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JUSTIÇA E MISERICÓRDIA

PENA DE MORTE

uma execução em Roma

Abade Gaume
(Vigário Geral da Diocese de Nevers, Cavaleiro da Ordem de São Silvestre, membro da Academia da Religião Católica de Roma, em "As três Romas", Diário de uma viagem à Itália, Tomo IV, pp. 6-11, Porto, Tipografia de Francisco Pereira d'Azevedo, 1858.)

A Santa Igreja, como boa mãe, mesmo quando concorda com alguma punição, dispensa à alma de quem é castigado mil cuidados e carinhos.
O texto que segue revela bem este venerável aspecto da Igreja, quando concede a um condenado à morte todos os meios necessários para a sua salvação eterna.
Em uma civilização autenticamente cristã, até o cadafalso se transforma em lugar de verdadeira misericórdia e cátedra de ensinamento moral.

Fui ontem à tarde [19 de janeiro de 1842], como de costume, à igreja de Sant'Andrea delle Fratte [em Roma], a quarenta passos do nosso convento, e recitei o ofício diante da grade da primeira capela à esquerda, dedicada ao Arcanjo São Miguel. Longe estava do meu pensamento que, no dia seguinte, Deus escolheria essa modesta capela de uma modesta igreja para nela fazer brilhar a sua glória, com um prodígio de que não se encontram muitos exemplos nos anais da História. Ao sair, vi um grupo numeroso reunido em torno do quadro de avisos. Aproximei-me para ver o que atraía a multidão e lhe impunha profundo silêncio.

Na parede estava pendurado um grande quadro de madeira, onde, com letras pretas igualmente grandes, se lia o seguinte: "Indulgência plenária para todos os fiéis que, tendo-se confessado, comungarem amanhã em [aqui vinha o nome de várias igrejas], e orarem por aqueles que estão condenados à morte". Retábulos semelhantes estavam postos em todas as encruzilhadas e esquinas das principais ruas, o que me fez compreender que no dia seguinte haveria uma execução.

Em Paris, os pregoeiros públicos especulam com a curiosidade da multidão e proclamam pela rua as execuções de morte, parecendo convidar o povo para um espetáculo. Aqui, avisos semelhantes chamam todos os católicos à oração, indicando o ponto de vista dos fiéis romanos para o fatal acontecimento que é o suplício do criminoso. Antes de tudo, eles veem na vítima da justiça humana uma alma a salvar, e no espetáculo da sua morte uma reparação à sociedade e uma lição de alta moral. Para alcançar esses três objetivos, envidam todos os esforços. A partir do dia da condenação, o criminoso se torna objeto dos mais caridosos cuidados; nada se omite em prepará-lo para a terrível passagem do tempo à eternidade. Narrando o que vimos, descrevo o que invariavelmente se faz em tal circunstância.

Logo que anoiteceu, os Confrades da Misericórdia — confortatori — ou de São João decapitado se reuniram em grande número. Esta tocante instituição, fundada sob Inocêncio VIII em 1488, assiste os condenados à morte com caridade verdadeiramente cristã. Os membros dessa sociedade devem ser florentinos, ou pelo menos de famílias originárias da Toscana, em memória dos fundadores da obra. Alguns se dirigiram à cadeia e se puseram em oração. Pela meia-noite, um dos carcereiros entrou como de ordinário no cárcere, para ver se tudo estava em ordem; depois, fechando a porta, lançou um bilhete na triste habitação; e o condenado sabe, por tradição, o que isto significa. Deixam-no sozinho por alguns momentos, atendendo a que, de ordinário, a impressão produzida pelo terrível anúncio não lhe permite ouvir a voz da amizade nem a da Fé. Quando aqueles que deviam morrer no dia seguinte se acalmaram, os confortatori [confortadores] entraram. Um prelado e um bispo, membros da confraria, foram encarregados de conceder os primeiros confortos espirituais: orações, palavras suaves, mostras da mais afetuosa ternura — eis o que ocorria na prisão, e o que continuou sem interrupção até o momento supremo.

Enquanto isso, os preparativos externos correspondiam às mesmas intenções. À meia-noite, quando a funesta informação chegava aos dois condenados, o SS. Sacramento foi exposto na igreja da Confraria da Misericórdia. Os membros das diversas associações de piedade, tão numerosas em Roma, se reuniram em torno do próprio Deus, que também fora condenado à pena de morte pela salvação dos homens. Ao romper do dia, em várias igrejas os sacrários foram abertos, expondo o divino Salvador à adoração dos fiéis. O povo dirigia-se para ali

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LEGENDAS:
- A Expiação – Emile Friant, 1908. Art Gallery, Hamilton, Ontário (Canadá).
- À meia-noite do dia anterior àquele em que os condenados deviam morrer, o SS. Sacramento era exposto na igreja da Confraria da Misericórdia. Os membros das diversas associações de piedade, tão numerosas em Roma, se reuniam para rezar por eles em torno do próprio Deus, que também fora condenado à pena de morte pela salvação dos homens.