P.40-41 | VIDAS DE SANTOS |(continuação)

suas Fábulas, Boileau rima a Arte Poética, Racine compõe Efigênia, Turenne defende a fronteira do Reno contra os Imperiais, Condé a [fronteira] do Norte contra Guilherme de Orange, Luís XIV, todo voltado à sua glória e a seus prazeres, faz face à Europa, e ninguém sabe que Jesus Cristo vai nos revelar seu Coração divino”.4

Era a festa de São João Evangelista. Margarida Maria rezava diante do Santíssimo Sacramento quando Nosso Senhor “fez-me repousar por longo tempo em seu divino peito; e ali me revelou as maravilhas do seu amor e os segredos insondáveis do seu Sagrado Coração [...]. Disse-me Ele: ‘O meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para enriquecê-los de seus preciosos tesouros, que eu te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças salutares indispensáveis para afastá-los do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por Mim’” (Autobiografia, 53).

Segunda grande revelação

É de todo provável que a segunda Grande Revelação — da qual, infelizmente, não se consignou a data — tenha ocorrido numa primeira sexta-feira do mês, no ano de 1674.

O Sagrado Coração apareceu-lhe rodeado de espinhos encimado por uma cruz. “E Ele me fez ver [que] o ardente desejo que tinha de ser amado pelos homens e de retirá-los da via da perdição, onde Satanás os precipita em multidão, O havia feito formar esse desígnio de manifestar seu Coração aos homens, com todos os tesouros de amor, misericórdia, graça, santificação e salvação que Ele continha, a fim de que todos os que quisessem render-Lhe e proporcionar-Lhe todo amor, honra e glória que estivessem em seu poder, Ele os enriqueceria com abundância e profusão desses divinos tesouros do Coração de Deus, de que era a fonte; e que era necessário honrar sob a figura desse Coração de carne, do qual Ele queria a imagem exposta e colocada sobre mim e sobre o coração, para aí imprimir seu amor e cumular de todos os dons de que estava pleno, e para nele destruir todos os movimentos desregrados. E que em toda parte onde essa santa imagem fosse exposta para ser ali honrada, Ele espargiria suas graças e bênçãos. E que essa devoção era como um último esforço com que seu amor queria favorecer os homens nestes últimos séculos desta redenção amorosa, para retirá-los do império de Satanás, que Ele pretendia arruinar, e colocá-los sob a doce liberdade do império de seu amor, que Ele queria restabelecer nos corações de todos os que quisessem abraçar essa devoção.”5

Terceira grande revelação

A data da chamada Terceira Grande Revelação tampouco ficou registrada. Ocorreu provavelmente também em 1674, num dia em que o Santíssimo Sacramento estava exposto.

Assim, estando ela mais uma vez diante desse Sacramento do Amor, entrou em êxtase e viu Nosso Senhor Jesus Cristo “todo radiante de glória com suas cinco chagas, brilhantes como cinco sóis; e a sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas, sobretudo, de seu sagrado peito, que parecia uma fornalha; abrindo-o, desvelou-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a fonte viva daquelas chamas. [...] Foi então que Ele me mostrou as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a que Ele tinha chegado no seu amor aos homens, dos quais não recebia senão ingratidões e friezas”.

Disse-lhe o Redentor do Mundo: Isto [as ingratidões e friezas] custa-me muito mais do que tudo quanto sofri na minha Paixão; tanto que, se eles [os homens] correspondessem com um pouquinho de amor, Eu teria um pouco de tudo quanto fiz por eles, e ainda quisera fazer, se possível fosse; contudo, eles não têm senão friezas e repulsas para todo este meu afã de lhes fazer bem” (Autobiografia, 55).

Quarta grande revelação

Embora Margarida Maria não mencione a data desta revelação, os estudiosos julgam que teria ocorrido entre 13 e 21 de junho de 1675, dentro da oitava da festa do Corpo de Deus. Ela a narra em sua Autobiografia (92) e em carta a São Cláudio de la Colombière.

Estando como de costume diante do Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor lhe disse, apresentando seu divino Coração: Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor. E, em reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelos desprezos, irreverências, sacrilégios e friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso, é que os que assim me tratam são corações que Me são consagrados. Por isso te peço que a primeira Sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio de um ato público de desagravo, e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração se dilatará para derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem”.6

Comunhão reparadora

Para concluir, citamos a consoladora promessa das primeiras sextas-feiras do mês:

Em carta à Madre de Saumaise, a santa relata essa grande graça que lhe foi concedida quase no fim de sua vida (provavelmente em 1688):

“Numa Sexta-feira, durante a santa Comunhão, Ele disse estas palavras à sua indigna escrava, se ela não se engana: Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem nas nove primeiras sextas-feiras do mês seguidamente, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os Sacramentos, [meu divino Coração] tornando-se seu asilo seguro no derradeiro momento”.7

Santa Margarida Maria faleceu no dia 17 de outubro de 1690 e foi canonizada por Bento XV em 1920.

Notas: 1. Autobiografia de Santa Margarida-Maria Alacoque, 4ª Edição, Editorial A. O., Braga, 1984, (citado: Autobiografia). Também: Marguerite-Marie Alacoque, Sainte, Sa vie par elle-même, Monastère de la Visitation, Paray-le-Monial, Éditions Saint-Paul, Paris-Fribourg, 1993, nº 2. 2. Abbé CROISET, Abrégé de la vie de la soeur Marguerite-Marie Alacoque ... Lião, Tip. Antoine e Horace Molin, 1691, apud BOUGAUD, Mons., História da Beata Margarida Maria ou origem da devoção ao Coração de Jesus, Porto, Imprensa Moderna, 2a edição, p. 36. 3. Lettres de la Sainte, Lettre XXII, à la Mère de Saumaise, Avril 1683, in Monastère De La Visitation – Paray-le-Monial, Vie et oeuvres de Sainte Marguerite-Marie, Éditions Saint-Paul, Paris-Fribourg, 1990, tomo 2, p. 168. 4. HAMON, Auguste, Histoire de la Dévotion au Sacré-Coeur de Jésus, Vie de la Bienheureuse Marguerite-Marie, d’après les manuscrits et les documents originaux, Gabriel Beauchesne & Cie. Éditeurs, Paris, 1907, p, 146. 5. Lettres de la Sainte, Lettre CXXXIII au R.P. Croiset, 3 novembre 1689, op. cit. pp. 477 a 479. 6. Cláudio La Colombière, Notas íntimas e outros Escritos Espirituais, Editorial A.O., Braga, 1983, pp. 150-151. 7. Lettres de la Sainte, Lettre LXXXVI, à Mère de Saumaise, maio de 1688, op. cit. p. 297. Página seguinte