* MONS. JOÃO GUALBERTO GUEVARA, Cardeal Arcebispo de Lima, condenou uma dança popular mexicana intitulada "mambo", que se introduziu recentemente no Peru A referida dança, sobremaneira imoral, foi pela primeira vez dançada em Lima durante a Semana Santa, o que, acentuou S. Eminência, constitui especial ofensa a Nosso Senhor. Os Sacerdotes da Arquidiocese de Lima estão proibidos de dar absolvição aos penitentes que não manifestarem o firme propósito de nunca mais dançar o "mambo". Os católicos foram proibidos de comparecer a uma homenagem prestada ao compositor do "mambo", Perez Prado, na cidade. de Lima. Atitudes enérgicas como esta constituem capítulo dos mais gloriosos da grande luta da Igreja contra a imoralidade contemporânea.
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AS AUTORIDADES FEDERAIS mostram excelente orientação, procurando melhorar as condições de vida dos trabalhadores, não tanto por uma alta de salários, quanto pelo barateamento do custo de vida. Toda a população aguarda com interesse as medidas concretas prometidas no sentido de um combate enérgico aos especuladores de viveres. Com efeito, aí é que está em grande parte o mal. Pois se do preço pago pelo consumidor por um produto adquirido no varejo, descontarmos a parte dos intermediários, veremos que o que sobra para o produtor é quase sempre muito pouco. Assim, a produção, desalentada, paralisa ou decai. E, pelo contrário, a especulação, produzindo proventos fartos, vai criando uma classe de tubarões que em via de regra não são, nem burgueses, nem operários, mas reúnem em si apenas os defeitos de ambas as classes.
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* A UNIVERSIDADE GREGORIANA, fundada pela Santa Sé para o estudo de seminaristas do mundo inteiro, e confiada aos PP. Jesuítas, tem 397 anos de existência. Entre seus antigos alunos e professores há 6 Santos canonizados: S. Roberto Belarmino, S. Luís Gonzaga, S. João Berchmans, São João Baptista Bassi, S. Camilo de Lellis, S. Leonardo de Porto Maurício.
Além destes, 21 Beatos, 12 Papas, 59 Cardeais, 350 Bispos — estas duas últimas cifras referentes só-mente ao espaço de 1824-1937.
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A UNIVERSIDADE DE BEYRUTH, dedicada a S. José, e dirigida pelos PP. Jesuítas, o maior instituto católico de instrução no Oriente Médio, já comemorou o 75.° aniversário de sua fundação. Conta a Universidade cerca de 3 mil alunos de 26 nacionalidades; frequentam as Faculdades de Teologia, Medicina, Ciências, Direito e Letras Orientais. O corpo docente consta de 241 professores. Nestes 75 anos de existência, a Universidade tem formado figuras das mais exponenciais da vida libanesa, entre as quais o atual presidente da República, e irradia a influência católica não só no Líbano mas em todo o Oriente Médio.
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* A CAMPANHA CONTRA O JOGO, promovida pelo Governador de S. Paulo, Sr. Lucas Nogueira Garcez, continua enérgica, segundo as notícias procedentes da capital bandeirante. As autoridades policiais se tem mostrado meticulosas, varejando chalets de bicho, clubes com jogo clandestino, etc. Esta linha de conduta merece o mais decidido aplauso da opinião católica. Com efeito, os problemas econômicos com que se defrontam as classes humildes nunca poderão ser resolvidos com acerto, se o jogo absorver a melhor parte dos seus recursos.
Para resolver, a questão social em um país profundamente minado pelo jogo, não basta elevar os salários, é ainda precise protegê-los.
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* A CASA DE OSTERLEY, para vocações tardias, sob a direção dos PP. Jesuítas da Província da Inglaterra, acaba de assistir a ordenação de seu 500° Sacerdote. Há 28 anos se preparam para o sacerdócio, nessa casa, homens de todas as profissões: carpinteiros, eletricistas, atores e locutores de box convertidos, marinheiros, aviadores, etc. Destes, 212 trabalham no Clero Secular, 61 ingressaram na Companhia de Jesus, 43 são Beneditinos, 18 Franciscanos, 20 Salvatorianos, 15 Missionários de São Francisco de Salles, 14 Padres de Nill-hill, 6 Dominicanos, 4 Servitas e 2 Passionistas.
