"Que Deus te preserve e te dê o posto de Chefe da geração, que te está destinado"
Alceu Amoroso Lima, em carta a Plinio Corra de Oliveira
SOAM COMO o eco de um sino distante, aos ouvidos de um católico de hoje, as seguintes palavras de Plinio Corrêa de Oliveira:
"A Igreja vivia numa paz religiosa completa, numa confiança inteira de uns católicos nos outros, numa concórdia total das associações religiosas entre si, na reunião filialmente submissa de todo o laicato à Sagrada Hierarquia. Em suma, a paz religiosa que São Pio X conseguira para a Igreja à custa de heroicos esforços contra a heresia modernista, pairava ainda suave e fecundamente sobre o Brasil".
Quando se deu isso? Não foi num passado remoto, mas há apenas algumas décadas, e naquela época - o fim dos anos 20 e o início dos anos 30 deste século - Plinio Corrêa de Oliveira via abrirem-se diante de si perspectivas que pareciam risonhas. O próprio Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), depois baldeado para as hostes do progressismo "católico", augurava ao hoje Presidente do Conselho Nacional da TFP: "Que Deus te preserve e te dê o posto de Chefe da geração, que te está destinado".
Essa "grande e luminosa realidade", que foi o movimento católico entre 1928 e 1935, vem evocada como ponto de partida de uma autêntica cruzada no livro "Um homem, uma obra, uma gesta" (Edições Brasil de Amanhã, São Paulo, 1989 - 496 pp.), lançado pelas 15 TFPs hoje espalhadas por todo o orbe, como homenagem a Plinio Corrêa de Oliveira ao ensejo da comemoração dos sessenta anos de sua atividade pública. Trata-se de um verdadeiro álbum, com esmerada impressão e 500 ilustrações das quais muitas coloridas. Ao mesmo tempo, apresenta documentação exaustiva e irretorquível a respeito da História da Igreja no Brasil. E ademais descreve com todos os detalhes desejáveis a performance atual de uma corrente de opinião - a das TFPs - que se mostra pujante em muitos países dos cinco continentes.
"Explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica, da qual possuís um conhecimento completo, e à qual tens grande apreço". (J. B. Montini, Substituto" - Secretaria de Estado de Sua Santidade Pio XII).
Os brasilianistas e outros estudiosos hoje discutem sobre qual foi o ponto de origem das divisões existentes no ambiente católico do Brasil, divisões estas que, como é óbvio, são um mal menor em face da investida contaminante do progressismo "católico", encharcado de erros doutrinários e, inclusive, próclive à subversão.
Um deles, Ralph Della Cava, procura resumir as principais opiniões. Segundo ele, quatro analistas situam a origem do conflito em 1960, ano em que foi lançado o best-seller "Reforma Agrária - Questão de Consciência" e em que foi fundada a TFP. Ralph Della Cava, entretanto, com toda razão remonta ao ano de 1943, quando se publicou o livro-bomba "Em Defesa da Ação Católica" ("Igreja e Estado no Brasil do século XX: sete monografias recentes sobre o catolicismo brasileiro, 1916/64", in "Estudos Cebrap" 12, abril/junho 1975).
Seja como for, é sempre Plinio Corrêa de Oliveira quem está no polo da reação ao neomodernismo progressista, pois foi o inspirador e coautor do livro "Reforma Agrária - Questão de Consciência"; foi também o fundador da TFP e, ainda, quem escreveu "Em Defesa da Ação Católica". Diz ele:
- "A luta foi particularmente árdua porque nosso intuito era tentar extinguir o mal, porém de forma a causar o mínimo possível de ressentimentos e de divisão nos meios católicos. Para isso era preciso conduzir o combate na ordem das ideias, poupando as pessoas tanto quanto possível. E, pois, mencionando só os opositores que tivessem matéria publicada sobre o assunto. Foi o que fiz".
Estas palavras bem demonstram que Plinio Corrêa de Oliveira foi e continua sendo não apenas o guerreiro justamente temido pelos arraiais neomodernistas, mas também, e de maneira autêntica, um perfeito cavalheiro, impecavelmente firme, gentil e leal.
