Em 13 de julho de 1917, Nossa Senhora comunicou aos três pequenos videntes de Fátima uma mensagem que não deveriam revelar a ninguém. Quando interrogados, logo depois da Aparição, sobre o que a Santíssima Virgem lhes tinha dito, responderam que era segredo. De forma que se ficou desde logo sabendo que havia um Segredo na Mensagem de Fátima.
Assim fazendo, Nossa Senhora estava obviamente querendo atrair a atenção do mundo para algo muito importante, cujo conteúdo apenas seria tornado público no momento que a Providência divina julgasse oportuno.
Tudo isto criou uma auréola de mistério em torno de Fátima e do Segredo, o qual foi crescendo ao longo dos anos e das décadas, ressaltando com isso a importância de seu conteúdo.
As duas primeiras partes do Segredo foram divulgadas pela Irmã Lúcia, por inspiração de Nossa Senhora, na terceira Memória, escrita pela vidente em 31 de agosto de 1941. Em 3 de janeiro de 1944, a instâncias do Bispo de Leiria e com a devida permissão da Mãe de Deus, a Irmã Lúcia escreveu a terceira parte do Segredo, que mandou entregar ao Bispo, por meio de portador, em envelope lacrado, com uma nota de que não poderia ser divulgado antes de 1960. O Bispo Dom José Alves Correia da Silva colocou o envelope que recebera da Irmã Lúcia dentro de outro envelope, que por sua vez lacrou e guardou na caixa-forte da Cúria episcopal.
Em princípios de 1957, a Sagrada Congregação do Santo Ofício, atual Congregação para a Doutrina da Fé, pediu que o documento fosse remetido a Roma. Para esse efeito, o mesmo foi entregue na Nunciatura Apostólica de Lisboa, de onde o Núncio Mons. Fernando Cento conduziu-o até o Vaticano, quando deu entrada no Arquivo Secreto do Santo Ofício no dia 4 de abril de 1957.
Requisitado por João XXIII no dia 17 de agosto de 1959, o Papa recebeu o documento das mãos de um Comissário do Santo Ofício, abrindo-o alguns dias depois pela primeira vez e lendo-o com a ajuda do tradutor português da Secretaria de Estado. Tendo decidido não publicá-lo, devolveu-o ao Santo Ofício.
Essa decisão, como era previsível, provocou grande frustração em todo o mundo, dando origem aos mais sensatos ou descabidos vaticínios sobre o conteúdo do Segredo.
Os pontífices que se seguiram, Paulo VI e inicialmente João Paulo II, confirmaram tal decisão.
João Paulo II, quando foi a Fátima em 13 de maio de 2000, anunciou que o 3° Segredo seria afinal revelado com um oportuno comentário da Congregação para a Doutrina da Fé, o que se deu em 26 de junho do mesmo ano.
Nessa data, em sessão solene presidida pelo Cardeal Joseph Ratzinger na Sala Stampa do Vaticano, foi apresentado aos jornalistas credenciados junto à Santa Sé o texto do 3° Segredo, que foi divulgado a partir de então por todo o mundo.
Na ocasião, facultou-se aos principais vaticanistas a formulação de perguntas de esclarecimento.
Uma dessas perguntas versava precisamente sobre a razão que levou a Santa Sé a frustrar em 1960 a expectativa mundial de que o 3° Segredo seria revelado naquele ano. A resposta do Cardeal Ratzinger é altamente reveladora das graves razões que orientaram a decisão da Santa Sé.
Tão importante informação não poderia deixar de ser levada ao conhecimento de nossos leitores. Para esse efeito, pedimos ao nosso colaborador Benoît Bemelmans que entrevistasse a respeito um conceituado especialista no assunto, Antonio Augusto Borelli Machado, do que resultou matéria que explicita os grandes problemas que afligiram a Igreja e o mundo, nesse longo período de 100 anos que decorreram desde as aparições de Fátima.
Embora haja divergências entre os especialistas a respeito do fato do texto divulgado pelo Vaticano corresponder ou não à integralidade do 3° Segredo, publicamos a seguir a entrevista na qual o texto do Segredo é tomado tal qual foi divulgado, sem analisar nem entrar em polêmica com outras posições a respeito.
Direção de Catolicismo
Catolicismo — Em 1960, a expectativa de que fosse divulgado o 3° Segredo chegou ao auge. Mas essa revelação não se deu, provocando grande frustração. Somente 40 anos depois, no fim do milênio, a Santa Sé o publica. Durante a apresentação, jornalistas presentes fizeram perguntas sobre o porquê da demora. Qual a explicação do Cardeal Ratzinger, que presidia a sessão?
Antonio Borelli Machado — Quando foi divulgada essa parte do Segredo, em 26 de junho de 2000, a Santa Sé resolveu fazê-lo com um lançamento de grande aparato publicitário, a cargo da Congregação para a Doutrina da Fé. Jornalistas credenciados junto ao Vaticano foram convidados. Aos presentes foi distribuído um exemplar do opúsculo A Mensagem de Fátima, contendo o texto do Segredo. A sessão foi presidida pelo Cardeal Ratzinger, com a participação de Mons. Bertone, secretário da mesma congregação, e do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Navarro Vals. Emissoras de TV de diversas partes do mundo a