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OS CATÓLICOS FRANCESES NO SÉCULO XIX

L’Univers

Bertrand de Poulangy

A experiência adquirida na primeira batalha em prol da liberdade de ensino mostrara ao Conde de Montalembert que a defesa dos interesses da Igreja exigia unidade de ação, difícil de ser obtida com a desorientação completa em que então se encontravam os católicos. As várias formas de governo que a França tivera haviam dado origem a católicos legitimistas, bonapartistas e orleanistas que, consciente ou inconscientemente, colocavam os ideais políticos acima de suas convicções religiosas. Os erros de Lamennais agravaram ainda mais a situação, criando a corrente dos católicos democratas, que se subdividiam indefinidamente no afã de conciliar a Igreja com os princípios da Revolução. Os católicos ultramontanos, dia a dia mais numerosos, eram, pelo contrário, filialmente dedicados a Roma. Aceitavam completamente a doutrina tradicional da Igreja e, antes de tudo católicos, colocavam sua vida ao serviço da Religião. É em torno deles que, passada a aventura de "L’Avenir", Montalembert iria tentar a união tão necessária.

A organização de um Partido Católico exigia sacrifícios enormes. Era necessário despertar o espírito de luta, orientar a todos nesta tremenda confusão, estabelecer contatos, organizar centros de ação, dispor de jornais e convencer o episcopado da necessidade de toda essa atividade. As ligações de família de Montalembert, sua operosidade, as viagens constantes que fazia pela França e por toda a Europa lhe permitiam resolver grande parte dessas dificuldades. Faltavam-lhe, no entanto, o apoio do episcopado e um jornal.

Salvo exceções, os bispos da França, que deveriam ser os chefes naturais do partido, ou eram galicanos ou amigos das conciliações, com verdadeiro horror pela luta. Mover a totalidade dos membros do episcopado na defesa dos interesses da Igreja era tarefa sobre-humana e quase impossível. Como o governo francês tinha o direito de apresentar a Roma os candidatos ao episcopado, o trabalho de Montalembert neste campo limitou-se quase exclusivamente ao emprego da sua influência, na qualidade de par de França, para conseguir a nomeação de bispos ultramontanos nas sedes vacantes.

Encontrar um jornal que viesse substituir "L’Avenir" nas campanhas do partido católico era outro problema quase insolúvel. Montalembert conhecia por experiência própria as ingentes dificuldades que surgiriam com a fundação de um novo jornal, tanto mais que era impossível prever a aceitação que teria nos meios católicos o aparecimento de um órgão ultramontano. Por outro lado, entre os já existentes, "L’ami de la religion et du clergé" e o "Journal des villes et des campagnes" eram órgãos oficiosos do galicanismo, e quase todos os outros eram legitimistas. Restava apenas um pequeno jornal de Paris, "L’Univers", que tinha uma história das mais curiosas. A a esse é que Montalembert iria transformar no órgão do partido.

A necessidade de um jornal exclusivamente católico já se havia feito sentir, e inúmeras tinham sido as tentativas para fundá-lo. Em 1834, o Pe. Migne, que depois se tornaria conhecido com a publicação da Patrologia, resolveu fundar ao mesmo tempo dois jornais que, de acordo com os prospectos, deveriam se orientar cada um de acordo com as "duas opiniões religiosas da França católica". Tudo muito vago, e nem as duas opiniões eram bem caracterizadas. Foram assim lançados "Spectateur" e "L’Univers religieux", com artigos pomposos e em tom agressivo, prometendo mundos e fundos.

A ousadia do Pe. Migne, lançando dois jornais católicos num ambiente que acolhera com indiferença ou hostilidade a todos os outros, lhe assegurou sucesso logo no início. Pouco antes dele, o fundador da Sociedade dos Bons Estudos, Sr. Bailly, tinha lançado o "Tribune Catholique", sem muito sucesso. Vendo aparecer mais dois jornais a lhe fazerem concorrência, Bailly propõe ao Pe. Migne a fusão dos três, aparecendo então "L’Univers", no qual dentro em pouco colaboravam todos os antigos discípulos de Lamennais. Entre eles se destacavam, pela solidez de doutrina e dedicação ao jornal, Melchior du Lac, que chefiava a redação, e que passaria toda sua vida no "L’Univers".

