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(continuação)

combates e enfermidades haviam reduzido o número dos austríacos.

A situação do exército cristão tornara-se difícil, com os turcos à sua frente e na retaguarda, mas manteve-se tranquilo até que uma grave enfermidade do príncipe Eugênio mudou-lhe o ânimo. Informado, o Imperador suportou tais notícias com sentimentos de piedade e fé admiráveis, e tudo fez para conseguir do Céu as graças necessárias para a vitória. Promoveu procissões, orações públicas, e sobretudo uma reforma dos costumes, dando ele próprio grandes exemplos de devoção.2

Alguns dias depois, já restabelecido, o príncipe Eugênio formulou um esquema de batalha que foi a sua obra-mestra. Concluiu que o plano mais ousado era também o mais seguro, e de forma inédita resolveu empregar todos os seus homens num ataque noturno ao acampamento do Grão-vizir. Na madrugada de 16 de agosto, com sangue frio, tranquilidade e confiança, o exército austríaco se dirigiu contra as posições turcas. A infantaria foi posicionada no centro e a cavalaria nas alas, ambas em linhas cerradas. Uma densa névoa favoreceu o início da marcha, mas logo se transformou em perigo, pois também ocultava as posições turcas, o que levou a ala direita a se adiantar demais em relação ao centro e deparar com uma divisão turca. Recobrando a serenidade, os cavaleiros empunharam suas armas e iniciaram a investida. Os mouros se puseram em movimento, e começou a luta em toda a linha de batalha.

Às oito horas da manhã um vento afastou a névoa, possibilitando a Eugênio perceber as brechas das suas fileiras. Pondo-se rapidamente à frente da primeira reserva da cavalaria, levou-a a passo de carga contra os turcos que haviam penetrado nas brechas cristãs. A linha de batalha foi logo restabelecida, e a partir de então os cristãos avançaram incessantemente. Ainda assim, a resistência dos turcos foi tenaz, especialmente no centro, onde lutavam 20 mil janízaros e 10 mil cavaleiros.

Quando Eugênio encontrou a melhor oportunidade, deu o sinal para uma grande investida. Em filas cerradas, com bandeiras desfraldadas e ao som de música militar, todo o exército imperial avançou contra os turcos sem disparar um único tiro. A artilharia muçulmana abria brechas nas fileiras cristãs, mas os soldados imperiais seguiram resolutos até suas baionetas tocarem no peito dos inimigos. Essa corajosa estratégia psicológica levou o pânico aos inimigos, e os fez fugir em debandada. Às 9 horas da manhã a batalha estava vencida.

Os otomanos deixaram no campo treze mil mortos, além de toda a artilharia e seus tesouros. As perdas imperiais também foram graves, com cinco mil mortos e quatro mil feridos, dentre eles muitos oficiais de alta patente. O Grão-vizir refugiou-se na cidade de Nissa com apenas 30 mil homens. Os remanescentes fugiram para seus locais de origem, matando no caminho os próprios turcos que tentavam detê-los.

Mustafá já não podia resistir, e Belgrado se rendeu com todas as fortalezas das cercanias. As guarnições turcas foram autorizadas a sair livremente, com armas e bagagens, mas deixaram bens valiosos na cidade. Após tanto tempo de guerra, foi para a Cristandade uma grande vitória. Mas o fim teria sido mais brilhante se toda a reconquista da Europa se tivesse concretizado. Infelizmente, nem todos os homens cooperam com os desígnios de Deus, e interesses políticos colocaram novamente os europeus em guerra entre si. Novas pendências com a Espanha acabaram por tirar definitivamente o príncipe Eugênio e a Áustria da luta contra o poder muçulmano.

Para finalizarmos essa parte da História, merece ainda a nossa atenção um episódio que interessa de modo especial aos nossos leitores brasileiros. Que papel teve o nosso querido Brasil na história dessas Cruzadas contra os muçulmanos?

É o que responderemos no próximo artigo.

Notas:

Principal fonte consultada: Historia Universal, Juan Baptiste Weiss, Editora Tipografia La Educación, Tradução da 5ª edição alemã, Barcelona, 1930, Vol. XII, pp. 382 a 385.

1. J’ai nom Jeanne la Pucelle, Regine Pernoud – Editora Gallimard – 1994 – p. 29.

2. Histoire de la guerre de Hongrie pendant les campagnes de 1716, 1717 et 1718, Graeffer le jeune – 1788 – pp. 159 e 160.

Legendas:
- Voto de Eugênio de Saboia a Nossa Senhora pedindo a vitória sobre os mouros (Afresco na Igreja de Santa Cristina, em Turim).
- Tropas do príncipe Eugênio atacam as posições do Grão-vizir.
- O Imperador Carlos VI presenteia o príncipe Eugênio após a Batalha de Belgrado – August Wenzel Mantler, 1865. Kunsthistorischen Museum, Viena.