(continuação)
que pescavam, e disse-lhes: “Vinde após mim, e vos farei pescadores de homens”. Imediatamente eles abandonaram as redes e O seguiram. Pouco depois, chamou também os dois filhos de Zebedeu, que também tudo abandonaram para segui-Lo.
Os quatro pescadores acompanharam Jesus a Cafarnaum. Num sábado, indo com Ele à sinagoga local, ali encontraram um possesso de um espírito imundo, que gritou: “Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!”. Jesus ordenou ao demônio que se calasse e saísse daquele homem. Impressionados, os quatro discípulos e todo o povo devem ter-se perguntado: O que é isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade. Ele manda até nos espíritos imundos, e eles lhe obedecem!
São Marcos narra que o Messias foi em seguida à casa de Simão e curou a sogra dele. São Mateus coloca este fato depois do Sermão da Montanha e da cura do servo do centurião. Seja como for, a partir desse momento a casa e a barca de Simão se tornaram a casa e a barca de Jesus em suas estadias em Cafarnaum.
São Lucas parece situar aqui a primeira pesca milagrosa. Estando Jesus à margem do lago de Genesaré, viu a barca de Simão. Entrou nela, pediu-lhe que se afastasse um pouco da margem, e dali ensinava o povo. Quando acabou de falar, ordenou: “Faze-te ao largo; e lançai as vossas redes para pescar”.
Nosso Senhor se dirigiu primeiro a Simão: “faze-te ao largo”; e depois ordenou aos que o acompanhavam: “lançai as vossas redes”. Quem dirige, pois, é Pedro, e ele informa a Jesus: “Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede”. Sem titubear, fez o que mandava Jesus, e o resultado foi uma pesca tão abundante que as redes se rompiam.
À vista do estupendo milagre, e tomado por um temor sagrado, Simão caiu de joelhos diante de Jesus e Lhe disse com humildade: “Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador”. O Redentor o consolou: “Não temas. Doravante serás pescador de homens”. A barca de Pedro tinha sido até então o instrumento de seu ofício, mas se tornaria uma excelente figura da Igreja, da qual ele devia ser o piloto.8
Sempre o primeiro mencionado
Quando Nosso Senhor julgou chegada a hora de associar colaboradores especiais à sua obra de evangelização, reuniu seus discípulos, e dentre eles escolheu doze, a quem chamou Apóstolos. Simão é sempre mencionado em primeiro lugar: “Isso não é uma simples formalidade de protocolo, mas o indício da situação excepcional ou do lugar preponderante de Pedro no colégio apostólico”.9
Pedro logo se tornou insigne entre os doze. Quando São Mateus cita os nomes de todos, ressalta: “O primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão”. A qualificação de primeiro, atribuída a São Pedro na lista de São Mateus, deve ser interpretada no sentido de uma real preeminência.10
Pedro se agarra com a maior fidelidade, firmeza de fé e íntimo amor ao Salvador; apressado em palavras e atos, é cheio de zelo e entusiasmo, embora facilmente suscetível a influências externas e intimidado por dificuldades. Quanto mais se destacam os Apóstolos na narrativa evangélica, tanto mais insigne aparece Pedro como o primeiro entre eles.11
São Paulo, em sua epístola aos Gálatas, também dá a primazia a São Pedro. Falando do período que passou no deserto, depois de sua conversão, escreve: “Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e fiquei com ele quinze dias”. Portanto ele foi a Jerusalém apenas para conhecer Pedro. Não para conhecer Tiago, por exemplo, que além de parente de Nosso Senhor era bispo da cidade; nem sequer menciona também os outros Apóstolos. Tendo ficado com ele 15 dias, quis tratar de muitos assuntos e “conferir os evangelhos”.
Em vida de Nosso Senhor, o Príncipe dos Apóstolos sempre foi um dos privilegiados, escolhidos por Ele em ocasiões especiais: para assistir à ressurreição da filha de Jairo, à sua Transfiguração e à sua agonia no Horto, por exemplo. Depois da primeira multiplicação dos pães, é ainda Simão que anda sobre as águas para ir ao encontro do divino Mestre. Quando o mar se torna turbulento, sua fé vacila, começa a afundar, e grita: “Senhor, salva-me!”. O Salvador estende-lhe a mão e o repreende: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?”. Quando o mar milagrosamente se acalma, Simão se prosterna diante de Jesus e Lhe diz: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus”. Foi o primeiro a reconhecer Jesus como tal.
São Máximo afirma que Nosso Senhor permitiu essa fraqueza de São Pedro para mostrar a diferença que havia entre o Mestre e o discípulo. E acrescenta que, no próprio temor, a fé de Pedro se mostra maravilhosa, pois sem se perturbar grita: “Senhor, salva-me!”. Este gesto mostra que ele desconfiava de si mesmo, mas chamou Aquele em quem tinha inteira confiança.12
Sendo Pedro o mais representativo dos Apóstolos, é a ele que se dirigem os coletores de impostos do Templo. Com toda naturalidade os evangelistas se referem aos Apóstolos como “Pedro e os seus”. Quando Cristo se dirige a todos os Apóstolos, é Pedro quem responde em nome deles, e com frequência é a ele que o Salvador se volta especialmente. A propósito do perdão das injúrias, recomendado por Nosso Senhor, foi Pedro quem Lhe perguntou quantas vezes deveria perdoá-las.
Em outra circunstância, ele se preocupa em saber o que receberiam em retribuição os Apóstolos, que tudo deixaram pelo Salvador. Pode-se sorrir, ao avaliar o “tudo” que deixaram esses humildes pescadores: um barco e umas redes, talvez rasgadas. Entretanto, afirma São Jerônimo: “Eles tinham deixado muito, pois nada reservaram para si, e tinham também renunciado ao desejo e à esperança de adquirir bens deste mundo”.13 Por isso o Salvador lhes declarou: “Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel”.
Parece bem, aliás, que Jesus se empenhe de modo todo particular na formação de Pedro. Ele o instrui e repreende, mas também o favorece com prodígios. É sua rede que se enche nas duas pescas milagrosas. Ele o faz caminhar sobre as águas. É ainda a Pedro que Jesus admoesta no Getsêmani. Depois da ressurreição, o anjo diz às santas mulheres: “Ide e dizei a seus discípulos e a Pedro...”.14 Cristo ressuscitado aparece a Pedro antes de aparecer aos demais Apóstolos.
Desde o primeiro momento, São Pedro desempenha a função de chefe na Igreja nascente: promove e conduz a eleição de Matias; no dia de Pentecostes, “levanta-se no meio dos Apóstolos” e dirige a palavra à multidão; ante as autoridades judias, defende a causa do Evangelho e da Igreja nascente; condena Ananias e Safira; decide a admissão dos pagãos na Igreja. A ele também corresponde o posto diretor no Concílio de Jerusalém.
Legendas:
- São Pedro, o Príncipe dos Apóstolos
- Cristo resgata Pedro das águas – Lorenzo Veneziano, 1370. Staatliches Museum, Berlim.