Escreve-nos Jansen: — "Hoje em dia ouço falar muito em "Liturgismo". Que se deve entender por esta palavra?"
R. — A palavra "Liturgismo" ocorre na Carta que a Sagrada Congregação dos Seminários e dos Estudos das Universidades endereçou ao Episcopado Brasileiro em 7 de março de 1950, (AAS. 42, p. 838 e segs.) com o fim de fomentar uma conveniente formação dos Clérigos.
Definindo o que entende por "Liturgismo", diz o documento: "Em sua Encíclica "Mediator Dei", cheia de tanta doutrina, o Santo Padre Pio XII assinalou e reprovou certos abusos, que alguns estavam introduzindo, sob pretexto de uma Liturgia mais pura". (AAS. 42, p. 839).
A Santa Sé entende, pois, por "Liturgismo", os abusos que alguns introduziram sob pretexto de uma Liturgia mais pura. Sobre estes erros o Papa estende-se mais na Encíclica "Mediator Dei".
Não obstante, a mesma Carta da Congregação dos Seminários aduz alguns exemplos destes abusos: "Assim, continua o documento, falava-se contra a adoração do SS. Sacramento, que, diziam, se conservava somente para viático a ser levado aos doentes; falava-se contra a bênção eucarística, tida por inovação irracional. Alguns iam mais longe, reprovando a representação de Jesus Crucificado, por ser menos conforme as suas concepções sobre a vida mística; outros não admitiam senão a oração litúrgica e desprezavam a meditação particular, os exercícios espirituais, os exames de consciência" (AAS. 42, p. 839/40).
Aí estão alguns exemplos de "Liturgismo". Como diz a Carta, são apenas exemplos. A Encíclica "Mediator Dei" para a qual apela a Congregação dos Seminários, filia o "Liturgismo" ao "Jansenismo", condenado por Pio VI ao proscrever o Sínodo de Pistoia: "este modo de pensar e agir faz reviver o insano arqueologismo suscitado pelo ilegítimo Concílio de Pistoia, e se esforça em revigorar os múltiplos erros que foram as bases daquele conciliábulo e os que se lhe seguiram com grande dano das almas, e que a Igreja — guarda vigilante do depósito da Fé confiado pelo seu Divino Fundador - condenou com todo o direito" (AAS. 39, p. 546).
Poderíamos, portanto, dizer que o "Liturgismo" vem a ser até certo ponto o Jansenismo em seu aspecto litúrgico. As aberrações litúrgicas dos Jansenistas prendiam-se por sua vez aos princípios de seu sistema religioso tributário do Protestantismo. Assim, por exemplo, os jansenistas a todos impunham a obrigação de ler a Sagrada Escritura. Igualmente, reprovavam como idolátrico o culto do Sagrado Coração de Jesus, e como falsa a Maternidade Divina de Nossa Senhora. Também rejeitavam como nulas as Missas em que os fieis não comungassem, ou só consideravam valida a assistência à Missa, na qual os fieis acompanhassem as orações do Padre com o missal na mão. Por isso introduziram a Missa em língua vulgar. Também a condenação de muitas Missas simultâneas e consequentemente da pluralidade de altares na mesma igreja provinha, no Jansenismo, de um falso conceito do sacerdócio dos fieis que afirmava deverem todos, Sacerdotes e leigos, concelebrar a mesma Missa.
Outro aspecto do Jansenismo, que está subjacente em certos exclusivismos de hoje, é circunscrever toda a vida espiritual e apostólica do fiel à paróquia. Missas, recepção dos sacramentos, apostolado só devem ser praticados na paróquia, em torno e sob dependência da Matriz. É o que chamam, aliás impropriamente, "espírito paroquial". Deste erro decorre uma hostilidade viva aos Religiosos. Já, o Sínodo de Pistoia, por exemplo, reduzira no Grão-Ducado da Toscana os conventos, a três apenas, de Beneditinos. Todos os mais deviam desaparecer.
Pois esses erros, diz o Papa na Encíclica "Mediator Dei", são revigorados pelo "modo de pensar e agir" dos que se entregam ao "Liturgismo".
