SEGUNDA-FEIRA SANTA
A
Irmandade de Nazarenos de Nossa Senhora de Graça sai à
noite. A túnica é azul; o chapéu, a estola e
as luvas são brancos. O esplendor do passo, exclusivamente
dedicado a Nossa Senhora, comove o povo.
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Isaías chamou Nosso Senhor de Vir
dolorum (Is. 53,3) o Varão das Dores. De Nossa
Senhora, espelho da Sabedoria que reflete em Si tudo quanto é
de Jesus Cristo, pode-se dizer que é Mulier
dolorum, a Dama das Dores.
Num oceano de sofrimentos, tudo nEla era
equilibrado e raciocinado. O amor era incomparável, sem
super-emoções, mas com uma infinitude de sentimento.
Sem torcidas, sem pânicos, embora numa angústia quase
estraçalhante.
Quando o Madeiro foi levantado, as dores de Nosso
Senhor atingiram o insondável. Ela, então, ficou na
alternativa: de um lado, queria que Ele morresse logo, para
interromper os tormentos; de outro lado, desejava que Ele ainda
vivesse, pois toda mãe quer alongar a vida de seu filho. Mas
Nossa Senhora sabia que era melhor para os pecadores a imolação
ir até o fim.
A grandeza de Nossa Senhora não está
tanto na enormidade dos seus padecimentos, mas em ter desejado que
seu Filho cumprisse esse sacrifício supremo por amor de nós.
Deus amou-nos tanto, que desejou sacrificar o seu Filho Unigênito.
Nossa Senhora teve tanta dileção por nós, que
Ela aderiu a essa função sacrifical.
TERÇA-FEIRA SANTA
Na
calada da noite, a Confraria penitencial do Cristo da Noite
Escura leva, em cortejo, imagem altamente expressiva do
Crucificado. A túnica e o capuz são marrom
carmelita, o escapulário e o cíngulo são
brancos com uma cruz no peito. Na escuridão, resplandece
Jesus cruelmente morto, enquanto ouvem-se hinos de reparação.
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“Consumatum est (Jo 19,30), a vítima
expirou, o sacrifício foi consumado, opera-se a Redenção
e o gênero humano foi salvo.
Nosso Senhor Jesus Cristo já tinha morrido
quando a lança de Longinus O perfurou. O furor dos algozes
atravessou o Sagrado Coração, e então foi
derramado o último sangue e a última água por
nós. Ó extremo da misericórdia, de bondade e de
condescendência!
Meu Deus, quem sabe se às vezes eu cravei no
Coração de Jesus a lança de Longinus? Não
é só o pecado mortal. É o velho hábito da
tibieza: não se muda, não se progride nem se quer
progredir, observa-se os outros progredirem, e o pecador não
se incomoda.
Um pouco daquela água com sangue respingou no
rosto de Longinus. Ele era catacego, adquiriu a vista, converteu-se e
transformou-se, segundo a tradição, num santo. Quem
sabe agora eu recebo também esta graça? Esta graça,
meu Senhor, Vos peço pelos méritos de vossa Mãe
Santíssima, na hora em que Vós expirastes”.
QUARTA-FEIRA SANTA
A
Confraria Eucarística da Santa Ceia parte durante a
noite trajando túnica cor marfim com galões
dourados, manto bordô, chapéu e luvas brancas. A
confraria carrega um dos andores mais tocantes: Cristo em pé,
com uma das mãos no coração, abençoa
o pão e o vinho para o sacrifício litúrgico.
Enquanto os Apóstolos olham para Ele, Judas foge com o
dinheiro da traição.
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Na Santa Ceia, Jesus Cristo instituiu o Santo
Sacrifício da Missa. Era uma festividade, mas Ele estava
profundamente triste porque um dos Apóstolos mais chegados O
tinha traído: Judas Iscariotes.
O Sinédrio tramava apoderar-se de Cristo.
Judas indicou o meio: Eu sei onde, sou discípulo
dEle, mas quero dinheiro pelas indicações!
Era natural que os sinedristas dessem uma boa quantia. Mas eles eram
gananciosos, e Judas conformou-se com pouco, porque queria dinheiro
logo.
Quando Judas apareceu para prender Nosso Senhor e
osculou-O, Jesus perguntou-lhe com afeto: Judas, com um
ósculo tu trais o Filho do Homem? (Lc 22,48). Judas
não se incomodou. Trinta dinheiros, o resto não
importa! Conhecemos a resto da história, que
terminou ignobilmente numa figueira.
Nosso Senhor sabia que ia ser vendido por esse
preço. Zacarias havia profetizado: Deram para o meu
salário trinta moedas de prata (Zc 11,13). Tudo se
passou assim, porque Ele consentiu. O Salvador não era um
vencido amarrado e garroteado, mas o vencedor que divinamente quis
deixar-Se prender para a salvação do gênero
humano.
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