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(continuação)

CAPA – Anexo II

TFP pede medidas contra padre subversivo

Catolicismo estampou em sua edição de julho de 1968 uma carta aberta de Plinio Corrêa de Oliveira a Dom Helder Câmara, então Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife, datada de 21 de junho de 1968.
O autor pedia a expulsão do Pe. Comblin do Instituto Teológico de Recife, por promover a revolução comunista no País e apunhalar a Igreja, inoculando sua venenosa e subversiva doutrina no ensinamento católico.
Essa carta aberta, que segue abaixo, foi publicada integralmente em 16 diários brasileiros, noticiada em outros oito, e distribuída (500 mil exemplares) diretamente ao público pela TFP em diversas cidades. Essa campanha de distribuição alcançou grande repercussão na imprensa nacional e do exterior(*)
Jornais de Fortaleza e do Rio informavam que Dom Helder Câmara havia declarado que não responderia à TFP, acrescentando: "afinal, todos têm direito de fazer críticas, e eu simplesmente as ouço, respondendo-as quando necessário".

(*) A respeito, ver no site de Catolicismo o link:
../0211/P02-03.html)

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A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, apresentando a V. Exa. seus respeitosos cumprimentos, pede toda a atenção de V. Exa. para o conteúdo do parecer concernente ao relatório destinado ao Conselho Episcopal Latino-Americano, parecer este de autoria do Revmo. Pe. Joseph Comblin, professor do Instituto Teológico de Recife.

Apesar de volumoso e difuso, o documento é meridianamente claro quanto aos objetivos de seu autor, e aos métodos por ele preconizados.

Contra arrendadores e acionistas

O parecer do Revmo. Pe. Comblin visa implantar no Brasil a tríplice reforma urbana, agrária e empresarial, partindo do conceito de que o arrendamento de imóveis urbanos e rurais, bem como a aplicação de capitais sob a forma de cotas ou ações de empresas comerciais, são antissociais e injustos. A consequência lógica desta asserção do Sacerdote belga é que tais aplicações de capital e arrendamentos devem ser proibidos por lei.

Elogio do comunismo cubano

Concebendo um dos principais fins do desenvolvimento como a implantação do nivelamento de classes absoluto, o Pe. Comblin faz o elogio — como altamente propícias ao desenvolvimento — da revolução comunista eclodida nas primeiras décadas deste século no México, bem como da revolução de Fidel Castro.

Necessário garrotear a maioria

Para realizar as reformas de espírito marcadamente comunista que deseja para o Brasil, o Pe. Comblin afirma ser impossível persuadir da utilidade delas a maioria do País, a qual ele acusa de indolente e infensa a medidas revolucionárias.

Por isto, o professor do instituto fundado por V. Exa. planeja duas revoluções, uma no Estado e outra na Igreja.

Revolução político-social

A revolução no Estado consiste em derrubar o governo pela agitação de grupos de pressão fanatizados, que manobrem habilmente a opinião pública.

Obtido esse resultado, o Pe. Comblin deseja que os líderes dessa minoria de agitadores estabeleçam sobre o País uma ditadura férrea, que leve a cabo reformas de base confiscatórias e igualitárias, análogas às que Fidel Castro efetuou em Cuba.

Revolução na Igreja

A fim de dar a esta ditadura minoritária um apoio que reputa indispensável, o Pe. Comblin — que qualifica nosso Episcopado e nosso Clero de indolentes e acumpliciados com os mil abusos por ele atribuídos às elites dominantes — propõe a virtual anulação da autoridade dos Bispos, sujeitando-os à ditadura de um órgão que se entrevê ser um verdadeiro politburo eclesiástico. Segundo parece, o Pe. Comblin tem a esperança de que os membros desse órgão constituam uma camarilha de Bispos extremistas, a dominar a Igreja no Brasil.

O Pe. Comblin quer ainda a abolição de todas as Ordens religiosas, fundidas numa só instituição anorgânica e totalitária, posta a serviço do seu sonhado politburo epíscopo-extremista. Ele pede também que se proíba que do Exterior continuem a vir os Padres, que demandam abnegadamente o Brasil a fim de suprir a deficiência numérica do Clero nacional.