Lamenta a Carta da Sagrada Congregação dos Seminários que "depois da Encíclica esses erros não parece tenham desaparecido inteiramente, muito embora tenham sido aberta e explicitamente atingidos por aquele documento" (AAS. 42, p. 840).
No mesmo sentido, a Constituição Apostólica "Bis Saeculari Die", de 27 de setembro de 1948, condena a recente atitude de elementos exagerados da Ação Católica, que, em certos lugares, pretendiam reduzir toda a atividade do fiel ao círculo restrito da paróquia (Cfr. AAS. 40, p. 398).
Não encerremos estas considerações sugeridas pelo nosso amável consulente, sem uma palavra sobre o "apostolado litúrgico".
Não se deve, de fato, confundir "Liturgismo" e "apostolado litúrgico". São coisas muito diferentes. O "Liturgismo" é condenável, e de fato a Igreja já o proscreveu, como heretisante, pois revigora o Jansenismo. O "apostolado litúrgico" é, ao contrário, não só louvável, mas deve até ser incrementado.
O "apostolado litúrgico" legítimo, aquele que teve em D. Guéranger seu grande propulsor, e que torna "as augustas cerimônias do sacrifício do Altar mais conhecidas, compreendidas e estimadas; a participação aos sacramentos maior e mais frequente; as orações litúrgicas mais suavemente saboreadas e o culto eucarístico tido — como verdadeiramente o é — por centro e fonte da verdadeira piedade cristã" ("Mediator Dei", AAS. 39, p. 523).
Infelizmente, como adverte a mesma Encíclica (AAS. 39, p. 524), nem todos os que pretenderam dedicar-se ao "apostolado litúrgico" mantiveram-se no espírito que a Igreja desejava; e assim terminaram no "Liturgismo".
É, por exemplo, pretenso apostolado litúrgico o exclusivismo no uso do missal como método de assistir à Santa Missa, a condenação do canto popular e polifônico, a imposição como necessária da comunhão no meio da Missa, e a mesma obrigação da Missa dialogada. Neste sentido vai longe, até confundir o sacerdócio dos leigos com o do Padre, um livrinho, "Sigamos a Missa", que por ai corre como meio de difundir o apostolado litúrgico. Pois faz o fiel declarar que vai com o Padre "fazer o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo". Ora, só o Padre tem este poder. Também é excesso condenável querer reduzir todo o apostolado catequético ao apostolado litúrgico. Há entre eles interdependência, como aliás tradicionalmente se faz nos nossos "catecismos"; mas não absorção de um pelo outro.
Cremos que estas notas auxiliarão nosso consulente não só a julgar o "Liturgismo", como também a precaver-se contra os abusos que o constituem.
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Escreve-nos M. O. P.: "Que dizer de uma frase que li algures, a saber, que o Capitalismo é pior que o Comunismo?"
R. — Capitalismo vem de capital, e por isso não pode ser entendido sem uma noção, ao menos sumária, de capital. Por este termo entendem os economistas um bem já produzido, mas que não tende à consumação, e sim a produzir novas riquezas. As máquinas, por exemplo, são riquezas produzidas, mas que não têm por finalidade o consumo em benefício da manutenção do homem, antes são empregadas na produção de novos bens. O mesmo se diga do capital no sentido mais comum, a saber, do dinheiro em grandes somas que são empregadas no estabelecimento de indústrias, fábricas, etc.
Capitalismo será o regime no qual a economia está nesta fase já desenvolvida, isto é, distante do estado primitivo no qual o homem devia extrair da natureza, o necessário, utilizando apenas as energias de seus membros.
Assim entendido, não há oposição entre ele e o Comunismo, de maneira a ser possível uma comparação entre ambos. Pois o Comunismo representa urna sociedade ultra capitalista, na qual os enormes capitais acumulados mediante o trabalho escravo, são empregados na multiplicação das riquezas em benefício dos poucos felizardos que dirigem a sociedade e a economia comunista. Falar de regime comunista enquanto se opõe a um regime capitalista é contra-senso, uma vez que a base daquele é a constituição deste em grande escala. Porque representa hoje a Rússia esse potencial bélico que a todos apavora? Devido à pirâmide enorme de capital acumulado, e que está todo ele voltado para a guerra aos povos ocidentais.