Durante quatro anos Bailly e Melchior du Lac sustentaram "L’Univers". Bailly, que comprara a parte do Pe. Migne no jornal, não era bastante rico para cobrir os déficits que aumentavam, apesar do socorro que representaram a entrada no jornal do rico negociante Taconet e as fusões com pequenos jornais católicos. Melchior du Lac, a alma da redação, desejava ser padre. Esperava apenas a solução de certas questões de família para entrar na Abadia de Solesmes, que o grande D. Guéranger reerguia. Assim sendo, o futuro do jornal não era dos mais promissores.

Em 1838 a situação se tornou insustentável. "L’Univers" tinha um prejuízo mensal de 1.000 francos e já devia 26.000. Foi então que Montalembert decidiu transformá-lo em órgão do Partido Católico. Pagou a dívida do jornal e responsabilizou-se pelos déficits mensais, conseguindo ainda outras doações de seus amigos. Ele se tornava praticamente dono do jornal. Colocou na redação um elemento de confiança, Saint Chéron, encarregado da orientação política do jornal, e conseguiu que todos os grandes nomes do catolicismo europeu nele colaborassem.

Apesar de tudo, o jornal continuava em má situação. A colaboração de Rio, Ozanam, Montalembert, Lacordaire, do Pe. Rohrbacher, do futuro cardeal Wiseman, não era suficiente para interessar a opinião católica. Faltava o jornalista ultramontano que viesse realizar a finalidade com que o jornal fora fundado: ser um jornal exclusivamente católico. Esta situação preocupava os dirigentes do Partido Católico em formação, e o maior mérito de Montalembert foi de ter salvo "L’Univers" colocando em sua redação o homem indispensável.

Por volta de 1939, em carta a Montalembert, Saint Chéron fala de um jovem e enérgico escritor que ele deseja interessar no jornal: "Sua colaboração nos será muito preciosa, mas ele é muito pobre, e nós mais do que ele. Será inteiramente nosso no dia em que pudermos pagar um pouco os seus artigos". Montalembert interessa-se pelo jovem e enérgico escritor, e dentro em pouco ele está no "L’Univers". Seu nome era Louis Veuillot.

Filho de humildes operários, Veuillot não recebeu educação religiosa na infância, crescendo absolutamente sem fé. Tendo cursado apenas as primeiras letras, aos quatorze anos abandonou sua cidade natal e foi para Paris a fim de tentar a vida. Em pouco tempo seu talento se impôs, e ainda bastante jovem os orleanistas lhe entregaram a direção de seus jornais, inicialmente nas províncias, e depois em Paris. No seu primeiro emprego em Paris, no escritório de advocacia de Fortunato Delavigne, Veuillot veio a conhecer Gustavo Olivier, com quem estabeleceu sólida amizade. Olivier, tendo se convertido ao Catolicismo, desejava ardentemente a conversão do amigo, mas se chocava sempre com uma indiferença que nada conseguia romper.

Um dia em que Veuillot estava cansado e convencido da necessidade de um repouso, Gustavo Olivier lhe propôs uma viagem a Roma e ao Oriente. Vendo aceita sua proposta, Gustavo, que decidira aproveitar a viagem para tentar novamente a conversão do amigo, pediu às freiras do convento "Des Oiseaux" que rezassem por Veuillot durante toda a viagem. Em Roma ele se converteu, trocou a viagem ao Oriente por um retiro com jesuítas de Friburgo e voltou para Paris disposto a dedicar sua vida ao serviço da Igreja. Abandonou os jornais orleanistas, em cujas redações achava que um católico não poderia permanecer, e começou a escrever os seus primeiros livros.

