suas Fábulas, Boileau rima a Arte Poética, Racine compõe Efigênia, Turenne defende a fronteira do Reno contra os Imperiais, Condé a [fronteira] do Norte contra Guilherme de Orange, Luís XIV, todo voltado à sua glória e a seus prazeres, faz face à Europa, e ninguém sabe que Jesus Cristo vai nos revelar seu Coração divino”.4
Era a festa de São João Evangelista. Margarida Maria rezava diante do Santíssimo Sacramento quando Nosso Senhor “fez-me repousar por longo tempo em seu divino peito; e ali me revelou as maravilhas do seu amor e os segredos insondáveis do seu Sagrado Coração [...]. Disse-me Ele: ‘O meu divino Coração está tão abrasado de amor para com os homens, e em particular para contigo, que não podendo já conter em si as chamas de sua ardente caridade, precisa derramá-las por teu meio, e manifestar-se-lhes para enriquecê-los de seus preciosos tesouros, que eu te mostro, os quais contêm a graça santificante e as graças salutares indispensáveis para afastá-los do abismo da perdição; e escolhi-te a ti, como abismo de indignidade e ignorância, para a realização deste grande desígnio, para que tudo seja feito por Mim’” (Autobiografia, 53).
É de todo provável que a segunda Grande Revelação — da qual, infelizmente, não se consignou a data — tenha ocorrido numa primeira sexta-feira do mês, no ano de 1674.
O Sagrado Coração apareceu-lhe rodeado de espinhos encimado por uma cruz. “E Ele me fez ver [que] o ardente desejo que tinha de ser amado pelos homens e de retirá-los da via da perdição, onde Satanás os precipita em multidão, O havia feito formar esse desígnio de manifestar seu Coração aos homens, com todos os tesouros de amor, misericórdia, graça, santificação e salvação que Ele continha, a fim de que todos os que quisessem render-Lhe e proporcionar-Lhe todo amor, honra e glória que estivessem em seu poder, Ele os enriqueceria com abundância e profusão desses divinos tesouros do Coração de Deus, de que era a fonte; e que era necessário honrar sob a figura desse Coração de carne, do qual Ele queria a imagem exposta e colocada sobre mim e sobre o coração, para aí imprimir seu amor e cumular de todos os dons de que estava pleno, e para nele destruir todos os movimentos desregrados. E que em toda parte onde essa santa imagem fosse exposta para ser ali honrada, Ele espargiria suas graças e bênçãos. E que essa devoção era como um último esforço com que seu amor queria favorecer os homens nestes últimos séculos desta redenção amorosa, para retirá-los do império de Satanás, que Ele pretendia arruinar, e colocá-los sob a doce liberdade do império de seu amor, que Ele queria restabelecer nos corações de todos os que quisessem abraçar essa devoção.”5
A data da chamada Terceira Grande Revelação tampouco ficou registrada. Ocorreu provavelmente também em 1674, num dia em que o Santíssimo Sacramento estava exposto.
Assim, estando ela mais uma vez diante desse Sacramento do Amor, entrou em êxtase e viu Nosso Senhor Jesus Cristo “todo radiante de glória com suas cinco chagas, brilhantes como cinco sóis; e a sua sagrada humanidade lançava chamas de todos os lados, mas, sobretudo, de seu sagrado peito, que parecia uma fornalha; abrindo-o, desvelou-me seu amantíssimo e amabilíssimo Coração, que era a fonte viva daquelas chamas. [...] Foi então que Ele me mostrou as maravilhas inexplicáveis do seu puro amor, e o excesso a que Ele tinha chegado no seu amor aos homens, dos quais não recebia senão ingratidões e friezas”.
Disse-lhe o Redentor do Mundo: “Isto [as ingratidões e friezas] custa-me muito mais do que tudo quanto sofri na minha Paixão; tanto que, se eles [os homens] correspondessem com um pouquinho de amor, Eu teria um pouco de tudo quanto fiz por eles, e ainda quisera fazer, se possível fosse; contudo, eles não têm senão friezas e repulsas para todo este meu afã de lhes fazer bem” (Autobiografia, 55).
Embora Margarida Maria não mencione a data desta revelação, os estudiosos julgam que teria ocorrido entre 13 e 21 de junho de 1675, dentro da oitava da festa do Corpo de Deus. Ela a narra em sua Autobiografia (92) e em carta a São Cláudio de la Colombière.
Estando como de costume diante do Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor lhe disse, apresentando seu divino Coração: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor. E, em reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelos desprezos, irreverências, sacrilégios e friezas que têm para comigo neste Sacramento de amor. Mas o que é ainda mais doloroso, é que os que assim me tratam são corações que Me são consagrados. Por isso te peço que a primeira Sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar o meu Coração, reparando a sua honra por meio de um ato público de desagravo, e comungando nesse dia para reparar as injúrias que recebeu durante o tempo que esteve exposto nos altares. E Eu te prometo que o meu Coração se dilatará para derramar com abundância o influxo do seu divino amor sobre aqueles que Lhe renderem esta homenagem”.6
Para concluir, citamos a consoladora promessa das primeiras sextas-feiras do mês:
Em carta à Madre de Saumaise, a santa relata essa grande graça que lhe foi concedida quase no fim de sua vida (provavelmente em 1688):
“Numa Sexta-feira, durante a santa Comunhão, Ele disse estas palavras à sua indigna escrava, se ela não se engana: ‘Eu te prometo, na excessiva misericórdia de meu Coração, que seu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem nas nove primeiras sextas-feiras do mês seguidamente, a graça da penitência final, não morrendo em minha desgraça e sem receber os Sacramentos, [meu divino Coração] tornando-se seu asilo seguro no derradeiro momento”.7
Santa Margarida Maria faleceu no dia 17 de outubro de 1690 e foi canonizada por Bento XV em 1920.