(continuação)
nos. Maior ainda é a agressividade sofrida pelos que abandonam o Islã.
Enquanto a Europa parece tímida em relação à sua personalidade cultural, o Islã é poderoso em sua capacidade de mobilizar seus fiéis. Isso gera em muitos alemães, e nos europeus em geral, uma espécie de complexo de inferioridade, acreditando que a Europa não tem mais chance de evitar a islamização. Mas esta avaliação parece exagerada, pois a Europa possui uma tradição, um gigantesco legado cultural, religioso e intelectual. Para mim, os europeus se sentirem complexados em relação ao islamismo parece consequência de um estado psicológico, não reflete uma realidade. Os europeus precisam sacudir esse complexo de inferioridade, e para isso devem retomar a sua verdadeira personalidade, começando pela prática da Fé católica.
Outro aspecto pouco divulgado sobre a realidade do mundo islâmico, é que vários autores vêm constatando no Islã uma crise profunda. Sintoma disso é justamente a propensão de usarem a violência e o terror. Sem esses atos brutais, o islamismo não consegue mais sobreviver. A violência atrai elementos suscetíveis à fanatização, pois transmite a impressão de força, mas na realidade a exibição de violência resulta de desequilíbrio psicológico com aparência de fervor religioso.
Catolicismo — A abertura das fronteiras para a entrada dessas hordas de imigrantes maometanos — com costumes, “dogmas”, língua e religião tão diferentes — tem sido aceita pacificamente e assimilada pelos alemães?
Von Gersdorff — Essa abertura teve o seu auge no outono de 2015, e polarizou o país. A rejeição à imigração cresceu enormemente, e de lá para cá a política vem consistindo em limitá-la através da diminuição dos incentivos. Mas os resultados não estão sendo suficientemente convincentes. O desagrado permanece, e a imigração tem sido o assunto central em todas as eleições. No sistema político da Alemanha há muitas eleições, e cada uma vem sendo uma espécie de plebiscito entre os democratas-cristãos e a social democracia. O assunto? A favor ou contra a política imigratória do governo. Os dois partidos vêm sistematicamente perdendo votos. Desde setembro de 2015 a Alemanha mudou fundamentalmente, do ponto de vista psicológico e político. O establishment político está na defensiva, a esquerda submersa em lutas internas, e a direita (basicamente contra a imigração) cresce em todas as eleições.
Catolicismo — Devido à utilização de armas químicas na Síria, cujo governo é sustentado pela Rússia de Putin, ocorreram os ataques dos Estados Unidos, apoiados pelo Reino Unido e pela França. Como a Alemanha reagiu a tais ataques?
Von Gersdorff — A Alemanha é muito leal à aliança atlântica, mas ao mesmo tempo muito cautelosa quando se trata de entrar em um conflito armado. Apoiou a última intervenção, mas sem entrar nela. No passado já foi assim, e foi criticada. A aliança atlântica é atacada tanto pela direita quanto pela esquerda.
Catolicismo — Temos observado internamente no Brasil o aumento da polarização entre direita e esquerda, marxistas e conservadores. Ocorre também isso em seu país, ou prevalece o centrismo?
Von Gersdorff — Os alemães são muito centristas, e estão sempre em busca de um consenso em que todos consideram mais ou menos respeitados os seus interesses. Isso gera resultados políticos habitualmente contraditórios, difíceis de entender por quem está fora. Por exemplo, o aborto na Alemanha é ilegal nos primeiros três meses, mas não é criminalizado.
Voltando à sua pergunta, constata-se que a polarização aumentou na Alemanha, mas nunca na proporção de outros países europeus. Na Itália, nas últimas eleições, o sistema partidário praticamente mudou. Na Espanha, Grécia e Itália foram fundados novos partidos de esquerda, que recebem muitos votos. No Reino Unido o UKIP emergiu, ganhou o plebiscito contra a Comunidade Europeia. Essas mudanças abruptas não são vistas na Alemanha, mas existem de modo mais moderado. Por exemplo, há um novo partido (Alternative für Deutschland) cuja existência se deve quase exclusivamente à crise da imigração.
Catolicismo — As reações contrárias às investidas demolidoras da instituição da família aumentam no Brasil. Verifica-se o mesmo na Alemanha?
Von Gersdorff — Os movimentos a favor da família e contrários ao aborto cresceram, e sua presença pública aumentou. A esquerda admite ter perdido terreno para os pró-vida. Quando a ideologia de gênero deixou de ser um tópico de debates intelectuais nas universidades, para tentar introduzir-se nas escolas, levantou muitas oposições. Isso causa indignação, e as pessoas reagem, protestam. Também o feminismo enfrenta obstáculos. Os críticos mostraram que, sob o pretexto de “direitos das mulheres”, está sendo criada uma ditadura psicológica do “politicamente correto”. Daí as feministas acusarem o golpe, lamentando uma reação antifeminista.
O filósofo marxista Antonio Gramsci afirma que a hegemonia no debate cultural é mais importante que as vitórias legislativas. As esquerdas obtiveram vitórias legislativas no passado, mas estão perdendo influência na opinião pública, inclusive ficando na defensiva no que concerne a temas contrários ao aborto, teoria de gênero etc. Por isso, os militantes anti-aborto voltaram a manifestar mais presença por meio de protestos e mobilizações em geral. Assim, não tardaram os ataques violentos de abortistas e esquerdistas em geral. Nossos escritórios, por exemplo, foram atacados duas vezes nos últimos meses, e as ameaças de morte já se apresentam. No “Dia Internacional da Mulher”, 8 de março, pelo menos seis grupos pró-vida sofreram agressões. Esse clima de violência e polarização é um fator novo na Alemanha.
Catolicismo — Os ambientalistas radicais (também conhecidos no Brasil como “eco-chatos” ou “eco-terroristas”) têm alguma influência no povo alemão?
Von Gersdorff — Sem dúvida. Em parte porque os alemães se encantam com uma natureza de aparência idílica. E foram os ecologistas, com intenções ideológicas de esquerda, que assumiram esse tema e agora o dominam. Na realidade, eles exploram desejos legítimos existentes na alma do alemão, que gosta de ordem, limpeza e tranquilidade, inclusive no ambiente.
Catolicismo — Que tipo de ação junto à opinião pública exerce a TFP atualmente na Alemanha?
Von Gersdorff — Desde 1990 a TFP e suas associações coirmãs na Alemanha vêm desenvolvendo muitas atividades junto à opinião pública. Temos publicado muitos livros, realizado diversas campanhas (pelo correio e pela internet), estamos sempre presentes em eventos públicos — protestos, feiras de livros, congressos conservadores — além de promovermos conferências de forma regular.
Catolicismo — A TFP alemã constitui um polo de pensamento na opinião pública conservadora de seu país?
Von Gersdorff — Claro. Sobretudo no campo católico. Graças às nossas publicações e à nossa posição ostensivamente assumida, temos uma influência considerável e obtemos muitas repercussões públicas. Só no último mês de março foram publicados cinco livros analisando as nossas intervenções públicas. Somos constantemente citados em jornais e blogs. Ultimamente, no debate sobre a ideologia de gênero, temos sido constantemente citados como sendo uma das vozes mais importantes. Também no debate propriamente católico, entre progressismo e tradicionalismo, nossas posições em defesa da doutrina tradicional da Igreja obtêm muitas repercussões.
Legenda:
- Os ecologistas, com intenções ideológicas de esquerda, assumiram esse tema e agora o dominam na Alemanha.