Liquidação das Forças Armadas

Para chegar à realização de todos esses fins, o professor do Instituto Teológico de Recife pleiteia como medida eventualmente necessária, além da desmoralização do Governo, e das Forças Armadas, a dissolução do Exército Nacional e a distribuição de armas ao povo.

Censura da imprensa, rádio e TV

De outro lado, pede o Pe. Comblin que uma enérgica censura de imprensa, rádio e televisão reduza ao silêncio os descontentes. As elites que não se conformarem com essa política, deseja o Pe. Comblin que abandonem o País.

Tribunais de exceção

Acusando o Poder Judiciário de corrompido pela burguesia e pelo Clero, o Pe. Comblin reclama a instituição de tribunais de exceção, para julgar rapidamente quantos se oponham a essa ditadura comuno-reformista.

Elogio da revolução violenta

Caso esses processos não deem resultado, o Pe. Comblin considera legítimo o emprego da violência a fim de chegar à implantação do regime por ele sonhado.

Este o aspecto sinistro do parecer do Sacerdote belga.

Impostura grosseira e ridícula

O referido parecer tem também um caráter de ridícula impostura. Ele qualifica a estrutura social hodierna do Brasil e da América Latina como "uma das mais aristocráticas que jamais houve na História". Ela se constituiria de duas classes, uma de brancos opressores e exploradores, e outra de índios, negros e mestiços explorados e oprimidos. Qualquer brasileiro sabe a que ponto nesse quadro não existe nem uma imagem da realidade, nem sequer uma caricatura dela, mas uma invenção de todo em todo gratuita: uma inverdade integral que é impossível não qualificar de grosseira impostura.

Essa a síntese do extenso e massudo parecer publicado largamente pela imprensa.

O documento é autêntico

O Pe. Comblin — em declarações à imprensa — não negou a autenticidade do texto que lhe é atribuído. Limitou-se a alegar que este era um mero rascunho. Nada, porém, pode justificar esse pretenso "rascunho" em que ao apelo à subversão no País, à revolução na Igreja, se juntam a calúnia contra o Poder Civil, a Hierarquia Eclesiástica, as Forças Armadas e a Magistratura, e a configuração de um quadro grosseiramente falsificado da realidade nacional.

Um Sacerdote a planejar isto?

A opinião pública brasileira se acha estarrecida diante da ideia de que um Sacerdote pense, diga e planeje coisas tais. Ela se encontra perplexa e apreensiva diante do fato de que este Sacerdote, sendo estrangeiro, se atreva a intervir de tal maneira nos assuntos brasileiros.

A Nação se sente alarmada e indignada vendo que um tal agitador tenha podido esgueirar-se no corpo docente do instituto Teológico que V. Exa. fundou precisamente para estudar a realidade brasileira e mobilizar o povo para a ação cívica e política.

Medidas contra são indispensáveis

Assim, a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade está certa de interpretar os anseios de milhões de brasileiros, pedindo a V. Exa. que expulse do Instituto Teológico de Recife, e da ilustre Arquidiocese em que ainda refulge a gloriosa recordação de Dom Vital, o agitador que se aproveita do sacerdócio para apunhalar a Igreja, e abusa da hospitalidade brasileira para pregar o comunismo, a ditadura e a violência no Brasil.

Essas medidas, Sr. Arcebispo, são as únicas que podem desafrontar a Nação.

A atitude da Igreja, punindo e repelindo severamente o Sacerdote subversivo, fará ver que Ela apoia desde já as medidas que a autoridade civil tomará, por certo, para resguardar contra os manejos do Pe. Comblin a segurança nacional.

Levando ao conhecimento de V. Exa. isto que é, quase diríamos, uma reivindicação de todos quantos amam a tradição brasileira e a família brasileira, e veem no exercício da dupla função da propriedade — individual e social — um imperativo de justiça e uma condição de prosperidade nacional, pedimos a favorável acolhida de V. Exa.

Com as expressões de toda a consideração que tributamos à alta dignidade eclesiástica de que está V. Exa. revestido na Igreja de Deus, subscrevo-me

Atenciosamente
Plinio Corrêa de Oliveira
Presidente do Conselho Nacional da TFP