ENTREVISTA
Governo colombiano descumpriu sua palavra
Apesar da recusa do povo colombiano ao "Acordo de Paz" do governo com as FARC, muitos prelados colaboraram para a desorientação dos Católicos diante dessa estranha aproximação com o movimento guerrilheiro.
O Dr. Alejandro Ordóñez Maldonado (foto) foi Presidente do Conselho de Estado e Procurador-Geral da Colômbia de 2009 a 2016. Católico fervoroso, sua integridade no combate legal e desassombrado à subversão e à corrupção transformou-o em uma das personalidades públicas de maior prestígio em seu país. Ele recentemente voltou a se destacar, ao lado de dois ex-presidentes da República e de alguns valorosos grupos de católicos conservadores, por ocasião da vitória do "não" no plebiscito sobre os acordos de paz com a guerrilha comunista das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), celebrado no dia 2 de outubro de 2016. (A respeito, vide Catolicismo, nº 791, novembro/2016). Entretanto, o governo colombiano, ignorando o resultado do plebiscito, assinou com a narcoguerrilha o pseudo "Acordo de Paz" (vide Catolicismo, nº 793, janeiro/2017).
Anteriormente à referida assinatura dos acordos de paz, o Dr. Ordóñez concedeu a Valdis Grinsteins, colaborador de Catolicismo e de Polonia Christiana — prestigiosa revista católica sediada em Cracóvia —, a entrevista que reproduzimos abaixo, publicada por essa última na sua edição de janeiro.
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"Houve discrepâncias na posição do Episcopado. O Presidente da Conferência Episcopal e o cardeal foram muito favoráveis ao acordo, mas houve outros setores que foram críticos"
Catolicismo — Como o senhor vê a posição do Episcopado colombiano no processo de paz?
Dr. Alejandro Ordóñez — Houve declarações do Presidente da Conferência Episcopal que desorientaram os católicos, porque pretenderam induzir a opinião pública católica a votar afirmativamente no acordo de paz com argumentos emotivos, de que a paz era melhor que a guerra. Com isto desarmavam psicologicamente os católicos. Essa estratégia não surtiu, graças a Deus, qualquer efeito. Análoga posição assumiu o Cardeal Rubén Salazar, que durante todo o processo de Havana avalizou os acordos. Mas é importante reconhecer que houve vários bispos que tiveram a independência e a clareza necessárias para advertir os católicos colombianos. Digamos que houve discrepâncias na posição do Episcopado. O Presidente da Conferência Episcopal e o cardeal foram muito favoráveis ao acordo, mas houve outros setores que foram críticos.
"É incrível que bispos não tenham advertido os católicos sobre como se pretendia transformar em norma constitucional os princípios essenciais da Ideologia de Gênero"
Catolicismo — O senhor diria que os bispos favoráveis ao acordo foram ingênuos?
Dr. Alejandro Ordóñez — Dando-lhes o benefício da dúvida, podemos dizer que foram ingênuos, embora seja difícil sê-lo. Não só conhecendo as FARC, mas conhecendo a magnitude das concessões feitas. É incrível que os referidos bispos não tenham advertido os católicos sobre como se pretendia transformar em norma constitucional os princípios essenciais da Ideologia de Gênero, como o reconheceram os negociadores de Havana. Grupos de leigos católicos foram os primeiros a advertir e conseguir que a opinião pública reagisse de maneira muito inesperada.
Creio que o acontecido na Colômbia foi um autêntico milagre, uma vez que não era previsível que o governo e todos os interesses que estavam implicados no acordo fossem derrotados no plebiscito.
Catolicismo — Era todo o poder do Estado…
Dr. Alejandro Ordóñez — Estávamos lutando contra o mundo! Contra 15 partidos políticos, contra um governo que abusou do poder, que abusou dos recursos públicos, que chantageou a opinião pública, que chantageou os governadores, que recorreu a estratégias de guerra psicológica para amedrontar a opinião pública, dizendo: "Se votarem contra o acordo haverá guerra terrorista, haverá novos impostos". Lutávamos contra o setor privado, que preferiu defender seus interesses e sacrificar os princípios. Lutávamos contra as Nações Unidas, contra a União Europeia, contra os Estados Unidos... Inclusive contra o Papa! Dois dias antes do plebiscito, o Papa Francisco fez declarações que desalentaram muitos leigos que estávamos pedindo
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LEGENDA:
- "El País", de Espanha, noticia a derrota do "SI" no plebiscito na Colômbia