P.38-39 | VIDAS DE SANTOS |

Santa Margarida Maria Alacoque

Plinio Maria Solimeo

Grande mística, esta confidente do Sagrado Coração de Jesus consagrou-se a Nossa Senhora como escrava e recebeu as grandes revelações no convento de Paray-le-Monial.

Santa Margarida Maria viveu em pleno Ancien Régime (Antigo Regime), o período da História europeia que terminou com a Revolução Francesa. Segundo a Enciclopédia Larousse, “a ata de nascimento do Ancien Régime é difícil de precisar”.

Para alguns o Ancien Régime vai desde o fim das Guerras de Religião (Tratados de Westfalia, que puseram fim à Guerra dos Trinta Anos) até a Revolução Francesa, ou seja, de 1648 a 1789. Em relação à França, da qual nos ocupamos, a expressão Ancien Régime é comumente usada para indicar o período entre o reinado do primeiro dos Bourbons (Henrique IV, 1594-1610) e a Revolução Francesa.

No campo religioso, o jansenismo — espécie de infiltração do espírito calvinista dentro da Igreja — causava grandes estragos nas almas dos fiéis na França dos séculos XVII e XVIII, destruindo nelas a noção da misericórdia de Deus e da confiança filial que devemos ter em relação ao Pai Celeste, inculcando-lhes um temor unilateral, desprovido de amor, e as inclinando a fugir dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia.

Foi então que o Sagrado Coração de Jesus apareceu a Margarida Maria, jovem religiosa da Ordem da Visitação, fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal para transmitir sua mensagem de misericórdia e confiança expressa no Coração humano e divino do Verbo Encarnado.

Santa Margarida Maria, grande mística, vivia quase completamente imersa no sobrenatural. Sua vida já foi exposta nesta revista e por isso dela daremos apenas breve resumo biográfico, para nos concentrarmos nas promessas do Sagrado Coração de Jesus.

Voto de perpétua castidade

Nascida em 22 de julho de 1647, filha de Cláudio Alacoque e de Felisberta Lamyn, Margarida Maria era a quinta dos sete filhos do casal.

Deus a queria só para Si. Por isso, como ela mesmo revela em sua Autobiografia, preservou-a praticamente desde o berço da mais leve mancha de pecado.1 O Divino Mestre a dirigia nos segredos da vida interior, para que sua comunicação fosse só com o Céu.

Desse modo, por volta de apenas quatro anos de idade Margarida fez voto de castidade: “Sem saber o que dizia, sentia-me continuamente impelida a dizer estas palavras: ‘Meu Deus, eu vos consagro a minha pureza, e vos faço voto de perpétua castidade’” (Autobiografia, 2).

Afirma seu primeiro biógrafo: “Desde a infância o Espírito Santo lhe ensinou o ponto capital da vida interior, comunicando-lhe o dom da oração. O seu maior prazer era passar horas inteiras em oração; e, quando não a encontravam em casa, iam à igreja, onde a achavam imóvel diante do Santíssimo Sacramento” .2

Com o falecimento do pai em 1655, Margarida, então com oito anos, foi colocada como educanda no convento das religiosas clarissas em Charolles.

Consagra-se à Santíssima Virgem

A devoção a Nossa Senhora é sinal de predestinação. Por isso Margarida sempre a teve desde os albores da razão. Maria Santíssima retribuía amor com amor: “A Santíssima Virgem teve sempre grandíssimo cuidado de mim, e a Ela é que eu recorria em todas as minhas aflições. Foi Ela que me afastou de perigos muito grandes”, confessa Margarida.

Antes mesmo de São Luís Maria Grignion de Montfort ter popularizado a devoção da Sagrada Escravidão a Nossa Senhora, Margarida, ainda menina, consagrou-se a Ela como escrava (Autobiografia, 22).

O sofrimento: sinal dos eleitos

Margarida tinha cerca de 11 anos quando uma grave doença pôs em risco sua vida, obrigando a família a retirá-la do convento e levá-la para casa. Ela ficou semiparalítica e tão magra que, segundo narra, “os ossos furavam-me a pele por todos os lados”. Tampouco podia andar. Os médicos esgotaram toda a sua ciência e não obtiveram qualquer resultado, levando-a à suposição de que a principal origem da doença fosse sobrenatural. A doença durou quase quatro anos e Margarida só se curou depois que se consagrou a Nossa Senhora.

No convento de Paray-le-Monial

Ao atingir a adolescência, Margarida quis abraçar a vida religiosa, mas a mãe e os irmãos, perseguidos por parentes do falecido marido, quiseram obrigá-la a se casar, a fim de aliviar a difícil situação da família.

Entretanto, vencida a pressão, Margarida Maria ingressou no convento da Visitação, em Paray-le-Monial. Assim que entrou no locutório, ouviu interiormente estas palavras: “É aqui que te quero” (Autobiografia, 26).

Como não trataremos da vida da santa em Paray-le-Monial, passemos às Grandes Revelações do Sagrado Coração de Jesus que recebeu.

Manifestações do Sagrado Coração

Importa dizer que o Sagrado Coração de Jesus foi Se revelando a Santa Margarida Maria aos poucos, nos anos 1672 e 1673, até chegar a fazê-lo claramente em 1674 e 1675. Dez anos depois, em 1685 e 1686, Ele ainda lhe revelou suas magníficas promessas ao gênero humano.

Assim, nos primeiros meses de 1673, por entendimento interior, Margarida Maria viu seu coração como um átomo todo negro e desfigurado unir-se ao belo Coração de Jesus, mais brilhante que o sol e de uma grandeza infinita. Era sua primeira visão do Sagrado Coração, toda ela espiritual.3


As quatro grandes Revelações do Sagrado Coração de Jesus

Primeira grande revelação

Para nos situarmos um pouco no ambiente da França em que se deu a primeira grande aparição do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria, transcrevemos as palavras do Padre Augusto Hamon, um dos melhores biógrafos da Santa:

“Na manhã de 27 de dezembro de 1673 [dia em que se deu a primeira grande Revelação], a vida em nossa terra da França foi retomada no ponto onde os homens a haviam abandonado na véspera, à noite. Por toda parte as mesmas ocupações, os mesmos prazeres, as mesmas dores, os mesmos ódios e as mesmas ternuras, os mesmos trabalhos e as mesmas guerras; Bourdaloue e Bossuet pregam, La Fontaine pensa em

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