Cid de Alencastro
Patrocinado pelas pastorais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), coadjuvadas por movimentos de invasão de terras e de casas, eufemisticamente denominados “movimentos sociais”, realizou-se no dia 7 de setembro último o denominado “Grito dos Excluídos”.*
A data em que se comemora a independência nacional é escolhida a dedo para indicar que o povo ainda não seria independente, pois estaria preso nas engrenagens malsãs do capitalismo. Só um socialismo — soviético, chinês, cubano, vietnamita, ou outro, pouco importa — traria a redenção popular, com tintas de ecologismo. Tese perfeitamente comunista, diga-se de passagem, mas que neste ano se mostrou claramente nos fatos ligados ao “Grito”.
Acontece que o povo brasileiro, suficientemente inteligente e perspicaz para não entrar em canoa furada, não tem feito eco a esse “grito”. A não ser, evidentemente, os agitadores de sempre, que conseguem ainda arrebanhar um punhado de inocentes-úteis ou incautos. Com isso, depois de duas décadas de insistência, o “Grito” não tem obtido melhor sorte que os chamados Fóruns Sociais, em seu afã de lançar o Brasil numa revolução de cunho igualitário-socialista.
De fato, segundo Ari Alberti, da coordenação do “Grito dos Excluídos”, o evento existe há 22 anos e nasceu com a ideia de que “é preciso construir um projeto popular de sociedade. Passados esses 22 anos a gente percebe que as mudanças estruturais não aconteceram”, afirma ele melancolicamente.
Convido o leitor a prestar atenção no folheto de propaganda do “Grito”, na Arquidiocese de São Paulo [foto]. A cena é dominada por uma mulher histérica que abre uma bocarra num ricto de angústia e desespero. Junto a ela, uma espécie de demônio esboça um sorriso sarcástico enquanto segura um maço de notas, ao que parece de dólares. Sua boca demoníaca expele uma chama que se espraia pelo ambiente e serve de leito para corpos insepultos. A cena é infernal e repugna a toda alma que conserve algo de ordenação e pureza. Completam o folheto frases contra o capitalismo, bem como a exaltação do socialismo, além da designação dos autores: as Pastorais sociais e outros coadjuvantes.
O Santuário de Aparecida costuma ser escolhido como um dos focos do “Grito”. Em 7 de setembro, uma publicação anunciava: “Aparecida deve receber 100 mil romeiros para o Grito dos Excluídos, hoje”. Entretanto, depois do evento, a notícia era: “Cerca de 2 mil romeiros, segundo o Santuário de Aparecida, participaram do ato”. Parece que ao encontro marcado faltaram nada menos que 98 mil!
Mesmo esses 2 mil, como é evidente, são em grandíssima parte romeiros que aproveitaram o feriado para prestar suas homenagens à Padroeira do Brasil, e não para participar de qualquer movimento de agitação. Lá chegando, toparam com os tais “excluídos”. Não só com eles, mas também com o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, que conduziu “a reflexão sobre o tema do Grito, ‘Este sistema é insuportável: exclui, degrada, mata’. Tema inspirado em frase do Papa Francisco, dito durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em julho de 2015, na Bolívia”.
Desta vez o “Grito dos Excluídos” levou às ruas um tema mais diretamente ligado à política e focou suas manifestações contra o novo governo de Michel Temer. Ou seja, inconformidade notória com o desprestígio de Dilma, e com ela o de Lula e do PT. Para o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, o plano de governo Temer vai levar milhões de pessoas à exclusão social. “Por isso estamos hoje pelo ‘Fora Temer’”.
Outro foco de manifestações do “Grito”, além de Aparecida, foi a Catedral da Sé, em São Paulo. Só que “as escadarias da Catedral, na Praça da Sé, reuniam menos de 100 pessoas, às 9h30, hora marcada para a concentração dos participantes do 22.º Grito dos Excluídos”.
Um terceiro foco foi a Avenida Paulista, cujo ponto de encontro foi na altura da Praça Osvaldo Cruz. Ali havia número pouco maior de pessoas, não por causa dos “excluídos”, mas porque nesse local se reuniam promiscuamente todos os adeptos esquerdistas do “Fora Temer”, quais sejam o MST, o PT, o MTST e quejandos. Em busca de popularidade, compareceram também Fernando Haddad, prefeito de São Paulo candidato à reeleição, e o candidato derrotado ao Senado e agora postulante a vereador, Eduardo Suplicy, além de outros políticos petistas. Foi um pouco frustrante para eles, pois a passeata que se seguiu não teve maior impacto.
Ao que parece, o fracasso reiterado do “Grito dos Excluídos” em convencer os pobres de que o socialismo resolverá seus problemas, está levando à exasperação os promotores dessas manifestações. Em consequência a utilização de uma linguagem demagógica e fora da realidade. Por exemplo, Dom Milton Kenan Junior, bispo da Diocese de Barretos (SP) e membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, da CNBB, desabafou: “Esse sistema [o capitalismo] é insuportável. É um sistema que exclui e gera grande massa de humanos vivendo nas periferias do mundo, sem acesso ao que é fundamental e necessário à vida. E leva uma grande massa a se contentar com as migalhas que caem da mesa. É um sistema que nega à grande maioria das pessoas os acessos às condições básicas”.
Pena que o Bispo Kenan se tenha esquecido de que a maior miséria sempre foi produzida pelos sistemas socialistas, como ocorreu na União Soviética e, na atualidade, em Cuba, Venezuela, Coreia do Norte etc.
Evidentemente ninguém nega que o capitalismo atual tenha defeitos e lacunas a serem corrigidos. Mas enquanto regime que defende a propriedade privada e a livre iniciativa, ele está de acordo com a ordem natural das coisas. Enquanto o socialismo, por seu caráter estatizante e igualitário, é fundamentalmente rejeitável.
Mas isso não interessa aos promotores do “Grito”. E enquanto ficam gritando palavras de ordem de índole socialo-comunista, o autêntico povo brasileiro não lhes dá atenção...