Seus contatos iniciais com "L’Univers" não tiveram nada de extraordinário. Começou por escrever uma carta ao jornal em defesa do General Bougeaud, e daí datam suas relações com Saint Chéron. Um dia enviou ao jornal um artigo sobre uma cerimônia realizada no convento "Des Oiseaux", ao qual o prendia uma grande gratidão por terem suas religiosas rezado por sua conversão. Pediram-lhe que passasse pelo jornal a fim de corrigir as provas. Essa primeira visita foi fielmente descrita por Eugène Veuillot na biografia que escreveu de seu irmão:

"L’Univers" saía então pela manhã e tinha redação na rua des Fossés-Saint Jacques, rua estreita e de um bairro pobre. Visto de fora, o número 11 era desalentador, e dentro tinha um aspecto pior do que prometia. Disseram a Louis que teria as provas às dez horas da noite. Na hora marcada, foi para o jornal e eu o acompanhei. Não havia luz na entrada nem porteiro para nos anunciar. Empurramos uma porta entreaberta e entramos na sala de redação. Sala pequena, mal iluminada, sem móveis, assento de palha e uma mesa cheia de jornais. Dois redatores trabalhavam em silêncio: um deles, de batina, era Melchior du Lac, que respondeu ao nosso cumprimento levantando-se um pouco; o outro, um leigo, era Jean Barrier, colando com muita gravidade, com os dois polegares, notícias diversas numa grande folha cinzenta. ‘Dentro de cinco minutos o Sr. terá as provas’ — nos diz ele. Com efeito, logo chegaram elas. Louis as corrigiu e saímos, sem ter trocado dez palavras com os redatores. Eles só haviam interrompido o trabalho para tomar rapé, freqüente e abundantemente.

"Assim que chegamos à rua, rindo, exclamamos ao mesmo tempo:

— Que tal?

Depois de um curto silêncio, disse Louis:

— Realmente esse jornal é muito pobre, mas vale muito mais que os outros. O jovem clérigo pouco falador, cujo nariz tão grande absorve todo o rosto, tem uma fisionomia muito inteligente: deve ser um homem.

— Sim, e o outro deve ser um bom rapaz.

Como ainda não me tinha convertido, acrescentei que não gostaria de vê-lo como redator de um jornal tão desconhecido, e ao qual certamente faltavam recursos.

— Bem, meu irmão — disse ele —, se eu voltar ao jornalismo, será certamente aqui.

— Tu és bem capaz disso.

E passamos a outro assunto".

É dessa época a carta de Saint Chéron a Montalembert. As coisas se acomodaram, e a 24 de janeiro de 1840 Saint Chéron comunicava: "A colaboração do Sr. Veuillot está garantida". Mais do que seus donativos, o interesse de Montalembert pela entrada de Louis Veuillot no jornal salvara "L’Univers" e dotara o Partido Católico de um grande órgão.


(Íntegra na 1.a pág.)


O SANTO ESCAPULÁRIO DO CARMO

* Sua instituição — Privilégios e indulgências - As comemorações do sétimo centenário

No momento augustíssimo e dramático da Crucificação, Nosso Senhor Jesus Cristo nos entregou por filhos a Sua Mãe Santíssima na pessoa do Discípulo amado, São João Evangelista com aquelas benditas palavras: "Mulher, eis aí teu filho". Desde então o desvelo maternal da Virgem Mãe de Deus tem se manifestado de modo admirável para nos socorrer em nossas aflições. E assim como o amor das mães segundo a carne tanto mais se acende quanto maiores são os padecimentos dos filhos, da mesma forma também nossa Mãe Celestial nos atende com solicitude mais amorosa nos momentos de maior angustia.

A dádiva do Santo Escapulário foi uma dessas incontáveis manifestações do afeto maternal de Maria Santíssima aos seus devotos filhos da Ordem Carmelitana, justamente quando esta já se via desamparada ante o assalto dos inimigos

A origem do Escapulário

A Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo é portadora do glorioso título de ser a mais antiga comunidade religiosa consagrada de modo especial à Virgem Santíssima. As origens da Ordem prendem-se mesmo ao Profeta Elias e seus discípulos, que já prestavam culto àquela de que haveria de nascer o Messias.