Quando se opõe, portanto, o Capitalismo ao Comunismo, vulgarmente entende-se o regime no qual o capital não está exclusivamente nas mãos do Estado, mas principalmente no domínio de particulares. Em última análise, entende-se o regime da propriedade privada.
Isto posto, considerado em si mesmo o capitalismo nada representa que seja contra a Moral. É mediante o esforço, a inteligência, a economia que os indivíduos formam seu capital. E nisto nada há de imoral. Mais. Naturalmente o trabalho tende, a formar o capital, e mesmo a Moral julga uma necessidade, e pois um direito da pessoa, certa autonomia que só lhe pode conferir o capital, a propriedade pessoal, particular.
Estabelecido, sob este aspecto, a comparação, o Comunismo só por este motivo já, se manifesta mau e condenável, pois é contrário a toda a propriedade privada. Abstraindo mesmo do aspecto religioso, exclusivamente sob o aspecto econômico, enquanto envolve atividade humana; é o Comunismo intrinsecamente mau porque contrário à propriedade privada, ao capital particular, que são de direito natural.
Acontece, no entanto, que o capital pode acumular-se de tal maneira que faça de seu possuidor o árbitro de uma sociedade; como também o uso do capital pode ser um verdadeiro abuso. Expliquemo-nos. Ainda que de direito particular, o capital tem sempre uma função social. De maneira que esta riqueza, como as demais, está nas mãos dos indivíduos mas deve servir à coletividade. Esquecidos deste destino natural do capital, muitos capitalistas concorreram para uma desordem econômica que tem merecido frequentes condenações pontifícias. Tal desconhecimento da finalidade das riquezas -- no fundo um desprezo da lei divina e da moral — é que, no dizer do Papa, pôs frente a frente um pequeno grupo de privilegiados e uma enorme massa popular empobrecida.
Ainda mesmo assim, não se pode dizer que o Capitalismo seja pior que o Comunismo. O capitalista que abusa de sua situação privilegiada, não desconhece nem destrói o direito à propriedade privada. Abusa deste direito, mas no mesmo abuso o reconhece. Ao passo que o Comunismo pura e simplesmente desconhece o direito à propriedade privada. O Capitalismo é sempre passível de correção, ao passo que o Comunismo não. O capitalista pode emendar-se; o comunista só o pode abjurando sua doutrina.
Por isso mesmo, a Igreja que condena tão severamente a desordem causada pelo abuso do capital, jamais apela para a Revolução como meio de solucionar o problema social. Ainda agora, afirmou-o o Santo Padre Pio XII, falando em rádio-mensagem aos operários espanhóis reunidos para comemorar o décimo aniversário de Sua coroação. Resumiu o Sumo Pontífice a doutrina já frequentemente exposta pela Santa Sé, no tópico seguinte. Por ele vê-se que a Igreja não acha que na revolução expropriadora está a solução da questão social, mas na maior disseminação do capital privado. Encerremos estas considerações com as palavras do Papa:
"Há e haverá sempre as desigualdades econômicas, mas todos os que, de qualquer modo, podem influir na sociedade, devem ter em vista realizar uma situação que permita aos que dão esforços possíveis, não somente a oportunidade de viver, mas igualmente a de fazer economias. São numerosos os fatores que devem contribuir para a maior difusão da propriedade, mas o principal será sempre um justo salário. Este, e a melhor distribuição dos bens naturais, constituem duas das mais prementes exigências do programa social da Igreja."
Plinio Corrêa de Oliveira
O contraste entre a indumentária, a atitude, o porte destes dois homens - um Rei da França antes da Revolução, e um presidente dos Estado Unidos no século XX - é tão imenso que parece tornar impossível qualquer comparação. E, com efeito, não pretendemos estabelecer aqui um paralelo entre um homem e outro, o que seria perfeitamente desinteressante para esta secção, que não estuda homens pessoalmente considerados, mas somente sociedades humanas, costumes, ambientes e civilizações.
