Um saltimbanco desempregado chamado Jeff apresentou-se num circo famoso, buscando alguma colocação para poder sobreviver. O dono do circo marcou então uma data para que ele fosse fazer alguns testes.
No dia aprazado, chegando ao circo, Jeff notou, bem junto à abertura na lona que servia de porta de entrada, uma imagem de gesso de Nossa Senhora com os braços ligeiramente abertos e pendentes, em atitude de acolhimento. Preocupado como estava em obter emprego, lançou sobre ela um olhar desatento e passou adiante.
Os testes não foram nada fáceis: corda bamba, motocicleta no globo da morte, cambalhotas no ar etc. Mas Jeff era experiente, saiu-se bem e o contrataram. Como estava exausto, foi descansar. E ao passar pela porta, lá estava a imagem de Nossa Senhora que ele vira ao chegar.
Começou então a rotina de apresentações no circo, nas quais Jeff ia se firmando. E todos os dias, ao chegar, ele notava a presença da imagem, sempre com os braços ligeiramente abertos e pendentes. E, ao sair, igualmente lá estava ela.
Assim passaram-se muitas semanas, até que num determinado dia Jeff “abafou a banca”. Sua exibição foi tão brilhante, que o público o aplaudiu de pé. E finalizada a apresentação, numerosas pessoas foram cumprimentá-lo pelo seu formidável desempenho. Ele recebeu nesse dia tantas felicitações, que foi o último a sair do circo. E, ao fazê-lo, lá estava, junto à porta, a imagem de Nossa Senhora.
Em consequência dessa apresentação, Jeff adquiriu fama e seu salário foi aumentado.
Passou-se mais algum tempo até que, numa jornada particularmente difícil — oh infelicidade! — todos os números executados por ele foram um rotundo fracasso. Por pouco não morre na motocicleta que se desviou e furou o globo da morte; caiu da corda bomba e ficou todo machucado; errou a cambalhota e foi parar no meio do público. As vaias se sucediam, cada vez mais sonoras. Era um desespero!
Naquele dia Jeff saiu do circo cabisbaixo e, ao passar pela porta, a imagem de Nossa Senhora estava lá.
Chamado pelo dono do circo, ele se apresentou no dia seguinte, e ao chegar, a imagem estava lá.
Foi despedido. Seu êxito anterior fora esquecido e seu recente fracasso o desqualificara para a função.
Saiu acabrunhado e, ao transpor a porta, olhou pela última vez para a imagem que estava lá e — oh prodígio! — Nossa Senhora tinha uma lágrima nos olhos! Jeff não resistiu mais: ajoelhou-se em prantos diante da Virgem, soluçando. Num instante ele compreendeu que, em toda sua vida, com suas vitórias, suas derrotas, suas alegrias e seus sofrimentos, como também com seus momentos triviais e rotineiros, em todos os momentos Nossa Senhora estava lá pedindo-lhe um olhar, suplicando-lhe um movimento de alma voltado para Deus, uma conversão.
E ele, só preocupado com sua vida pessoal, seu emprego, seu salário, seus divertimentos, abafava qualquer movimento de alma, qualquer veleidade de mudança de vida.
Agora, num instante, uma lágrima de Nossa Senhora o havia curado de tanta indiferença, tanta frieza, tanto distanciamento em relação a Ela. Ele chorava amargamente seus pecados. Mas eram lágrimas também de felicidade, por ter finalmente dado ouvido àquele apelo insistente da graça que ele sempre se recusara a ouvir.
* * *
Permita-me, caro leitor, uma pergunta, se não for indiscreta: conhece alguém que vive dando cambalhotas pela vida, passando por alegrias e decepções, mas sempre frio e indiferente aos apelos que lhe faz a graça para que abra os olhos e se converta?
Caso conheça, conte-lhe então a história de Jeff. Quem sabe se as lágrimas de Nossa Senhora, abundantemente derramadas por suas imagens ao redor do mundo, enfim o convertam.