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ENTREVISTA

(com Mathias von Gersdorff)

Abertura das fronteiras europeias e invasão maometana

Um choque de “civilizações” está corroendo as tradições da Cristandade. Quem vencerá? O mundo cristão ou o islâmico? Como estão reagindo a Alemanha e outros países europeus?

A onda imigratória proveniente de países maometanos invadiu a Europa, atingindo particularmente a Alemanha governada por Angela Merkel, que incentivou a abertura de suas fronteiras e as de todos os países da União Europeia. Seria espontâneo esse êxodo rumo ao Velho Continente? Se não é espontâneo, por quais forças é dirigido? Com que objetivo? Em que medida esse objetivo é contrário aos interesses da Cristandade?

Catolicismo pediu a Mathias von Gersdorff, de passagem por São Paulo em abril último, que explicasse aos nossos leitores a real situação de seu país diante da imigração islâmica, os avanços da “Revolução Cultural” e as reações a ela no povo alemão.

Von Gersdorff estudou Economia nas Universidades de Heidelberg e Bonn, e exerceu cargos de sua competência no mundo financeiro europeu. É presidente da Sociedade Alemã de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), e desde 1990 participa do movimento Pro-Life. Atua na campanha SOS LEBEN (SOS VIDA), uma iniciativa da DVCK – Deutsche Vereinigung für eine Christliche Kultur (Associação Alemã por uma Civilização Cristã). Dirige a Kinder im Gefahr (Crianças em perigo), campanha empreendida pela DVCK, desde sua fundação em 1993. Colabora como jornalista em diversas publicações e pronuncia conferências sobre a Revolução Cultural e a questão islâmica na Europa.

Alguns livros de sua autoria: Satanismo, terror e violência nos meios de comunicação social; Encontro com Plinio Corrêa de Oliveira, Paladino católico em uma época tempestuosa; A Revolução do gênero nas escolas, ataque ao bem-estar das crianças e ao direito dos pais a educar seus filhos; Alarme pornografia, um basta à destruição da infância; SOS direito à vida; A família sob o fogo cerrado revolucionário.

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Catolicismo — Temos acompanhado com espanto e preocupação a invasão de maometanos na Europa, mas parece que eles têm especial predileção pela Alemanha. Por quê?

Von Gersdorff — Em comparação com outros países europeus, a Alemanha oferece uma das melhores condições materiais para os que recebem asilo. No início da crise atual, era notório que os emigrantes da Síria e do Oriente Médio em geral iam principalmente para a Suécia, Dinamarca e Alemanha. Se uma pessoa não obtém o direito de asilo, ainda pode contar com a possibilidade de permanecer indefinidamente no país, até mesmo recebendo apoio material. Boa parte das medidas contra a imigração em massa tem sido diminuir os incentivos materiais.

Catolicismo — Há diferença entre os maometanos já instalados na Alemanha, em relação a essa nova leva que tem chegado recentemente?

Von Gersdorff — Em sua grande maioria, os maometanos instalados há mais tempo são turcos. Emigraram na década de 1960, de modo geral para trabalhar na Alemanha como simples operários. Sua grande preocupação era ganhar dinheiro, e eventualmente retornar à Turquia. Os turcos não eram apenas muçulmanos, mas também etnicamente diferentes dos outros muçulmanos do Oriente Médio ou do Norte da África, que são de origem árabe. Entre os turcos que vivem na Alemanha houve também um processo de islamização, como na própria Turquia, que tem seu auge com o atual presidente Recep Erdoğan. Mas também há turcos que se opõem ativamente à islamização.

Quanto aos muçulmanos que chegaram nos últimos anos, são principalmente de origem árabe, que emigraram devido aos múltiplos conflitos na região. Por isso eles constituem um grupo muito mais heterogêneo que os turcos, tanto do ponto de vista étnico quanto religioso. Entre eles há muçulmanos de todas as correntes religiosas, que são muitas.

Catolicismo — Como o senhor julga o “choque de civilizações” entre o mundo maometano e a Alemanha, rica e muito bem organizada?

Von Gersdorff — A Alemanha e a Europa Ocidental não têm atualmente força moral para convencer os muçulmanos a aceitar sua cultura. Também não a tem o cristianismo, em suas diversas denominações, para causar conversões em massa, embora existam conversões. Não é pequeno o número de muçulmanos que se convertem para alguma denominação cristã, mas não é fácil obter informações precisas, pois é grande o medo de ser considerado apóstata, e consequentemente objeto de represálias por parte de outros muçulmanos. Os imigrantes cristãos que vivem nos campos de refugiados sofrem represálias dos muçulmanos

(continua)

Legenda:
- A abertura de fronteiras para imigrantes teve o seu auge no outono de 2015 e polarizou o país. A rejeição à imigração cresceu enormemente de lá para cá.