Adolfo Lindenberg
Um modo certo de conhecer as disposições de uma pessoa é ver como reage diante de certos acontecimentos-chave. O mesmo se dá com os países: a demissão espetacular de Mac Arthur veio constituir um elemento de primeira ordem para se estudar o estado de espírito com que as várias nações ocidentais encaram o perigo russo.
Estados Unidos — Política interna — Se bem que fosse conhecida a divergência existente entre o Pres. Truman e o líder aliado do Pacífico, e a sua demissão já tivesse sido muitas vezes debatida, a decisão dos democratas estourou como uma bomba. A reação popular contra ela já se tem manifestado com um vigor encorajador, sendo a greve de protesto dos estivadores novaiorquinos um auspicioso sinal de que grandes correntes do povo yankee estão dispostas a lutar com fibra e entusiasmo contra os comunistas. Os democratas tentam justificar o Presidente, enumerando insubordinações (muito provavelmente reais) de Mac Arthur, e afirmam que, se seguissem a política que o General propugnava, deveriam suspender o rearmamento europeu, em benefício de uma campanha improfícua no Extremo Oriente. O que se deve notar nesta explicação é principalmente a necessidade dos políticos, de chegar junto à opinião pública que, desejam uma "Munich" e que sua decisão não significa um recuo frente aos russos. Até a nota de infantilidade e falta de compreensão da dignidade militar, que caracterizam certo gênero de mentalidade norte-americana, não deixou de receber sua expressão com o convite feito ao general, para vir trabalhar em Hollywood.
Política Externa — O Sr. Martin acusou Truman de ter demitido Mac Arthur, de desejar a entrega de Formosa aos comunistas chineses, e de aceitar a China na ONU, em troca da assinatura de Mao Tsé Tung no tratado de paz com o Japão, e da cessação da luta na Coréia. A resposta que o Departamento de Estado provavelmente receberia, segundo os republicanos, por esta "main tendue", por esta "Munich", seria certamente a que todos os países totalitários têm dado a concessões destas: um coro de triunfo e de impropérios, e uma intensificação das provocações militares. Não nos admiraremos se se iniciar uma ofensiva chinesa na Coréia ou na Manchúria.
Inglaterra — O que era de esperar: entusiasmo, triunfo e satisfação dos trabalhistas, consternação e tristeza dos conservadores. Nada seria mais merecido para os trabalhistas ingleses do que a invasão de Hong Kong pelos chineses...
Países Europeus — Satisfação dos esquerdistas, satisfação dos amantes da paz a qualquer preço, satisfação dos que temem a invasão russa e acreditam nos políticos do Partido Democrata norte-americano quando estes afirmam que qualquer intensificação da guerra na Ásia ocasionaria um enfraquecimento no auxílio americano à Europa.
Formosa, Japão e Filipinas -- Os orientais simpáticos aos aliados vêm que a destituição de Mac Arthur constitui a continuação e a confirmação da política iniciada em 1945 por Marshall, e que se baseia na tese de que Chang Cai Chec é tão ruim, tão ditatorial, tão desonesto, que não se sabe qual é o pior, se ele ou Mao Tsé Tung. Esta tese, exclui, como é evidente, que a China comunista seja orientada por Moscou, e que, exceto Chang Cai Chec, nenhum outro líder nacionalista chinês existe, que seja digno do apoio americano.
Por outro lado, os japoneses e filipinos hipotecam ao General um misto de simpatia e veneração, e o velho cabo de guerra estava conseguindo que os japoneses tomassem cada vez mais as feições democráticas, sem cair em qualquer tendência propriamente esquerdista.
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Os fatos mais graves da política internacional do mês passado ocorreram no Oriente Médio. A nacionalização pelo Irã das mais ricas jazidas de petróleo do mundo, a concentração de tropas soviéticas na fronteira persa e o projeto de encampação do Canal de Suez pelos egípcios, constituem uma ameaça sinistra para o êxito da defesa do mundo ocidental. É desnecessário comentar a pífia reação do governo do Sr. Attlee, o qual muito provavelmente irá aumentar de alguns exemplares a sua já não pequena coleção de guarda-chuvas.
Um telegrama do dia 23 de março p. p. informa que o Departamento de Comércio Americano publicou uma estatística revelando que a Argentina, apesar do descalabro econômico provocado pela péssima administração do sr. Miranda e demais membros do governo peronista, ainda está em primeiro lugar entre as nações latino-americanas, no que se refere à renda nacional.
A renda argentina em 1949 foi de 5.700.000.000 de dólares, figurando o Brasil em segundo lugar com 5.500.000.000 e o México em terceiro com 2.900.000.000. Também no número de veículos a motor a primazia coube à Argentina com 576.000 unidades, sendo que o Brasil possuía então 411.000 e o México 300.000.
Por outro lado, Perón com grande senso de oportunidade teatralmente, anunciou a existência de uma pilha de energia nuclear já em funcionamento na Argentina e capaz de produzir bombas atômicas.
Vejamos no desenrolar da Conferência dos Chanceleres se a política semi-esquerdista e liberal que Truman adotava até o ano passado e que permitiu a Perón vencer o embaixador Bradley, política esta que também foi tão funesta nas relações russo-americanas, vai ser substituída por outra mais realista, positiva e enérgica.
Esperemos que seja reconhecida ao Brasil a posição de destaque que merece na Conferência e auguremos o melhor êxito à nossa delegação.
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* O SR. EDWARD VON STEIGER, membro do Conselho Nacional Suíço, propôs a revogação do dispositivo constitucional que proíbe aos Jesuítas o exercício do ministério sacerdotal na república helvética. Alegou ele que os comunistas, inimigos manifestos da independência e integridade da Suíça, são admitidos a todos as atividades, e podem até fazer parte do governo. Os protestantes, entretanto, votaram pela manutenção do odioso dispositivo. O que é, aliás, absolutamente característico.
* ASSINANDO O PLANO SCHUMAN, a França, a Itália, a Alemanha, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo instituíram um sistema de utilização do carvão e aço que torna os recursos mineiros pertencentes a essas nações verdadeira propriedade comum a todas elas. Fica assim eliminada, com considerável vantagem para a economia das potencias interessadas, a competição mutua, e instaurado um regime de larga e generosa cooperação. Deste ponto de vista, o acordo merece franco aplauso. Entretanto, constitui ele um passo a mais para um ideal muito confuso que vem a ser a formação dos Estados Unidos da Europa, ponto de escala para outra realização francamente péssima: a república universal. E, deste outro ponto de vista, o Plano Schumann merece ser visto com muitas reservas quanto às suas consequências na política internacional.
Virgem, mãe do mesmo Deus!
Virgem, filha de teu Filho!
Não há estrela de mais brilho
Nesses céus!
De olhar fito nesse olhar,
De olhos fitos nesses, olhos,
Não há baixios, não há escolhos
Neste mar!
Tu guardastes em gozo e dor
Sempre na alma a paz dum templo,
Fostes em vida o nosso exemplo,
Mãe de amor!
Navegando, mas de pé,
Neste mar, cavado embora,
Vou na barca salvadora,
Que é a Fé.
Não me assusta a multidão
De inimigos que me agride:
Contra a Torre de David
Tudo é vão!
Por feroz que esteja o mar,
Num momento forma um lago;
Basta um só reflexo vago
Desse olhar!
Esse olhar é quem a mim
Me encaminha e me socorre!
O meu norte é só a Torre
De marfim!
Meu farol, refúgio meu!
Sol que dia e noite brilha
Mãe de Deus e de Deus filha!
Mãe do céu!
João de Deus