P.52 | AMBIENTES – COSTUMES – CIVILIZAÇÕES |

Santa Teresinha do Menino Jesus

Plinio Corrêa de Oliveira

Trechos do artigo publicado no jornal “O Legionário” em 29-9-1947.

Se não toda, pelo menos certa iconografia, sem alterar os traços de Santa Teresinha do Menino Jesus, lhe alterou contudo a fisionomia. O mesmo se dá com sua biografia. Certa literatura sentimental-religiosa, sem adulterar propriamente seus dados biográficos, encontrou meios de interpretar tão unilateral e superficialmente certos episódios de sua vida, que chegou a desfigurar de algum modo seu significado. As deformações iconográficas e biográficas se fizeram todas em uma mesma direção: ocultar o sentido profundo, admirável, heróico e imortal da vida da imortal Santinha. [...]

Praticando a conformidade plena com a vontade de Deus, ela não pediu sofrimentos, nem os recusou; Deus fizesse dela o que entendesse. Jamais pediu a Deus ou a suas superioras que dela afastassem qualquer dor ou mortificação. Submissão plena era o seu caminho. E, em matéria de vida espiritual, plena submissão equivale a plena santificação.

Seu método se caracteriza ainda por outra nota importante. Santa Teresinha não praticou grandes mortificações físicas. Ela se limitou simplesmente às prescrições de sua Regra. Mas esmerou-se em outro tipo de mortificação: fazer a toda hora, a todo instante, mil pequenos sacrifícios. Jamais a vontade própria, jamais o cômodo, o deleitável. Sempre o contrário do que os sentidos pediam. E cada um destes pequenos sacrifícios era uma pequena moeda no tesouro da Igreja. Moeda pequena, sim, mas de ouro de lei: cada pequeno ato consistia no amor de Deus com que era feito.

E que amor meritório! Santa Teresinha não tinha visões, nem mesmo os movimentos sensíveis e naturais que tornam por vezes tão amena a piedade. Aridez interior absoluta, amor árido, mas admiravelmente ardente, da vontade dirigida pela fé, aderindo firme e heroicamente a Deus, na atonia involuntária e irremediável da sensibilidade. Amor árido e eficaz, sinônimo de vida de piedade, de amor perfeito...

Grande caminho, caminho simples. Não é simples fazer pequenos sacrifícios? Não é mais simples não ter visões do que as ter? Não é mais simples aceitar os sacrifícios em lugar de os pedir?

Caminho simples, caminho para todos. A missão de Santa Teresinha foi de nos mostrar uma vida que todos pudéssemos trilhar. Oxalá ela nos auxilie a percorrer esta estrada real, que levará aos altares não apenas uma ou outra alma, mas legiões inteiras.