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A acolhedora beleza do confessionário reflete essa misericórdia. E também essa gravidade. Ela convida o penitente a confiar no sacerdote para limpar sua consciência e ascender à perfeição. No interior do confessionário flui a sujeira espiritual e o lodo moral, aquilo que de pior existe entre os homens: o pecado em suas inúmeras formas e gravidade.
No entanto, a Igreja, através da austera beleza do confessionário e da elevação das circunstâncias nas quais a confissão se dá, pensa sobretudo no perdão ali conferido e na luz da perfeição ali vislumbrada. Aquele móvel sagrado indica essa perfeição.
O sacerdote pode até mesmo ser um mau padre, mas ele nunca revela o que ouviu. Ele se cala.
O segredo penitencial atesta a grandeza da Igreja. No universo católico, milhões de fiéis se confessam a todo momento a sacerdotes desconhecidos. E nada transpira do que é dito naquele escrínio, no qual o pecado e a santidade se tocam. Poder-se-ia imaginar um padre que escrevesse um livro intitulado: Experiências no interior do meu confessionário. Ele narraria fatos ouvidos, dramas de consciência, planos ardilosos de personalidades conhecidas, roubos e enganos etc. Interesses de toda a ordem estão envolvidos naquilo que um padre poderia delatar. Entretanto, nada é revelado.
O sacerdote pode até mesmo ser um mau padre, mas ele nunca revela o que ouviu. Ele se cala. Todo católico sabe que um crime confessado, tornando-se conhecido, poderia levá-lo à cadeia. Entretanto, ele não hesita em se confessar. Aguilhoado pela consciência, entra numa igreja ao acaso, pede confissão e relata seu ato criminoso a um sacerdote que pode ser um desconhecido. Ele o faz com toda a tranquilidade, sabendo ser o segredo inviolável. Sacerdotes foram martirizados ao longo da História por não violarem esse segredo.
No confessionário, atmosfera sobrenatural
Com acentos de saudade, Plinio Corrêa de Oliveira falava da São Paulinho de sua juventude de militante católico. Pela manhã de certos dias de semana, ainda cedo, ao entrar numa igreja do centro da cidade, já se formavam filas junto aos confessionários. Um confessor aguardava os primeiros clarões do dia. Senhoras com véus ou mantilhas, homens que madrugavam para se confessar antes do trabalho, atitude recolhida, penitencial, verdadeiramente compungida. Até as crianças se confessavam, pois todo pecado é sério, até mesmo o dos pequeninos.
O silêncio e a humildade se conjugavam, dando à igreja uma atmosfera sobrenatural. Todos — por assim dizer — se recolhiam. Ninguém tomava conhecimento da existência do outro, mesmo estando lado a lado, pois só tinham olhos para o tribunal augusto da Penitência, no qual o padre dizia incessantemente as palavras reconfortantes para cada alma: "Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo". Amém! Vai em paz." E o penitente saía em paz do confessionário. (Quadro à página 34 com uma fórmula tradicional do "Ato de Contrição" que o penitente pode rezar logo após ter confessado seus pecados).
Confessionário, alegria e paz de alma
Certa vez, numa fria manhã de inverno, no denso silêncio da recolhida penumbra de uma antiga e imensa basílica constantiniana de Roma, aromatizada pelo incenso esvaecido das Matinas, alguns poucos rezavam. De repente, ouve-se o ruído das portas que se abrem abruptamente. São portas basculantes, necessárias à proteção contra o frio europeu. Uma adolescente entra esbaforida. Nervosamente, procura algo com o olhar. Seus olhos inquietos se fixam num confessionário encimado por uma tênue luz vermelha — acesa para indicar a presença de um sacerdote à disposição.
O confessionário, de antiga data, abrigava naquele instante um velho franciscano, reconhecidamente bom confessor. Ao ajoelhar-se a moça, o móvel range sob o seu peso. E seu ranger ecoa pela basílica. Um murmúrio, um
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LEGENDA:
- São João Bosco atendendo seus alunos