As primeiras comunidades carmelitanas floresceram na Palestina, até que, no começo de século XIII, alguns Religiosos penetraram no Ocidente e fundaram conventos em diversos lugares.

Na Inglaterra foram os frades recebidos com especial acatamento pelo povo e por isso desde logo alcançaram grande reputação e engrandecimento para a sua Ordem.

Ora, não faltaram os que se sentiam incomodados com o florescimento dessa obra mariana. Aliás, o demônio não cessa nunca de insuflar em certos espíritos o desprezo e a hostilidade para com os trabalhos empreendidos sob a égide da Virgem. E com isso conquista infelizes adeptos que, ante aquela antiga inimizade estabelecida por Deus entre a Mulher bendita e Satanás, preferem engrossar as fileiras dos filhos das trevas.

Não podia deixar de ser assim com a Ordem Carmelitana: inimigos ousados procuraram difamar os Frades, dizendo que indevidamente se atribuíam o título de Ordem da Virgem, bem como que era falso que sua origem remontasse ao Profeta Elias.

A situação da Ordem era difícil quando no 1º Capítulo Geral celebrado no Ocidente, em 1245, foi eleito Prior Geral da Ordem o grande devoto de Nossa Senhora, São Simão Stock.

Perseverou o Santo em oração em seu Convento de Cambridge, a implorar o socorro da Virgem, e viu afinal atendidas as suas preces. Foi no dia 16 de Julho de 1251. O Santo pedia com respeitosa insistência a Nossa Senhora que se dignasse dar à Ordem um sinal sensível de Sua proteção. Eis que lhe aparece a Rainha do Céu e da Terra, rodeada de anjos e lhe entrega o Santo Escapulário, com esta promessa confortadora: "Recebe, filho diletíssimo, este escapulário da tua Ordem em sinal de aliança comigo, privilégio para ti e para todos os carmelitas; o que com ele morrer não sofrerá o fogo eterno".

São Simão reuniu logo os irmãos de hábito, relatou-lhes a aparição e lhes apresentou a preciosa relíquia recebida das mãos puríssimas de Nossa Senhora.

No mesmo dia o Santo ditou uma carta ao seu secretário, Frei Pedro Swanington, que foi enviada a todos os conventos da Europa, e na qual era exposta a maravilhosa ocorrência.

O primeiro milagre

No mesmo dia em que a Virgem Santíssima se manifestara ao Santo Prior, quis realizar através do Escapulário o primeiro milagre. O próprio secretário do Santo é que no-lo descreve:

"No dia 16 de Julho de 1251, enquanto o referido Beato Simão se dirigia a Winchester, levando-me como companheiro, para pedir ao Senhor Bispo daquela Sé carta de recomendação para o Papa Inocêncio IV, saiu-nos ao encontro, montado em rápido corcel, Dom Pedro de Lyntonia, Deão da Igreja de Santa Helena, de Winchester, suplicando ao Beato Simão se apressasse em assistir a seu irmão que estava para morrer em estado de desespero. O moribundo se chamava Walter, homem desavergonhado para praticar o mal, dado a rixas e a toda sorte de magias, desprezador dos Sacramentos, molesto para os vizinhos, o qual, batendo-se em duelo, tinha sido gravemente ferido e, vendo-se prestes a comparecer diante do tribunal divino, desenrolando-lhe o demônio ante os olhos todos os seus crimes, não queria ouvir falar em Deus nem em Sacramentos; porém, enquanto ainda podia falar, vociferava: "Estou condenado; que o demônio se vingue do meu assassino!"

"Ao chegar ao domicílio do moribundo encontramo-lo espumando pela boca, rangendo os dentes e com os olhos esbugalhados, como se fosse um cão raivoso. Como parecia prestes a morrer e já tinha perdido os sentidos, o Beato Simão fez o sinal da Cruz, e deitando o Escapulário sobre o enfermo, levantou os olhos para o Céu e pediu a Deus que não permitisse que o preço do Sangue de Cristo se desbaratasse, caindo aquela alma nas mãos do inimigo comum.

