P.28-29 | MATÉRIA DE CAPA |(continuação)

Nas considerações que seguem, é meu intuito homenagear o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira de modo especial com a recordação de alguns fatos e observações a respeito das relações desse grande pensador com a França, ou, mais precisamente, com o espírito francês, que ele tanto apreciou. Espero com isso, igualmente, proporcionar aos leitores elementos para melhor compreensão do ambiente geral e de certos aspectos da vida quotidiana como era há cerca de cem anos, transmitidos em memórias, pinturas e obras literárias.

Sabemos que Dr. Plinio nasceu em São Paulo no dia 13 de dezembro de 1908. Mas o que significa essa data em termos de costumes, de visão do mundo, da vida e da civilização? A vida moderna é tão intensa, tão repleta de novidades e distrações, que a maioria das pessoas pouco reflete sobre o passado, entretanto tão rico em lições para o presente e o futuro. Assim, proponho ao leitor um rápido bosquejo que situe o início do século XX em relação a outros períodos da nossa história.

Retrato de Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (François Gérard (1770-1837). Museu de Versalhes, França.

Heranças do Brasil monárquico

Todos sabem que a descoberta oficial do Brasil se deu em 1500, no reinado de Dom Manuel, e que o povoamento e colonização de nosso então informe território iniciou-se efetivamente apenas sob Dom João III de Portugal, quando ele instituiu o governo-geral (regimento de 17-12-1548), após o fracasso da grande maioria das capitanias hereditárias. Esse rei empenhou-se particularmente no envio para o Brasil de missionários jesuítas e de colonizadores, a fim de catequizar os índios e colonos, desbravar e civilizar o território. Foi trabalho difícil, lento, longo e penoso.

A bem dizer, nosso País só alcançou a sua maioridade quando a família real se transferiu para o Rio de Janeiro, devido à invasão de Portugal por tropas de Napoleão. Ele era governado por Dom João VI (quadro à direita), Príncipe Regente, uma vez que a Rainha Dona Maria I, sua mãe, ficara muito traumatizada em 1792, ao tomar conhecimento das barbaridades cometidas durante a Revolução Francesa.

A primeira medida tomada pelo Príncipe Regente foi a abertura dos portos brasileiros, em 1808. Ele concebeu um plano de grande envergadura, que chegou a concretizar-se no decreto de 16 de dezembro de 1815: a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Tal medida estipulava que os três reinos formassem doravante um único Reino, sob aquele título.

A ideia teria sido sugerida pelo célebre Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord, então embaixador da França, em conversa com o representante diplomático de Portugal no Congresso de Viena, segundo hipótese apresentada por Mello de Moraes. Após informar-se longamente sobre o Brasil, o célebre estadista francês teria aconselhado o Príncipe Regente a não regressar a Portugal por mais algum tempo, e que enviasse o seu primogênito para a Europa. Nas condições geopolíticas de 1815, após a independência dos Estados Unidos da América, ocorrida em 1776, Talleyrand considerava “como uma fortuna que se estreitasse por todos os meios possíveis o nexo entre Portugal e o Brasil; devendo este país, para lisonjear os seus povos, para destruir a

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