Para definir bem precisamente o ponto de vista em que nos situamos neste comentário - pois que se trata mais de um comentário do que de uma comparação - devemos lembrar antes de tudo um princípio de caráter genérico. Todo o grupo humano produz, por um processo de lenta elaboração psicológica, e quase diríamos de destilação, certos tipos que encarnam especialmente as qualidades e notas características do grupo. Assim, há jogadores de boxe com os mais variados traços fisionômicos, mas há um tipo ideal clássico de jogador de boxe, de que uns se aproximam mais, e outros menos, mas que, de certo modo, cada um realiza em si. O mesmo se poderia dizer dos locutores de rádio.
Há naturalmente entre eles a maior variedade fisionômica, e mesmo técnica. O modo por que se dirigem ao público, o modo por que apresentam a matéria, o timbre e a inflexão da voz variam quase ao infinito. Entretanto, considerado o assunto em tese, poder-se-ia dizer o mesmo de todas as profissões, desde as mais altas às mais modestas, desde as mais antigas às mais modernas. Ora, todo grupo humano sente uma especial inclinação pelos tipos que o exprimem caracteristicamente. É um reflexo muito explicável do amor que o grupo tem aos seus ideais, a sua mentalidade, e a seu próprio modo de ser. Daí a popularidade, não só de certos homens, mas de certos tipos literários que nunca tiveram existência real, e até certas figuras de caricatura e "charge" , como Juca Pato, que representava o pequeno burguês sensato, observador fino e ao mesmo tempo algum tanto ingênuo, e Jeca Tatu, a caracterização pitoresca, se bem que muito exagerada, do caipira brasileiro.
Sentindo ao vivo a força da popularidade decorrente deste principio genérico, reis e chefes de Estado procuraram, em todo o tempo encarnar em si a alma nacional. Este propósito terá sido apenas instintivo em uns, mais nítido em outros, inteiramente explícito e intencional em alguns poucos, mas de um modo ou do outro - genericamente consideradas as coisas - todos os Chefes de Estado, em todos os tempos, procuram cercar-se de exterioridade próxima ou remotamente tendentes a espelhar um certo ideal social coletivo, constituindo-se assim alvo do apreço e da simpatia geral.
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O primeiro clichê é um quadro oficial de grande circunstância, pintado por Rigaud [Hyacinthe Rigaud : Portrait de Louis XV, 1727-1729, Versailles, Musée National du Château], e representando Luís XV revestido de todas as insígnias reais. Que o pintor tenha sido Rigaud, e o modelo Luís XV, importa pouco a nosso estudo, pois que esta indumentária e estas insígnias se perdem, por assim dizer, na noite dos tempos, tendo servido também aos ancestrais do Rei. O que interessa é que se trata de um quadro oficial, em que a atitude, o porte, a expressão, a roupagem do modelo, e, pois, em conseqüência, em certa medida, a própria técnica do pintor obedecem a cânones já consagrados como capazes de impressionar favoravelmente e "gerar popularidade".
Paira no quadro uma atmosfera de majestade, acentuada pelo grande manto violeta forrado de herminia, e bordado de flores de lis de ouro, pelo esplendor das insígnias reais. Defensor da Igreja, primeiro gentil-homem de seu Reino, reunindo exponencialmente em sua pessoa toda a distinção e requinte de uma nobreza que por sua vez é o expoente da própria nação, um Rei de França encarnava assim todos os ideais de uma sociedade em que a Fé, a tradição, a destilação de valores através de um processe formativo de base familiar, realizado durante séculos pelas famílias de escol, eram elementos dos mais essenciais das Instituições, geralmente aceitos e prezados pela psicologia coletiva. Quanto mais alto, mais poderoso, mais requintado o Rei, tanto mais ufano e dignificado o povo.
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Precisamente no tempo de Luís XV, esta mentalidade começou a mudar, minando a sociedade e preparando a Revolução Francesa de que saiu todo o mundo contemporâneo.