"De repente, o enfermo, que estava agonizando, recobrou as forças, os sentidos e a fala; e persignando-se com o sinal do Salvador, começou a increpar os demônios, dizendo com a voz cheia de pranto: "Ai! Ai! Miserável que sou! Como temo a condenação. Minhas iniquidades superam o número de grãos das areias do mar. Apiedai-Vos de mim, ó meu Deus, pois a Vossa Misericórdia supera a Vossa Justiça. Padre (disse então ao Beato Simão), ajudai-me; quero confessar-me".

"Retirando-me do quarto e passando para outra dependência da casa, contou-me ai o dito Deão, Dom Pedro, que vendo a impenitência e obstinação de seu irmão, se pusera no seu quarto a sós; e estando a orar, ouvira uma voz que dizia: "Levanta-te Pedro, e procura meu amado servo Simão, que está a caminho daqui". E sem, poder ver quem falava, ouviu a mesma voz segunda e terceira vez. Pelo que, entendo que era uma mensagem do Céu, se apressou a montar em seu cavalo para ir ao encontro do Padre que se achava a caminho. E deu graças a Deus por tê-lo encontrado tão logo.

"Depois de se confessar, Walter renunciou publicamente aos pactos que fizera com o demônio, e recebeu os Sacramentos da Igreja, dando sinais de grande arrependimento. Fez testamento, e querendo restituir os bens adquiridos injustamente e reparar os prejuízos por ele causados, obrigou o irmão, o Deão, sob juramento, de se encarregar dessa restituição. E mais ou menos às oito da noite expirou em santa paz.

"A alma de Walter apareceu ao irmão, o qual estava incerto da salvação do morto, e lhe disse que havia procedido bem com ele, e que pela intercessão da poderosíssima Rainha dos Anjos e pelo Escapulário do Servo de Deus que lhe servira de arma, havia podido evadir as ciladas dos demônios. A notícia deste fato se espalhou rapidamente pela cidade toda".

Privilégios e indulgências

Nossa Senhora atendeu aos rogos de São Simão Stock, que lhe implorava a maternal proteção, e lhe entregou como sinal sensível uma peça de hábito monacal - o escapulário. O simbolismo desse sinal é fecundo: a veste nós a usamos para proteger o corpo contra os rigores do tempo e contra a concupiscência. A Santa Igreja, recolhendo cuidadosamente a dádiva de Nossa Senhora, tornou o Escapulário um sacramental e lhe conferiu, como graça peculiar a da proteção sobrenatural contra todos os perigos que nos assaltam tanto durante a vida como na hora decisiva de nossa morte. Ao mesmo tempo o simbolismo da veste nos indica que a condição necessária para ganharmos a graça própria do Escapulário, é nossa consagração a Maria Santíssima como seus servos, pois, se nos revestimos da libré que Ela nos oferece, é porque concordamos em ser seus leais servidores.

Os privilégios conferidos pois aos devotos portadores do Santo Escapulário são:

1 — a proteção da alma e do corpo,

2 — a graça da perseverança final.

A estes privilégios está anexo outro, também inestimável de que, falaremos depois: a pronta libertação da alma, do Purgatório.

A Santa Igreja cumulou de indulgências os fieis que levam o Santo Escapulário. Assim podem eles lucrar indulgência plenária "toties quoties", isto é, tantas vezes no dia quantas visitarem uma igreja onde esteja erecta uma confraria do Escapulário, por ocasião da festa de Nossa Senhora do Carmo, dia 16 de Julho, ou num domingo de Julho, conforme o uso, desde que tenham satisfeito as condições de costume.

O privilégio sabatino

Passados cinquenta anos da entrega do Escapulário a São Simão, a Virgem Santíssima apareceu ao Papa João XXII e lhe ordenou que fizesse saber que aqueles que trouxessem o Santo Escapulário do Carmo seriam libertados do Purgatório no sábado imediato à sua morte. Tal fato publicou o Santo Padre numa Bula, juntamente com outras indulgências por ele concebidas aos portadores do Escapulário.