Como se sabe, esta primeira fase da luta do fundador da TFP terminou em um "estouro", descrito em "Um homem, uma obra, uma gesta" como "um tufão de diz-que-diz, de detrações e calúnias, todas elas verbais, vagas e desacompanhadas de provas". Apesar da carta de apoio enviada por Mons. Montini em nome do Papa Pio XII, "a noite densa de um ostracismo pesado, completo, intérmino, baixou sobre os remanescentes - apenas nove - do ex-grupo do 'Legionário".
Pacientemente, com os destroços da primeira nau que havia ido ao fundo e valiosos elementos novos, Plinio Corrêa de Oliveira constituiu um segundo "vaso de guerra", que haveria de prosseguir na mesma direção, embora acompanhando o curso continuamente renovado dos fatos. Foi a TFP.
Nos seus quase trinta anos de existência, a entidade fez história por sua considerável influência nos acontecimentos de 1964; por sua batalha contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória antes, durante e depois do regime militar; por suas lutas contra a Reforma Urbana, a Reforma Empresarial e a socialização da Medicina; por ter promovido o maior abaixo-assinado da história brasileira, contra a infiltração comunista na Igreja; por ter denunciado as Comunidades Eclesiais de Base; por sua atuação durante a Constituinte de 1988; por muitas outras luminosas campanhas e, talvez mais do que tudo isto, por sua ação de presença prestigiosa, altaneira e ininterrupta no cenário de nosso País, nas últimas décadas.
Tudo isto é recordado com muitos detalhes na obra "Um homem, uma obra, uma gesta", a qual fornece dados bastante interessantes sobre as atuais atividades que constituem a 'potência de fogo" da TFP, entre as quais vale a pena destacar as seguintes:
- Rotina de propaganda da TFP: nada menos que, em média, 2.925 contatos diários em todo o Brasil, que vão desde o homem da rua até as personalidades exponenciais das cidades (por ocasião das grandes campanhas, esse número é cerca de seis vezes maior);
- Correspondentes-esclarecedores em 557 cidades;
- 3.611 prefeituras ou delegacias de polícia de todo o País atestaram por escrito o caráter ordeiro das campanhas da TFP;
- 19.387 campanhas em municípios e localidades de nosso interior, percorrendo mais de quatro milhões de quilômetros (o que corresponde a dez viagens da Terra à Lua);
- Venda em campanha de 1.430.981 livros;
- Média de tiragem dos livros que edita verdadeiramente assombrosa para um País como o nosso, em que 5 mil exemplares são uma tiragem boa, até para romances; 106.629 exemplares por título!
- Forte predominância numérica jovem nas fileiras da entidade;
- "Last but not least": No oratório que a TFP mandou erigir em plena rua, em São Paulo, no lugar onde explodiu uma bomba terrorista, seus propagandistas já rezaram 323.400 terços do Rosário nas 83.370 horas de vigília noturna que fizeram no local.
O livro estampa um mapa do Brasil em formato grande com as cidades já percorridas pelas caravanas da TFP, acompanhado da interminável relação nominal de todas elas.
Com a publicação, em 1959, do ensaio "Revolução e Contra-Revolução", Plinio Corrêa de Oliveira fornecia ao grande público uma definição clara e concatenada dos fins que visa, e ao mesmo tempo dos meios e métodos que propõe usar para a consecução desses fins.
Foi a divulgação das ideias nele contidas que deu origem à formação de 14 TFPs - coirmãs da TFP brasileira e autônomas entre si - além de bureaux para a representação delas, e de simples núcleos incipientes (com o caráter jurídico de sociedades de fato, tendentes a constituírem futuras pessoas jurídicas). E foi assim que os ideais expressos nas palavras Tradição-Família-Propriedade fazem hoje em dia palpitar almas entusiásticas em mais de vinte países nos cinco continentes.
As atividades das diversas TFPs estão descritas com muitas ilustrações na terceira e última parte do livro "Um homem, uma obra, uma gesta".
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Para terminar esta rápida recensão do denso documentário posto ao alcance do público brasileiro pela TFP, nada melhor que transcrever aqui as palavras com as quais Plinio Corrêa de Oliveira fecha seu depoimento contido em "Um homem, uma obra, uma gesta'':
"Para onde iremos? - Só Deus o sabe. Quem cumpre seu dever faz a vontade de Deus. Quem faz a vontade de Deus sob os auspícios de Maria Santíssima, só pode considerar o futuro com confiança".
Plinio Corrêa de Oliveira, na época da publicação do "Em Defesa da Ação Católica".