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a Vítima ultrajada, o espera. Nele, entretanto, está o perdão e a misericórdia. Ao julgar, ele deseja perdoar e salvar.

Se o sacerdote não pronunciar a fórmula da absolvição, Nosso Senhor Jesus Cristo deixa de falar.

Deus que perdoa por meio do confessor

Como a Igreja recebe o penitente? De início, Ela envolve seu ato de penitência numa penumbra sacral, doce, suave, acolhedora e elevada: o confessionário. Móvel do sagrado, móvel dentro do qual não se propaga nunca o segredo inviolável; nem mesmo ao Papa pode o sacerdote romper tal segredo. A alta dignidade do Sacramento consiste em que o pecador, humilhando-se, confessa, com o firme propósito de não mais pecar. O sacerdote ouve e julga, absolve e impõe uma penitência (que poderá ser algumas orações que o penitente deve fazer, preferencialmente, logo após ter-se confessado). Ao absolver, o padre não faz senão emprestar seus lábios a Deus, pois só Ele pode de fato perdoar os pecados cometidos. É o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo que fala através da laringe do sacerdote.

Ele próprio instituiu o Sacramento da Confissão quando afirmou aos Apóstolos: "‘Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós’. Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’" (Jo 20, 21-23). Assim, conferindo aos Apóstolos e a seus sucessores o poder de perdoar os pecados, e aos fiéis arrependidos de seus pecados o preceito de confessá-los para alcançar o perdão.

Se o sacerdote não pronunciar a fórmula da absolvição (vide p. 31), Nosso Senhor Jesus Cristo deixa de falar. Entretanto, o sacerdote pode não absolver, segundo a gravidade do pecado, convidando o pecador a recorrer ao bispo em certas circunstâncias. A gravidade da confissão levou a Igreja a conceber os confessionários com formas da mais alta dignidade, habitualmente de madeira. Por toda a Cristandade se veem confessionários com figuras esculpidas.

Um auge da clemência Divina

Santos, alegorias, cenas da Sagrada Escritura convidam ao arrependimento e ao pedido de perdão. Em um confessionário se vê São Pedro chamando o fiel. Pecador arrependido, São Pedro foi confirmado no papado. Em outro, o amor ao dinheiro afasta o penitente. Ou a ira. Santo Agostinho, pecador na juventude, arrependeu-se, santificou-se, tornando-se Doutor da Igreja.

Geralmente o pecador teme confessar-se. É incongruência sua. Ele sabe que pecou na presença de Deus. O Criador onipresente viu seu ato condenável. No entanto, o pecador treme ao ter de declará-lo ao Ministro de Deus, descrevendo circunstâncias e agravantes para que a confissão seja bem feita. A Santa Madre Igreja lhe diz: "Meu filho, tu não tiveste medo de fazer uma ação vergonhosa perante Deus, e tens agora a contradição de não desejar que o sacerdote, Ministro desse mesmo Deus, conheça esta ação? Não tiveste vergonha que Deus a visse e agora tu te envergonhas diante dos homens? Mas Deus misericordioso te quer bem. Para te tornar fácil o reconhecimento de teus pecados, de modo paternal, Ele instituiu a confissão. Todos os santos que viveram antes da Redenção não puderam sequer imaginar, nem em sonho, que a clemência divina pudesse chegar a esse ponto de misericórdia. Vem. O juízo, o conselho, o perdão e a reconciliação te esperam".

A inviolabilidade do segredo de confissão

A graça da contrição toca o coração e o pecador cai em si, por uma ação própria ao Sacramento, e diz: "Dói-me, Senhor, ter feito essa ação má. Ela Vos ofendeu. Peço-vos perdão e dor por meus pecados". E assim se restitui naquela alma a imagem de seu Deus.

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LEGENDA:

- São Francisco de Sales confessando – Janez Valentín Metzinger, séc. XVIII (Galeria Nacional da Eslovênia).