O privilégio foi ratificado pelos Papas Alexandre V, Clemente VII, e Paulo V, o qual prescreveu as condições para se fazer jus a ele, a saber, a guarda da castidade segundo o estado de cada um, e a recitação do Ofício Parvo da Virgem e, para os que não puderem recitá-lo, ao menos observância dos jejuns da Igreja, a abstinência de carne nas quartas-feiras e nos sábados, salvo em caso de comutação concedida pela autoridade competente.

7º Centenário

Este ano assinala a passagem do sétimo centenário do grande dom de Nossa Senhora à Ordem Carmelitana. Desde o dia memorável de 16 de Julho de 1251, quantas graças proporcionou a Santíssima Virgem aos devotos do seu Escapulário! Só uma revelação divina nos poderia dar ciência do número de fieis que receberam durante sua vida proteção contra os perigos materiais e espirituais, bem como das almas que foram arrancadas das garras de Satanás na hora da morte e das que foram libertadas prontamente dos padecimentos do Purgatório.

O Breve pontifício

O Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, houve por bem dirigir ao Prior Geral da Ordem dos Frades Carmelitas Calçados e ao Preposto Geral da Ordem dos Frades Carmelitas Descalços um Breve no qual manifesta a sua alegria por saber que os religiosos "deliberaram dispender o máximo dos seus esforços na celebração das solenidades em honra da Santíssima Virgem Maria, pelo transcurso do sétimo século da instituição deste Escapulário da Mãe de Deus do Carmelo".

Com estas palavras se refere o Santo Padre ao Escapulário:

"Na verdade, o Santo Escapulário é como que o hábito mariano, sinal e penhor da proteção da Mãe de Deus; não pensem, porém, aqueles que vestem este hábito, que entregues à indolência e negligência espiritual, hão de conseguir a salvação eterna, pois o Apóstolo adverte: "Com temor e tremor, empenhai-vos na obra da vossa salvação" (Phil. II, 12). Todos os Carmelitas, pois, seja nos Claustros das Ordens Primeira e Segunda, seja na Ordem Terceira Regular ou Secular, seja nas Confrarias, todos os Carmelitas, que pertencem por especial vínculo de amor a uma só família da Mãe de Deus, encontrem, no memorial da própria Virgem um espelho de humildade e castidade; na simples forma da veste encontrem um compendio de modéstia e simplicidade; sobretudo nesta mesma veste, que dia e noite trazem, encontrem um símbolo eloquente das preces com que imploram o divino auxílio; encontrem, finalmente, aquela consagração ao Sacratíssimo Coração da Virgem Imaculada, por Nós recentemente recomendada".

As comemorações em nossa Pátria

Em todos os recantos do Brasil, onde a devoção do escapulário é tão difundida, e é tão querida a ínclita Ordem do Carmo, iniciaram-se as comemorações solenes do 7º centenário do Escapulário. Diversos Estados já receberam a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Carmo, tendo-se verificado verdadeiros triunfos em várias Capitais, como em João Pessoa e Salvador.

O grande Congresso de encerramento do ano jubilar carmelitano se realizará no Recife entre os dias 13 e 16 de Julho. Não é sem razão que Pernambuco foi escolhido para ser a sede dessas solenidades: Nossa Senhora do Carmo é a padroeira da arquidiocese, que experimentou sempre sua particular proteção, principalmente no tempo das lutas contra os protestantes holandeses, expulsos pelos brasileiros portugueses socorridos pelo maternal amparo da Virgem do Carmo.

Conforme os desejos do Exmo. e Rvmo. sr. D. Miguel de Lima Valverde, Arecebispo de Olinda e Recife, todo o apoio vem sendo dado pelo Clero Secular e Regular, bem como pelas Associações Religiosas e fieis em geral, a fim de que o Congresso, por seu esplendor, marque época na vida católica de Pernambuco e de todo o Brasil.