Essencialmente igualitária, a Revolução Francesa modificou os critérios de popularidade. Os grupos humanos não se sentiram mais encarnados e representados por suas figuras exponenciais, pois que a figura exponencial é produto de uma seleção e toda a seleção é anti-igualitária. A popularidade cessou de convergir para os homens excepcionais, superiores, para se concentrar nos homens-tipo, nos homens massa. Daí o fato de os quadros oficiais representando os chefes de Estado de casaca, e com toas as condecorações, haverem perdido quase toda a capacidade de gerar popularidade. Para ser popular, o Chefe de Estado não deve provar que é mais do que os outros. Muito pelo contrário, deve provar que não é mais do que ninguém, que é como todo o mundo. Por isso, os quadros oficiais ficaram para as paredes dos grandes salões nobres que vivem vazios e fechados, exceto em raros dias de gala. E os chefes de Estado começaram a se fazer ver pelo público sobretudo em jornais e revistas, fotografados nas atitudes comuns da vida quotidiana. Procuram fazer esquecer pelo publico, que são Chefes de Estado, para aparecerem como simples burgueses, na era da burguesia... Aí temos, pois, o Presidente Truman, numa fotografia de página inteira de uma revista americana, tocando burguesmente seu piano. Cumpre acentuar que isto não pode ser considerado tipicamente norte-americano. Estes ventos sopram no mundo inteiro, e na própria Europa não são raros os Presidentes e até os Reis que obedecem à mesma influência. Insistimos: não fazemos aqui um comentário sobre um homem e muito menos sobre um país, mas sobre uma ideologia e uma época.
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Assim sopram os ventos. E para onde sopram eles? Virá dia em que os Chefes de Estado recearão apresentar-se como burgueses, e preferirão o blusão proletário de Stalin? E em que os diplomatas adotarão as maneiras "fortes" de Ana Pauker?
Foi fundada recentemente em Roma, com sede na Via Porta Pinciana 6, junto à casa editora "Comunità", a Sociedade Fabiana da Itália. Fazem parte dessa nova sucursal dos fabianos os srs. Calosso, Vignorelli, Rapelli e outros elementos ligados aos meios sindicais, tais como Somma, Borghesani e quase todo o grupo da "Política social".
A Sociedade Fabiana, de inspiração socialista inglesa, se propõe com o grupo de "Comunità", constituir urna corrente do partido cristão-social italiano, tendo por uma de suas finalidades fazer atuar na Itália um programa de ação que a CISL não pôde realizar.
Seguindo as pegadas da "Fabian Society" inglesa, fundada em 1894 em Londres por Sydney Webb, Sir Oliver Green, Bernard Shaw, Annie Besant e outros iniciados, deseja a Sociedade Fabiana agora fundada na Itália implantar o socialismo, não pelos processos da ação direta do marxismo, mas por vias constitucionais e por reformas de base gradativas.
Segundo corre em meios bem informados e vem de ser confirmado por um dos membros da Sociedade, os fabianos da Itália tencionam atuar no plano sindical com um programa independente dos similares já apoiados por outros movimentos operários, e se propõe formar uma mentalidade trabalhista "desligada tanto do Ocidente como do Oriente".
Por enquanto a Sociedade Fabiana da Itália tem se limitado a realizar reuniões de estudo sobre problemas sindicais. Com a habilidade que caracteriza o método fabiano quanto a adaptações locais, alguns membros do fabianismo italiano já enunciaram algumas modalidades de ação sindical que não se filiam perfeitamente ao programa do fabianismo inglês. Mas a questão de meios, embora muito importante para os discípulos do falecido Harold Laski, sendo mesmo seu traço de diferenciação em relação aos comunistas, é secundária: — o importante é promover a causa do socialismo, e nisto fabianos e esquerdistas radicais acabam por se encontrar no fim da jornada.
É curioso assinalar como o fabianismo italiano procura se infiltrar nos meios católicos através do partido cristão-social. E a própria necessidade da fundação dessa sucursal fabiana na Itália mostra como os sectários do socialismo tiveram de mudar de tática para conquistar para sua causa certos elementos católicos que recusariam espavoridos se fossem abordados diretamente pelos lugares-tenentes do socialismo marxista.
Também aqui no Brasil podemos apreciar a influência cada vez mais visível do método fabiano, que silenciosamente promove o socialismo por vias legislativas e administrativas e fiscais, sem mesmo proferir a palavra "socialismo". Trata-se, segundo o Santo Padre Pio XI, de um "suave veneno, que sorvem avidamente muitos a quem jamais um socialismo. declarado poderia haver enganado".