PALAVRA DO SACERDOTE
Monsenhor José Luiz Villac
Pergunta — Desde o Concílio Vaticano II ouço muitas pessoas defendendo o diálogo interreligioso e o ecumenismo. Como católico, posso ser contrário a essas posições? Creio que devemos respeitar todas as pessoas, mas não colocar a Igreja de Cristo em pé de igualdade com falsas religiões. Estou certo ou errado em pensar assim?
Resposta — A pergunta de nosso missivista apresenta-se muito pertinente e atual no que se refere ao ecumenismo, pois muitos leitores ficaram perplexos com a participação oficial da Igreja Católica em numerosos atos preparativos da comemoração do quinto centenário da rebelião de Lutero, e ouviram com estupor os elogios tecidos ao heresiarca por destacados membros da Hierarquia e até pelo próprio Papa Francisco.
Quanto ao diálogo inter-religioso, os fiéis já tinham ficado não pouco confundidos com as reiteradas condenações àquilo que o Pontífice chama desdenhosamente de "proselitismo", enquanto num vídeo pedindo orações para esse diálogo interreligioso ele afirmava (em janeiro de 2016) que muitos "procuram Deus e encontram Deus de diversas maneiras", e que "nesse leque de religiões há uma única certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus". A conclusão que um internauta não instruído nas subtilezas da Teologia — ou seja, a imensa maioria das pessoas — tirava dessas palavras (e das imagens que as acompanhavam, ver foto embaixo) era de que todas as religiões que pregam o amor são um meio válido para se chegar a Deus...
O que pensar de tudo isso?
No século XIX, a Igreja condenou energicamente o indiferentismo religioso promovido pelo Estado laico e pelas doutrinas difundidas por lojas maçônicas. No Syllabus, o Papa Pio IX inclui entre o catálogo de erros modernos a falsa opinião segundo a qual "no culto de qualquer religião os homens podem achar o caminho da salvação eterna e alcançar a mesma eterna salvação" e que "o protestantismo não é senão outra forma da verdadeira religião cristã, na qual se pode agradar a Deus do mesmo modo que na Igreja Católica" (Proposições 16 e 18).
E na encíclica Quanto conficiamur moerore, o referido Pontífice reiterou o ensinamento constante do magistério: "Aqueles que ignoram invencivelmente a nossa santíssima religião e observam diligentemente a lei natural e os seus preceitos — impressos por Deus no coração de todos os homens — e que, dispostos a obedecer a Deus, levam uma vida honesta e reta, podem com o auxílio da luz e da graça divina conseguir a vida eterna. [...] Mas é também conhecidíssimo o dogma católico, a saber, que ninguém pode se salvar fora da Igreja Católica e que não podem obter a salvação eterna aqueles que são obstinadamente contumazes para com a autoridade e as definições da mesma Igreja e estão obstinadamente separados da unidade da Igreja e do Sucessor de Pedro, o Romano Pontífice, a quem ‘a guarda da vinha foi dada pelo Salvador’" (Denzinger, 2866 e 2867).
"Não há salvação fora da Igreja"
Essa doutrina foi relembrada um século mais tarde, na época do Papa Pio XII, numa carta ao arcebispo de Boston:
"Dentre as coisas que a Igreja sempre pregou e nunca deixará de pregar, está a declaração infalível pela qual somos ensinados que não há salvação fora da Igreja. [...] Existe um mandato estritíssimo de Jesus Cristo, pois Ele encarregou explicitamente os seus Apóstolos de ensinar todas as nações a observarem todas as coisas que Ele próprio tinha ordenado" (Mt 28, 19-20).
"Não é o menor desses mandamentos aquele que nos ordena a incorporarmo-nos pelo Batismo ao Corpo Místico de Cristo que é a Igreja, e a permanecer unidos a Ele e ao vigário d’Ele, por meio do qual Ele próprio governa aqui na Terra a sua Igreja de forma visível. Por isso, ninguém se salvará se, sabendo que a Igreja é de instituição divina por Cristo, se recusar apesar disso a sujeitar-se a Ela ou se separar do Pontífice romano, Vigário de Cristo na Terra. Não somente nosso Salvador ordenou a todos os povos entrar na Igreja, Ele também decretou que é este um meio de salvação sem o qual ninguém pode entrar no reino eterno da glória" (Carta do Santo Ofício, de 8 de agosto de 1949, Denz. 3866-3870).
Só uma é a verdadeira Igreja de Cristo
Portanto, quando declaramos no Credo que a Igreja é "una", professamos igualmente que Ela é "única", porque somente Ela é a verdadeira Igreja de Cristo, à qual foi dada uma constituição tão definida que, não somente qualquer outra religião, mas nem sequer alguma comunidade separada da sua fé e da comunhão de seu corpo visível
(continua na próxima página)
LEGENDA:
- Página do Vaticano no Youtube que apresenta o vídeo com as intenções do Papa Francisco, em janeiro de 2016, onde pede orações pelo diálogo interreligioso.
- Papa Beato Pio IX.
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