora: um jovem banqueiro, judeu de raça e religião, noivo, vindo a Roma com olhos críticos em relação ao Catolicismo, converte-se subitamente na igreja de Sant'Andrea delle Fratte.
A Santíssima Virgem lhe aparecera com as mesmas características da Medalha Milagrosa: "Ela nada disse, mas eu compreendi tudo", declarou Afonso Tobias Ratisbonne, que pouco depois rompeu o noivado e tornou-se no mesmo ano noviço jesuíta, e mais tarde sacerdote, sob o nome de Pe. Afonso Maria Ratisbonne.
Ora, quatro dias antes, por imposição de seu amigo, o Barão de Bussières, muito a contragosto e por bravata, Ratisbonne prometera rezar todos os dias um Memorare e aceitara colocar ao pescoço uma Medalha Milagrosa. E ele a trazia consigo quando Nossa Senhora apareceu...
Essa espetacular conversão comoveu toda a aristocracia europeia e teve repercussão mundial, tornando ainda mais conhecida, procurada e venerada a Medalha Milagrosa.
Entretanto, ninguém, nem mesmo a Superiora da Rue du Bac, nem mesmo o Papa, sabia quem era a religiosa por Nossa Senhora escolhida para canal de tantas graças. Exceto o Pe. Aladel, que a tudo envolvia no anonimato...
Santa Catarina, por humildade, manteve durante toda sua vida uma absoluta discrição, jamais deixando transparecer o celeste privilégio de que fora objeto.
Para ela importava apenas a difusão da medalha: era sua missão, e estava cumprida.
A PROPÓSITO da figura de Nossa Senhora, com os braços e as mãos estendidos, tal como aparece na Medalha Milagrosa, levanta-se uma delicada e controvertida questão.
Dos manuscritos de Santa Catarina pode-se auferir que Nossa Senhora lhe apareceu três vezes, duas das quais oferecendo o Globo a Nosso Senhor, e não com seus braços e suas virginalíssimas mãos estendidos, como figurado se encontra na Medalha Milagrosa.
Esta divergência entre as descrições de Santa Catarina e a representação da Medalha Milagrosa foi apontada já pelo biógrafo de Santa Catarina, Mons. Chevalier, ao depor, em 1896, no processo de beatificação:
"Eu não chego a explicar-me por que o Padre Aladel suprimiu o globo que a Serva de Deus sempre me afirmou, a mim, tê-lo visto nas mãos da Santíssima Virgem. Sou levado a crer que ele agiu assim para simplificar a medalha".
Porém, se lamentável é esta "simplificação" feita pelo Pe. Aladel, em verdade ela não é causa da menor perturbação. Sobre a Medalha Milagrosa, tal qual o mundo inteiro hoje a conhece e venera, pousou a bênção de Nossa Senhora. E o que insofismavelmente se deduz das incontáveis e insignes graças, dos fulgurantes e inúmeros milagres que tem ocasionado, bem como da reação de Santa Catarina ao receber as primeiras medalhas cunhadas pela Casa Vachette, dois anos depois das aparições: "Agora é preciso propagá-la".
E, por fim, uma confidência decisiva estabelece a mais inteira segurança: em 1876, pouco antes de falecer, Santa Catarina, interrogada por sua superiora, Ir. Jeanne Dufès, acerca do globo que não figura na Medalha, categoricamente respondeu: "Oh! Não se deve tocar na Medalha Milagrosa".