ideia de colônia, que tanto lhes desagrada, receber o título de reino, e o vosso soberano ser rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil”.
Infelizmente, o decreto de Dom João VI não chegou a durar sete anos; pressionado pelos liberais (a esquerda da época) dos dois lados do Atlântico, o Príncipe foi obrigado a retornar a Lisboa (1816). Por outro lado, seu filho Dom Pedro proclamou pouco depois (1822) a Independência do Brasil, deixando sem efeito o mencionado decreto. A proclamação da república — no Brasil, em 1889; em Portugal, em 1910 — viria sepultar para sempre um plano que poderia ter mudado a história de ambos os países e quiçá de ambos os continentes.
A verdadeira emancipação da nação brasileira só se daria no fecundo período imperial, notadamente sob o longo reinado de Dom Pedro II.
Filho de Dom Pedro I e da Princesa D. Leopoldina de Habsburgo, o segundo Imperador do Brasil trazia nas veias as mais nobres ancestralidades da Europa cristã. Sua mãe era filha do último imperador do Sacro-Império Romano Alemão, Francisco II (depois primeiro imperador da Áustria, sob o nome de Francisco I), e seu pai de um Bragança e Bourbon, Rei de Portugal. Por outro lado, a estampa de D. Pedro II era bem a de um homem do século XIX, possuidor de invejável cultura.
A nação era jovem; o crescimento, prodigioso. Mas o que ainda faltava desenvolver era gigantesco. Basta dizer que, durante a primeira infância de Plinio Corrêa de Oliveira, ainda havia no interior do estado de São Paulo tribos de índios que atacavam os funcionários incumbidos de construir a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, como se pode ler no jornal “O Estado de S. Paulo” da época (1911).
A Princesa Isabel se casou com o Conde d’Eu, neto do rei dos franceses, Luís Filipe
Lucilia Ribeiro dos Santos e João Paulo Corrêa de Oliveira, pais de Dr. Plinio
Tudo isso teria seu peso no futuro de um país que apenas começava a dar os primeiros passos como nação independente. E também sua influência na formação de Plinio, destinado a combater de frente o Leviatã revolucionário que assomava no horizonte, naquela aurora do século XX.
Alguns dados sobre a sua ancestralidade nos ajudarão a compreender melhor sua vinculação com São Paulo, sua cidade natal, e com o Nordeste, terra de seu pai.
Em 1893 os Ribeiro dos Santos — família à qual pertencia a mãe de Plinio — se estabeleceram na capital paulista, após passarem alguns tantos anos como fazendeiros no interior de São Paulo, na região de Pirassununga, distante pouco mais de 100 km ao norte de Campinas.
Dr. Antônio Ribeiro dos Santos, avô de Plinio, era casado com Dona Gabriela, a matriarca da família e monarquista convicta, amiga da Baronesa de Muritiba, dama da corte da Princesa Isabel. Uma das filhas do casal, Lucilia, viria a ser a mãe de Plinio.
A respeito de Dr. Plinio e os Ribeiro dos Santos os leitores encontrarão interessantes informações na entrevista, de agradabilíssima leitura, que Dr. Adolpho Lindenberg concedeu a esta revista e publicada em sua edição de outubro do ano passado.
Nesse meio inseriu-se, ao casar-se com Lucilia Ribeiro dos Santos, o advogado pernambucano João Paulo Corrêa de Oliveira, pai de Plinio e sobrinho de João Alfredo Corrêa de Oliveira, Conselheiro do Império, senhor de engenho em Goiana, no estado de Pernambuco.
Plinio herdou a calma e o espírito admirativo de sua mãe, bem como a palavra fácil e a vivacidade nordestina de seu pai, a par de uma inteligência brilhante e um modo de ser cerimonioso.
Quando Plinio nasceu, o Imperador D. Pedro II havia perdido a coroa há pouco menos de 20 anos. E só um século antes os portos brasileiros tinham sido abertos ao comércio internacional.
Não obstante São Paulo já fosse em 1908 uma verdadeira capital, sua urbanização não seguia, entretanto, o modelo das cidades portuguesas, como nos séculos XVI e XVII, e sim o de Paris.
É explicável, porque culturalmente era da capital francesa que a cidade recebia a maior influência europeia. O brilho social de Paris, os seus literatos, o seu poder político e o império colonial francês certamente contribuíam para tal. Sem dúvida existia também o prestigioso império britânico e o poderoso império alemão, sob a férrea disciplina militar do Kaiser. Mas, para os brasileiros, certos fatores os inclinavam decididamente para a influência francesa.
Em primeiro lugar, porque a Família Imperial brasileira mantinha vínculos muito particulares com a França: a Princesa Isabel casara-se com o Conde d’Eu, neto do rei dos franceses, Luís Filipe. Missão militar francesa formava nossos futuros oficiais. E Paris era a capital preferida, onde as elites de São Paulo e Rio aprimoravam-se quanto ao bom gosto e brilho da vida social. A propósito, convém lembrar que a arte de saber agir (savoir faire), de expressar-se bem (savoir dire) e saber agradar (savoir plaire) provém da França, sobretudo a partir do reinado de Luís XIV.
Para bem compreender essa época, é oportuno ler a descrição de uma cena de rua parisiense pintada por Jean Béraud (1849-1935) e reproduzida na página 32. O comentário é de um francês de talento e figura num calendário (mês de junho de 2012) da prestigiosa TFP francesa.
“A vida, as cores, a elegância são os elementos que atraem o olhar no primeiro relance. Chamam a atenção a distinção no traje das duas mulheres em primeiro plano e os mil detalhes que convidam, por assim dizer, a entrar